00:20
Jonathan Edwards
A primeira e a pior causa de erro que prevalece nos nossos dias é o orgulho espiritual. Essa é a principal porta que o diabo usa para entrar nos corações daqueles que têm zelo pelo avanço da causa de Cristo. É a principal via de entrada de fumaça venenosa que vem do abismo para escurecer a mente e desviar o juízo. É o meio que Satanás usa para controlar cristãos e obstruir uma obra de Deus. Até que essa doença seja curada, em vão se aplicarão remédios para resolver quaisquer outras enfermidades.

O orgulho é muito mais difícil de ser discernido do que qualquer outra fonte de corrupção porque, por sua própria natureza, leva a pessoa a ter um conceito alto demais de si própria. É alguma surpresa, então, verificar que a pessoa que pensa de si acima do que deve está totalmente inconsciente desse fato? Ela pensa, pelo contrário, que a opinião que tem de si está bem fundamentada e que, portanto, não é um conceito elevado demais. Como resultado, não existe outro assunto no qual o coração esteja mais enganado e mais difícil de ser sondado. A própria natureza do orgulho é criar autoconfiança e expulsar qualquer suspeita de mal em relação a si próprio.

O orgulho toma muitas formas e manifestações e envolve o coração como as camadas de uma cebola – ao se arrancar uma camada, existe outra por baixo dela. Por isto, precisamos ter a maior vigilância imaginável sobre nossos corações com respeito a essa questão e clamar àquele que sonda as profundezas do coração para que nos auxilie. Quem confia em seu próprio coração é insensato.

Como o orgulho espiritual é mascarado por natureza, geralmente não pode ser detectado por intuição imediata como aquilo que é mesmo. É mais fácil ser identificado por seus frutos e efeitos, alguns dos quais quero mencionar junto com os frutos opostos da humildade cristã.

A pessoa espiritualmente orgulhosa sente que já está cheia de luz, não necessitando assim de instrução. Assim, terá a tendência de prontamente rejeitar a oferta de ajuda nesse sentido. Por outro lado, a pessoa humilde é como uma pequena criança que facilmente recebe instrução. É cautelosa no seu conceito de si mesma, sensível à sua grande facilidade em se desviar. Se alguém lhe sugere que está, de fato, saindo do caminho reto, mostra pronta disposição em examinar a questão e ouvir as advertências.

As pessoas orgulhosas tendem a falar dos pecados dos outros: o terrível engano dos hipócritas, a falta de vida daqueles irmãos que têm amargura, a resistência de alguns crentes à santidade. A pura humildade cristã, porém, se cala sobre os pecados dos outros ou, no máximo, fala a respeito deles com tristeza e compaixão. A pessoa espiritualmente orgulhosa critica os outros cristãos por sua falta de crescimento na graça, enquanto o crente humilde vê tanta maldade em seu próprio coração, e se preocupa tanto com isso, que não tem muita atenção para dar aos corações dos outros. Queixa-se mais de si próprio e da sua própria frieza espiritual; sua esperança genuína é que todos os outros tenham mais amor e gratidão a Deus do que ele.

As pessoas espiritualmente orgulhosas falam freqüentemente de quase tudo que percebem nos outros em termos extremamente severos e ásperos. É comum dizerem que a opinião, conduta ou atitude de outra pessoa é do diabo ou do inferno. Muitas vezes, sua crítica é direcionada não só a pessoas ímpias, mas a verdadeiros filhos de Deus e a pessoas que são seus superiores. Os humildes, entretanto, mesmo quando recebem extraordinárias descobertas da glória de Deus, sentem-se esmagados pela sua própria indignidade e impureza. Suas exortações a outros cristãos são transmitidas de forma amorosa e humilde e, ao lidar com seus irmãos e companheiros, eles procuram tratá-los com a mesma humildade e mansidão com que Cristo, que está infinitamente superior a eles, os trata.

O orgulho espiritual comumente leva as pessoas a se comportarem de modo diferente na sua aparência exterior, a assumirem um jeito diferente de falar, de se expressar ou de agir. Por outro lado, o cristão humilde – mesmo sendo firme no seu dever, permanecendo sozinho no caminho do céu ainda que o mundo inteiro o abandone – não sente prazer em ser diferente só para ser diferente. Não procura se colocar numa posição onde possa ser visto e observado como uma pessoa distinta ou especial; muito pelo contrário, dispõe-se a ser todas as coisas a todas as pessoas, a ceder aos outros, a se adaptar aos outros e a agradá-los em tudo menos no pecado.

Pessoas orgulhosas dão muita atenção a oposição e a injúrias; tendem a falar dessas coisas freqüentemente com um ar de amargura ou desprezo. A humildade cristã, em contraste, leva a pessoa a ser mais semelhante ao seu bendito Senhor, o qual, quando foi maltratado não abriu sua boca, mas se entregou em silêncio àquele que julga retamente. Para o cristão humilde, quanto mais clamoroso e furioso o mundo se manifestar contra ele, mais silencioso e quieto ficará, com exceção de quando estiver no seu quarto de oração: lá ele não ficará calado.

Um outro padrão de pessoas espiritualmente orgulhosas é comportar-se de forma a torná-las o foco de atenção. É natural que a pessoa sob a influência do orgulho tome todo o respeito que lhe é oferecido. Se outros demonstram disposição de se submeterem a ela e a cederem em deferência a ela, esta pessoa receberá tais atitudes sem constrangimento. Na verdade, ela se habituou a esperar tal tratamento e a formar uma má opinião de quem não lhe oferece aquilo que pensa merecer.

00:31
Charles Haddon Spurgeon
Charles Haddon Spurgeon

   Existe um mal entre os que professam pertencer aos arraiais de Cristo, um mal tão grosseiro em sua imprudência, que a maioria dos que possuem pouca visão espiritual dificilmente deixará de perceber. Durante as últimas décadas, esse mal tem se desenvolvido em proporções anormais. Tem agido como o fermento, até que toda a massa fique levedada. O diabo raramente criou algo mais perspicaz do que sugerir à igreja que sua missão consiste em prover entretenimento para as pessoas, tendo em vista ganhá-las para Cristo. 

   A igreja abandonou a pregação ousada, como a dos puritanos; em seguida, ela gradualmente amenizou seu testemunho; depois, passou a aceitar e justificar as frivolidades que estavam em voga no mundo, e no passo seguinte, começou a tolerá-las em suas fronteiras; agora, a igreja as adotou sob o pretexto de ganhar as multidões.

   Minha primeira contenção é esta: as Escrituras não afirmam, em nenhuma de suas passagens, que prover entretenimento para as pessoas é uma função da igreja. Se esta é uma obra cristã, por que o Senhor Jesus não falou sobre ela? Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. (Mc 16.15) isso é bastante claro. 

   Se Ele tivesse acrescentado: E oferecei entretenimento para aqueles que não gostam do evangelho, assim teria acontecido. No entanto, tais palavras não se encontram na Bíblia. Sequer ocorreram à mente do Senhor Jesus. 

   E mais: Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres (Ef 4.11). Onde aparecem nesse versículo os que providenciariam entretenimento? O Espírito Santo silenciou a respeito deles.

   Os profetas foram perseguidos porque divertiam as pessoas ou porque recusavam-se a fazê-lo? Os concertos de música não têm um rol de mártires.

   Novamente, prover entretenimento está em direto antagonismo ao ensino e à vida de Cristo e de seus apóstolos. Qual era a atitude da igreja em relação ao mundo? .Vós sois o sal., não o .docinho., algo que o mundo desprezará. Pungente e curta foi a afirmação de nosso Senhor: .Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. (Lc 9.60). Ele estava falando com terrível seriedade!

   Se Cristo houvesse introduzido mais elementos brilhantes e agradáveis em seu ministério, teria sido mais popular em seus resultados, porque seus ensinos eram perscrutadores.

   Não O vejo dizendo: Pedro, vá atrás do povo e diga-lhe que teremos um culto diferente amanhã, algo atraente e breve, com pouca pregação. Teremos uma noite agradável para as pessoas. Diga-lhes que com certeza realizaremos esse tipo de culto. Vá logo, Pedro, temos de ganhar as pessoas de alguma maneira!

   Jesus teve compaixão dos pecadores, lamentou e chorou por eles, mas nunca procurou diverti-los. Em vão, pesquisaremos as cartas do Novo Testamento a fim de encontrar qualquer indício de um evangelho de entretenimento. A mensagem das cartas é: Retirai-vos, separai-vos e purificai-vos! 

   Qualquer coisa que tinha a aparência de brincadeira evidentemente foi deixado fora das cartas. Os apóstolos tinham confiança irrestrita no evangelho e não utilizavam outros instrumentos. Depois que Pedro e João foram encarcerados por pregarem o evangelho, a igreja se reuniu para orar, mas não suplicaram: Senhor, concede aos teus servos que, por meio do prudente e discriminado uso da recreação legítima, mostremos a essas pessoas quão felizes nós somos. 

   Eles não pararam de pregar a Cristo, por isso não tinham tempo para arranjar entretenimento para seus ouvintes. Espalhados por causa da perseguição, foram a muitos lugares pregando o evangelho. Eles .transtornaram o mundo.. Essa é a única diferença! Senhor, limpe a igreja de todo o lixo e baboseira que o diabo impôs sobre ela e traga-nos de volta aos métodos dos apóstolos.

   Por último, a missão de prover entretenimento falha em conseguir os resultados desejados. Causa danos entre os novos convertidos. Permitam que falem os negligentes e zombadores, que foram alcançados por um evangelho parcial; que falem os cansados e oprimidos que buscaram paz através de um concerto musical. Levante-se e fale o alcoólatra para quem o entretenimento na forma de drama foi um elo no processo de sua conversão! 

   A resposta é óbvia: a missão de prover entretenimento não produz convertidos verdadeiros. A necessidade atual para o ministro do evangelho é uma instrução bíblica fiel, bem como ardente espiritualidade; uma resulta da outra, assim como o fruto procede da raiz. A necessidade de nossa época é a doutrina bíblica, entendida e experimentada de tal modo, que produz devoção verdadeira no íntimo dos convertidos.

06:33
D. M. Lloyd Jones
Ninguém jamais terá uma concepção verdadeira do ensino bíblico sobre a redenção, se não possuir clareza de entendimento sobre a doutrina bíblica do pecado. E essa é a razão por que muitas pessoas, em nossos dias, são inseguras e vagas em suas ideias a respeito da redenção. 

A ideia mais comum é a de que o Senhor Jesus é um tipo de amigo ao qual todos podem recorrer em dificuldades, como se isso fosse tudo a respeito dEle. O Senhor Jesus é esse tipo de amigo — e temos de agradecer a Deus!

Mas isso não é redenção em todo o seu escopo, em sua inteireza ou em sua essência. Você não pode começar a avaliar a redenção, até que compreenda o que a Bíblia nos ensina a respeito da condição do homem no pecado e de todos os efeitos do pecado no homem. 

Permita-me dizê-lo com outras palavras: você não pode entender a doutrina da encarnação de Cristo, a menos que entenda a doutrina do pecado. A Bíblia nos ensina que o homem estava em uma condição tão deplorável, que exigia a vinda, dos céus à terra, da Segunda Pessoa da bendita e santíssima Trindade. Ele teve de humilhar-se e assumir a natureza humana, nascendo como um bebê.

Isso era absolutamente essencial, para que o homem fosse redimido. Por quê? Por causa do pecado e da sua natureza. Por conseguinte, você não pode entender a encarnação de Jesus, a menos que tenha um entendimento claro sobre o pecado. De maneira semelhante, considere a cruz no monte Calvário. 

O que ela significa? O que a cruz nos diz?

O que aconteceu lá? Digo novamente que você não pode entender a morte de nosso Senhor e o que Ele fez na cruz, se não possui um entendimento claro sobre a doutrina do pecado. A completa imprecisão das idéias de muitas pessoas a respeito da morte de nosso Salvador se deve completamente a este fato: e elas não gostam da doutrina da substituição, não gostam da doutrina do sofrimento penal. 

Isso acontece porque nunca compreenderam o problema e não veem o homem como um criatura caída no pecado. Estas são as doutrinas fundamentais da fé cristã; não se pode entender a redenção, exceto à luz da terrível condição do homem no pecado.

00:03

É verdade que, onde abundou o pecado, superabundou a graça; então, .permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante?. A genuína pregação do evangelho da salvação somente pela graça sempre leva à possibilidade desta censura ser lançada contra a graça. Não existe melhor teste para sabermos se um homem está realmente pregando o evangelho do Novo Testamento: algumas pessoas o entendem mal e o interpretam de maneira errada, de modo que chegam à seguinte conclusão: visto que fomos salvos penas pela graça, realmente não importa tudo que fazemos, podemos continuar pecando como queremos, pois isto redundará em mais glória da graça de Deus. Este é um excelente teste para avaliarmos a pregação do evangelho. Se minha pregação deixa de expor o evangelho ao ponto de gerar este mal-entendido, realmente não estou proclamando o evangelho. Pretendo explicar o que estou afirmando. Se um homem anuncia a justificação por meio de obras, jamais teremos aquele entendimento errado. Se ele diz: .Você deseja ir ao céu? Então precisa parar de cometer pecados, viver um vida repleta de boas obras e observar certas coisas até à sua morte, deste modo será um cristão e irá ao céu, quando morrer.. O pregador da mensagem acima não será acusado de ter dito: .Continuemos a pecar, para que a graça seja abundante.. Mas todo fiel pregador que anuncia o evangelho tem sido acusado de anunciar uma mensagem que estimula a pecar! Todos eles têm sido acusados de .antinomianismo. (estar contra a lei). Eu poderia falar a todos os ministros do evangelho: .SE A SUA PREGAÇÃO DO EVANGELHO NÃO TEM SIDO ENTENDIDA DAQUELA MANEIRA ERRADA, VOCÊ DEVE EXAMINAR SEUS SERMÕES NOVAMENTE.; é melhor certificar-se de que está realmente proclamando a salvação anunciada no Novo Testamento aos ímpios, pecadores, mortos em seus delitos e pecados, inimigos de Deus. Existe um certo elemento de perigo na apresentação da doutrina da salvação.

00:24
D. M. Lloyd Jones
Justificação não significa meramente perdão. Inclui o perdão; no entanto, é muitíssimo maior do que este. Além disso, a justificação afirma que Deus nos declara completamente inocentes, considerando-nos pessoas que jamais pecaram. Ele nos proclama justos e santos. Agindo assim, Deus está refutando qualquer acusação que a lei faça contra nós. Não é apenas o juiz, no tribunal, asseverando que o réu está perdoado, mas declarando-o uma PESSOA JUSTA E INOCENTE. Ao justificar-nos, Deus nos informa que removeu nosso pecado e culpa, imputando-os, ou seja, lançando-os na conta do Senhor Jesus Cristo, castigando-os nEle. Deus também anuncia que, fazendo isso, lança em nossa conta (ou seja, imputa-nos) a perfeita justiça de seu querido Filho. O Senhor Jesus Cristo obedeceu completamente a Lei; jamais a transgrediu em algum aspecto, satisfazendo-a em todas as suas exigências. Esta completa obediência constitui a justiça dEle. O que Deus faz ao justificar-nos é lançar em nossa conta (ou seja, imputar-nos) a justiça do Senhor Jesus Cristo. Ao declarar-nos justificados, Deus proclama que nos vê não mais como realmente somos, e sim como pessoas vestidas da justiça de Cristo. Um hino escrito pelo conde Zinzendorf expressa deste modo a justificação:

"Jesus, tua veste de justiça É agora minha beleza; minha gloriosa vestimenta. Entre os mundos flamejantes, Envolvido em tua justiça, com alegria eu Te exaltarei."

02:45
Joel R. Beeke

A Importância da Segurança da Fé - Joel R. Beeke
A Importância da Segurança da Fé

Joel R. Beeke

Joel Beeke é pastor da igreja Heritage Reformed Congregation, em Grand Rapids, MI, EUA. É presidente, Deão acadêmico e catedrático de Teologia Sistemática e Homilética do Seminário Reformado Puritano. Possui Ph.D pelo seminário Westminster em Teologia Reformada e Pós-reforma. Pr. Beeke atua como preletor em diversas conferências em várias partes do mundo, inclusive o Brasil; é autor e co-autor de mais de 50 livros, alguns já em português, como o livro “Vencendo o Mundo” (Editora Fiel) e outros em processo de tradução. É casado com Mary Beeke com quem tem 3 filhos


A segurança da fé é a convicção de pertencer a Cristo por meio da fé e desfrutar a salvação eterna. Aquele que tem essa segurança não somente crê na justiça de Cristo para a sua salvação, mas também sabe que crê e que é amado graciosamente por Deus.

Essa segurança é ampla em seu escopo. Inclui liberdade da culpa do pecado, alegria no relacionamento com o Deus trino e um senso de pertencer à família de Deus. James W. Alexander disse que a segurança “leva consigo a idéia de plenitude, tal como uma árvore carregada de frutos ou como as velas de um navio enchidas por ventos favoráveis”.

A segurança é conhecida por seus frutos, tais como a comunhão íntima com Deus, a obediência submissa, sede de Deus e anelo por glorificá-lo, cumprindo a Grande Comissão. A segurança prevê, em oração, o avivamento, mantendo-se submissa à esperança escatológica. Os crentes que têm essa segurança vêem o céu como o seu lar, anseiam pela segunda vinda de Cristo e pela trasladação à glória (2 Tm 4.6-8).

A segurança sempre foi um assunto vital. Sua importância é mais crucial agora porque vivemos em dias de segurança mínima. E, o que é pior, muitos não compreendem isso. O desejo de comunhão com Deus, o anseio pela glória de Deus e pelo céu e a intercessão em favor de avivamento parecem lânguidos. Isso acontece quando a ênfase da igreja na felicidade terrena sobrepuja a convicção de que ela está peregrinando neste mundo em direção a Deus e à glória.

A necessidade de uma doutrina de segurança alicerçada nas Escrituras é fortalecida pela ênfase da cultura nos sentimentos. A maneira como sentimos as coisas toma geralmente a precedência em relação ao que sabemos e cremos. Essa atitude infiltrou-se na igreja. O crescimento extraordinário do movimento carismático pode ser atribuído, em parte, a um cristianismo formal e sem vida, pois o movimento carismático oferece aos seus adeptos emoção e estímulos para encherem o vazio criado pela falta de verdadeira segurança da fé, bem como pela ausência de seus frutos. Hoje, necessitamos desesperadamente do pensar doutrinário acompanhado do viver santificado e vibrante.

Este artigo trata de questões, dificuldades e assuntos associados à segurança da fé. Consideremos cinco razões importante por que devemos crescer nesta segurança.

Integridade de Fé e Vida

Nosso entendimento da segurança da fé determina a integridade de nossa compreensão a respeito da vida espiritual. Podemos estar certos em muitas áreas e incorretos em nosso entendimento desta doutrina fundamental das Escrituras.

Muitos pensam erroneamente que são cristãos. Tememos que inúmeras pessoas que se consideram cristãs despertarão no inferno, em horror eterno.

O problema envolvido no “crer fácil” é que as pessoas não examinam se a sua fé é genuína e está bem fundamentada. Esse erro talvez seja mais bem designado como a “segurança fácil” e não o “crer fácil”. Eles reivindicam a segurança sem possuírem um fundamento para ela. Erros a respeito de como uma pessoa chega à segurança da fé podem conduzir facilmente a uma segurança falsa. Um entendimento correto da segurança da fé nos ajuda a evitar essa presunção.

Um ponto de vista errado a respeito da segurança pode impedir-nos de ter segurança, quando deveríamos tê-la. Alguns filhos de Deus verdadeiros não crêem que são filhos de Deus. Aceitam um tipo de “crer difícil”, procurando evidências pelas quais não têm o direito de esperar. Pode haver evidência firme e bíblica de que eles são filhos de Deus, mas não estão satisfeitos com isso. Eles mesmos são o maior obstáculo na obtenção da segurança. Um entendimento correto da segurança da fé também é importante nesse caso.

Aqueles que têm uma compreensão apropriada da segurança evitarão tanto o crer fácil como o crer difícil. A segurança não será um benefício automático. Eles não se tornarão seguros de sua fé sem uma evidência de fé sólida e bíblica operando em sua vida. Ficarão cientes do perigo do crer fácil e examinarão regularmente seus coração e vida à luz da Palavra de Deus. Por outro lado, eles reconhecerão em sua vida a evidência do novo nascimento e perceberão a sua presença. Quando sentirem anseio genuíno por Deus e ódio pelo pecado, reconhecerão essas coisas como obra do Espírito Santo e serão consolados por elas. Não desprezarão as dias das coisas humildes. Sem esses dias, poucos filhos de Deus ficarão seguros quanto à sua fé.

Paz com Deus

A segurança é inseparável da paz e do consolo do evangelho. A segurança de que somos nascidos de Deus é necessária, se temos de experimentar paz, amor e alegria. Experimentar verdadeira paz e alegria no Senhor enriquece grandemente a nossa vida, enquanto estamos neste mundo. Essa é uma das razões por que Thomas Brooks intitulou de Heaven and Earth (Céu e Terra) o seu livro sobre a segurança da fé. A segurança está relacionada com a paz e a alegria do evangelho e precisa ser cultivada.

Como cristãos, devemos desejar esses dons, porque somos exibições do evangelho. Filipenses 2.15 nos ensina: “Para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo”. Manter uma atmosfera de paz e alegria é uma das maneiras pelas quais o crente pode resplandecer como luz neste mundo perverso. Que tipo de idéias o mundo nutre a respeito de Deus, se o povo de Deus não mostra que servir ao Senhor é algo maravilhoso? Que tipo de afirmação fazemos a respeito de Deus, se as pessoas não podem detectar em nós a paz e a alegria tranqüilas que nos distinguem?

Isso não significa que os cristãos não terão tempos de tristeza por causa do pecado, dificuldades e dúvidas. Mas as Escrituras são bastante claras em dizer que os cristãos procuram normalmente exibir paz e alegria no Senhor. Para fazermos isso, precisamos estar seguros de nossa fé.

Serviço cristão

Um cristão seguro é um cristão ativo. Paulo disse aos cristãos de Tessalônica: “O nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção” (1 Ts 1.5). O evangelho foi abençoado em Tessalônica de modo que houve muita convicção. E Paulo acrescentou: “De sorte que vos tornastes o modelo para todos os crentes na Macedônia e na Acaia. Porque de vós repercutiu a palavra do Senhor não só na Macedônia e Acaia, mas também por toda parte se divulgou a vossa fé para com Deus, a tal ponto de não termos necessidade de acrescentar coisa alguma” (vv. 7-8). Quão admirável! Aqueles cristãos, recém-convertidos, repercutiram a Palavra de Deus; ou seja, eles evangelizaram. Assim, quando Paulo chegou à região deles, descobriu que a Palavra de Deus já estava ali. Essas pessoas se mostraram zelosas por Deus, porque estavam seguras de sua salvação.

Um cristão que não possui segurança raramente se interessa por boas obras. Em vez disso, seu vigor espiritual é consumido em questionar se é salvo ou não. Quando essa dúvida não é resolvida, a pessoa fica incerta quanto a ajudar os outros no serviço do Senhor. Como o disse J. C. Ryle: “O crente ao qual falta uma firme esperança passa grande parte do seu tempo sondando o próprio coração acerca de seu próprio estado de alma. Tal como uma pessoa nervosa e hipocondríaca, ele encherá a cabeça com as suas próprias indisposições, com as suas próprias dúvidas e perguntas, com seus próprios conflitos e corrupções. Em suma, tal crente ficará com freqüência tão absorvido com seus conflitos íntimos que pouco tempo lhe restará para outras coisas e para trabalhar para Deus” (“Segurança”, em Santidade sem a qual Ninguém Verá o Senhor, Editora Fiel, 2009, p. 159).

Ás vezes, pensamos que nosso propósito aqui na terra é somente achar a salvação; uma vez que somos salvos, temos pouco a fazer até chegarmos ao céu. A conversão é vista como um fim em si mesmo. Mas isso não é verdade. Somos convertidos para cumprir um propósito: servir a Deus no mundo. 1 Pedro 2.9 nos diz por que Deus resolveu converter pessoas: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. Deus nos converte para que proclamemos as suas virtudes. Somos convertidos para servir a Deus e ao nosso próximo. Se nos falta segurança, nosso servir a Deus não será entusiasta.

Comunhão com Deus

A segurança é valiosa porque enriquece a nossa comunhão com Deus. Como uma pessoa pode ter comunhão íntima com Deus, se teme que Deus está irado? Quão difícil seria termos comunhão com um filho que está sempre com medo de nós. O filho nunca fica tranqüilo e jamais aceita nossas expressões de amor. Nessa atmosfera, um relacionamento íntimo é impossível.

Por contraste, considere a segurança implícita no Cântico dos Cânticos, quando a noiva disse: “Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu”. Aqui há comunhão, interação, um relacionamento caloroso e digno, amor e confiança, por parte da noiva, no fato de que o amor é mútuo. Esse é o tipo de comunhão que o Senhor deseja ter com seu povo. Ele descreve freqüentemente seu relacionamento com eles em termos que implicam intimidade: Pai e filhos, Esposo e esposa, Noivo e noiva, Cabeça e corpo. O Senhor usa o mais íntimo dos relacionamentos da vida para descrever o relacionamento que deseja ter com seu povo. É óbvio que a segurança é necessária para desenvolvermos esse tipo de relacionamento.

Santidade ao Senhor

Finalmente, a segurança é crucial porque torna o cristão mais santo. Falando sobre a segurança que resulta do conhecimento de que somos filhos do Pai, João disse: “E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro” (1 Jo 3.3).

A segurança que não conduz a um viver mais santo é falsa. Aquele que tem a segurança bem fundamentada, que experimenta paz e alegria, que se ocupa com a obra do Senhor e vive em comunhão íntima com Deus é uma pessoa santa. Um crente não pode persistir nos altos níveis de segurança enquanto persiste em baixos níveis de santidade.

A segurança nos traz a um contato íntimo com o poder de Deus. Quando desfrutamos de um relacionamento de confiança com Deus e descansamos em sua misericórdia e graça, nossos corações são inflamados pelo amor a Deus. Esse amor nos dá poder para um viver santo. Quanto mais íntimos somos de Deus, tanto mais amor teremos por ele e tanto mais pura será a nossa vida. Uma pessoa santa é motivada por amor a Deus, por causa de Cristo. O amor de Cristo constrange o homem santo (2 Co 5.14).

Assim você pode perceber quão importante é este assunto da segurança. É possível alguém ser salvo e não ter segurança. Contudo, é quase impossível alguém ser um cristão sadio se não possui a segurança da fé. Você pode objetar: as Escrituras não afirmam que Deus tem interesse especial por pecadores necessitados e pobres? Se ele parar de ser pobre e necessitado, há motivo para duvidarmos que a sua segurança está alicerçada em bases sólidas. Cristo tem de crescer, e ele diminuir (Jo 3.30).

O Senhor está perto daqueles que têm um coração quebrantado, um espírito contrito e ainda não têm a segurança da fé. Mas isso não leva a concluir disso que essa seja uma condição desejável. Se somos pobres e necessitados sem a segurança da fé, devemos buscá-la.

Conclusão

A segurança é vital para o nosso bem-estar espiritual. Algumas pessoas acham que segurança indica superficialidade. Aos seus olhos, alguém é considerado suspeito se possui segurança. Na realidade, aqueles que vêem a dúvida como um sinal de profunda experiência religiosa e seguem em direção a Deus e à glória sem a segurança da fé, esses têm apenas um entendimento superficial das Escrituras. Um entendimento mais profundo nos leva a reconhecer a obra do Espírito em nosso coração, a conhecê-la e descansar no Senhor Jesus Cristo, com fé semelhante à de uma criança. 


www.editorafiel.com.br
www.puritanseminary.org

Traduzido por: Wellington Ferreira

Copyright:© Joel Beeke

© Editora FIEL 2009.

Traduzido do original em inglês: The Importance of Assurance of Faith. Com permissão de PRTS.

10:40
Joel R. Beeke

Seu Conflito com o Criticismo - Joel R. Beeke
Seu Conflito com o Criticismo

Joel R. Beeke

Joel Beeke é pastor da igreja Heritage Reformed Congregation, em Grand Rapids, MI, EUA. É presidente, Deão acadêmico e catedrático de Teologia Sistemática e Homilética do Seminário Reformado Puritano. Possui Ph.D pelo seminário Westminster em Teologia Reformada e Pós-reforma. Pr. Beeke atua como preletor em diversas conferências em várias partes do mundo, inclusive o Brasil; é autor e co-autor de mais de 50 livros, alguns já em português, como o livro “Vencendo o Mundo” (Editora Fiel) e outros em processo de tradução. É casado com Mary Beeke com quem tem 3 filhos

Uma atitude pessimista em um pastor não é melhor do que uma atitude de orgulho, porque este é a raiz do pessimismo. Os pastores se tornam pessimistas quando pensam que merecem um tratamento melhor do que estão recebendo. Às vezes, eles podem estar certos, mas também podem estar falhando no exercício da auto-renúncia semelhante à de seu Senhor, que, às mãos dos homens, sofreu muito mais do que os pastores podem estar sofrendo. Contudo, apesar de haver sofrido muito mais, nosso Senhor não retaliou (1 Pe 2.23).

O ressentimento e o criticismo são servos do pessimismo. Um espírito murmurador produz pessimismo, depressão, amargura e desilusão no ministério. Também produz presunção e cegueira quanto à condição da própria pessoa. Pastores amargurados não conseguem, freqüentemente, ver seu espírito não perdoador ou sua tendência de julgar os outros e magnificar suas imperfeições (Mt 7.3-5).

Se algum pastor tinha razões para ser pessimista, esse era o encarcerado Paulo. No entanto, foi da prisão que ele escreveu a sua mais alegre epístola, Filipenses. Paulo experimentou tempo de depressão e tristeza (2 Co 1.8-9), mas suas epístolas mostram pouca evidencia dessa situação. Ele pôde dizer: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (Fp 4.11). As pessoas já têm bastante problemas e dificuldades; e não precisam ter de suportar as ministrações de um pastor pessimista e descontente.

Parte do problema do pessimismo é que poucos pastores sabem como responder àqueles que os criticam. No seminário, não receberam nenhum conselho acerca deste assunto crítico; e não podem achar muita ajuda na literatura que aborda o assunto; e, muito provavelmente, não assistiram a nenhuma conferencia que tratasse do assunto. Um estudo recente mostra que 81% dos clérigos americanos têm sofrido criticismo hostil; 25% dos clérigos sentiram que enfrentar o criticismo era o problema mais difícil do ministério.1 Ser a última instância de recepção do criticismo, durante muitos anos, resulta em pessimismo, cinismo, desespero, insônia e resignações. Este capítulo tenciona oferecer-lhe alguma ajuda para você enfrentar o criticismo, sem que este leve ao pessimismo.

Considere o criticismo inevitável

John Wesley uma vez questionou, em seu diário, se ele estava realmente vivendo de modo correto para Deus, pois não recebera nenhum criticismo durante todo o dia! É fútil imaginar que você pode evitar o criticismo no ministério. Os pastores se engajam no que Andy Stanley chama de implementar visões. Implementar visões envolve produzir mudanças, e estas produzem criticismo da parte daqueles que estão acostumados com o estado em as coisas se encontram.2 Além disso, se você proclama todo o conselho de Deus, como deve fazê-lo, está destinado a se tornar alvo de criticismo, pois as verdades que você apresenta têm conseqüências eternas. Portanto, não se surpreenda quando as pessoas o odeiam ou o amam. Se você está conseguindo penetrar-lhes a alma, poucas se mostrarão neutras. Ou elas rejeitarão a sua mensagem, ou testemunharão que a mensagem alimenta-lhes a alma. Como Jesus disse: “Ai de vós, quando todos vos louvarem!” (Lc 6.26). Espere criticismo e não se deixe vencer por ele.

Considere os motivos

Antes de tudo, é imperativo ouvir bem. Não aceite os fatos imediatamente, mas faça perguntas — ouvi e entendi a crítica de modo exato e correto? Ouvi o verdadeiro problema ou apenas um sintoma de algo mais profundo? Ira não solucionada, depressão, mudanças nas situações da vida, frustração nos relacionamentos, inveja, expectativas arruinadas e insatisfação com a obra da igreja podem levar ao criticismo. Então, pergunte a si mesmo: “A pessoa que está me criticando tem um motivo justo que tem como alvo o aprimoramento de meu ministério, ou essa crítica é apenas uma indicação de algo mais?” Por exemplo, aquele que critica se alegra em achar falhas nos outros, porque isso, de algum modo, o faz sentir-se superior? Entender o motivo das pessoas o ajudará a reagir e enfrentar melhor a crítica. Como regra geral, dê àquele que o critica o benefício da dúvida, admitindo que o motivo dele é puro, a menos que você tenha evidências convincentes do contrário.

Considere a fonte

Embora você deva encarar com seriedade toda crítica, pergunte também a si mesmo: “Quem está me criticando — um oficial da igreja, um crente maduro, um bebê na fé, um incrédulo, uma pessoa altamente crítica ou um membro negligente da igreja? James Taylor escreveu: “Aqueles que criticam são geralmente os que não se envolvem, que ficam à margem e se mostram surdos a todos os apelos de serviço para a igreja”.3 A crítica proveniente desse tipo de pessoa raramente merece chance ou qualquer outro investimento de energia de nossa parte.

Por outro lado, se a crítica procede de um crente maduro ou de um oficial da igreja que apóia o seu ministério, você deve considerar a crítica com mais seriedade e descobrirá que ela contém alguma verdade que exige mudança. Além disso, você deve incentivar a avaliação construtiva da parte dessa pessoa. Falando de modo geral, quanto mais sinceramente você receber críticas construtivas, tanto mais o seu ministério e relacionamentos com os outros se beneficiarão dessas críticas.

No entanto, tenha cuidado para não reagir com excesso às reclamações que são levantadas por alguns e têm pouco significado para eles. Existe uma diferença entre uma reclamação da parte de três pessoas em uma igreja de quinze membros e uma reclamação de três pessoas em uma igreja de mil membros. Em igrejas grandes, uma mudança realizada por alguns membros provocará mais reação do que satisfação nas pessoas. Em resumo, devemos atentar primeiramente à qualidade da reclamação, mas, às vezes, o número de pessoas que reclamam também merece que sejam feitas mudanças, que de outro modo, seriam inconseqüentes.

Considere o contexto

O ambiente físico, o momento e a situação que geraram a crítica podem nos ajudar a determinar se ela é proveitosa. Como regra geral, não reaja à crítica por, pelo menos, 24 horas, dando a si mesmo tempo para orar, filtrar seus sentimentos, superar a mágoa e consultar outros cuja sabedoria você respeita.

O tempo de oração é vital. A oração coloca a crítica no contexto apropriado. Traz clareza à mente e vigor à alma; diminui a ansiedade e reacende a sua paixão por aquilo que é correto e verdadeiro.

Lembre-se: você é mais conhecido por suas reações do que por suas ações (Pv 16.32). Impor apressadamente soluções para os problemas pode tornar pior a situação. Algumas situações se renderão apenas ao toque curativo do tempo. A verdade tem uma maneira de vindicar a si mesma no tempo oportuno. Lucas 21.19 afirma: “É na vossa perseverança que ganhareis a vossa alma”.

Considere a si mesmo

As críticas são, freqüentemente, dons de Deus para nos protegerem de tendências auto-satisfatórias e autodestrutivas. O Espírito Santo usa nossas críticas para nos guardar de justificarmos, protegermos e exaltarmos a nós mesmos. Embora as pessoas exagerem em suas críticas e raramente estejam corretas no todo, elas estão certas em parte.

Pergunte a si mesmo: “Estou reagindo corretamente à crítica?” Lembre: aqueles que ouvem a Cristo aprendem a ouvir os outros. Se você percebe que está se sentindo, habitualmente, desrespeitado, negligenciado e injuriado, encare esses sentimentos com suspeita. Torne-se mais vulnerável. Você reclamará menos, se considerar quão pouco criticismo recebe, embora seja um homem indigno, se comparado com Cristo, que era totalmente digno.

Ache alguém que possa tornar-se responsável por você e o ajude a monitorar suas reações. Busque a sabedoria e a coragem necessárias para penetrar o isolamento de seu ego. Não tenha medo de dizer: “Eu estava errado; você me perdoa?”

Considere o conteúdo

Você pode aprender muito a respeito de si mesmo ao ouvir críticas. Seja grato por elas. Alguns de nossos melhores amigos são aqueles que discordam de nós, com amor, sinceridade e inteligência. “Leais são as feridas feitas pelo que ama” (Pv 27.6). A crítica proveitosa é um bom remédio.

David Powlison escreveu: “As críticas, como as autoridades governamentais, são ministros de Deus para o nosso bem (Rm 13.4). Ele, que vê o coração, usa as críticas para ajudar-nos a ver coisas em nós mesmos: erros na fé e prática, ênfases distorcidas, assuntos em que carecemos de discernimento, áreas de negligência, atitudes e ações contrárias aos compromissos afirmados e, sim, virtudes e contribuições significativas”.4

Então, pergunte a si mesmo: o que as críticas estão dizendo que me ajuda a aprimorar a mim mesmo e ao meu ministério? Há um cerne de verdade nesta crítica que, feitas as mudanças, me tornarão um pastor melhor?

Se as críticas dizem algo construtivo, absorva-as, confesse sua falha, seja o primeiro na autocrítica, peça perdão com sinceridade, mude para melhor e continue seu ministério. Se as críticas não oferecem nada construtivo, seja cortês e educado; e siga em frente.

Nunca se torne irado nem autodefensor, mas ofereça a outra face, como Jesus aconselhou. Se a sua consciência é pura, uma explicação simples e clara pode ser proveitosa em certos casos, embora o silêncio respeitoso seja freqüentemente mais apropriado e eficaz (Mc 14.61). A qualquer custo, esforce-se para não justificar a si mesmo; seus amigos não precisam disso, e seus inimigos provavelmente não acreditarão em sua justificativa. Recuse-se a descer ao nível da crítica negativa; não retribua o mal com o mal. Lute as batalhas de Deus, não as suas próprias, e você descobrirá que Ele lutará as suas batalhas. Não lhe compete retribuir. Romanos 12.19 declara: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor”.

Não aceite com seriedade qualquer sussurro. Não se desvie para a controvérsia infrutífera, nem gaste suas energias tentando apaziguar ou persuadir críticas implacáveis que nutrem a animosidade. Lembre: “O irmão ofendido resiste mais que uma fortaleza; suas contendas são ferrolhos de um castelo” (Pv 18.19). Por que estou sendo mal entendido? Os meus sermões, atitudes, temas favoritos e características pessoais se combinam, de alguma maneira, para transmitir uma mensagem confusa? Estou apenas falando de modo indireto sobre aquilo que deveria expressar com clareza ou ignoro certos problemas que deveriam ser abordados? Com freqüência, as críticas que você recebe estão, em parte, corretas em uma ou mais dessas áreas. Pelo menos, elas lhe ensinarão paciência, o tornarão mais semelhante a Cristo e o guardarão do orgulho. Podem salvá-lo de você mesmo, levando-o a grande dependência de Deus.

Não importando os resultados que as críticas produzam, uma vez que você tenha lidado corretamente com elas e feito as mudanças necessárias, não permita que elas infeccionem e prejudiquem sua alma. Desenvolva a atitude de Eleanor Roosevelt, que disse: “As críticas causam poucas conseqüências em mim, a menos que pense haver um verdadeiro motivo para elas ou algo que eu tenha de fazer”. De qualquer maneira, aborde as críticas de modo rápido e eficaz; e esqueça-as. Depois, dedique-se à sua obra. Não esqueça que o pessimismo se desenvolve quando abrigamos a recordação e a mágoa das críticas, permitindo-lhes que infeccionem o nosso íntimo.

Considere as Escrituras

Alguns pastores são extremamente delicados e, por isso, não podem suportar o criticismo sem sucumbir. Eles precisam desenvolver emoções mais fortes. Outros pastores se mostram tão enrijecidos pelos conflitos do ministério, que seu coração, como alguém disse, é como o couro de um rinoceronte. Eles precisam desenvolver um coração brando de criança. Na verdade, precisamos de ambas essas coisas. Precisamos cultivar um coração de criança em relação ao criticismo bíblico e do couro de rinoceronte em relação ao criticismo satânico. A combinação é possível, não em nossa força, mas somente pela graça de Deus moldando nosso coração, por intermédio de sua Palavra.

Precisamos memorizar e meditar textos como Efésios 6.10: “Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder”; bem como Romanos 12.10: “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal”; e Romanos 8.28: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. Não esqueçamos que Deus não comete erros. Olhe mais para Ele como a causa primária e não olhe para causas secundárias. Creia em Jesus, quando Ele disse: “O que eu faço não o sabes agora; compreendê-lo-ás depois” (Jo 13.7). Devemos ler e meditar esses textos diariamente, permitindo que eles permeiem nossa mente e alma, de modo que fiquemos convencidos de que os propósitos de nosso Senhor prevalecerão sempre, até nas mais intensa perseguição. Satanás não é senhor sobre Cristo; pelo contrário, Cristo é Senhor sobre Satanás e usará até o criticismo satânico para cumprir seus propósitos sábios. Aceite, portanto, todos os lidares providenciais de Cristo em relação a você como procedentes dEle mesmo, permitindo que esses lidares conformem-no à imagem de Cristo. Somente à medida que as Escrituras nos conformam à imagem de Cristo, achamos o equilíbrio correto de ternura forte com vigor compassivo, em face ao criticismo.

Considere a Cristo

Acima de tudo, olhe para Jesus quando você se deparar com intenso criticismo. Hebreus 12.3 adverte: “Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo”. Pedro falou com mais detalhes: “Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (1 Pe 2.21-23). Se Cristo que era perfeito e não tinha nenhuma culpa foi cuspido, zombado, rejeitado e crucificado, o que mais podemos esperar, nós que somos pastores imperfeitos? Se um dos apóstolos traiu a Cristo por uma quantia insignificante, e outro jurou que não O conhecia, motivado por temor de uma criada, por que esperamos realizar nosso ministério sem traições ou deserções?

Além disso, se nossos críticos estão errados e sofremos injustamente, não deveríamos dar graças a Deis por que eles não sabem, de fato, o quão maus realmente somos? Não importa o quanto somos criticados; nunca somos criticados na medida que nossos pecados merecem, ainda que sejamos inocentes quanto às acusações lançadas contra nós.

Se temos a Cristo, que, sendo inocente, sofreu por nós infinitamente mais do que sofreremos por Ele, temos mais do que necessitamos para enfrentar qualquer provação (1 Co 10.13; 2 co 4.7-12). Beba profundamente do amor de Cristo, deleite-se no Deus trino; assim, você vencerá o pessimismo e será capaz de amar aquele que o critica (Sl 37.1-4).

Considere a fidelidade de Cristo. Ele não foi fiel no passado, conduzindo-o através de cada período de criticismo? Ele não é maior do que qualquer obstáculo presente? Em vez de focalizar-se no seu crítico que parece ter tanto poder, focalize-se no grande poder de Cristo e em sua fidelidade eterna como seu Intercessor e Advogado à direita do Pai (Hb 7.25). Confie em Cristo mais uma vez; Ele não o desapontará.

Considere os santos das Escrituras

Permita-me usar como ilustrações um santo do Velho Testamento e outro do Novo. Considere Neemias. Muitas das críticas de Sambalá eram válidas. Os operários de Neemias não tinham habilidade; alguns não eram comprometidos com a obra. Algumas seções do muro não eram fortes; algumas seções não podiam ser reconstruídas (Ne 4.1-3). Como Neemias reagiu? Ele entregou sua causa a Deus, em oração. Neemias recordou que a fonte de sua visão era Deus e não ele mesmo. Assim, estabelecendo uma guarda, ele revisou seus planos de acordo com as circunstâncias, sem abandonar sua visão (Ne 4.4-9). Essa reação em três passos é freqüentemente o que precisamos fazer: orar, recordar e revisar — mas não abandonar a visão. Um plano fracassado não é igual a uma visão fracassada. Geralmente, isso significa que você tem de banir seu orgulho, mudar ou traçar novamente seus planos, de modo que a visão seja mais bem implementada.5

Considere, também, o apóstolo Paulo, em 2 Coríntios. Ali, ele se defende das acusações de crentes de Corinto que estavam desafiando sua liderança e criticando-o por não ser um superapóstolo, ser fisicamente fraco e ter um discurso desprezível. Como Paulo reagiu a essas críticas, no capítulo 10? Ele se refugia em Cristo. No versículo 7, Paulo disse: “Se alguém confia em si que é de Cristo... também nós o somos”. Ele se identifica com a pessoa de Cristo e sua obra, de acordo com as Escrituras e sua própria experiência. Em seguida, Paulo se esforça para trazer todo pensamento cativo à obediência de Cristo. Por fim, ele submete todas as suas fraquezas às mãos de Deus, aceita essas fraquezas e confia que Deus o usará como um cântaro quebrado que deixa a luz do evangelho resplandecer por seu intermédio. Façamos o mesmo.6 

Considere o amor

Ame aquele que o critica. Por amor a Cristo, torne-se mais familiarizado com aqueles que o criticam. Você não pode amar alguém, se não o conhece. Procure entendê-los. Dê-lhes certeza de que você quer aprender deles e que deseja ser um ferro que afia outro ferro. Agradeça-lhes porque o criticaram de maneira direta.

Esteja disposto a perdoar qualquer injúria cometida contra você. Deixar de perdoar manterá viva a mágoa. Arruinará a sua pregação, prejudicará o seu ministério e obstruirá a sua vida de oração. Como disse Spurgeon: “A menos que você perdoe os outros, você lê a sua própria sentença de morte, quando repete a oração do Pai Nosso. Perdoe e esqueça. Quando você sepulta um cão morto, não deixa a ponta do rabo fora da terra”.

Ore com aquele que o critica. Se ele o visita, sempre comece a visita com oração e peça-lhe que a termine com uma oração, a menos que ele ainda esteja ressentido no final da visita. (Se for uma mulher ou uma criança, você deve fazer a oração de encerramento da visita.) Tenha cuidado para orar a Deus e não contra a pessoa que o critica. Ande a segunda milha, pedindo ao Senhor que o perdoe e o ajude a mudar em qualquer área que precise de perdão e mudança. Seja tão específico quanto possível. Ore com integridade e humildade.

Depois, ore por ele em particular. É difícil manter ressentimento por uma pessoa em favor de quem oramos. O Senhor libertou Jó de seus graves sentimentos contra seus amigos judiciosos, quando Jó orou por eles. Orar por aqueles que o difamam produz paz na mente e liberdade da maioria das tristezas que acompanham o criticismo.

Tenha compaixão daquele que o critica negativamente. Quão infeliz é essa pessoa! Que danos causam a seus filhos os adultos que são habitualmente críticos! Quão raramente os filhos de pais críticos se tornam filhos e filhas resolutos da igreja! Quão trágico é ser um pai que faz “tropeçar a um destes pequeninos”! Pais críticos terão muito pelo que prestarão contas no Dia do Juízo! Agradeça a Deus por que você é o receptor da crítica, e não o promotor dela. Isso também ocorre somente pela graça de Deus, pois nosso coração natural não é melhor, nem diferente.

Por último, lance fora qualquer coisa que inibe o amor; como Pedro escreveu: “Despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte de maledicências” (1 Pe 2.1). Mostre bondade e atenção. Considero muito importante aquilo que alguém me disse há algum tempo: “A melhor maneira de conseguir atenção de nosso pastor é tornar-se um inimigo dele”.

Há outro lado benéfico para você também. Você descobrirá que, ao servir amavelmente àquele que o critica, em vez de retaliar com ressentimentos, suas mágoas curarão rapidamente. Se aquele que o critica rejeita suas tentativas de servi-lo, procure servir a outros — console os necessitados, levante os caídos e ampare os fracos. Isto será uma terapia excelente para você.

Considere uma visão de longo prazo

Nenhum presidente americano foi tão respeitado e, ao mesmo tempo, injuriado como Abraham Lincoln. Milhares se opunham às suas opiniões sobre a guerra e a escravidão, bem como às suas tentativas de manter a nação unida. Um dia, um amigo puxou Lincoln para o lado e lhe disse que o criticismo assumira tal proporção, que era como se ele estivesse cercado por inúmeros cães ladradores. Lincoln respondeu: “Você sabe que durante os dias da lua cheia os cães latem e latem para a lua, enquanto ela é claramente visível no céu”. Admirado com essa resposta, o amigo de Lincoln perguntou: “O que você quis dizer? Qual é o resto da história?” Lincoln respondeu: “Não há nada mais a dizer. A lua continua a brilhar”.

Você percebe: Lincoln acreditava que estava certo e que, a longo prazo, suas políticas venceriam os críticos e unificariam a nação. Como pastores, podemos hesitar facilmente sob a pressão de membros que fazem muito barulho, quando sabemos que estamos certos. Para obtermos paz temporária com um pequeno grupo de membros descontentes, somos propensos a abandonar nossa visão bíblica de longo prazo que resplandece em nossa igreja e ministério, como uma lua cheia. Não faça isso. Não se deixe intimidar por críticas e pelos críticos. Não permita que algumas críticas o force a seguir os moldes delas, de modo que você tenha uma vida tímida e hesitante, não fazendo nada, não dizendo nada e (o que é pior) não sendo nada. Não desanime, nem desista.

Lembre-se: o temor da crítica é uma ameaça maior do que a própria crítica. Quando você sentir o temor do homem, deixe que o temor de Deus o impulsione para frente e para o alto. Retenha a sua visão de longo prazo, por temer a Deus, e não o homem. Theodore Roosevelt disse: “Não é o crítico que é importante, nem o homem que ressalta como o homem forte tropeça ou onde o realizador de obras poderia ter feito o melhor. O crédito pertence àquele que está realmente na arena, aquele cuja face está suja pela poeira, suor e sangue, aquele que se esforça valentemente, que erra e, repetidas vezes, fica aquém do padrão”.

Considere a eternidade

No outro lado do Jordão, nosso fiel Salvador nos aguarda. Ele nunca permitirá que afundemos. Ele nos ama, embora saiba tudo a nosso respeito. E nos levará para que estejamos para sempre onde Ele está. Limpará de nossos olhos toda lágrima e se mostrará como um amigo mais chegado que um irmão. Todos os erros serão corrigidos. Todas as injustiças serão julgadas. Todas as críticas passarão. Todo o mal ficará fora do céu, e ali haverá todo o bem.

Por causa de Jesus Cristo, desfrutaremos de amizade e intimidade perfeitas com o Deus trino, sempre conhecendo, amando e tendo comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Assim como uma mãe que, abraçando seu recém-nascido, esquece as dores do parto, você esquecerá todas as provações de seu ministério quando chegar à presença de Emanuel.

No céu, haverá perfeita unidade. Teremos comunhão com os anjos eleitos e com os santos de todas as épocas, em absoluta perfeição. Não haverá denominações, divisões, discordâncias, mal-entendidos, argumentos teológicos, ignorância. Não haverá a menor diferença entre os santos. Lutero e Calvino concordarão plenamente em todos os pontos de doutrina. Seremos um, assim como Cristo é com o Pai, e o Pai, com Ele. Nossos irmãos críticos nos aceitarão, e nós, a eles. Haverá uma unidade completa, perfeita, visível e íntima.

Três grandes verdades se tornarão realidades perfeitas para nós: primeira, entenderemos que todo criticismo que recebemos neste mundo foi usado, nas mãos de nosso Oleiro, a fim de preparar-nos para a terra de Emanuel. Segunda, veremos plenamente que todas as críticas, as quais Deus nos chamou a suportar, neste mundo, eram apenas aflições leves, quando comparadas com o peso da glória que nos aguarda. Terceira, no céu seremos mais do que recompensados por toda aflição que suportarmos na terra por amor de nosso melhor e mais perfeito Amigo, Jesus Cristo.

Oh! feliz o dia em que esta mortalidade vestirá a imortalidade e esta corrupção, a incorrupção, e estaremos para sempre com o Senhor! Permitamos que todo o criticismo que nosso soberano Deus, em sua infinita sabedoria, nos chama a suportar, nesta vida, nos torne mais saudosos da terra de Beulá, onde não há criticismo e o Cordeiro é toda a sua glória. Ali,

A noiva contempla não as suas vestes,

E sim a face de seu querido Noivo.

Eu não contemplarei a glória,

E sim a graça de meu Rei;

Não a coroa que Ele me dará,

E sim a sua mão traspassada.

O Cordeiro é toda a glória

Da terra de Emanuel.

Desenvolva uma atitude positiva

Temos uma visão positiva do ministério? Temos a mais importante e significativa vocação do mundo. Meu pai costumava dizer: “Sua vocação é mais importante do que viver na Casa Branca”. Nunca temos de acordar pela manhã e perguntar se nosso ministério é uma carreira digna. Como afirmou Richard Baxter: “Não trocaria a minha vida por qualquer das maiores dignidades da terra. Estou contente em consumir meu corpo, sacrificar e gastar para o serviço de Deus tudo o que tenho, bem como em gastar a mim mesmo em favor da alma dos homens”.

Somos embaixadores do Rei dos reis e temos a promessa de que sua Palavra não retornará para Ele vazia (Is 55.10-11). Cristo é nosso intercessor à direita do Pai; e o Espírito Santo é o Advogado em nosso coração. Deus não permitirá criticismo além da graça que Ele nos dá, para suportá-lo (1 Co 10.13). Todas as críticas, assim como outras dificuldades, cooperarão, eventualmente, para o nosso bem (Rm 8.28).

Acabe com sua murmuração mundana. Conte suas bênçãos. Persevere no bom combate da fé. Você tem as melhores garantias nesse combate — as promessas de Deus; o melhor dos advogados — o Espírito Santo; o melhor dos generais — Jesus Cristo; e o melhor dos resultados — a glória eterna. Siga o conselho de Fred Malone: “Temos de parar de esperar que as pessoas reajam adequadamente, tornando-as nossos deuses da morte e da vida. Isto é idolatria: viver e morrer motivados pelo comportamento dos membros de nossa igreja. Paulo disse: ‘Segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos’. O conforto da misericórdia recebida da parte de Deus é uma motivação duradoura que tenho encontrado para continuar trabalhando em meio à provação”.7

“Restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos; e fazei caminhos retos para os pés” (Hb 12.12-13). Para cada vez que você olhar para si mesmo e suas circunstâncias, olhe dez vezes para Cristo, conforme aconselhou Richard Baxter. Você pode começar a queixar-se quando você tiver dado a Cristo o equivalente ao que Ele já lhe deu. Fortaleça o seu entendimento e permaneça firme, pois o seu Salvador é maior do que Apoliom e os tempos. Aquele que o enviou não o abandonará. Guarde firme a sua confissão - mesmo quando os amigos o abandonarem – apegando-se firmemente ao seu Sumo Sacerdote, que está unido a você. Confie nEle. Ele é o Amigo mais chegado que um irmão. Ele nunca o deixará. Não ponha sua confiança em príncipes ou em um mundo caído e corruptível, e sim no Príncipe da Paz. Olhe para Cristo. Dependa de Cristo. Ore a Cristo. Pregue a Cristo.

Ponha novamente as suas mãos no arado, apesar de suas fraquezas e mágoas. “Continue, com zelo dobrado, a servir o seu Senhor, mesmo quando não houver nenhum resultado visível”, aconselhou Spurgeon.8 Ore mais e olhe menos para as circunstâncias. “Não enterre a igreja, antes que ela esteja morta”, disse John Flavel. Eu acrescentaria: “Não enterre a você mesmo e a igreja, antes que você e ela estejam mortos”. Creia na promessa que Cristo fez aos seus servos: “Toda arma forjada contra ti não prosperará; toda língua que ousar contra ti em juízo, tu a condenarás; esta é a herança dos servos do Senhor e o seu direito que de mim procede, diz o Senhor” (Is 54.17).

Notas:

1. Sparks, James. Potshots at the preacher. Nashville: Abingdon, 1977. p. 9.

2. Stanley, Andy. Visioneering. Sisters, Ore.: Multnomah, 1999. p. 141, ss.

3. Taylor, James. Pastors under pressure: conflicts on the outside, conflicts within. Epsey, Surrey: Day One, 2001. p. 30.

4. Powlison, David. Does the Shoe Fit? Journal of Biblical Counseling, Gleanside, v. 20, n. 3, p. 4, spring 2002.

5. Stanley, Andy. Visioneering. Sisters, Ore.: Multnomah, 1999. p. 149-159.

6. Kelly, Douglas F. New life in the wasteland: 2 Corinthians on the cost and glory of christian ministry. Ross-shire, England: Christian Focus, 2003. p. 135-147.

7. Malone, Fred. An Encouragement to Ministers on Trial. Founders Journal, Cape Coral, v. 16, p. 11, spring 1994.

8. Spurgeon, C. H. Lectures to my students. London: Passmore and Alabaster, 1881. p. 179.

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00:12
Dr. R. Albert Mohler
A Cabana: A Perda da Arte de Discernimento Evangélico 
Albert Mohler Jr.

   O mundo editorial vê poucos livros atingirem o status de "sucesso". No entanto, o livro A Cabana, escrito por William Paul Yong, superou esse status. O livro, publicado originalmente pelo próprio autor e dois amigos, já vendeu mais de dez milhões de cópias e já foi traduzido para mais de trinta idiomas. É, agora, um dos livros mais vendidos de todos os tempos, e seus leitores estão entusiasmados.

   De acordo com Young, o livro foi escrito originalmente para seus próprios filhos. Em essência, ele pode ser descrito como uma teodicéia em forma de narrativa – uma tentativa de responder à questão do mal e do caráter de Deus por meio de uma história. Nessa história, o personagem principal está entristecido por causa do rapto e do assassinato brutal de sua filha de sete anos, quando recebe aquilo que se torna uma intimação de Deus para encontrá-lo na mesma cabana em que a menina foi morta.

   Na cabana, "Mack" se encontra com a Trindade divina, onde Deus, o Pai, é representado como "Papai", uma mulher afro-americana, e Jesus, por um carpinteiro judeu, e "Sarayu", uma mulher asiática, é identificada como o Espírito Santo. O livro é, principalmente, uma série de diálogos entre Mack, Papai, Jesus e Sarayu. As conversas revelam que Deus é bem diferente do Deus da Bíblia. "Papai" é absolutamente alguém que não faz julgamentos e parece determinado a afirmar que toda a humanidade já está redimida.

   A teologia de A Cabana não é incidental à história. De fato, em muitos pontos a narrativa serve, principalmente, como uma estrutura para os diálogos. E estes revelam uma teologia que, no melhor, é não-convencional e, sem dúvida, herética em certos aspectos.

   Embora o artifício literário de uma "trindade" não-convencional de pessoas divinas seja, em si mesmo, antibíblico e perigoso, as explicações teológicas são piores. "Papai" conta a Mack sobre o tempo em que as três pessoas da Trindade manifestaram-se da seguinte forma: "nós falamos com a humanidade através da existência humana como Filho de Deus". Em nenhuma passagem da Bíblia, o Pai ou o Espírito Santos é descrito como assumindo a forma humana. A cristologia do livro é confusa. "Papai" diz a Mack que, embora Jesus seja plenamente Deus, "ele nunca usou a sua natureza como Deus para fazer qualquer coisa". Eles apenas viveu do seu relacionamento comigo, da mesma maneira como eu desejo me relacionar com qualquer ser humano". Quando Jesus curou o cego, "Ele fez isso como um ser humano dependente que confiava em minha vida e poder para agir nele e por meio dele. Jesus, como ser humano, não tinha qualquer poder em si mesmo para curar alguém".
Embora haja muita confusão teológica a ser esclarecida no livro, basta dizer que a igreja cristã tem lutado por séculos para chegar a um entendimento fiel da Trindade, a fim de evitar esse tipo de confusão – reconhecendo que a fé cristã está, ela mesma, em perigo.

   Jesus diz a Mack que ele é "o melhor caminho para qualquer ser humano se relacionar com Papai ou com Sarayu". Não é o único caminho, mas o melhor caminho.

   Em outro capítulo, "Papai" corrige a teologia de Mack afirmando: "Eu não preciso punir as pessoas pelos seus pecados. O pecado é a sua própria punição, que devora você a partir do interior. Não tenho o propósito de punir o pecado; tenho alegria em curá-lo". Sem dúvida, a alegria de Deus está na expiação realizada pelo Filho. No entanto, a Bíblia revela consistentemente que Deus é o Juiz santo e reto, que punirá pecadores. A idéia de que o pecado é a "sua própria punição" se encaixa no conceito do karma, e não no evangelho cristão.

   O relacionamento do Pai com o Filho, revelado em textos como João 17, é rejeitado em favor de uma absoluta igualdade de autoridade entre as pessoas da Trindade. "Papai" explica que "não temos qualquer conceito de autoridade final entre nós, somente unidade". Em um dos mais bizarros parágrafos do livro, Jesus diz a Mack: "Papai é tão submisso a mim como o sou a ele, ou Sarayu a mim, ou Papai a ela. Submissão não diz respeito à autoridade e à obediência; é um relacionamento de amor e respeito. De fato, somos submissos a você da mesma maneira".

   Essa hipotética submissão da Trindade a um ser humano – ou a todos os seres humanos – é uma inovação teológica do tipo mais extremo e perigoso. A essência da idolatria é a auto-adoração, e essa noção da Trindade submissa (em algum sentido) à humanidade é indiscutivelmente idólatra.

   O aspecto mais controverso da mensagem de A Cabana gira em torno das questões do universalismo, da redenção universal e da reconciliação final. Jesus diz a Mack: "Aqueles que me amam procedem de todo sistema que existe. São budistas, mórmons, batistas, islamitas, democratas, republicanos e muitos que não votam ou não fazem parte de qualquer igreja ou de instituições religiosas". Jesus acrescenta: "Não tenho desejo de torná-los cristãos, mas quero unir-me a eles em sua transformação em filhos e filhas de meu Papai, em meus irmãos e irmãs, meus amados".

   Em seguida, Mack faz a pergunta óbvia: Todos os caminhos levam a Cristo? Jesus responde: "Muitos dos caminhos não levam a lugar algum. O que isso significa é que eu irei a qualquer caminho para encontrar vocês".

   Devido ao contexto, é impossível extrair conclusões essencialmente universalistas ou inclusivistas quanto ao significado de Yong. "Papai" repreende Mack dizendo que está agora reconciliado com todo o mundo. Mack replica: "Todo o mundo? Você quer dizer aqueles que crêem em você, não é?" "Papai responde: "Todo o mundo, Mack".

   No todo, isso significa algo bem próximo da doutrina da reconciliação proposta por Karl Barth. E, embora Wayne Jacobson, o colaborador de Young, tenha lamentado haver pessoas que acusam o livro de ensinar a reconciliação final, ele reconhece que as primeiras edições do manuscrito foram influenciadas indevidamente pela "parcialidade, na época," de Young para com a reconciliação final – a crença de que a cruz e a ressurreição de Cristo realizaram a reconciliação unilateral de todos os pecadores (e de toda a criação) com Deus.

   James B. DeYoung, do Western Theological Seminary, um erudito em Novo Testamento que conheceu Young por vários anos, documenta a aceitação de Young quanto a uma forma de "universalismo cristão". A Cabana, ele conclui, "descansa sobre o fundamento da reconciliação universal".

   Apesar de que Wayne Jacobson e outros se queixam daqueles que identificam heresia em A Cabana, o fato é que a igreja cristã tem identificado, explicitamente, esses ensinos como heresia. A pergunta óbvia é esta: por que tantos cristãos evangélicos parecem ser atraídos não somente à história, mas também à teologia apresentada na narrativa – uma teologia que, em vários pontos, está em conflito com as convicções evangélicas?

   Os observadores evangélicos não estão sozinhos em fazer essa pergunta. Escrevendo em The Chronicle of High Education (A Crônica da Educação Superior), o professor Timothy Beal, da Case Western University, argumentou que a popularidade de A Cabana sugere que os evangélicos devem estar mudando a sua teologia. Ele cita os "modelos metafóricos não-bíblicos de Deus" no livro, bem como seu modelo "não-hierárquico" da Tridade e, mais notavelmente, "sua teologia de salvação universal".

   Beal afirma que nada dessa teologia faz parte das "principais correntes teológicas evangélicas" e explica: "De fato, essas três coisas estão arraigadas no discurso teológico acadêmico radical e liberal dos anos 1970 e 1980 – que influenciou profundamente os feministas contemporâneos e a teologia da libertação, mas que, até agora, teve muito pouco impacto nas imaginações teológicas de não-acadêmicos, especialmente dentro das principais correntes religiosas".

   Em seguida, ele pergunta: "O que essas idéias teológicas progressistas estão fazendo no fenômeno da ficção evangélica?" Ele responde: "Desconhecidas para muitos de nós, elas têm estado presente em muitos segmentos liberais do pensamento evangélico durante décadas". Agora, ele diz, A Cabana introduziu e popularizou esses conceitos liberais até entre as principais denominações evangélicas.

   Timothy Beal não pode ser rejeitado como um conservador e "caçador de heresias". Ele está admirado com o fato de que essas "idéias teológicas progressistas" estão "se introduzindo aos poucos na cultura popular por meio de A Cabana".

   De modo semelhante, escrevendo em Books & Culture (Livros e Cultura), Katharine Jeffrey conclui que A Cabana "oferece uma teodicéia pós-moderna e pós-bíblica". Embora sua principal preocupação seja o lugar do livro "num panorama literário cristão", ela não pôde evitar o lidar com a sua mensagem teológica.

   Ao avaliar o livro, deve-se ter em mente que A Cabana é uma obra de ficção. Contudo, é também um argumento teológico, e isso não pode ser negado. Diversos romances notáveis e obras de literatura contêm teologia aberrante e heresia. A pergunta crucial é se as doutrinas aberrantes são características da história ou são a mensagem da obra. Em A Cabana, o fato inquietante é que muitos leitores são atraídos à mensagem teológica do livro e não percebem como ela conflita com a Bíblia em muitos assuntos cruciais.

   Tudo isso revela um fracasso desastroso do discernimento evangélico. Dificilmente não concluímos que o discernimento teológico é agora uma arte perdida entre os evangélicos – e esse erro pode levar tão-somente à catástrofe teológica.

   A resposta não é banir A Cabana ou arrancá-lo das mãos dos leitores. Não precisamos temer livros – temos de estar prontos para responder-lhes. Necessitamos desesperadamente de uma redescoberta teológica que só pode vir de praticarmos o discernimento bíblico. Isso exigirá que identifiquemos os perigos doutrinários de A Cabana. Mas a nossa principal tarefa consiste em familiarizar novamente os evangélicos com os ensinos da Bíblia sobre esses assuntos e fomentar um rearmamento doutrinário de cristãos evangélicos.

   A Cabana é um alerta para o cristianismo evangélico. Uma avaliação como a que Timothy Beal ofereceu é reveladora. A popularidade desse livro entre os evangélicos só pode ser explicada pela falta de conhecimento teológico básico entre nós – um fracasso em entender o evangelho de Cristo. A tragédia de que os evangélicos perderam a arte de discernimento bíblico se origina na desastrosa perda do conhecimento da Bíblia. O discernimento não pode sobreviver sem doutrina.


Dr. Albert Mohler é o presidente do Southern Baptist Theological Seminary, pertencente à Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos; é pastor, professor, teólogo, autor e conferencista internacional, reconhecido pela revista Times como um dos principais líderes entre o povo evangélico norte-americano. É casado com Mary e tem dois filhos, Katie e Christopher.

Traduzido por: Wellington Ferreira
Copyright:
© R. Albert Mohler Jr.
Traduzido do original em inglês: The Shack — The Missing Art of Evangelical Discernment.
Fonte: Editora Fiel.

00:16
João Calvino

 “Porque pela graça tendes sido salvos”.(Ef 2.8-10). Essa é, por assim dizer, a inferência das afirmações anteriores. Pois ele tratara da eleição e da vocação gratuita, visando a chegar à conclusão de que haviam obtido a salvação unicamente através da fé. Primeiramente, ele assevera que a salvação dos efésios era inteiramente a obra - e obra gratuita - de Deus; eles, porém, alcançaram essa graça por meio da fé. De um lado, devemos olhar para Deus; de outro, para o homem. Deus declara que não nos deve nada; de modo que a salvação não é um galardão ou recompensa, mas simplesmente graça. Ora, pode-se perguntar: como o homem recebe a salvação que lhe é oferecida pelas mãos divinas? Eis minha resposta: pela instrumentalidade da fé. Daí o apóstolo concluir que aqui nada é propriamente nosso. Da parte de Deus é graça somente, e nada trazemos senão a fé, a qual nos despe de todo louvor, então segue-se que a salvação não procede de nós.

Não seria, pois, aconselhável manter silêncio acerca do livre-arbítrio, das boas intenções, das preparações inventadas, dos méritos e das satisfações? Nenhum desses deixa de reivindicar a participação no louvor da salvação do homem; de modo que o louvor devido à graça, no dizer de Paulo, não seria integral. Quando, por parte do homem, é posto exclusivamente na fé como única forma de se receber a salvação, então o homem rejeita todos os demais meios nos quais o ser humano costuma confiar. A fé, pois, conduz a Deus um homem vazio, para que o mesmo seja plenificado com as bênçãos de Cristo. E assim o apóstolo adiciona: “não vem de” vós; para que, nada reivindicando para si mesmos, reconheçam unicamente a Deus como o Autor de sua salvação.

“É o dom de Deus”. Em vez do que havia dito, que a salvação deles é de graça, ele agora afirma que ela é o dom de Deus. Em vez do que havia dito, "não vem de vós", ele agora diz: “não [vem] de obras”. Daí descobrimos que o apóstolo não deixa ao homem absolutamente nada em sua busca da salvação. Pois nessas três frases o apóstolo envolve a substância de seu longo argumento nas Epístolas aos Romanos e aos Gálatas, ou seja: que a justiça que recebemos procede exclusivamente da misericórdia de Deus, a qual nos é oferecida em Cristo através do evangelho, e a qual é recebida única e exclusivamente por meio da fé, sem a participação do mérito procedente das obras.

A luz desta passagem torna-se fácil refutar os tolos sofismas pelos quais os papistas tentam esquivar-se do argumento. Paulo, nos dizem eles, está falando acerca de cerimônias, ao dizer-nos que somos justificados sem [a participação de] obras [humanas]. Mas é perfeitamente certo que ele aqui não está tratando de algum gênero de obras, senão que rejeita a total justiça do homem, a qual consiste em obras - mais ainda: a totalidade do homem e de tudo o que ele tem de propriamente seu. E mister que observemos o contraste existente entre Deus e o homem, entre graça e obras. Por que, pois, Deus teria que ser contrastado com o homem, se a controvérsia concerne só a cerimônias?

Os papistas são compelidos a reconhecer que Paulo, aqui, atribui à graça de Deus toda a glória de nossa salvação. Mas a seguir engendram outra idéia, a saber: que isso foi dito em razão de Deus conceder "a primeira graça". Mas são na verdade insensatos ao imaginarem que terão sucesso nessa vereda, visto que Paulo exclui o homem e suas faculdades, não só do ponto de partida na obtenção da salvação, mas [o exclui] totalmente da própria salvação.

Mas são ainda mais imprudentes omitindo a conclusão: “para que ninguém se vanglorie”. Algum espaço deve sempre ser reservado à vangloria humana, contanto que os méritos sejam de alguma valia à parte da graça. A afirmação de Paulo não pode vigorar, a menos que todo o louvor seja dedicado somente a Deus e à sua misericórdia. Comumente, porém, torcem o sentido deste texto e restringem a palavra 'dom' exclusivamente à fé. Mas Paulo não faz outra coisa senão reiterar sua afirmação anterior, usando outros termos. Ele não quer dizer que a fé é o dom de Deus, mas que a salvação nos é comunicada por Deus; ou, que tomamos posse dela mediante o dom divino.

“Porque somos obra sua”. Ao excluir o contrário, o apóstolo prova o que diz, ou seja, que somos salvos pela graça, dizendo que nenhuma obra nos é de alguma utilidade para merecermos a salvação, porque todas as boas obras que porventura possuímos são os frutos da regeneração. Daí, segue-se que as próprias obras são uma parte da graça. Ao dizer que somos obra de Deus, sua intenção não é considerar a criação em geral, por meio da qual as pessoas nascem, senão que assevera que somos novas criaturas, as quais são formadas para a justiça pelo poder do Espírito de Cristo, e não pelo nosso próprio. Isso se aplica somente no tocante aos crentes, os quais, ainda que nascidos de Adão, ímpios e perversos, são espiritualmente regenerados pela graça de Cristo, e então começam a ser um novo homem. Portanto, tudo quanto em nós é porventura bom, provém da obra supernatural de Deus. E segue-se uma explicação; pois ele adiciona que somos obra de Deus em razão de sermos criados, não em Adão, mas em Cristo, e não para qualquer tipo de vida, mas para as boas obras.

E agora, o que fica para o livre-arbítrio, se todas as boas obras que de nós procedem foram comunicadas pelo Espírito de Deus? Que os leitores piedosos avaliem prudentemente as palavras do apóstolo. Ele não diz que somos assistidos por Deus. Ele não diz que a vontade é preparada e que, então, age por sua própria virtude. Ele não diz que o poder de escolher corretamente nos é conferido e que temos, a seguir, de fazer nossa própria escolha. Esse é o procedimento daqueles que tentam enfraquecer a graça de Deus (até onde podem), os quais estão habituados a sofismar. Mas o apóstolodiz que somos obra de Deus, e que tudo quanto de bom exista em nós é criação dele. O que ele pretende dizer é que o homem como um todo, para ser bom, tem de ser moldado pelas mãos divinas. Não a mera virtude de escolher corretamente, nem alguma preparação indefinida, nem assistência, mas é a própria vontade que é feitura divina. De outro modo, o argumento de Paulo seria sem sentido. Ele tenciona provar que o homem de forma alguma busca a salvação por sua própria iniciativa, mas que a adquire gratuitamente da parte de Deus. A prova consiste em que o homem nada é senão pela graça divina. Quem quer, pois, que apresente a mais leve reivindicação em favor do homem, excluindo a graça de Deus, lhe atribui a habilidade de obter a salvação.

“Criados para boas obras”. Os sofistas, desviando-se do pensamento de Paulo, torcem este texto com o propósito de injuriar a justiça [procedente] da fé. Envergonhados de negar honestamente que somos justificados pela fé e cônscios de que fariam isso em vão, buscam guarida no seguinte gênero de subterfúgio: Somos justificados mediante a fé, porque a fé pela qual recebemos á graça de Deus é o ponto de partida da justiça; mas nos tornamos justos por meio da regeneração, porque, sendo renovados pelo Espírito de Cristo, andamos em boas obras. E assim fazem da fé a porta pela qual nos introduzimos na justiça, mas acreditam que a obtemos por meio das obras; ou, ao menos, definem justiça como sendo retidão, quando alguém é reformado para uma vida boa. Não me preocupa quão antigo esse erro venha ser; o fato é que o erro deles consiste em buscar neste texto apoio para tal conceito.

E mister que descubramos o propósito do apóstolo. Sua intenção é mostrar que nada levamos a Deus pelo quê ele fique endividado em relação a nós; mostra ainda que até mesmo as boas obras que praticamos procedem dele. Daí, segue-se que nada somos, senão por sua graciosa liberalidade. Ora, quando esses sofistas inferem que somos meio justificados através das obras, o que tem isso a ver com a intenção de Paulo ou com o tema que ora desenvolve? Uma coisa é discutir em que consiste a justiça, e outra é estudar a doutrina que não procede de nós mesmos, com o argumento de que nas boas obras não há nada procedente de nós, salvo o fato de que fomos moldados pelo Espírito de Deus para tudo o que é bom, e isso através da graça de Cristo. Quando Paulo define a causa da justiça, ele insiste principalmente neste ponto: que nossas consciências jamais desfrutarão de paz até que descansemos no perdão de nossos pecados. Mas aqui ele não trata de nada desse gênero. Todo o seu objetivo é provar que somos o que somos unicamente pela graça de Deus.

As “quais Deus de antemão preparou”. Isto não se aplica ao ensino da lei, como o fazem os pelagianos, como se Paulo quisesse dizer que Deus ordena o que é justo e delineia uma regra apropriada de vida. Ao contrário, ele enfatiza o que começara a ensinar, ou seja, que a salvação não procede de nós mesmos. Diz ele que, antes que nascêssemos, as boas obras haviam sido preparadas por Deus; significando que por nossas próprias forças não somos capazes de viver uma vida santa, mas só até ao ponto em que somos adaptados e moldados pelas mãos divinas. Ora, se a graça de Deus nos antecipou, então toda e qualquer base para vangloria ficou eliminada. Observemos criteriosamente o termo 'preparou'. O apóstolo mostra, à luz da própria seqüência, que, com respeito às boas obras, Deus não nos deve absolutamente nada. Como assim? Porque elas foram extraídas dos tesouros divinos, nos quais haviam sido antes geradas; pois a quem ele chamou, também justifica e regenera.

Fonte:[O Calvinista]

Reforma Radical

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