12:47
SOLA GRATIA: A Erosão do Evangelho 

A Confiança desmerecida na capacidade humana é um produto da natureza humana decaída. Esta falsa confiança enche hoje o mundo evangélico – desde o evangelho da auto-estima até o evangelho da saúde e da prosperidade, desde aqueles que já transformaram o evangelho num produto vendável e os pecadores em consumidores e aqueles que tratam a fé cristã como verdadeira simplesmente porque funciona. Isso faz calar a doutrina da justificação, a despeito dos compromissos oficiais de nossas igrejas.

A graça de Deus em Cristo não só é necessária como é a única causa eficaz da salvação. Confessamos que os seres humanos nascem espiritualmente mortos e nem mesmo são capazes de cooperar com a graça regeneradora.

Tese 3: Sola Gratia

Reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual.

Negamos que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos, técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada. 

Declaração de Cambridge


21:35

“Olharão para aquele a quem traspassaram.” (Zacarias 12.10)
O quebrantamento santo que faz um homem lamentar o seu pecado surge de uma operação divina. O homem caído não pode renovar seu próprio coração. O diamante pode mudar seu próprio estado para tornar-se maleável, ou o granito amolecer a si mesmo, transformando-se em argila? Somente aquele que estendeu os céus e lançou os fundamentos da terra pode formar e reformar o espírito do homem. O poder de fazer que da rocha de nossa natureza fluam rios de arrependimento não está na própria rocha. O poder jaz no onipotente Espírito de Deus… Quando Deus lida com a mente do homem, por meio de suas operações secretas e misteriosas, Ele a enche com uma nova vida, percepção e emoção. “Deus… me fez desmaiar o coração” (Jó 23.16), disse Jó. E, no melhor sentido, isso é verdade. O Espírito Santo nos torna maleáveis e nos tornamos receptíveis às suas impressões sagradas… Agora, quero abordar o âmago e a essência de nosso assunto.

O enternecimento do coração e o lamento pelo pecado são produzidos por olharmos, pela fé, para o Filho de Deus traspassado. A verdadeira tristeza pelo pecado não acontece sem o Espírito de Deus. Mas o Espírito de Deus não realiza essa tristeza sem levar-nos a olhar para Jesus crucificado. Não há verdadeiro lamento pelo pecado enquanto não vemos a Cristo… Ó alma, quando você chega a contemplar Aquele para quem todos deveriam olhar, Aquele que foi traspassado, então seus olhos começam a lamentar aquilo pelo que todos deveriam chorar – o pecado que imolou o seu Salvador!

Não há arrependimento salvífico sem a contemplação da cruz… O arrependimento evangélico é o único arrependimento aceitável. E a essência desse arrependimento é olhar para Aquele que foi moído pelos pecados… Observe isto: quando o Espírito Santo realmente opera, Ele leva a alma a olhar para Cristo. Nunca uma pessoa recebeu o Espírito de Deus para a salvação, sem que tenha recebido dEle o olhar para Cristo e o lamentar por seus pecados.

A fé e o arrependimento são gerados e prosperam juntos. Ninguém deve separar o que Deus uniu! Ninguém pode arrepender-se do pecado sem crer em Jesus, nem crer em Jesus sem arrepender-se do pecado. Olhe, então, com amor para Aquele que derramou seu sangue, na cruz, por você. Por meio desse olhar, você obterá perdão e quebrantamento. Quão admirável é o fato de que todos os nossos males podem ser curados por um único remédio: “Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os limites da terra” (Is 45.22). Contudo, ninguém olhará para Cristo sem que o Espírito de Deus o incline a fazer isso. Ele não conduz uma pessoa à salvação, se ela não se rende às suas influências e não volve seu olhar para Jesus…

O olhar que nos abençoa, produzindo quebrantamento de coração, é o olhar para Jesus como Aquele que foi traspassado. Quero me demorar nisso por um momento. Não é somente o olhar para Jesus como Deus que afeta o coração, mas também olhar para este mesmo Senhor e Deus como Aquele que foi crucificado por nós. Vemos o Senhor traspassado, e, em seguida, inicia-se o traspassamento de nosso coração. Quando o Espírito Santo nos revela Jesus, os nossos pecados também começam a ser expostos…

Venham, almas queridas, vamos juntos à cruz, por um pouco, e notemos quem era Aquele que recebeu a lançada do soldado romano. Olhe para o seu lado e observe aquela terrível ferida que atingiu seu coração e desencadeou um duplo fluxo de sangue. O centurião disse: “Verdadeiramente este era Filho de Deus” (Mt 27.54). Aquele que, por natureza, é Deus e governa sobre tudo, sem o Qual “nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3), tomou sobre Si mesmo nossa natureza e se tornou homem, como nós, mas não tinha qualquer mácula de pecado. E, vivendo em forma humana, foi obediente até à morte, morte de cruz. Foi Ele quem morreu! Ele, o único que possui a imortalidade, condescendeu em morrer! Ele, que era toda a glória e poder, sim, Ele morreu! Ele, que era toda a ternura e graça, sim, Ele morreu! Infinita bondade esteve pendurada na cruz! Beleza indescritível foi traspassada com uma lança! Essa tragédia excede todas as outras! Por mais perversa que tenha sido a ingratidão do homem em outros casos, a sua mais perversa ingratidão se expressou no caso de Jesus! Por mais horrível que tenha sido o ódio do homem contra a virtude, o seu ódio mais cruel foi manifestado contra Jesus! No caso de Jesus, o inferno superou todas as suas vilezas anteriores, clamando: “Este é o herdeiro; ora, vamos, matemo-lo” (Mt 21.38).

Deus habitou entre nós, e os homens não O aceitaram. Visto que o homem foi capaz de traspassar e matar o seu Deus, ele cometeu um pecado horrível. O homem matou o Senhor Jesus Cristo e O traspassou com uma lança! Nesse ato, o homem mostrou o que fariam com o próprio Eterno, se pudesse chegar até Ele. O homem é, no coração, assassino de Deus. Ele se alegria se Deus não existisse. Ele diz em seu coração: “Não há Deus” (Sl 14.1). Se a sua mão pudesse ir tão longe quanto o seu coração, Deus não existiria nem mesmo por mais uma hora. Isto dá ao traspassamento de nosso Senhor uma forte intensidade de pecado: foi o traspassamento de Deus.

Por quê? Por que razão o bom Deus foi assim perseguido? Oh! pelo amor de nosso Senhor Jesus Cristo, pela glória de sua Pessoa, pela perfeição de seu caráter, eu lhe peço – admire-se e envergonhe-se de que Ele foi traspassado! Não foi uma morte comum. Aquele assassinato não foi um crime comum. Ó homem, Aquele que foi traspassado com a lança era o seu Deus! Na cruz, contemple o seu Criador, o seu Benfeitor, o seu melhor Amigo!

Olhe firmemente para Aquele que foi traspassado e observe o Sofredor que é descrito na palavra “traspassado”. Nosso Senhor sofreu severa e terrivelmente. Não posso, em uma mensagem, descrever a história de seus sofrimentos – as tristezas de sua vida de pobreza e perseguição; as angústias do Getsêmani e do suor de sangue; as tristezas de seu abandono, traição e negação; as tristezas no palácio de Pilatos; os golpes de chicotes, o cuspe e o escárnio; as tristezas da cruz, com sua desonra e agonia… Nosso Senhor foi feito maldição por nós. A penalidade do pecado ou o que lhe era equivalente, Ele a suportou, “carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados” (1 Pe 2.24). “O castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.5).

Irmãos, os sofrimentos de Jesus devem amolecer nosso coração! Nesta manhã, lamento o fato de que não me entristeço como deveria. Acuso a mim mesmo daquele endurecimento de coração que eu condeno, visto que posso contar-lhes essa história sem enternecimento de coração. Os sofrimentos de meu Senhor são indescritíveis. Examinem e verifiquem se já houve tristeza semelhante à de Jesus! A sua tristeza foi abismal e insondável… Se você considerar firmemente a Jesus traspassado por nossos pecados e tudo que isso significa, seu coração se dilatará! Mais cedo ou mais tarde, a cruz desenvolverá todo sentimento que você será capaz de produzir e lhe dará capacidade para mais. Quando o Espírito Santo põe a cruz no coração, o coração se dissolve em ternura… A dureza de coração desaparece quando, com profundo temor, contemplamos a Jesus sendo morto.

Devemos também observar quem foram os que traspassaram a Jesus. “Olharão para aquele a quem traspassaram.” Ambos os verbos se referem às mesmas pessoas. Nós matamos o Salvador, nós que olhamos para Ele e vivemos… No caso do Salvador, o pecado foi a causa de sua morte. O pecado O traspassou. O pecado de quem? Não foi o pecado dEle mesmo, pois Ele não tinha pecado, e nenhum engano se achou em seus lábios. Pilatos disse: “Não vejo neste homem crime algum” (Lc 23.4). Irmãos, o Messias foi morto, mas não por causa dEle mesmo. Nossos pecados mataram o Salvador. Ele sofreu porque não havia outra maneira de vindicar a justiça de Deus e de prover-nos um escape da condenação. A espada, que deveria cair sobre nós, foi despertada contra o Pastor do Senhor, contra o Homem que era o Companheiro de Jeová (Zc 13.7)… Se isso não quebranta nem amolece nosso coração, observemos por que Ele foi levado a uma posição em que poderia ser traspassado por nossos pecados. Foi o amor, poderoso amor, nada mais do que o amor, que O levou até à cruz. Nenhuma outra acusação Lhe pode ser atribuída, exceto esta: Ele era culpado de amor excessivo. Ele se colocou no caminho do traspassamento, porque resolvera salvar-nos… Ouviremos isso, pensaremos nisso, consideraremos isso e permaneceremos apáticos? Somos piores do que os brutos? Tudo que é humano abandonou a nossa humanidade? Se Deus, o Espírito Santo, está agindo agora, uma contemplação de Cristo derreterá o nosso coração de pedra…

Quero dizer-lhes ainda, ó amados: quanto mais olharmos para Jesus crucificado, tanto mais lamentaremos o nosso pecado. A reflexão crescente produzirá sensibilidade crescente. Desejo que olhem muito para Aquele que foi traspassado, para que odeiem cada vez mais o pecado. Livros que expõem a paixão de nosso Senhor e hinos que cantam a sua cruz sempre foram bastante queridos pelos crentes piedosos, por causa de sua influência sobre o coração e a consciência deles. Vivam no Calvário, amados, até que viver e amar se tornem a mesma coisa. Diria também: olhem para Aquele que foi traspassado, até que o coração de vocês seja traspassado.

Um antigo teólogo dizia: “Olhe para a cruz, até que tudo que está na cruz esteja em seu coração”. E acrescentou: “Olhe para Jesus, até que Ele olhe para você”. Olhem com firmeza para o sua Pessoa sofredora, até que Ele pareça estar volvendo sua cabeça e olhando para você, assim como o fez com Pedro, que saiu e chorou amargamente. Olhe para Jesus, até que você veja a si mesmo. Lamente por Ele, até que lamente por seu próprio pecado… Ele sofreu em lugar, em favor e em benefício de homens culpados. Isso é o evangelho. Não importa o que os outros preguem, “nós pregamos a Cristo crucificado” (1 Co 1.23). Sempre levaremos a cruz na vanguarda. A essência do evangelho é Cristo como substituto do pecador. Não evitamos falar sobre a doutrina do Segundo Advento, mas, antes e acima de tudo, pregamos Aquele que foi traspassado. Isso levará ao arrependimento evangélico, quando o Espírito de graça for derramado.


Extraído do sermão matinal de domingo 18 de setembro de 1887, no Tabernáculo Metropolitano de Londres.

Tradução: Pr. Wellington Ferreira

Fonte: Sítio da Editora Fiel




Charles Haddon Spurgeon (1834-1892), inglês, se converteu aos 15 anos. Pregou pela primeira vez com 17 anos. Aos 19 anos já era pastor na Park Street Chapel, em Londres. Era um devorador de livros e se tornou conhecido como o "príncipe dos pregadores". Sua teologia fluía da palavra de Deus e da experiência com o próprio Deus. Sua vida espiritual e sua teologia estavam em completa harmonia.

23:23
A Nova Aliança por Keith Mathison

A Epístola aos Hebreus é uma declaração da absoluta supremacia de Jesus Cristo. Afirma que Jesus é superior aos anjos (caps. 1 e 2), a Moisés (3.1-4.13) e a Arão (4.14-7). Cristo exerce um sacerdócio superior (8.1-10.18) e inaugurou uma aliança superior (10.19-13).

Em toda a epístola, encontramos a ênfase sobre o que é novo e melhor. Por exemplo, Hebreus 7.12 afirma: “Quando se muda o sacerdócio, necessariamente há também mudança de lei”. Uma vez revogada a ordenança anterior, “por outro lado, se introduz esperança superior” (7.18-19). Jesus mesmo é o fiador de “superior aliança” (7.22). Hebreus 8.6 explica: “Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente, quanto é ele também Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas”. Hebreus 8.7 nos diz que, “se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para uma segunda”. E, depois de citar a promessa da nova aliança encontrada em Jeremias 31.31-34, o autor de Hebreus afirma: “Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer” (8.13).

Essas observações em Hebreus e outras no Novo Testamento têm levado alguns a questionarem se Deus cometeu um erro na antiga aliança. Deus foi obrigado a abandonar seu plano inicial e introduzir emergencialmente um plano reserva? O fato de que a antiga aliança se tornou antiquada implica que a nova aliança era um “plano B”? A resposta é não. A inauguração de uma nova aliança por parte de Deus não significa que Ele cometeu um erro na antiga aliança. No entanto, a razão disso talvez não seja imediatamente percebida.

A resposta dessa pergunta se torna mais clara quando examinamos Jeremias 31.31-34. Nesta passagem, o profeta prevê a inauguração da nova aliança. O autor de Hebreus cita aquela profecia. Para entendermos a sua explicação da profecia, temos de entender o contexto em que ela foi escrita. Temos de lembrar que a Epistola aos Hebreus foi escrita para judeus convertidos ao cristianismo que sofriam perseguição por causa de sua fé. Eram tentados a retornar aos ritos e cerimônias da antiga aliança, a fim de evitarem a perseguição. O autor de Hebreus lhes diz que retornar às cerimônias da antiga aliança seria futilidade extrema, pois Deus nunca tencionara que aquela aliança fosse permanente. Para defender seu argumento, ele direciona os leitores ao texto de Jeremias, no Antigo Testamento.

O autor de Hebreus introduz sua explicação de Jeremias 31 recordando-lhes que, “se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para uma segunda” (8.7). Com essas palavras, ele estava dizendo que a promessa do Antigo Testamento quanto a uma nova aliança implicava que aquela parte das Escrituras previa a natureza temporária da “antiga” aliança. Uma “nova” aliança seria desnecessária, se Deus tencionasse que a antiga permanecesse para sempre.

O autor de Hebreus torna isso mais claro em 8.13, quando afirma a respeito da passagem de Jeremias: “Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira”. Quando Jeremias prometeu uma nova aliança, deu a entender automaticamente que a primeira aliança era “antiga” e temporária. Em outras palavras, o plano de Deus sempre incluiu, desde o começo, a introdução de ambas as alianças. Ele não cometeu um erro ou teve de recorrer a um “plano B”. Cada aliança era adequada a um tempo específico na história da redenção.

O fato de que Deus sempre planejou a inauguração de uma nova aliança suscita a questão da continuidade. Se Deus introduziu uma nova aliança em Cristo, há alguma continuidade entre as duas alianças — a velha e a nova? Na história da igreja, existem aqueles que têm argumentado haver pouca ou nenhuma continuidade entre as duas alianças. Argumentam que toda a antiga aliança foi substituída pela nova. Os que defendem essa posição propõem que nada no Antigo Testamento é relevante e diretamente aplicável à igreja.

Existem outros que têm sugerido haver pouca descontinuidade entre as alianças e que as mudanças realizadas pela inauguração da nova aliança foram essencialmente “decorativas”. Aqueles que defendem essa posição argumentam que muito do Antigo Testamento é diretamente aplicável à igreja em nossos dias. Alguns dos que sustentam essa opinião afirmam que os cristãos têm de continuar a observar o sábado no sétimo dia ou têm de continuar a observar os dias de festas do Antigo Testamento.

Ambos os extremos devem ser evitados. Entre as duas alianças, tanto há continuidade como descontinuidade. Embora haja muitos em nossos dias que lêem passagens como Hebreus 8.13 e concluem que não há continuidade entre as alianças, uma análise mais atenta de Hebreus 8 e do lugar da nova aliança na história da redenção revela que tal conclusão é prematura.

Um dos ensinos mais óbvios da continuidade entre as duas alianças se acha na própria promessa da nova aliança. O autor de Hebreus cita, em 8.8-12, a profecia de Jeremias acerca da nova aliança. No versículo 10, lemos: “Esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: na sua mente imprimirei as minhas leis, também sobre o seu coração as inscreverei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo”. Encontramos um ponto de continuidade na expressão “minhas leis”. Na antiga aliança, Deus escreveu suas leis em tábuas de pedra (Êx 24.12). Na nova aliança, Ele as escreve no coração de seu povo, a fim de substituir o pecado que está gravado ali (Jr 17.1). No entanto, aquilo que está gravado no coração do povo de Deus é essencialmente o mesmo que foi escrito nas tábuas de pedra. O aspecto da lei que reflete mais fundamentalmente a justiça de Deus permanece o mesmo.

Outra maneira de explicar a continuidade entre a antiga e a nova aliança é aplicar a ilustração que Paulo usou em Gálatas 3.24-25. Ele escreveu: “De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé. Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao aio”. O “aio” (no grego, paidagogos) era um escravo que tinha a função de levar o menino à escola, trazê-lo de volta e supervisionar sua conduta. Quando o menino crescia, o “aio” não era mais necessário. Essa analogia pode ajudar-nos a entender melhor os elementos de continuidade entre as alianças.

O aspecto da ilustração que se aplica à continuidade é este: uma vez que o menino se tornava adulto, o aio ficava obsoleto, mas o que ele havia ensinado ao menino permanecia inalterado. Paulo usou essa analogia de crescimento da infância à maturidade como um meio de visualizar o povo de Deus através da história de redenção. A antiga aliança foi idealizada para o povo de Deus em sua “infância”. Quando o povo de Deus chegou ao estado de “adulto”, o “aio” não era mais necessário. Agora, ele é obsoleto. Mas aquilo (“minhas leis”) que o “aio” ensinou ao menino permanece o mesmo, embora ele tenha se tornado adulto.

Jesus Cristo é o ponto central em que a antiga e a nova aliança se encontram. A antiga aliança, como um aio, prepara o caminho e o povo para Ele. A antiga aliança incluía aquilo que tem sido descrito como “lei moral”, bem como aquilo que era simbólico. Aquilo que era simbólico sofreu mudanças quando chegou a realidade para a qual os símbolos apontavam. Quando a aurora raiou, as sombras desapareceram (cf. 10.1).

Agora, o povo de Deus é definido em termos de sua relação com Jesus (cf. Gl 3.16, 29), e não de sua relação com Jacó/Israel. A Terra Prometida é definida em termos de toda a criação (cf. Mt 5.5; Rm 4.13), e não de um espaço geográfico na costa leste do mar Mediterrâneo. O templo é definido em termos de Jesus Cristo e o seu povo (cf. Jo 2.21; 1 Co 3.16; Ef 2.21), e não de um edifício de pedra e argamassa. As leis cerimoniais são definidas em termos da morte expiatória de Cristo (cf. Hb 9.11-10.11), e não do sangue de bodes e novilhos.

No entanto, a lei moral — aquilo que revela os padrões eternos e universais de justiça — não muda. Embora esteja escrita no coração do povo de Deus, e não em tábuas de pedra, essa lei permanece a mesma.

FONTE: Editora Fiel

12:51 1
O seguinte trecho de Dr. Martyn Lloyd-Jones  vem de sua série maravilhosa, Estudos em Efésios.

"Que tolas criaturas que somos! Muitos de nós não estamos interessados ​​na doutrina em tudo, somos cristãos preguiçosos que não leem, não pensam, e não tenta se aprofundar nos mistérios. Tivemos uma certa experiência e que desejamos mais nada. Outros de nós, lamentando tal atitude, dizem que, porque a Bíblia está cheia de doutrina, devemos estudá-lo e lidar com ela e possuí-lo. Então nós nos tornamos absorvido em nosso interesse na doutrina e parar por aí. O resultado é que, no que respeita a esta questão do amor de Cristo, não estamos mais no que os outros porque nós fizemos uma doutrina extremidade e um terminal. Desta forma, as viagens e as armadilhas do diabo e nos rouba de nós a nossa herança. Se o seu conhecimento das Escrituras e das doutrinas do evangelho do Senhor Jesus Cristo não trouxe a este conhecimento do amor de Cristo, você deve estar profundamente insatisfeito e incomodado. Toda a doutrina bíblica é sobre essa pessoa abençoada, e não há maior armadilha na vida cristã do que esquecer a própria pessoa e viver simplesmente em verdades a respeito dele.
É por esta razão que alguns de nós sempre tivemos um sentimento de que é perigoso para fazer exames no conhecimento bíblico. Alguns dos reformadores tinham essa opinião, Martin Luther especialmente. Alguns dos puritanos também segurava. Não deve nunca ser uma coisa como um "Grau no conhecimento das Escrituras". Isto é assim, não só porque é errado em si, mas também porque tende a encorajar esta tendência de parar em verdades e perder a pessoa. Nunca devemos estudar a Bíblia ou qualquer coisa sobre a verdade bíblica, sem perceber que estamos em Sua presença, e que é verdade sobre ele. E isso deve ser feito sempre em uma atmosfera de adoração. A verdade bíblica não é um assunto entre outros, não é algo que pertence a um programa. É viver a verdade sobre uma pessoa viva. É por isso que uma faculdade teológica deve ser diferente de qualquer outro tipo de faculdade, e é por isso que um serviço religioso é essencialmente diferente de qualquer tipo de encontro com o mundo pode organizar. É sempre uma questão de culto, estamos na presença de uma pessoa ".

David Martyn Lloyd-Jones, as insondáveis ​​riquezas de Cristo, Estudos em Efésios, capítulo 3

03:40
Paul Washer
Numa época de confusão e erro, é importante que sejamos afirmativos e claros quanto aos elementos distintivos de nossa fé. Precisamos de uma base sólida para determinar se o que cremos é mesmo a fé cristã bíblica, apostólica e histórica. Isto é, devemos compreender o que define o cristianismo, quais seus elementos mais fundamentais. Assim poderemos reconhecer a fé genuinamente cristã.



13:19 1

VINDE
Tratado escrito por J.C.Ryle
1º Bispo da Diocese Anglicana de Liverpool, Inglaterra
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”.  Mateus 11: 28.
Leitor,
  
O título desse tratado é curto, mas o assunto que desdobra é de grande importância. É a primeira palavra de um texto das Escrituras que merece ser escrito com letras de ouro. Ofereço esse texto como um convite de amigo, peço que você olhe para ele e pondere, porque pode vir a salvar sua alma!
  
Nossos anos estão passando rápido e à medida que cada época do ano vai chegando, ouvimos falar sobre reuniões e convites: páscoa, semana de Pentecostes, festa de São Miguel e Natal são momentos em que as pessoas convidam seus amigos a virem às suas casas. Mas há um convite que exige nossa atenção durante todos os dias do ano, esse convite eu lhe trago hoje. Talvez seja diferente de todos os que você já recebeu, mas é de importância inexplicável, porque diz respeito à felicidade eterna de sua alma.
  
Leitor, não se assuste quando ler essas palavras. Não quero estragar seus prazeres, precavendo-se sempre de que seus prazeres não estejam misturados com o pecado. Sei que há tempo para rir e tempo para chorar, mas quero que você seja cuidadoso, tanto quanto feliz; que seja ponderado, tanto quanto jovial. Alguns, que há um ano estavam vivos, perderam a semana de Pentecostes; tem aqueles também que todo ano se reúnem em volta da lareira no Natal mas que daqui a um ano, estarão deitados em suas covas.
  
Leitor, quanto tempo você tem de vida? Você estará vivo na próxima semana de Pentecostes ou no Natal? Mais uma vez peço para que escute o convite que lhe trago hoje, tenho uma mensagem do meu Mestre para você.  Ele diz, “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”.
  
Os quatro pontos abaixo serão tratados no texto, e a eles peço que volte sua atenção, tendo em vista que em cada um desses pontos, tenho algo a dizer.
    
I. Primeiro.  Quem é o Orador desse convite?
II.  Segundo.  A quem este convite foi endereçado?
III.  Terceiro. O que o Orador pede para que você faça?
IV.  Último. O que o Orador oferece?
  
Que o Espírito Santo abençoe a leitura desse tratado para seu benefício eterno. Que esse dia seja um dia especial a ser lembrado na história da sua alma!
  
I. Em primeiro lugar,  quem é o Orador do convite que encabeça esse tratado? Quem é esse que convida de forma tão sincera e oferece em grande medida? Quem é esse que diz à sua consciência, hoje, “Venha, venha até mim”?
  
Leitor, você tem direito a fazer essas perguntas; você vive num mundo mentiroso, a terra está cheia de fraudes, falsidades, decepções, imposições e hipocrisias. O valor de uma nota promissória depende inteiramente do nome assinado no final. Quando você escuta de um Promissor poderoso, você tem o direito de perguntar "quem é esse?" ou "como ele se chama?".
  
O Orador do convite à sua frente é o melhor amigo que o homem já teve, é o Senhor Jesus Cristo, o eterno Filho de Deus.
Ele é o  Onipotente. Ele é Deus, o Companheiro do Pai e seu igual, através Dele, todas as coisas foram feitas. Nas Suas mãos estão todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento; Ele tem todo o poder no
céu e na terra, toda a plenitude habita Nele. Ele tem as chaves para a morte e o inferno, agora é o Mediador entre Deus e o homem e um dia ele será o Juiz e Rei de toda a terra. Leitor, quando alguém como Ele fala, você pode confiar. O que Ele promete, Ele cumpre.

  
Ele é  extremamente amoroso. Ele nos amou a ponto de deixar o céu por nossa causa, deixando de lado por um tempo, a glória que Ele tinha com o Pai. Ele nos amou a ponto de nascer de uma mulher e viver por trinta e três anos nesse mundo pecaminoso. Ele nos amou a ponto de encarregar-se de pagar nossa dívida para com Deus, morrendo na cruz para remissão de nossos pecados. Leitor, quando alguém como Ele fala, merece ser escutado. Quando Ele promete algo, você não precisa pensar se deve ou não confiar.
  
Ele é aquele que  conhece o coração do homem completamente. Ele se fez carne como nós e transformou-se em homem por completo, à exceção dos pecados. Por experiência, Ele sabe por aquilo que o homem
passa. Ele provou da pobreza, do cansaço, da fome, da sede, da dor e da tentação. Ele está familiarizado com todas as condições terrenas, Ele mesmo sofreu ao ser tentado. Leitor, quando alguém como Ele faz
uma oferta, Ele a faz com perfeita sabedoria. Ele sabe exatamente o que nós precisamos.
  
Ele é aquele que nunca quebra sua palavra. Ele sempre cumpre Sua promessa, nunca falha em fazer o que se compromete e não desaponta a alma que confia Nele. Entretanto, por mais poderoso que seja, há algo que Ele não pode fazer: é impossível que Ele minta. Leitor, quando Ele faz uma promessa, você não precisa ter dúvida alguma de que Ele a cumprirá. Você pode depender confiantemente na Sua palavra.
  
Agora, leitor, você sabe quem envia o convite que está à sua frente: é o Senhor Jesus Cristo. Dê a Ele o crédito devido a Seu Nome, concedalhe um ouvido imparcial. Acredite que a promessa de Sua boca merece toda sua atenção, cuide para que você não recuse Aquele que fala. Está escrito, “porque, se não escaparam aqueles que rejeitaram o que na terra os advertia, muito menos nós, se nos desviarmos daquele que é dos céus” (Hb 12: 25).
  
II.  Mostrar-lhe-ei, em segundo lugar, a quem este convite foi adereçado.
  
O Senhor Jesus se dirige a todos os que estão “cansados e oprimidos.” Essa declaração é profundamente confortante e instrutiva; é vasta, arrebatadora e compreensiva e descreve o alívio de milhares de pessoas em todas as partes do mundo.
  
Onde estão os cansados e oprimidos? Eles estão em todo lugar e são tantos, que o homem nem sequer consegue contar; eles são encontrados em todos os climas e países. Moram na Europa, Ásia, África e
América, eles moram nas barragens do Sena, assim como nas do Tamisa, pelos aterros do Mississipi, assim como nos do Níger. Eles abundam em repúblicas e em monarquias, debaixo de governos liberais e déspotas. Em todo lugar você encontrará problema, preocupação, sofrimento, ansiedade, murmúrio, descontentamento e abatimento. O que isso significa? Onde tudo isso chega? Os  homens estão
“cansados e oprimidos”.
  
A qual classe os cansados e oprimidos pertencem? Eles pertencem a todas as classes, sem exceção. Eles são encontrados entre senhores e serventes; ricos e pobres; reis e vassalos; instruídos e ignorantes. Em toda classe você encontrará problema, preocupação, sofrimento, ansiedade, murmúrio, descontentamento e abatimento. O que isso significa? Onde tudo isso chega? Homens estão “cansados e oprimidos”.

Leitor, como devemos explicar isso? Qual é a causa dessas situações que acabei de descrever? Será que Deus criou o homem no princípio para ser infeliz? Claro que não! Devemos culpar governos humanos pela infelicidade do homem? Quando muito, bem ligeiramente. A culpa está muito bem escondida para ser alcançada por leis humanas.
Existe outro motivo, motivo tal que muitos, infelizmente, recusam-se a enxergar, e ele se chama pecado.
  
Leitor, pecado e afastamento de Deus são as verdadeiras razões pelas quais homens, em todos os lugares, estão cansados e oprimidos. O pecado é a doença universal que afeta toda a terra. O pecado trouxe espinhos e cardos no início e obrigou o homem a ganhar seu pão pelo suor de seu rosto. O pecado é a razão pela qual toda a criação suspira e geme de dor e as fundações da terra saíram do rumo. O pecado é a
causa de toda a opressão que agora pressiona a humanidade. Muitos homens não sabem, e tentam em vão explicar os estado do que acontece ao seu redor. Entretanto, o pecado é a raiz e a fundação de todo esse sofrimento, por mais soberbo que seja o pensamento humano.
Quantos homens devem odiar o pecado!
   
Leitor, você é um desses que está cansado e oprimido? Acredito que sim. Estou persuadido de que há milhares de homens e mulheres nesse mundo desconfortáveis, mas, mesmo assim, não o confessam.
Eles sentem nos seus corações um peso que se livrariam alegremente, mas não sabem como. Eles tem convicção de que nada está correto dentro deles, mas nunca contam a ninguém. Maridos não contam às
suas mulheres e mulheres não contam aos seus maridos; crianças não contam aos seus pais, amigos não contam aos outros amigos, mas o peso está fincado fortemente em seus corações! Há muito mais infelicidade do que o mundo vê. Disfarce, se quiser. Há multidões inquietas, porque sabem que não estão preparadas para se encontrarem com Deus e você, que lê esse tratado, talvez faça parte dela.
  
Leitor, se você está cansado e oprimido, então você é a pessoa para quem o Senhor Jesus Cristo envia um convite hoje. Você tem um coração dolorido e uma consciência aflita, se quiser descanso para uma alma esgotada, mas não sabe onde encontrar, se quer paz para um coração culpado, mas não sabe qual caminho seguir, então você  é o homem, você é a mulher, a quem Jesus se endereça hoje. Eu lhe trago boas novas, há esperança para você. “Vinde a mim”, diz Jesus, “e eu vos aliviarei”.
  
Alguém pode me dizer que esse convite não foi feito para si, porque não é bom o suficiente para ser convidado por Cristo. Entretanto, respondo-lhe que Jesus não fala para os bons, mas para os cansados e
oprimidos. Você sabe algo sobre esse sentimento? Então você é uma das pessoas a quem Ele se dirige.
    
Você pode me dizer que esse convite não foi feito para você, porque é um pecador e não sabe nada sobre religião. Entretanto, respondo-lhe que não importa o que você é ou o que foi. Você, nesse momento, se
sente cansado e oprimido? Então você é uma das pessoas a quem Ele se dirige.
  
Você pode me dizer que esse convite não foi feito para você, porque você ainda não é convertido e não tem um novo coração. Entretanto, respondo-lhe que o convite de Cristo não é endereçado aos convertidos, mas aos cansados e oprimidos. É assim que você se sente? Há algum peso no seu coração? Então você é uma das pessoas a quem Ele se dirige.
  
Você pode me dizer que esse convite não foi feito para você, porque não sabe se é um dos eleitos de Deus. Entretanto, respondo-lhe que você não tem direito algum de por palavras na boca de Cristo, as quais Jesus não usou. Ele não diz, “Vinde a mim, todos os que são eleitos”, Ele se dirige a todos os cansados e oprimidos, sem exceção.Você é um deles? Há fardo em sua alma? Essa é a única pergunta que deve ser respondida. Se você é um deles, então é uma das pessoas a quem Cristo se dirige.
  
Leitor, se você figura entre os cansados e oprimidos, mais uma vez peço-lhe para que não recuse o convite que lhe trago hoje, não abandone suas próprias misericórdias. O refúgio está à sua frente, de graça, não dê as costas para ele! O seu melhor Amigo estende a sua mão a você, não deixe que o orgulho, a presunção ou o medo da zombaria humana façam com que rejeite o amor dEle. Leve a sério Suas palavras. Diga-O, “Senhor Jesus Cristo, eu sou um desses a quem o Teu convite foi feito, estou cansado e oprimido. Senhor, o que tu queres que eu faça?”
  
III.  Em terceiro lugar, mostrar-lhes-ei o que o Senhor Jesus Cristo pede para que você faça. Três palavras resumem e firmam o convite que Ele o envia hoje. Se você está cansado e oprimido, Jesus diz, “Vinde a mim”.
  
Leitor, há uma grande simplicidade nessas três palavras à sua frente. Curta e clara como podem parecer, elas contem uma fonte profunda de verdade e um sólido conforto. Pondere-as, observe-as, considere-as.
Acredito que apenas metade dos cristãos salvos entendem o que Jesus quer dizer quando fala "Vinde a mim".
  
Veja que o Senhor Jesus não diz ao cansado e oprimido “vá trabalhar”. Essas palavras não trariam nenhum conforto às consciências pesadas, seria como exigir trabalho de um homem exausto. Não! Ele diz “Vinde!”, ele não diz "Paga-me o que me deves”. Tal pedido levaria um coração partido ao desespero, seria como reivindicar uma dívida 8 de um homem falido. Não! Ele diz “Vinde!”, ele não diz “Fica aí e espera”. Essa ordem seria um escárnio. Seria como prometer enviar remédios no final da semana ao homem que já está praticamente morto.
Não! Ele diz “Vinde!”. Hoje, de uma vez por todas, sem demora, “Vinde a mim”.
  
Mas, no final das contas, o que significa ir a Cristo? Essa expressão é muito usada, mas geralmente mal interpretada. Tome cuidado para que não cometa nenhum erro nesse ponto. Aqui, infelizmente, muitos
desviam-se do caminho correto e deixam escapar a verdade. Tome cuidado para que você não naufrague, estando tão próximo do porto.
  
Perceba que ir a Cristo tem um significado completamente diferente de ir à igreja ou à capela. Você pode posicionar-se regularmente num lugar de adoração e participar de todos os cultos, mas, ainda assim, não ser salvo. Nada disso é ir a Cristo.
  
Perceba que ir a Cristo é muito mais do que participar da ceia do Senhor. Você pode ser um membro regular e comunicativo, talvez você nunca perca a bênção de estar na lista daqueles que comem do pão e
bebem do vinho, ordenado pelo Senhor, e, ainda assim, não ser salvo.
Nada disso é ir a Cristo.
  
Perceba que ir a Cristo é muito mais do que ir aos ministros. Você pode ser um ouvinte regular de algum pregador popular e um partidário zeloso de todas as suas opiniões, mas, ainda assim, não ser salvo.
Nada disso é ir a Cristo.
  
Perceba, mais uma vez, que ir a Cristo é muito mais do que ter conhecimento sobre Ele. Você pode conhecer todo o sistema da doutrina Evangélica, estar apto a falar, argumentar e discutir sobre cada ponto
dele e, ainda assim, não ser salvo. Nada disso é ir a Cristo.
  
Ir a Cristo é ir a Ele com todo o coração, através da fé. Acreditar em Cristo é ir a Ele e ir a Cristo é acreditar nEle. É essa ação da alma que toma lugar quando o homem, sentindo seus pecados e ficando sem
esperanças, submete-se a Cristo pela salvação, aventurando-se, confiando e entregando-se por completo a Ele. Quando um homem se volta a Cristo vazio, a fim de ser preenchido; doente, para ser curado; faminto, para ser satisfeito; com sede, para ser refrescado; necessitado, para ser enriquecido; morrendo, para ter vida; perdido, para ser salvo; culpado, para ser perdoado; contaminado pelo pecado, para ser lavado, confessando que apenas Ele pode suprir suas necessidades, então ele está indo a Cristo. Quando ele usa Cristo como os judeus usavam a cidade de refúgio; como os egípcios usavam José; como os israelitas,
morrendo, usavam a serpente de bronze, então ele está indo a Cristo. É a ânsia da alma por um Salvador; é a força do homem para segurar a mão que se estende para ajudá-lo, é a recepção do homem doente a um medicamento impetuoso. Isso, e nada mais que isso, é alívio para Cristo.
  
Ouça, meu leitor amado, quem quer que você seja, ouça à palavra de admoestação. Tome cuidado com os erros relacionados a essa questão de ir à Cristo. Não faça atalhos; não permita que o diabo e o mundo
atrapalhem sua vida eterna; não pense que terá benesses vindas de Cristo, se não for diretamente a Ele. Não confie em formalidades externas, não se contente com usos regulares de meios mundanos. A lanterna é uma excelente ajuda na calada da noite, mas não é nosso lar, meios de graça são ajudas úteis, mas não são Cristo.  Não! Siga avante, adiante e além, até que tenha feito acordo pessoal com Cristo.
  
Ouça novamente, amado leitor. Tome cuidado com os erros relacionados à forma de ir a Cristo. Tire da sua mente a ideia de mérito e aptidão, jogue fora toda noção de bondade, retidão e solidão, não pense que você pode trazer algo que o recomende ou que faça com que mereça a atenção de Cristo. Você deve chegar-se a Ele como um pecador pobre, culpado e indigno, se não for assim, então nem sequer vá. “Mas aquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça” (Rm 4: 5). A marca da fé é que justifica e salva, que traz a Cristo nada mais que uma mão vazia.
  
Ouça mais uma vez, amado leitor. Que não haja erro na sua mente em relação ao caráter especial do homem que vem a Cristo e é um verdadeiro cristão. Ele não é um anjo, não é um ser meio-angélico, onde não há fraqueza, defeito ou enfermidade, ele não é nada assim. Ele nada mais é que um pecador que reconheceu sua pecaminosidade, mas viu a bênção que é viver pela fé em Cristo. Qual era a companhia
gloriosa dos apóstolos e profetas? O que era o imponente exército dos mártires? Quem eram Isaías, Daniel, Pedro, Tiago, João, Paulo, Policarpo, Crisóstomo, Agostinho, Lutero, Ridley, Latimer, Bunyan, Baxter, Whitefield, Venn, Chalmers, Bickersteth, M’Cheyne? O que eles eram, se não pecadores que conheceram e sentiram seus pecados e confiaram em Cristo? O que eles eram, se não homens que aceitaram o convite que trago a você hoje, e que aceitaram a Cristo pela fé? Por essa fé eles viveram e com ela morreram. Neles mesmos e em suas ações, não viram nada que valesse a pena mencionar, mas em Cristo eles viram tudo o que suas almas precisavam.
  
Leitor, o convite de Cristo está agora à sua frente. Se você nunca deu ouvidos a ele, dê agora. Claro, pleno, livre, vasto, simples, tenro e benigno - esse convite o deixará sem desculpas para recusar-se a aceitálo. Há alguns convites os quais é melhor e mais sábio rejeitá-los. Entretanto, há um que deve sempre ser aceito, e esse convite é o que está hoje à sua frente. Jesus Cristo está dizendo, “Vinde, vinde a mim”.
    
IV.  Em último lugar, mostrar-lhes-ei o que o Senhor Jesus Cristo prometeu dar. Ele não pede para que o cansado e oprimido venha a Ele sem motivo. Ele tem persuasões graciosas e os cativa por meio de ofertas doces. “Vinde a mim”, diz Jesus, “e eu vos aliviarei”.
O alívio é algo prazeroso. Poucos são os homens e mulheres desse mundo que não sabem o quanto é bom. O homem que tem trabalhado muito com suas mãos durante toda a semana, trabalhado com ferro, metal, pedra, madeira ou barro; cavando, levantando, martelando e cortando, ele sabe o conforto de ir pra casa num sábado à noite e ter um dia de descanso. O homem que tem labutado muito com suas mãos durante todo o dia, escrevendo, copiando, calculando, compondo, projetando e planejando, sabe o conforto de deixar de lado os papéis e ter um pequeno descanso. Sim, o descanso é algo prazeroso.
  
E descanso – alívio – é uma das principais ofertas. “Vinde a mim”, diz o mundo, “e eu te darei riqueza e prazer”, “Vinde a mim”, diz o diabo, “e eu te darei grandeza, poder e sabedoria",“Vinde a mim”, diz Jesus,
“e eu vos aliviarei”.
  
No entanto, qual é a natureza desse descanso que o Senhor Jesus nos promete dar? Não é um mero repouso do corpo, porque um homem pode tê-lo e ainda assim ser miserável. Você pode colocá-lo num palácio e rodeá-lo com todo o conforto possível; você pode dar-lhe dinheiro em abundância e tudo o que o ele puder comprar; você pode libertá-lo de qualquer preocupação sobre as necessidades físicas do amanhã e tirar seu trabalho por uma hora, tudo isso você pode fazer para o homem e, ainda assim, não dar-lhe o verdadeiro descanso.
Milhares sabem muito bem disso, por experiência própria. Seus corações estão famintos em meio a uma fartura mundana; o homem interior está doente e cansado, enquanto o homem externo está vestido em púrpura, linho fino e em dinheiro diariamente! Sim, um homem pode ter casas, terras, dinheiro, cavalos, carruagens, camas macias e serventes atenciosos e, ainda assim, não ter o verdadeiro descanso.
  
O descanso dado por Cristo é interno. É descanso no coração, na consciência, na mente, na afeição e nas vontades. É descanso num sentido confortável de pecados sendo perdoados e culpas sendo postas de lado; é descanso numa esperança sólida de boas coisas que estão por vir e que não está ao alcance de doença, morte, ou cova; é descanso no sentimento bem fundamentado de que o melhor negócio da vida foi feito, seu fim já está certo, tudo foi feito em tempo e a eternidade no céu será seu lar.
  
Descanso assim, o Senhor Jesus dá aqueles que vem a ele, mostrando-os sua obra na cruz, revestindo-os com sua perfeita retidão e lavando-os com seu sangue precioso. Quando um homem começa a 11 perceber que o Filho de Deus realmente morreu pelos seus pecados, sua alma começa a provar de paz e tranquilidade internas.
  
Descanso assim, o Senhor Jesus dá aqueles que vem a ele, revelandose a si mesmo como sendo seu sempre vivo Sumo Sacerdote no céu, reconciliando Deus com os homens. Quando um homem começa a perceber que o Filho de Deus vive para interceder por ele, ele começa a sentir paz e tranquilidade internas.
  
Descanso assim, o Senhor Jesus dá aqueles que vem a ele, implantando o Seu Espírito em seus corações, testemunhando com os seus espíritos de que são filhos de Deus, vendo que as coisas velhas se passaram e fizeram-se novas. Quando um homem começa a sentir uma inclinação interna a Deus, como pai, e a ter uma  sensação de filho adotivo e perdoado, sua alma começa a sentir paz e tranquilidade.
  
Descanso assim, o Senhor Jesus dá aqueles que vem a Ele, habitando em seus corações como Rei, colocando tudo em ordem e dando a cada função, seu lugar e dever. Quando um homem começa a encontrar ordem em seu coração no lugar de rebelião e confusão, sua alma começa a reconhecer a paz e a tranquilidade. Não há verdadeira felicidade interna, até que o verdadeiro Rei esteja assentado no trono.
  
Descanso como esse, é o privilégio de todos os que acreditam em Cristo. Alguns sabem mais sobre isso, outro, menos; alguns sentem apenas em intervalos distantes, outros, quase sempre; poucos desfrutam do descanso sem muitas batalhas com a incredulidade, mas todos os que se achegam verdadeiramente a Cristo, sabem algo sobre o descanso. Pergunte-os, com todas as suas reclamações e dúvidas, se eles se absteriam de Cristo e voltariam para o velho mundo. Você receberá apenas uma resposta. Tão fraco quanto o sentido de descanso possa lhes parecer, eles se seguram em algo que os faz bem, e esse algo, eles não deixam partir.
  
Descanso assim está ao alcance de todos os que estão dispostos a buscá-lo e a recebê-lo. O pobre não é tão pobre para que não possa tê-lo, tampouco o ignorante é tão ignorante ou o doente tão doente para que não possam apoderar-se dele. A  fé, a simples fé, é o necessário para sentirmos o descanso e alívio vindos de Cristo. Fé em Cristo é o grande segredo para a felicidade. Nem a pobreza, nem a ignorância, tampouco a tribulação ou a angústia podem impedir que homens e mulheres sintam descanso e alívio em suas almas, se forem a Cristo e acreditarem.
  
Descanso assim é o que faz com que os homens se sintam independentes. Bancos podem quebrar; dinheiro pode criar asas e voar; guerra, pestes e fome podem surgir na região e fundações de terra ficarem fora de curso; saúde e vigor podem partir e o corpo ser esmagado por doenças asquerosas; morte pode nos tirar esposa, filhos e amigos, até ficarmos completamente sozinhos, mas o homem que foi a Cristo pela fé ainda terá em mãos algo que nunca poderá ser tomado dele. Assim como Paulo e Silas, ele cantará na prisão; como Jó, despojado de filhos e propriedade, ele abençoará o nome do Senhor.  Ele é o verdadeiro homem independente, que tem em mãos aquilo que nunca lhe poderá ser tirado.
  
Descanso assim é o que faz do homem um verdadeiro rico. Ele dura, persiste, resiste, ilumina o lar solitário, amacia o travesseiro moribundo, acompanha o homem quando é posto no caixão e permanece com ele quando já está na cova. Quando os amigos já não podem mais nos ajudar e o dinheiro já não nos serve; quando médicos já não conseguem mais aliviar nossa dor e enfermeiras não podem contribuir com as nossas vontades; quando nosso sentido começa a falhar e olhos e ouvidos já não realizam suas funções, nesse momento, até mesmo nesse momento, o descanso que nos foi dado por Cristo será vertido no coração do que crê. As palavras “rico” e “pobre” um dia mudarão completamente de significado. Esse é único homem rico que veio a Cristo por fé e, por meio dEle, recebeu o alívio.
  
Este é o descanso que Cristo oferece a todos os que estão cansados e oprimidos; esse é o descanso oferecido por Cristo se chegarmos a Ele; esse é o descanso que desejo que você agarre e, por isso, faço-lhe o convite hoje. Que Deus não permita que esse convite chegue a você em vão!
  
1. Leitor, você sabe alguma coisa sobre o “descanso” que venho falando? Se não, o que ganha com sua religião? Você mora numa terra cristã, professa e se auto-intitula cristão, você provavelmente frequentou uma igreja cristã para adorar durante muitos anos, logo, você não gostaria de ser chamado de infiel ou pagão. Ainda assim, qual benefício você recebeu pelo seu cristianismo durante todo esse tempo? Que vantagem você obteve? Pelo que se pode perceber, você poderia muito bem ter sido turco ou judeu.
    
Aceite o conselho de hoje e decida ter consigo as verdades do cristianismo, tanto quanto o nome, sua substância e sua forma. Não se contente até que saiba algo sobre a paz, a esperança, a alegria e a consolação desfrutadas pelos cristãos nos tempos passados. Pergunte-se qual a razão para que você estranhe os sentimentos experimentados por homens e mulheres nos dias dos apóstolos; pergunte-se porque
você não se gloria no Senhor nem sente paz com Deus, como os romanos e filipenses, que recebiam cartas de Paulo. Sentimentos religiosos, sem dúvida, são muitas vezes enganosos, entretanto, com toda certeza a religião que não produz sentimentos não é a religião do Novo Testamento. A religião que não dá ao homem conforto interno, nunca será a religião de Deus. Tome cuidado consigo, nunca esteja satisfeito até que entenda algo por “descanso que há em Cristo”.
  
2. Leitor, você deseja o descanso da alma, mas, mesmo assim, não sabe onde buscar? Lembre-se de que há apenas um lugar onde ele pode ser encontrado. Governo não pode dá-lo, educação não o concederá, prazeres mundanos não o fornecerão, dinheiro não o comprará. Ele pode ser encontrado apenas nas mãos de Jesus Cristo e é para essa mão que você deve se virar, caso queira encontrar a paz interna.
  
Não existe um caminho real para o descanso da alma, que isso nunca seja esquecido. Há apenas um caminho ao Pai: Jesus Cristo. Há apenas uma porta para o céu: Jesus Cristo. Há apenas um caminho para a paz no coração: Jesus Cristo. Por esse caminho, todos os cansados e oprimidos devem passar, não importa sua classe nem condição. Reis em seus palácios ou indigentes em seus abrigos, nessa questão, todos estão no mesmo nível. Todos os semelhantes devem ir a Cristo, caso se sintam amargurados e cansados; todos devem beber da mesmo fonte, se querem ter sua sede saciada.
  
Você pode não acreditar no que estou escrevendo agora, mas o tempo mostrará quem está certo e errado. Vá em frente, se quiser, imaginando que a verdadeira felicidade será encontrada nas coisas boas do mundo. Procure em festas e banquetes, em danças e casamentos, em corridas ou teatros, em campos ou cartas. Procure em leituras ou pesquisas científicas, em música ou pintura, em política ou negócios.
Procure, mas você nunca o alcançará, a não ser que mude de tática. O verdadeiro descanso nunca será encontrado, a não ser na união do coração do homem com Jesus Cristo.
  
A princesa Elizabete, filha de Carlos I, está enterrada na Igreja de Newport, na Ilha de Wight. Um monumento de mármore, erguido pela graciosa rainha Vitória, recorda, de forma tocante, como ela morreu.
Eles padeciam no Castelo de Carnsbrook, durante as guerras da Commonwealth, quando um prisioneiro, separado de todos os companheiros de juventude da rainha, libertou-a até sua morte. Ela foi encontrada morta, com sua cabeça sobre sua Bíblia, que estava aberta nas palavras “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”. O monumento na Igreja de Newport relembra esse fato, diz respeito a uma figura feminina com sua cabeça sobre um livro de mármore, com o texto citado gravado no livro. Medite, leitor, que sermão nos dá a repreensão contida nessa pedra.  Veja como esse memorial nos possibilita perceber a desimportância da classe social para que tenhamos felicidade! Veja o testemunho disso para a lição posta à sua frente hoje, a poderosa lição de que não há descanso verdadeiro para ninguém, se não for em Cristo! Que felicidade será para a sua alma, se essa lição não for esquecida!
    
3. Leitor, você deseja esse descanso dado apenas por Cristo e, ainda assim, tem medo de buscá-lo? Suplico, como amigo de sua alma, que deixe esse medo de lado. Pois pelo que Cristo morreu na cruz, senão
para a salvação dos pecadores? Pra quê ele está sentado à direita de Deus, senão para receber e interceder pelos pecadores? Quando Cristo o convida de forma tão clara e promete de bom grado, por que, então,
fraudar sua própria alma, ao recusar-se ir a ele?
  
Quem, dentre todos os leitores desse tratado, deseja ser salvo por Cristo, mas ainda não o é? Venha, eu rogo, Venha a Cristo sem demora. Mesmo tendo sido um pecador cruel, venha; mesmo tendo resistido a avisos, conselhos e sermões, venha; mesmo tendo pecado contra a luz e o conhecimento, contra o conselho de seu pai e as lágrimas de sua mãe, venha; mesmo tendo mergulhado fundo no pecado e vivido sem os domingos e orações, ainda assim, venha. A porta não está fechada e a fonte continua aberta. Jesus Cristo o convida. É o suficiente sentir-se cansado e oprimido e ansiando por ser salvo. VENHA! Venha a Cristo sem demora.
  
Venha a ele por fé e desabafe a Cristo em oração. Conte-lhe toda a história de sua vida e peça para que o receba. Clame a Ele como o ladrão arrependido o fez, quando o viu na cruz. Diga a Ele, “Senhor, salva-me também! Senhor, lembra de mim!” VENHA! Venha a Cristo!
  
Leitor, se você nunca chegou a esse ponto, terá que chegar, caso queira ser salvo. Você deve se achegar a Cristo como pecador, fazer negócios pessoais com o grande Médico e pedir-lhe por cura. Por que não fazer isso logo de vez? Por que não aceitar logo a esse convite hoje mesmo? Mais uma vez, repito minha exortação. VENHA! Venha a Cristo sem demora.
  
Leitor, você encontrou o descanso dado por Cristo? Você já provou da verdadeira paz, ao ir até ele e colocar sua alma nele? Então siga pelo restando dos seus dias como começou, olhando para Jesus e vivendo por ele. Vá sacando diariamente suprimentos completos de descanso, paz, misericórdia e graça da grande fonte de alívio e paz. Lembre-se que se você viver até a idade de Matusalém, não será nada além de
um pobre pecador que deve tudo o que tem e toda sua esperança apenas a Cristo.
  
Nunca se envergonhe por viver uma vida de fé em Cristo. Os homens podem ridicularizá-lo e zombar de você, até mesmo silenciá-lo com argumentos, mas eles nunca poderão lhe tirar os sentimentos que a fé em Cristo proporciona. Eles nunca poderão acabar com seu sentimento. “Eu estava cansado antes de encontrar a Cristo, mas agora tenho descanso em minha consciência. Eu estava cego, mas agora vejo. Eu estava morto, mas agora vivo novamente. Eu estava perdido, mas agora fui achado”.
  
Convide a todos ao seu redor a irem a Cristo. Use de todo esforço legal para trazer pai, mãe, marido, esposa, filhos, irmãos, irmãs, amigos, parentes, companheiros, colegas de trabalho,  empregados ao conhecimento do Senhor Jesus. Não poupe dores. Fale com eles sobre Cristo, fale com Cristo sobre eles. Seja imediato em qualquer época. Fale para eles o que Moisés fez com Hobabe, “vai conosco e te faremos
bem”. Quanto mais você trabalha pela alma dos outros, mais bênçãos receberá pela sua própria alma.
  
Por último, anseie com confiança por um descanso ainda melhor no mundo que está por vir. Só mais um tempinho e Ele, que deverá vir, virá - e não tardará. Ele ajuntará todos os que creram nele e os levará para um lugar onde o pecador deixará de se preocupar e o cansado estará em perfeito descanso. Ele os dará um corpo glorioso, com o qual servirão a Deus sem transtorno e o adorarão sem fatigar-se. Ele enxugará as lágrimas de cada face e tudo será novo. (Is 25: 8.)
  
Há um tempo bom chegando para todos aqueles que foram a Cristo e confiaram suas almas em Suas mãos. Eles lembrarão todos os caminhos pelos quais foram guiados e verão a sabedoria de cada um de seus passos; todos se perguntarão como puderam duvidar de tamanha bondade e amor por parte de seu Pastor. Acima de tudo, eles se perguntarão como puderam viver sem Cristo por tanto tempo e como ainda hesitaram quando ouviram falar sobre Ele.
  
Existe uma passagem na Escócia chamada Glencoe, que fornece uma ilustração belíssima sobre como será o céu para o homem que for até Cristo. A estrada através de Glencoe conduz o viajante a uma subida longa e íngreme, com poucas curvas e desvios durante o percurso.
Mas quando o topo da subida é alcançado, uma pedra é avistada à margem da via, com os seguintes dizeres, simples, gravados “Descanse e seja grato”. Leitor, essas palavras descrevem os sentimentos com os quais cada um que busca a Cristo entrará, finalmente, no céu. O cume do caminho estreito será alcançado, deixaremos nossas jornadas cansativas e nos assentaremos no reino de Deus, olharemos para trás com gratidão e veremos a perfeita sabedoria em cada curva e travessia feita na subida íngreme por onde fomos levados, e, no descanso eterno, já não nos lembraremos do trabalho pesado. Aqui nesse mundo, nossa ideia de descansar em Cristo, na melhor das hipóteses, é fraca e parcial, mas "quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado". Graças sejam dadas a Deus, porque o dia está chegando, quando os cristãos descansarão perfeitamente e serão gratos.
  
Leitor, o convite está à sua frente. Você o aceitará?
_______________________
HINO 1
Por muito tempo labutei, mas descanso terreno não avistei;
Por muito tempo vagueei, mas lar seguro não encontrei;
Então o procurei em Seu peito acolhedor
Que abre Seus braços e convida o cansado a entrar.
Então em Cristo encontrei o descanso divino, um lar,
E desde então eu sou dEle e Ele é meu.
Sim, Ele é meu! E nada do que é terreno,
Nem todos os encantos do prazer, da riqueza ou do poder,
A fama dos heróis tampouco a pompa dos reis,
Conseguiriam me fazer abdicar do Seu amor.
“Vai, mundo sem valor”, eu clamo, “com tudo o que é teu!”
“Vai, porque eu sou do meu Salvador e Ele é meu”.
O que eu tenho de bom é dado por Ele,
O mal é apenas algo que Ele considere melhor;
Tendo-o como amigo, sou rico, mesmo sem posses,
Mas sem Ele, mesmo com todas as riquezas, sou pobre.
Mudanças podem vir, e eu aceito ou renuncio,
Regozijando enquanto sou dEle e Ele é meu.
Por mais que tudo mude, nEle, nada há de passar.
Assim como o sol glorioso não míngua e nem declina,
Também Ele sobre as nuvens e tempestades caminha,
E resplandece docemente sobre a escuridão de seu povo.
Tudo pode apartar-se, mas não me aflijo e nem reclamo,
Enquanto eu for do meu Salvador e Ele for meu.

HINO 2
Assim como estou, sem nenhum argumento,
A não ser o de que teu sangue foi derramado por mim,
E que Tu me convidaste para vir até Ti,
Cordeiro de Deus, a Ti eu venho!
Assim como estou, e sem esperar
Para minha alma, da desgraça obscura, libertar
A ti, cujo sangue pode toda mácula limpar,
Cordeiro de Deus, a Ti eu venho!
Assim como estou, mesmo agitado17
Com tantos conflitos e incertezas,
Com temores por dentro e pelejas por fora,
Cordeiro de Deus, a Ti eu venho!
Assim como estou: pobre, miserável e cego.
Visão, riqueza e mente sã:
Sim, disso tudo preciso em Ti encontrar,
Cordeiro de Deus, a Ti eu venho!
Assim como estou, Tu me vais receber,
Vais me libertar, perdoar, limpar e acolher,
Porque creio na Tua promessa,
Cordeiro de Deus, a Ti eu venho!
Assim como estou, o Teu amor extraordinário
Quebrou todas as barreiras;
E agora sou Teu, sim, somente Teu,
Cordeiro de Deus, a Ti eu venho!18

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ORE PARA QUE O ESPIRITIO SANTO USE ESSE SERMÃO
PARA EDIFICAÇÃO DE MUITOS E SALVAÇÃO DE PECADORES.
FONTE
Traduzido de http://www.tracts.ukgo.com/come.doc
Todo direito de tradução em português protegido por lei internacional de
domínio público
Tradução: Sara de Cerqueira
Revisão: Armando Marcos Pinto
Capa: Victor Silva

Projeto Ryle – Anunciando a verdade Evangélica.
http://bisporyle.blogspot.com/


Você tem permissão de livre uso desse material, e é incentivado a distribuí-lo, desde que sem alteração do conteúdo, em parte ou em todo, em qualquer formato:
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Evangelho, por qualquer meio adquirido, exceto por venda.  É vedada a venda desse material.

11:45
John MacArthur

Como Devemos Cultuar a Deus? - John MacArthur
Como Devemos Cultuar a Deus?


John MacArhtur, autor de mais de 150 livros e conferencista internacional, é pastor da Grace Comunity Church, em Sum Valley, Califórnia, desde 1969; é presidente do Master’s College and Seminary e do ministério “Grace to You”; John e sua esposa Patrícia têm quatro filhos e quatorze netos. 

Flip Wilson, um famoso comediante norte-americano, tinha em seu repertório um personagem chamado Reverendo Leroy, que pastoreava a “Igreja do Que Está Acontecendo Agora”. No início da década de 1970, o Reverendo Leroy e sua igreja eram uma paródia ultrajante. Mas, na verdade, a comunidade evangélica de nossos dias está enxameada com Reverendos Leroys, e muitas igrejas poderiam convenientemente receber o nome de “Igreja do Que Está Acontecendo Agora”.

Não há limites no que se refere a quão longe algumas igrejas avançarão no propósito de se tornarem “relevantes” e “modernas” em seus cultos. E parece que não existe mais nada excessivamente profano ou abusivo para ser introduzido no “culto”.

A revista Los Angeles Times recentemente falou sobre uma Igreja no sul da Califórnia que distribuiu panfletos anunciando seus cultos como “Horas Agradáveis da Música Country de Deus”. Os panfletos audaciosamente prometiam “dança semelhante à quadrilha logo depois do culto”. De acordo com o artigo da revista, “o pastor também dançou, calçado de botas de couro e vestido com jeans”. O pastor justifica esse movimento com a revitalização de sua igreja. O artigo da revista descreve a manhã de domingo na igreja:

“Os membros ouvem os sermões, cujos temas incluem ‘A Pickup Ford do Pastor e Sexo Cristão’ (classificado com R, que significa ‘relevância, respeito e relacionamento’, disse o pastor, ‘e mais engraçado do que parece’). Após o culto, os membros dançam com músicas de uma banda chamada Os Anjos do Cabaré (e o que mais poderia ser?). A freqüência à igreja está aumentando rapidamente...”

Você pode imaginar que isto é apenas uma aberração de uma igreja desconhecida e excêntrica. Infelizmente, este não é o caso. A teoria contemporânea do crescimento de igreja tem aberto uma porta ampla para tais absurdos. Às vezes, parece que P. T. Barnum (1810-1891) é o principal modelo para muitos que nesses dias participam do movimento de crescimento de igreja. Na verdade, o convite abaixo para um culto dominical vespertino apareceu no boletim de uma das maiores e mais conhecidas igrejas que integram o “Cinturão da Bíblia” nos Estados Unidos:

“Circo – Vejam Barnum e Bailey, quando o mágico do grande e famoso circo vier à Comunhão do Divertimento! Palhaços! Acrobatas! Animais! Pipoca! Que grande noite!”

Essa mesma igreja, em certa época, teve seu conselho de pastores introduzido num ringue de luta corporal, durante o culto dominical, indo mesmo ao ponto de ter um lutador profissional treinando os pastores a jogarem um ao outro no ringue, puxarem os cabelos e derrubarem uns aos outros, sem realmente machucarem-se. Estes não são incidentes extraordinários. Muitas igrejas estão seguindo métodos semelhantes, utilizando todos os meios disponíveis para apimentar seus cultos.

É evidente que o culto dominical está passando por uma revolução sem paralelo em toda a história da Igreja.

O Verdadeiro Culto

Anos atrás, enquanto eu pregava sobre o Evangelho de João, fui tocado pelo profundo significado da verdadeira adoração – “Vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores” (Jo 4.23). Percebi, tão claramente como nunca havia percebido antes, as implicações da afirmativa – “adorarão... em espírito e em verdade”. Essa frase sugere, primeiramente, que a adoração verdadeira envolve tanto o intelecto quanto as emoções. Salienta a verdade de que a adoração tem de ser focalizada em Deus, não no adorador. O contexto também demonstra que Jesus estava dizendo que a adoração verdadeira é mais uma questão de essência do que de forma. Ele estava ensinando que a adoração envolve o que fazemos em nossa vida, não apenas o que fazemos no lugar formal de adoração.

Interrompi naquele ponto as mensagens sobre João 4 e continuei o assunto com um estudo tópico sobre adoração. A editora Moody Press pediu que colocasse essas mensagens em um livro, que foi publicado sob o nome de The Ultimate Priority (A Prioridade Crucial). Esse estudo sobre adoração afetou-me mais profundamente do que qualquer outra série de sermões que já havia preparado. Mudou para sempre minha opinião sobre o que significa adorar a Deus.

Aquela série de estudos também marcou o início de uma nova etapa para nossa igreja. Nossa adoração coletiva adquiriu nova profundidade e significado. As pessoas começaram a ficar conscientes de que cada aspecto do culto da igreja – música, oração, pregação e, mesmo, as ofertas – é adoração oferecida a Deus. Começaram a ver as superficialidades como uma ofensa a um Deus santo e a considerar o culto como uma atividade em que deveriam ser participantes e não espectadores isolados. Se o culto é algo que oferecemos a Deus – e não um show elaborado para beneficiar a congregação – então cada aspecto do culto tem de ser agradável a Deus e estar em harmonia com sua Palavra. Portanto, o resultado de nossa nova ênfase sobre o culto foi o aprofundamento de nosso compromisso com a centralidade das Escrituras.

Sola Scriptura

Alguns anos depois daquela série de estudos sobre adoração, preguei sobre o Salmo 19. Minha reação foi a de alguém que estava contemplando pela primeira vez o poder daquilo que o salmista estava afirmando sobre a suficiência das Escrituras.

A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma.

O testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos símplices.

Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração.

O mandamento do Senhor é puro e ilumina os olhos.

O temor do Senhor é límpido e permanece para sempre.

Os juízos do Senhor são verdadeiros e todos igualmente, justos.

São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado;

são mais doces do que o mel e o destilar dos favos.

O argumento central da mensagem deste salmo é: a Escritura é completamente suficiente para satisfazer todas as necessidades da alma humana. Sugere que toda a verdade espiritual e essencial está contida na Palavra de Deus. Pense nisso: a verdade das Escrituras pode restaurar a alma danificada pelo pecado, outorgar sabedoria espiritual, confortar o coração abatido e trazer iluminação espiritual. Em outras palavras, a Bíblia resume tudo que precisamos saber a respeito da verdade e da justiça; ou, como o apóstolo Paulo escreveu, a Bíblia é capaz de nos habilitar para toda boa obra (2 Tm 3.17).

Esta série de estudos sobre o Salmo 19 marcou outro movimento na vida de nossa igreja, colocando-nos face a face com um dos princípios dos reformadores – Sola Scriptura. Em uma época quando muitos evangélicos parecem estar se voltando em massa para a esperteza mundana nas áreas de psicologia, negócios, política, relacionamentos e entretenimento, as Escrituras nos são indicadas como a única fonte que podemos recorrer para encontrar a infalível verdade espiritual. A série de estudos teve um impacto sobre cada aspecto da vida de nossa igreja.

A Suficiência das Escrituras: Um Princípio Para Regular o Culto

Como podemos aplicar a suficiência das Escrituras ao culto da igreja? Os reformadores responderam essa pergunta aplicando Sola Scriptura à adoração, estabelecendo o que eles chamaram de Princípio Regulador. João Calvino foi o primeiro a articular de maneira sucinta esse princípio:

“Não podemos adotar qualquer artifício [em nosso culto] que pareça satisfazer a nós mesmos, e sim levar em conta as exortações dAquele que tem o direito de prescrevê-las. Portanto, se desejamos que Ele aprove

nosso culto, esta regra, que Ele mesmo enfatiza com muita rigidez, tem de ser observada com zelo... Deus reprova todos os tipos de cultos não sancionados expressamente por sua palavra”.

Calvino sustentava este princípio utilizando diversas passagens bíblicas, incluindo 1 Samuel 15.22 – “Obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender, melhor do que a gordura de carneiros” – e Mateus 15.9: “Em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens”.

John Hooper, um pastor inglês, contemporâneo de Calvino, afirmou assim este mesmo princípio: “Na igreja não deve ser utilizado nada que não tenha a expressa aprovação das Escrituras, para apoiá-lo, ou que seja algo indiferente em si mesmo, ou seja, que não traga qualquer proveito quando utilizado e nenhum prejuízo quando omitido”.

William Cunningham, um historiador da Igreja, que viveu no século XIX, definiu nesses termos o princípio regulador: “É insustentável e ilícito introduzir no governo e no culto da igreja qualquer coisa que não tem a sanção positiva das Escrituras”.

Os reformadores e puritanos aplicavam o princípio regulador contra os ritos formais, as vestes sacerdotais, a hierarquia eclesiástica e outros resquícios do culto da Igreja Católica. O princípio regulador era freqüentemente citado pelos reformadores ingleses que se opunham aos elementos da Igreja Alta no anglicanismo, os quais haviam sido emprestados da tradição católica romana.Foi o comprometimento de muitos puritanos com o princípio regulador que levou centenas de pastores puritanos a serem excluídos, por decreto, dos púlpitos da Igreja da Inglaterra em 1662.

Além disso, a simplicidade da forma de culto das igrejas presbiterianas, batistas, congregacionais e de outras tradições evangélicas é o resultado da aplicação do princípio regulador.

Os evangélicos de nossos dias fariam bem se recuperassem a mesma confiança que seus antecessores espirituais tinham em relação às Escrituras. Uma boa quantidade de tendências prejudiciais que estão ganhando importância nesses dias revelam a decrescente confiança dos evangélicos na suficiência das Escrituras. Por um lado, existe, como já observamos, uma atmosfera de circo em algumas igrejas que empregam métodos pragmáticos que trivializam aquilo que é santo, para impulsionar a freqüência de pessoas na igreja. Por outro lado, um crescente número de evangélicos está abandonando as formas simples de adoração, em favor do formalismo da Igreja Alta. Alguns estão deixando completamente o evangelicalismo e unido-se à Igreja Ortodoxa e ao catolicismo romano.

Enquanto isso, algumas igrejas simplesmente abandonaram toda a objetividade, optando por um estilo de culto turbulento, emocional e destituído de qualquer sentido racional. Talvez um dos mais comentados movimentos que está varrendo o cristianismo no presente é o fenômeno conhecido como “Bênção de Toronto”, onde toda a congregação ri incontrolavelmente, sem qualquer motivo racional, late como cachorros, ruge como leões, cacareja como galinhas, pula, corre e convulsiona. Eles vêem isso como uma evidência de que o poder de Deus lhes foi transmitido.

Nenhuma dessas tendências está avançando por motivos bíblicos consistentes. Pelo contrário, seus defensores citam argumentos pragmáticos ou procuram o apoio de interpretações erradas de textos das Escrituras, do revisionismo da história ou tradições antigas. Esta é exatamente a mentalidade contra a qual os reformadores lutavam.

Um novo entendimento de Sola Scriptura – a suficiência das Escrituras – tem de nos estimular a continuar reformando nossas igrejas, a regular nossos cultos de acordo com as normas bíblicas e a desejar intensamente ser pessoas que adoram a Deus em espírito e em verdade.

Aplicando Sola Scriptura ao Culto

A questão que surge a seguir é sobre como o princípio Sola Scriptura pode ser usado para regular o culto. Alguém pode indicar o fato de que Charles Spurgeon utilizava o princípio regulador para excluir o uso de qualquer instrumento musical no culto. Spurgeon recusou permitir a utilização de um órgão no Tabernáculo Metropolitano, porque acre- ditava que não havia base bíblica para música instrumental no culto cristão. Na verdade, ainda existem crentes que, pelo mesmo motivo, se opõem a música instrumental.

É óbvio que nem todos os que afirmam a ortodoxia do princípio regulador necessariamente concordam em todos os detalhes sobre como ele deveria ser aplicado. Alguns poderiam salientar tais diferenças nas questões práticas e sugerir que todo o princípio regulador é, por isso mesmo, insustentável. William Cunningham observou que críticas contra o princípio regulador freqüentemente procuram desacreditá-lo recorrendo à tática do reduzi-lo ao absurdo.

Aqueles que não apreciam o princípio regulador, por qualquer motivo, geralmente procuram nos co-locar em dificuldades, pondo sobre ele uma rigorosa conotação, dando-lhe, deste modo, uma aparência de algo absurdo. Mas o princípio regulador tem de ser interpretado e ex- plicado com o exercício do bom senso. Dificuldades e diferenças de opiniões podem surgir a respeito dos detalhes, mesmo quando o discernimento correto e o bom senso influenciam a interpretação e aplicação do princípio. Mas isto não oferece qualquer fundamento para negar ou duvidar das verdades ou da ortodoxia do próprio princípio regulador.9

Cunningham reconheceu que o princípio regulador com freqüência é empregado para argumentar contra coisas que podem ser reputadas como relativamente sem importância, tais como ritos, cerimônias, vestimentas, órgãos, ajoelhar-se, prostrar-se e outros recursos exteriores da religião formal. Por causa disso, Cunningham afirmou: “Algumas pessoas parecem imaginar que o princípio regulador se preocupa com a insignificância intrínseca das coisas”.10 Portanto, muitos concluem: os que advogam o princípio regulador fazem-no porque realmente gostam de contender por coisas insignificantes.

Com certeza, ninguém se deleitaria em disputas por questões irrelevantes. É verdade que o princípio regulador ocasionalmente tem sido utilizado daquela maneira. Uma obsessão por aplicar qualquer princípio aos menores detalhes pode facilmente se tornar uma forma destrutiva de legalismo.11

Mas o princípio Sola Scriptura, aplicado ao culto, é sempre digno de ser defendido com ferocidade. O princípio em si mesmo não é trivial. Além disso, a falha de apegar-se à prescrição bíblica no que se refere ao culto é exatamente aquilo que mergulhou a igreja nas trevas e na idolatria da Idade Média.

Não tenho interesse em suscitar um debate sobre instrumentos musicais, vestimentas pastorais, decoração do templo ou outros assuntos. Se existem aqueles que utilizam o princípio regulador como um trampolim para tais debates, excluam-me de entre eles. As questões que inflamam minha preocupação relacionada ao culto contemporâneo são mais profundas do que tais assuntos. Referem-se ao próprio âmago do que significa adorar a Deus em espírito e em verdade.

Minha preocupação é esta: o fato de a igreja moderna ter abandonado o Sola Scriptura abriu as portas para diversos abusos grotescos e imagináveis, incluindo cultos com banda de cabaré, a atmosfera de espetáculos carnavalescos e exibições de luta livre. Mesmo a mais liberal e ampla aplicação do princípio regulador do culto teria um efeito corretivo em tais abusos.

Pense, por um momento, no que aconteceria à adoração coletiva, se a igreja contemporânea levasse a sério o Sola Scriptura. Quatro diretrizes bíblicas para o culto imediatamente viriam à nossa mente. Essas diretrizes caíram em um trágico estado de negligência. Recuperá-las com certeza produziria uma nova reforma no culto da igreja moderna.

Pregar a Palavra. Na adoração coletiva, a pregação da Palavra deve ter a primazia. Todas as instruções do Novo Testamento aos pastores centralizam-se nessas palavras de Paulo a Timóteo: “Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (2 Tm 4.2). Em outra carta, o apóstolo resumiu seu conselho ao jovem pastor: “Até à minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino” (1 Tm 4.13). Evidentemente, o ministério de pregar a Palavra era o âmago das responsabilidades pastorais de Timóteo.

Na igreja do Novo Testamento, as atividades da comunidade de crentes eram completamente centralizadas “na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações” (At 2.42). A pregação da Palavra era o centro de todo o culto. Em certa ocasião, Paulo pregou a um grupo de crentes até depois da meia-noite (At 20.7-8). O ministério da Palavra tinha uma parte tão crucial na vida da igreja, que, antes de um membro ser qualificado para servir como presbítero, teria de ser provado como alguém habilidoso em ensinar a Palavra (cf. 1 Tm 3.2; 2 Tm 2.24; Tt 1.9).

O apóstolo Paulo caracterizou assim a sua própria chamada: “Me tornei ministro de acordo com a dispensação da parte de Deus, que me foi confiada a vosso favor, para dar pleno cumprimento à palavra de Deus"

(Cl 1.25 – ênfase acrescentada). Você pode estar certo de que a pregação era um elemento predominante em todo culto do qual Paulo participava.

Muitas pessoas vêem a pregação e a adoração como dois aspectos distintos do culto da igreja, como se a pregação não tivesse qualquer ligação com a adoração e vice-versa. Mas este é um conceito errôneo. O ministério da Palavra é a plataforma sobre a qual a verdadeira adoração é edificada. Em seu livro Between Two Worlds (Entre Dois Mundos), John Stott afirmou muito bem: “A Palavra e a Adoração pertencem indissoluvelmente uma à outra. Toda a adoração é uma resposta inteligente e amável à revelação de Deus, porque é a adoração de seu nome. Portanto, a adoração aceitável é impossível sem a pregação. Pregar é tornar conhecido o nome de Deus, e adorar é louvar o nome do Senhor sobre o qual fomos informados. Ao invés de ser uma intrusão alienígena à adoração, o ler e o pregar a Palavra são realmente indispensáveis à adoração. As duas não podem ser divorciadas”.

Pregar é um aspecto insubstituível de toda a adoração coletiva. Na verdade, todo o culto da igreja gira em torno do ministério da Palavra. Todas as outras coisas são preparatórias ou uma reação à mensagem das Escrituras.

Quando o teatro, a música, a comédia e outras atividades têm a permissão de usurpar o lugar da pregação da Palavra, a verdadeira adoração inevitavelmente é prejudicada. E, quando a pregação é subjugada à pompa e à circunstância, ela também obstrui a adoração genuína. Um culto de adoração sem o ministério da Palavra tem um valor questionável. Além disso, a “igreja” onde a Palavra de Deus não é regularmente e fielmente pregada não é uma verdadeira igreja.

Edificar o Rebanho. As Escrituras nos dizem que o propósito dos dons espirituais é a edificação de toda a igreja (Ef 4.12; cf. 1 Co 14.12). Por esse motivo, todo o ministério da igreja tem de produzir edificação, fazendo o rebanho crescer espiritualmente e não apenas estimulando emoções.

Acima de tudo, o ministério da igreja deve ter como alvo o promover a adoração verdadeira. Para alcançar esse objetivo, ele tem de ser edificante. Isso está implícito na ex- pressão “que... o adorem em espírito e em verdade”. Como já observamos, a adoração deve envolver o intelecto e as emoções. A adoração deve ser emocionante, profundamente sentida e tocante. Mas o importante não é estimular as emoções, enquanto desligamos nosso intelecto. A adoração verdadeira mescla a mente e o coração em uma resposta de adoração pura, fundamentada na verdade revelada da Palavra de Deus.

A música pode, às vezes, nos comover pela agradável beleza da melodia, mas este sentimento não é adoração. Por si mesma, a música, sem a verdade contida nos versos, não é um recurso legítimo para a adoração autêntica. De maneira semelhante, uma história comovente pode ser tocante ou inspirativa, mas, se a mensagem que ela transmite não estiver no contexto da verdade bíblica, quaisquer sentimentos que ela desperte não têm qualquer utilidade em fomentar a verdadeira adoração. Emoções fortes despertadas durante o culto não constituem necessariamente uma evidência de que houve verdadeira adoração.

A adoração genuína é uma resposta à verdade divina. É emotiva porque surge de nosso amor a Deus. No entanto, a adoração verdadeira também deve ser fruto de um correto entendimento de sua lei, sua justiça, sua misericórdia e seu ser. A genuína adoração reconhece Deus conforme Ele se revela nas Escrituras. Por exemplo, através das Escrituras, sabemos que Ele é a única, perfeitamente santa, onipotente, onisciente e onipresente fonte da qual flui toda bondade, misericórdia, verdade, sabedoria, poder e salvação. Adorar significa atribuir glória a Deus por causa dessas verdades; significa louvá-Lo por aquilo que Ele é, aquilo que tem feito e aquilo que tem prometido. Por conseguinte, adoração tem de ser uma resposta à verdade que Ele revelou a respeito de si mesmo. Tal adoração não pode resultar de um vazio. É motivada e vitalizada pela verdade objetiva da Palavra de Deus.

Cerimônias mortas e entretenimento também são incapazes de provocar essa adoração, não importa quão emocionantes tais coisas sejam. Elas não edificam. No máximo, elas podem despertar emoções. Mas isso não é adoração.

Honrar o Senhor. Hebreus 12.28 afirma: “Retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor”. Esse versículo nos fala sobre a atitude com que devemos adorar. A palavra grega traduzida por “sirvamos” é latreuo, que literalmente significa “cultuar”. O argumento principal é que a adoração tem de ser realizada com reverência, de uma maneira que honra a Deus.

Na adoração coletiva, não existe lugar para a atmosfera frívola, superficial e leviana que freqüentemente prevalece nas igrejas modernas que procuram ser relevantes. Substituir o

culto de adoração por um espetáculo distancia-se tanto quanto possível da atitude de adoração bíblica “com reverência e temor”.

“Reverência e temor” referem-se ao solene sentimento de honra que resulta de percebermos a majestade de Deus. Exige uma percepção

da santidade de Deus e de nossa própria pecaminosidade. Tudo na adoração coletiva da igreja deve ter como alvo o fomentar esse tipo de atmosfera.

Por que igrejas substituem a adoração por entretenimento e comédia nos cultos no Dia do Senhor? Muitas que o têm feito declaram que têm o objetivo de alcançar os não-crentes; querem criar um ambiente “amigável”, que será mais atraente aos incrédulos. O objetivo concreto deles é “relevância”, ao invés de “reverência”. Seus cultos são idealizados para alcançar os incrédulos com o evangelho, e não para os crentes se reunirem a fim de adorarem a Deus e serem edificados. Muitas dessas igrejas não atribuem qualquer ênfase às ordenanças do Novo Testamento. A Ceia do Senhor, quando observada nessas igrejas, é transformada em um culto insignificante, no meio da semana. O batismo se torna real- mente opcional e normalmente são realizados em qualquer outra ocasião, exceto nos cultos dominicais.

O que está errado nisso? Existe problema em utilizar os cultos do Dia do Senhor como reuniões evangelísticas? Há uma razão bíblica que justifica o domingo como dia em que os crentes se reúnem para adoração?

As Escrituras e a história nos fornecem inúmeras razões para separarmos o primeiro dia da semana para adoração e comunhão entre os crentes. Infelizmente, uma consideração mais detalhada desses argumentos está fora do escopo desse breve artigo. Mas uma simples aplicação do princípio regulador oferece bastante orientação.

Por exemplo, aprendemos das Escrituras que o primeiro dia da semana era o dia em que a igreja apostólica se reunia para celebrar a Ceia do Senhor: “No primeiro dia da se- mana, estando nós reunidos com o fim de partir o pão, Paulo, que devia seguir viagem no dia imediato, exortava-os” (At 20.7). O após- tolo instruiu os crentes de Corinto a fazerem suas ofertas, sistematicamente, no primeiro dia da semana, deixando claramente implícito que este era o dia em que eles deveriam se reunir para adoração. A história nos revela que a igreja dos primeiros séculos se referia ao primeiro dia da semana como o Dia do Senhor, uma expressão que encontramos em Apocalipse 1.10.

Além disso, a Bíblia sugere que as reuniões regulares da igreja primitiva não visavam a propósitos evangelísticos, e sim, primariamente, ao encorajamento mútuo e à adoração na comunidade de crentes. Esta é a razão por que o escritor de Hebreus fez o seguinte apelo: “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima” (Hb 10.24-25 – ênfase acrescentada).

Com certeza, havia ocasiões em que os incrédulos vinham às reuniões dos crentes. As reuniões da igreja do primeiro século eram essencialmente públicas, assim como muitas o são hoje. Mas o próprio culto tinha como objetivo a adoração a Deus e a comunhão entre os crentes. O evangelismo acontecia no contexto da vida diária, à medida que os crentes propagavam o evangelho. Eles se reuniam para adoração e comunhão e se separavam para evangelizar. Quando uma igreja torna todas as suas reuniões evangelísticas, os crentes perdem a oportunidade de crescer, de serem edificados e de adorar.

Também não existe qualquer fundamento bíblico para adaptarmos os cultos semanais de acordo com a preferência dos incrédulos. Na realidade, essa prática parece contrária ao espírito de tudo que as Escrituras dizem a respeito da comunidade de crentes.

Quando a igreja se reúne, no Dia do Senhor, essa não é uma ocasião para entreter o incrédulo, divertir os irmãos ou satisfazer as “necessidades sentidas” de nossos ouvintes. Pelo contrário, é uma ocasião para, como igreja, nos humilharmos diante de nosso Deus e honrá-Lo com nossa adoração.

Não Confiar na Carne. Em Filipenses 3.3, o apóstolo Paulo descreve nesses termos a adoração cristã: “Porque nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne” (ênfase acrescentada).

Mais adiante nessa carta, Paulo testemunhou como ele chegou a perceber que seu legalismo farisaico, no qual ele vivia antes de tornar-se crente, não tinha qualquer valor. Ele mostrou como anteriormente tinha obsessão por questões exteriores e carnais, tais como circuncisão, descendência e obediência à lei, ao invés de se interessar pelas questões mais importantes a respeito do estado de sua alma. A conversão de Paulo na estrada de Damasco mudou tudo isso. Seus olhos foram abertos à gloriosa verdade da justificação pela fé. Ele compreendeu que a única maneira de estar e ser aceito na presença de Deus era ser vestido com a justiça de Cristo. Paulo aprendeu que a simples obediência a ritos religiosos, tais como a circuncisão e as cerimônias prescritas na lei, não tinha qualquer valor espiritual. De fato, ele rotulou essas coisas como “refugo”, literalmente, “esterco”.

Até hoje, a maioria das pessoas que falam sobre adoração geralmente têm em mente as coisas externas – a liturgia, as cerimônias, a música, o ajoelhar-se e outros aspectos for- mais. Recentemente li o testemunho de um homem que abandonou o cristianismo evangélico e se uniu ao catolicismo romano. Uma das principais razões que ele apresentou para deixar o evangelicalismo foi que ele encontrou no catolicismo romano uma liturgia que “se parecia mais com adoração”. Quando ele explicou isso, tornou-se evidente que ele realmente estava dizendo que a Igreja Católica oferece mais instrumentos de rituais formalistas – acender velas, imagens, ajoelhar-se, rezar, benzer e outras coisas assim. Ele equiparou essas coisas à adoração.

Mas estas coisas nada significam em relação à adoração verdadeira, em espírito e em verdade. Na realidade, como invenções humanas – não prescrições bíblicas – correspondem exatamente ao tipo de artifícios carnais que Paulo chamou de “esterco”.

A história e a experiência nos mostram que é incrivelmente grande a tendência humana para acrescentar aparatos carnais à adoração prescrita por Deus. Israel fez isso no Antigo Testamento, culminando na religião dos fariseus. As religiões consistiam em nada mais do que rituais da carne. O fato de que tais cerimônias freqüentemente são belas e emocionantes não as transforma em adoração verdadeira. As Escrituras são claras em afirmar que Deus condena todos os acréscimos humanos àquilo que Ele ordenou de maneira explícita – “Em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens” (Mt 15.9). Nós, que amamos a Palavra de Deus e cremos no princípio Sola Scriptura temos de nos acautelar diligentemente contra essa tendência.

A Adoração é Prioridade Crucial

Nosso Senhor disse a Marta, que estava aflita devido aos afazeres domésticos por receber muitos convidados: “Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa” (Lc 10.41-42).

A verdade principal é evidente. Maria, que se assentara aos pés de Jesus, em adoração, escolhera “a boa parte”, e esta não lhe seria tirada. A adoração de Maria tinha um significado eterno, enquanto toda a intensa atividade de Marta não significou absolutamente nada, além daquela tarde especial.

Nosso Senhor estava ensinando que a adoração é a atividade essencial que deve preceder todas as outras atividades da vida. Se isto é verdade em nossas vidas particulares, não deveríamos nós tributar maior importância à adoração no contexto da congregação dos crentes?

O mundo está cheio de religião falsa e superficial. Nós, que amamos a Cristo e cremos que sua Palavra é verdadeira, não ousemos moldar nossa adoração aos estilos e preferências de um mundo incrédulo. Pelo contrário, temos de reputar como nosso principal objetivo ser adoradores em espírito e em verdade. Devemos ser pessoas que adoram a Deus no Espírito, se gloriam em Cristo Jesus e não confiam na carne. Para fazer isso, temos de permitir que somente a Escritura – Sola Scriptura – regule nossa adoração.
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Reforma Radical

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