O Coração da Mensagem Cristã – M. Lloyd-Jones

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O próprio coração da mensagem cristã é que Deus tomou os nossos pecados e os imputou a Jesus Cristo - "não os imputando a nós", afirma Paulo, porque os imputou a Ele. "Imputar" significa considerá-los, colocá-los na conta de alguém. É como se um homem rico fosse a uma loja ou armazém e dissesse: "Quero que mande as seguintes mercadorias a tal endereço, mas não lhes mande a conta; ponha na minha conta; impute isso a mim". Deus tomou os nossos pecados e os imputou a Cristo, colocou-os na Sua conta e os puniu nEle. "Ele o fez pecado por nós" - em nosso lugar. Deus feriu o Seu próprio Filho por causa dos nossos pecados. Cristo sofreu o nosso castigo. O apóstolo Pedro escreve: "Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas pisaduras fostes sarados"(l Pedro 2:24).

Mas Deus fez também algo mais; Ele pôs a justiça de Cristo em nossa conta. O Senhor Jesus Cristo nunca pecou; Ele obedeceu a Lei de Deus em todos os pormenores. O Pai ficou satisfeito com Ele; Ele tinha feito tudo o que o Pai O enviara para fazer. Ele foi descrito pelo arcanjo Gabriel a Maria como "o Santo" (VA: "a coisa santa") (Lucas 1:35). Ele nasceu cheio de retidão, guardou perfeitamente a Lei e agradou a Deus em tudo, prestando uma obediência perfeita. O que Deus faz é tomar a justiça de Cristo e pô-la em nossa conta. Há, por assim dizer, uma grande transação, uma grande transferência no livro-razão do céu. A nossa injustiça foi posta sobre Ele; a justiça dEle é posta sobre nós. E assim Deus, tendo tirado de nós os nossos pecados, e tendo posto sobre nós a justiça de Cristo, declara-nos justos. Esta é a gloriosa verdade que capacitou o conde Zinzendorf a escrever o grande hino que João Wesley traduziu com tanta nobreza:

Jesus, Teu manto de justiça
E minha veste, é minha glória;
Em meio a mundos flamejantes
Feliz afronte eu erguerei.
No grande dia estarei de pé;
Quem minha culpa levará?
Graças a Ti, absolvido fui
Do vil pecado, medo e culpa.
Jesus, a Ti louvor eterno!
Misericórdia tens por mim;
Plena expiação por mim fizeste,
Pagaste eterna remissão.

A palavra da fé que pregamos é que a nossa salvação é, toda ela, ação de Deus por meio deste único Senhor Jesus Cristo. E por isso que "uma só fé" segue-se a "um só Senhor". O "um só Senhor" foi enviado pelo Pai. Ele tomou sobre Si a natureza humana, viveu uma vida perfeita na terra, e então "Deus lançou sobre ele a iniqüidade de todos nós" e transfere para nós a Sua justiça. Esta nos vem pela fé, pela "uma fé", a única fé. Não contribuímos com nada para tudo isso. Os nossos feitos, as nossa ações não desempenham parte alguma, a nossa bondade não entra, pois não é bondade aos olhos de Deus, é apenas como "esterco" e refugo aos olhos de Deus. A nossa busca não ajuda, a nossa capacidade não ajuda, nada em nós ajuda, em absoluto. É tudo de Deus, é tudo de graça, é tudo feito por Deus, do princípio ao fim.

A justiça é posta sobre nós. Estávamos em andrajos, por assim dizer, como condenados no banco dos réus; mas Deus enviou Cristo, pelo Espírito, para tirar-nos os trapos e vestir-nos com o manto da

perfeita justiça de Cristo. Deus agora olha para nós e vê, não os nossos pecados, porém a justiça de Cristo. Ele nos vê "em Cristo". O nosso nascimento natural não faz nenhuma diferença, a nossa nacionalidade não entra nisso. O grau do arrependimento que experimentamos não importa, nem o volume da emoção que o acompanha. Se fizermos do nosso arrependimento um ato meritório, estaremos negando a fé. O que somos, ou o que fizemos ou não fizemos, não conta; nada em nós conta; a nossa justiça está toda em Cristo, e pela fé, somente pela fé. O apóstolo já nos dissera no capítulo 2, versículo 8, que a salvação não vem de nós: "Pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus". Esta justiça de Cristo nos é dada, e passa a ser nossa, mediante a instrumentalidade da fé, que também é dom de Deus.

FONTE: http://www.martynlloyd-jones.com