Seu Conflito com o Criticismo - Joel R. Beeke

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Joel R. Beeke

Seu Conflito com o Criticismo - Joel R. Beeke
Seu Conflito com o Criticismo

Joel R. Beeke

Joel Beeke é pastor da igreja Heritage Reformed Congregation, em Grand Rapids, MI, EUA. É presidente, Deão acadêmico e catedrático de Teologia Sistemática e Homilética do Seminário Reformado Puritano. Possui Ph.D pelo seminário Westminster em Teologia Reformada e Pós-reforma. Pr. Beeke atua como preletor em diversas conferências em várias partes do mundo, inclusive o Brasil; é autor e co-autor de mais de 50 livros, alguns já em português, como o livro “Vencendo o Mundo” (Editora Fiel) e outros em processo de tradução. É casado com Mary Beeke com quem tem 3 filhos

Uma atitude pessimista em um pastor não é melhor do que uma atitude de orgulho, porque este é a raiz do pessimismo. Os pastores se tornam pessimistas quando pensam que merecem um tratamento melhor do que estão recebendo. Às vezes, eles podem estar certos, mas também podem estar falhando no exercício da auto-renúncia semelhante à de seu Senhor, que, às mãos dos homens, sofreu muito mais do que os pastores podem estar sofrendo. Contudo, apesar de haver sofrido muito mais, nosso Senhor não retaliou (1 Pe 2.23).

O ressentimento e o criticismo são servos do pessimismo. Um espírito murmurador produz pessimismo, depressão, amargura e desilusão no ministério. Também produz presunção e cegueira quanto à condição da própria pessoa. Pastores amargurados não conseguem, freqüentemente, ver seu espírito não perdoador ou sua tendência de julgar os outros e magnificar suas imperfeições (Mt 7.3-5).

Se algum pastor tinha razões para ser pessimista, esse era o encarcerado Paulo. No entanto, foi da prisão que ele escreveu a sua mais alegre epístola, Filipenses. Paulo experimentou tempo de depressão e tristeza (2 Co 1.8-9), mas suas epístolas mostram pouca evidencia dessa situação. Ele pôde dizer: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (Fp 4.11). As pessoas já têm bastante problemas e dificuldades; e não precisam ter de suportar as ministrações de um pastor pessimista e descontente.

Parte do problema do pessimismo é que poucos pastores sabem como responder àqueles que os criticam. No seminário, não receberam nenhum conselho acerca deste assunto crítico; e não podem achar muita ajuda na literatura que aborda o assunto; e, muito provavelmente, não assistiram a nenhuma conferencia que tratasse do assunto. Um estudo recente mostra que 81% dos clérigos americanos têm sofrido criticismo hostil; 25% dos clérigos sentiram que enfrentar o criticismo era o problema mais difícil do ministério.1 Ser a última instância de recepção do criticismo, durante muitos anos, resulta em pessimismo, cinismo, desespero, insônia e resignações. Este capítulo tenciona oferecer-lhe alguma ajuda para você enfrentar o criticismo, sem que este leve ao pessimismo.

Considere o criticismo inevitável

John Wesley uma vez questionou, em seu diário, se ele estava realmente vivendo de modo correto para Deus, pois não recebera nenhum criticismo durante todo o dia! É fútil imaginar que você pode evitar o criticismo no ministério. Os pastores se engajam no que Andy Stanley chama de implementar visões. Implementar visões envolve produzir mudanças, e estas produzem criticismo da parte daqueles que estão acostumados com o estado em as coisas se encontram.2 Além disso, se você proclama todo o conselho de Deus, como deve fazê-lo, está destinado a se tornar alvo de criticismo, pois as verdades que você apresenta têm conseqüências eternas. Portanto, não se surpreenda quando as pessoas o odeiam ou o amam. Se você está conseguindo penetrar-lhes a alma, poucas se mostrarão neutras. Ou elas rejeitarão a sua mensagem, ou testemunharão que a mensagem alimenta-lhes a alma. Como Jesus disse: “Ai de vós, quando todos vos louvarem!” (Lc 6.26). Espere criticismo e não se deixe vencer por ele.

Considere os motivos

Antes de tudo, é imperativo ouvir bem. Não aceite os fatos imediatamente, mas faça perguntas — ouvi e entendi a crítica de modo exato e correto? Ouvi o verdadeiro problema ou apenas um sintoma de algo mais profundo? Ira não solucionada, depressão, mudanças nas situações da vida, frustração nos relacionamentos, inveja, expectativas arruinadas e insatisfação com a obra da igreja podem levar ao criticismo. Então, pergunte a si mesmo: “A pessoa que está me criticando tem um motivo justo que tem como alvo o aprimoramento de meu ministério, ou essa crítica é apenas uma indicação de algo mais?” Por exemplo, aquele que critica se alegra em achar falhas nos outros, porque isso, de algum modo, o faz sentir-se superior? Entender o motivo das pessoas o ajudará a reagir e enfrentar melhor a crítica. Como regra geral, dê àquele que o critica o benefício da dúvida, admitindo que o motivo dele é puro, a menos que você tenha evidências convincentes do contrário.

Considere a fonte

Embora você deva encarar com seriedade toda crítica, pergunte também a si mesmo: “Quem está me criticando — um oficial da igreja, um crente maduro, um bebê na fé, um incrédulo, uma pessoa altamente crítica ou um membro negligente da igreja? James Taylor escreveu: “Aqueles que criticam são geralmente os que não se envolvem, que ficam à margem e se mostram surdos a todos os apelos de serviço para a igreja”.3 A crítica proveniente desse tipo de pessoa raramente merece chance ou qualquer outro investimento de energia de nossa parte.

Por outro lado, se a crítica procede de um crente maduro ou de um oficial da igreja que apóia o seu ministério, você deve considerar a crítica com mais seriedade e descobrirá que ela contém alguma verdade que exige mudança. Além disso, você deve incentivar a avaliação construtiva da parte dessa pessoa. Falando de modo geral, quanto mais sinceramente você receber críticas construtivas, tanto mais o seu ministério e relacionamentos com os outros se beneficiarão dessas críticas.

No entanto, tenha cuidado para não reagir com excesso às reclamações que são levantadas por alguns e têm pouco significado para eles. Existe uma diferença entre uma reclamação da parte de três pessoas em uma igreja de quinze membros e uma reclamação de três pessoas em uma igreja de mil membros. Em igrejas grandes, uma mudança realizada por alguns membros provocará mais reação do que satisfação nas pessoas. Em resumo, devemos atentar primeiramente à qualidade da reclamação, mas, às vezes, o número de pessoas que reclamam também merece que sejam feitas mudanças, que de outro modo, seriam inconseqüentes.

Considere o contexto

O ambiente físico, o momento e a situação que geraram a crítica podem nos ajudar a determinar se ela é proveitosa. Como regra geral, não reaja à crítica por, pelo menos, 24 horas, dando a si mesmo tempo para orar, filtrar seus sentimentos, superar a mágoa e consultar outros cuja sabedoria você respeita.

O tempo de oração é vital. A oração coloca a crítica no contexto apropriado. Traz clareza à mente e vigor à alma; diminui a ansiedade e reacende a sua paixão por aquilo que é correto e verdadeiro.

Lembre-se: você é mais conhecido por suas reações do que por suas ações (Pv 16.32). Impor apressadamente soluções para os problemas pode tornar pior a situação. Algumas situações se renderão apenas ao toque curativo do tempo. A verdade tem uma maneira de vindicar a si mesma no tempo oportuno. Lucas 21.19 afirma: “É na vossa perseverança que ganhareis a vossa alma”.

Considere a si mesmo

As críticas são, freqüentemente, dons de Deus para nos protegerem de tendências auto-satisfatórias e autodestrutivas. O Espírito Santo usa nossas críticas para nos guardar de justificarmos, protegermos e exaltarmos a nós mesmos. Embora as pessoas exagerem em suas críticas e raramente estejam corretas no todo, elas estão certas em parte.

Pergunte a si mesmo: “Estou reagindo corretamente à crítica?” Lembre: aqueles que ouvem a Cristo aprendem a ouvir os outros. Se você percebe que está se sentindo, habitualmente, desrespeitado, negligenciado e injuriado, encare esses sentimentos com suspeita. Torne-se mais vulnerável. Você reclamará menos, se considerar quão pouco criticismo recebe, embora seja um homem indigno, se comparado com Cristo, que era totalmente digno.

Ache alguém que possa tornar-se responsável por você e o ajude a monitorar suas reações. Busque a sabedoria e a coragem necessárias para penetrar o isolamento de seu ego. Não tenha medo de dizer: “Eu estava errado; você me perdoa?”

Considere o conteúdo

Você pode aprender muito a respeito de si mesmo ao ouvir críticas. Seja grato por elas. Alguns de nossos melhores amigos são aqueles que discordam de nós, com amor, sinceridade e inteligência. “Leais são as feridas feitas pelo que ama” (Pv 27.6). A crítica proveitosa é um bom remédio.

David Powlison escreveu: “As críticas, como as autoridades governamentais, são ministros de Deus para o nosso bem (Rm 13.4). Ele, que vê o coração, usa as críticas para ajudar-nos a ver coisas em nós mesmos: erros na fé e prática, ênfases distorcidas, assuntos em que carecemos de discernimento, áreas de negligência, atitudes e ações contrárias aos compromissos afirmados e, sim, virtudes e contribuições significativas”.4

Então, pergunte a si mesmo: o que as críticas estão dizendo que me ajuda a aprimorar a mim mesmo e ao meu ministério? Há um cerne de verdade nesta crítica que, feitas as mudanças, me tornarão um pastor melhor?

Se as críticas dizem algo construtivo, absorva-as, confesse sua falha, seja o primeiro na autocrítica, peça perdão com sinceridade, mude para melhor e continue seu ministério. Se as críticas não oferecem nada construtivo, seja cortês e educado; e siga em frente.

Nunca se torne irado nem autodefensor, mas ofereça a outra face, como Jesus aconselhou. Se a sua consciência é pura, uma explicação simples e clara pode ser proveitosa em certos casos, embora o silêncio respeitoso seja freqüentemente mais apropriado e eficaz (Mc 14.61). A qualquer custo, esforce-se para não justificar a si mesmo; seus amigos não precisam disso, e seus inimigos provavelmente não acreditarão em sua justificativa. Recuse-se a descer ao nível da crítica negativa; não retribua o mal com o mal. Lute as batalhas de Deus, não as suas próprias, e você descobrirá que Ele lutará as suas batalhas. Não lhe compete retribuir. Romanos 12.19 declara: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor”.

Não aceite com seriedade qualquer sussurro. Não se desvie para a controvérsia infrutífera, nem gaste suas energias tentando apaziguar ou persuadir críticas implacáveis que nutrem a animosidade. Lembre: “O irmão ofendido resiste mais que uma fortaleza; suas contendas são ferrolhos de um castelo” (Pv 18.19). Por que estou sendo mal entendido? Os meus sermões, atitudes, temas favoritos e características pessoais se combinam, de alguma maneira, para transmitir uma mensagem confusa? Estou apenas falando de modo indireto sobre aquilo que deveria expressar com clareza ou ignoro certos problemas que deveriam ser abordados? Com freqüência, as críticas que você recebe estão, em parte, corretas em uma ou mais dessas áreas. Pelo menos, elas lhe ensinarão paciência, o tornarão mais semelhante a Cristo e o guardarão do orgulho. Podem salvá-lo de você mesmo, levando-o a grande dependência de Deus.

Não importando os resultados que as críticas produzam, uma vez que você tenha lidado corretamente com elas e feito as mudanças necessárias, não permita que elas infeccionem e prejudiquem sua alma. Desenvolva a atitude de Eleanor Roosevelt, que disse: “As críticas causam poucas conseqüências em mim, a menos que pense haver um verdadeiro motivo para elas ou algo que eu tenha de fazer”. De qualquer maneira, aborde as críticas de modo rápido e eficaz; e esqueça-as. Depois, dedique-se à sua obra. Não esqueça que o pessimismo se desenvolve quando abrigamos a recordação e a mágoa das críticas, permitindo-lhes que infeccionem o nosso íntimo.

Considere as Escrituras

Alguns pastores são extremamente delicados e, por isso, não podem suportar o criticismo sem sucumbir. Eles precisam desenvolver emoções mais fortes. Outros pastores se mostram tão enrijecidos pelos conflitos do ministério, que seu coração, como alguém disse, é como o couro de um rinoceronte. Eles precisam desenvolver um coração brando de criança. Na verdade, precisamos de ambas essas coisas. Precisamos cultivar um coração de criança em relação ao criticismo bíblico e do couro de rinoceronte em relação ao criticismo satânico. A combinação é possível, não em nossa força, mas somente pela graça de Deus moldando nosso coração, por intermédio de sua Palavra.

Precisamos memorizar e meditar textos como Efésios 6.10: “Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder”; bem como Romanos 12.10: “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal”; e Romanos 8.28: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. Não esqueçamos que Deus não comete erros. Olhe mais para Ele como a causa primária e não olhe para causas secundárias. Creia em Jesus, quando Ele disse: “O que eu faço não o sabes agora; compreendê-lo-ás depois” (Jo 13.7). Devemos ler e meditar esses textos diariamente, permitindo que eles permeiem nossa mente e alma, de modo que fiquemos convencidos de que os propósitos de nosso Senhor prevalecerão sempre, até nas mais intensa perseguição. Satanás não é senhor sobre Cristo; pelo contrário, Cristo é Senhor sobre Satanás e usará até o criticismo satânico para cumprir seus propósitos sábios. Aceite, portanto, todos os lidares providenciais de Cristo em relação a você como procedentes dEle mesmo, permitindo que esses lidares conformem-no à imagem de Cristo. Somente à medida que as Escrituras nos conformam à imagem de Cristo, achamos o equilíbrio correto de ternura forte com vigor compassivo, em face ao criticismo.

Considere a Cristo

Acima de tudo, olhe para Jesus quando você se deparar com intenso criticismo. Hebreus 12.3 adverte: “Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo”. Pedro falou com mais detalhes: “Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (1 Pe 2.21-23). Se Cristo que era perfeito e não tinha nenhuma culpa foi cuspido, zombado, rejeitado e crucificado, o que mais podemos esperar, nós que somos pastores imperfeitos? Se um dos apóstolos traiu a Cristo por uma quantia insignificante, e outro jurou que não O conhecia, motivado por temor de uma criada, por que esperamos realizar nosso ministério sem traições ou deserções?

Além disso, se nossos críticos estão errados e sofremos injustamente, não deveríamos dar graças a Deis por que eles não sabem, de fato, o quão maus realmente somos? Não importa o quanto somos criticados; nunca somos criticados na medida que nossos pecados merecem, ainda que sejamos inocentes quanto às acusações lançadas contra nós.

Se temos a Cristo, que, sendo inocente, sofreu por nós infinitamente mais do que sofreremos por Ele, temos mais do que necessitamos para enfrentar qualquer provação (1 Co 10.13; 2 co 4.7-12). Beba profundamente do amor de Cristo, deleite-se no Deus trino; assim, você vencerá o pessimismo e será capaz de amar aquele que o critica (Sl 37.1-4).

Considere a fidelidade de Cristo. Ele não foi fiel no passado, conduzindo-o através de cada período de criticismo? Ele não é maior do que qualquer obstáculo presente? Em vez de focalizar-se no seu crítico que parece ter tanto poder, focalize-se no grande poder de Cristo e em sua fidelidade eterna como seu Intercessor e Advogado à direita do Pai (Hb 7.25). Confie em Cristo mais uma vez; Ele não o desapontará.

Considere os santos das Escrituras

Permita-me usar como ilustrações um santo do Velho Testamento e outro do Novo. Considere Neemias. Muitas das críticas de Sambalá eram válidas. Os operários de Neemias não tinham habilidade; alguns não eram comprometidos com a obra. Algumas seções do muro não eram fortes; algumas seções não podiam ser reconstruídas (Ne 4.1-3). Como Neemias reagiu? Ele entregou sua causa a Deus, em oração. Neemias recordou que a fonte de sua visão era Deus e não ele mesmo. Assim, estabelecendo uma guarda, ele revisou seus planos de acordo com as circunstâncias, sem abandonar sua visão (Ne 4.4-9). Essa reação em três passos é freqüentemente o que precisamos fazer: orar, recordar e revisar — mas não abandonar a visão. Um plano fracassado não é igual a uma visão fracassada. Geralmente, isso significa que você tem de banir seu orgulho, mudar ou traçar novamente seus planos, de modo que a visão seja mais bem implementada.5

Considere, também, o apóstolo Paulo, em 2 Coríntios. Ali, ele se defende das acusações de crentes de Corinto que estavam desafiando sua liderança e criticando-o por não ser um superapóstolo, ser fisicamente fraco e ter um discurso desprezível. Como Paulo reagiu a essas críticas, no capítulo 10? Ele se refugia em Cristo. No versículo 7, Paulo disse: “Se alguém confia em si que é de Cristo... também nós o somos”. Ele se identifica com a pessoa de Cristo e sua obra, de acordo com as Escrituras e sua própria experiência. Em seguida, Paulo se esforça para trazer todo pensamento cativo à obediência de Cristo. Por fim, ele submete todas as suas fraquezas às mãos de Deus, aceita essas fraquezas e confia que Deus o usará como um cântaro quebrado que deixa a luz do evangelho resplandecer por seu intermédio. Façamos o mesmo.6 

Considere o amor

Ame aquele que o critica. Por amor a Cristo, torne-se mais familiarizado com aqueles que o criticam. Você não pode amar alguém, se não o conhece. Procure entendê-los. Dê-lhes certeza de que você quer aprender deles e que deseja ser um ferro que afia outro ferro. Agradeça-lhes porque o criticaram de maneira direta.

Esteja disposto a perdoar qualquer injúria cometida contra você. Deixar de perdoar manterá viva a mágoa. Arruinará a sua pregação, prejudicará o seu ministério e obstruirá a sua vida de oração. Como disse Spurgeon: “A menos que você perdoe os outros, você lê a sua própria sentença de morte, quando repete a oração do Pai Nosso. Perdoe e esqueça. Quando você sepulta um cão morto, não deixa a ponta do rabo fora da terra”.

Ore com aquele que o critica. Se ele o visita, sempre comece a visita com oração e peça-lhe que a termine com uma oração, a menos que ele ainda esteja ressentido no final da visita. (Se for uma mulher ou uma criança, você deve fazer a oração de encerramento da visita.) Tenha cuidado para orar a Deus e não contra a pessoa que o critica. Ande a segunda milha, pedindo ao Senhor que o perdoe e o ajude a mudar em qualquer área que precise de perdão e mudança. Seja tão específico quanto possível. Ore com integridade e humildade.

Depois, ore por ele em particular. É difícil manter ressentimento por uma pessoa em favor de quem oramos. O Senhor libertou Jó de seus graves sentimentos contra seus amigos judiciosos, quando Jó orou por eles. Orar por aqueles que o difamam produz paz na mente e liberdade da maioria das tristezas que acompanham o criticismo.

Tenha compaixão daquele que o critica negativamente. Quão infeliz é essa pessoa! Que danos causam a seus filhos os adultos que são habitualmente críticos! Quão raramente os filhos de pais críticos se tornam filhos e filhas resolutos da igreja! Quão trágico é ser um pai que faz “tropeçar a um destes pequeninos”! Pais críticos terão muito pelo que prestarão contas no Dia do Juízo! Agradeça a Deus por que você é o receptor da crítica, e não o promotor dela. Isso também ocorre somente pela graça de Deus, pois nosso coração natural não é melhor, nem diferente.

Por último, lance fora qualquer coisa que inibe o amor; como Pedro escreveu: “Despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte de maledicências” (1 Pe 2.1). Mostre bondade e atenção. Considero muito importante aquilo que alguém me disse há algum tempo: “A melhor maneira de conseguir atenção de nosso pastor é tornar-se um inimigo dele”.

Há outro lado benéfico para você também. Você descobrirá que, ao servir amavelmente àquele que o critica, em vez de retaliar com ressentimentos, suas mágoas curarão rapidamente. Se aquele que o critica rejeita suas tentativas de servi-lo, procure servir a outros — console os necessitados, levante os caídos e ampare os fracos. Isto será uma terapia excelente para você.

Considere uma visão de longo prazo

Nenhum presidente americano foi tão respeitado e, ao mesmo tempo, injuriado como Abraham Lincoln. Milhares se opunham às suas opiniões sobre a guerra e a escravidão, bem como às suas tentativas de manter a nação unida. Um dia, um amigo puxou Lincoln para o lado e lhe disse que o criticismo assumira tal proporção, que era como se ele estivesse cercado por inúmeros cães ladradores. Lincoln respondeu: “Você sabe que durante os dias da lua cheia os cães latem e latem para a lua, enquanto ela é claramente visível no céu”. Admirado com essa resposta, o amigo de Lincoln perguntou: “O que você quis dizer? Qual é o resto da história?” Lincoln respondeu: “Não há nada mais a dizer. A lua continua a brilhar”.

Você percebe: Lincoln acreditava que estava certo e que, a longo prazo, suas políticas venceriam os críticos e unificariam a nação. Como pastores, podemos hesitar facilmente sob a pressão de membros que fazem muito barulho, quando sabemos que estamos certos. Para obtermos paz temporária com um pequeno grupo de membros descontentes, somos propensos a abandonar nossa visão bíblica de longo prazo que resplandece em nossa igreja e ministério, como uma lua cheia. Não faça isso. Não se deixe intimidar por críticas e pelos críticos. Não permita que algumas críticas o force a seguir os moldes delas, de modo que você tenha uma vida tímida e hesitante, não fazendo nada, não dizendo nada e (o que é pior) não sendo nada. Não desanime, nem desista.

Lembre-se: o temor da crítica é uma ameaça maior do que a própria crítica. Quando você sentir o temor do homem, deixe que o temor de Deus o impulsione para frente e para o alto. Retenha a sua visão de longo prazo, por temer a Deus, e não o homem. Theodore Roosevelt disse: “Não é o crítico que é importante, nem o homem que ressalta como o homem forte tropeça ou onde o realizador de obras poderia ter feito o melhor. O crédito pertence àquele que está realmente na arena, aquele cuja face está suja pela poeira, suor e sangue, aquele que se esforça valentemente, que erra e, repetidas vezes, fica aquém do padrão”.

Considere a eternidade

No outro lado do Jordão, nosso fiel Salvador nos aguarda. Ele nunca permitirá que afundemos. Ele nos ama, embora saiba tudo a nosso respeito. E nos levará para que estejamos para sempre onde Ele está. Limpará de nossos olhos toda lágrima e se mostrará como um amigo mais chegado que um irmão. Todos os erros serão corrigidos. Todas as injustiças serão julgadas. Todas as críticas passarão. Todo o mal ficará fora do céu, e ali haverá todo o bem.

Por causa de Jesus Cristo, desfrutaremos de amizade e intimidade perfeitas com o Deus trino, sempre conhecendo, amando e tendo comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Assim como uma mãe que, abraçando seu recém-nascido, esquece as dores do parto, você esquecerá todas as provações de seu ministério quando chegar à presença de Emanuel.

No céu, haverá perfeita unidade. Teremos comunhão com os anjos eleitos e com os santos de todas as épocas, em absoluta perfeição. Não haverá denominações, divisões, discordâncias, mal-entendidos, argumentos teológicos, ignorância. Não haverá a menor diferença entre os santos. Lutero e Calvino concordarão plenamente em todos os pontos de doutrina. Seremos um, assim como Cristo é com o Pai, e o Pai, com Ele. Nossos irmãos críticos nos aceitarão, e nós, a eles. Haverá uma unidade completa, perfeita, visível e íntima.

Três grandes verdades se tornarão realidades perfeitas para nós: primeira, entenderemos que todo criticismo que recebemos neste mundo foi usado, nas mãos de nosso Oleiro, a fim de preparar-nos para a terra de Emanuel. Segunda, veremos plenamente que todas as críticas, as quais Deus nos chamou a suportar, neste mundo, eram apenas aflições leves, quando comparadas com o peso da glória que nos aguarda. Terceira, no céu seremos mais do que recompensados por toda aflição que suportarmos na terra por amor de nosso melhor e mais perfeito Amigo, Jesus Cristo.

Oh! feliz o dia em que esta mortalidade vestirá a imortalidade e esta corrupção, a incorrupção, e estaremos para sempre com o Senhor! Permitamos que todo o criticismo que nosso soberano Deus, em sua infinita sabedoria, nos chama a suportar, nesta vida, nos torne mais saudosos da terra de Beulá, onde não há criticismo e o Cordeiro é toda a sua glória. Ali,

A noiva contempla não as suas vestes,

E sim a face de seu querido Noivo.

Eu não contemplarei a glória,

E sim a graça de meu Rei;

Não a coroa que Ele me dará,

E sim a sua mão traspassada.

O Cordeiro é toda a glória

Da terra de Emanuel.

Desenvolva uma atitude positiva

Temos uma visão positiva do ministério? Temos a mais importante e significativa vocação do mundo. Meu pai costumava dizer: “Sua vocação é mais importante do que viver na Casa Branca”. Nunca temos de acordar pela manhã e perguntar se nosso ministério é uma carreira digna. Como afirmou Richard Baxter: “Não trocaria a minha vida por qualquer das maiores dignidades da terra. Estou contente em consumir meu corpo, sacrificar e gastar para o serviço de Deus tudo o que tenho, bem como em gastar a mim mesmo em favor da alma dos homens”.

Somos embaixadores do Rei dos reis e temos a promessa de que sua Palavra não retornará para Ele vazia (Is 55.10-11). Cristo é nosso intercessor à direita do Pai; e o Espírito Santo é o Advogado em nosso coração. Deus não permitirá criticismo além da graça que Ele nos dá, para suportá-lo (1 Co 10.13). Todas as críticas, assim como outras dificuldades, cooperarão, eventualmente, para o nosso bem (Rm 8.28).

Acabe com sua murmuração mundana. Conte suas bênçãos. Persevere no bom combate da fé. Você tem as melhores garantias nesse combate — as promessas de Deus; o melhor dos advogados — o Espírito Santo; o melhor dos generais — Jesus Cristo; e o melhor dos resultados — a glória eterna. Siga o conselho de Fred Malone: “Temos de parar de esperar que as pessoas reajam adequadamente, tornando-as nossos deuses da morte e da vida. Isto é idolatria: viver e morrer motivados pelo comportamento dos membros de nossa igreja. Paulo disse: ‘Segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos’. O conforto da misericórdia recebida da parte de Deus é uma motivação duradoura que tenho encontrado para continuar trabalhando em meio à provação”.7

“Restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos; e fazei caminhos retos para os pés” (Hb 12.12-13). Para cada vez que você olhar para si mesmo e suas circunstâncias, olhe dez vezes para Cristo, conforme aconselhou Richard Baxter. Você pode começar a queixar-se quando você tiver dado a Cristo o equivalente ao que Ele já lhe deu. Fortaleça o seu entendimento e permaneça firme, pois o seu Salvador é maior do que Apoliom e os tempos. Aquele que o enviou não o abandonará. Guarde firme a sua confissão - mesmo quando os amigos o abandonarem – apegando-se firmemente ao seu Sumo Sacerdote, que está unido a você. Confie nEle. Ele é o Amigo mais chegado que um irmão. Ele nunca o deixará. Não ponha sua confiança em príncipes ou em um mundo caído e corruptível, e sim no Príncipe da Paz. Olhe para Cristo. Dependa de Cristo. Ore a Cristo. Pregue a Cristo.

Ponha novamente as suas mãos no arado, apesar de suas fraquezas e mágoas. “Continue, com zelo dobrado, a servir o seu Senhor, mesmo quando não houver nenhum resultado visível”, aconselhou Spurgeon.8 Ore mais e olhe menos para as circunstâncias. “Não enterre a igreja, antes que ela esteja morta”, disse John Flavel. Eu acrescentaria: “Não enterre a você mesmo e a igreja, antes que você e ela estejam mortos”. Creia na promessa que Cristo fez aos seus servos: “Toda arma forjada contra ti não prosperará; toda língua que ousar contra ti em juízo, tu a condenarás; esta é a herança dos servos do Senhor e o seu direito que de mim procede, diz o Senhor” (Is 54.17).

Notas:

1. Sparks, James. Potshots at the preacher. Nashville: Abingdon, 1977. p. 9.

2. Stanley, Andy. Visioneering. Sisters, Ore.: Multnomah, 1999. p. 141, ss.

3. Taylor, James. Pastors under pressure: conflicts on the outside, conflicts within. Epsey, Surrey: Day One, 2001. p. 30.

4. Powlison, David. Does the Shoe Fit? Journal of Biblical Counseling, Gleanside, v. 20, n. 3, p. 4, spring 2002.

5. Stanley, Andy. Visioneering. Sisters, Ore.: Multnomah, 1999. p. 149-159.

6. Kelly, Douglas F. New life in the wasteland: 2 Corinthians on the cost and glory of christian ministry. Ross-shire, England: Christian Focus, 2003. p. 135-147.

7. Malone, Fred. An Encouragement to Ministers on Trial. Founders Journal, Cape Coral, v. 16, p. 11, spring 1994.

8. Spurgeon, C. H. Lectures to my students. London: Passmore and Alabaster, 1881. p. 179.

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