O ATEÍSMO PRÁTICO - Stephen Charnock

14:19

Um homem pode ser um ateísta de coração sem que o seja de cabeça. Ele pode não questionar a existência de Deus, e até mesmo defendê-Lo, enquanto o seu coração se encontra vazio de emoções para com Ele

Isso se chama ateísmo prático, ou seja, ateísmo em prática. O próprio diabo é um ateísta prático, pois ele sabe que existe um Deus, mas age como se não houvesse. No mundo, são poucas as pessoas que negam a existência de Deus, mas nenhum homem naturalmente o reverencia em seu coração. Todos os homens são ateístas práticos. Eles são descritos em Tito 1: 16 que diz: Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras. Desde que ações falam mais alto do que palavras, aqueles que dizem conhecer a Deus, mas vivem como se Ele não existisse, são mais dignos de receberem o título de ateísta, do que aqueles que negam a Deus e vivem como se Ele existisse.

Esse ateísmo secreto é o espírito de todo pecado. Toda ação pecaminosa despreza a lei e a soberania de Deus, declarando-O indigno de ser o que é. Se nos fosse permitido chegar a sua conclusão lógica, cada pecado da humanidade iria impugnar, destronar, e aniquilar a Deus, enquanto promovesse o pecador ao status de a mais sábia das autoridades.

Quando pecamos, no fundo desejamos que Deus não existisse, ou que Ele não possuísse Suas qualidades e perfeições, o que seria o mesmo que dizer que Deus não existe. Além disso, aqueles que somente o adoram exteriormente, por causa de um temor escravizador, murmurando o tempo todo, manifestam o mesmo desejo.

Qualquer desejo que houver para que Deus mude, ou para que Ele mude a maneira de tratar conosco, é a própria essência do ateísmo prático.

O problema do homem pode ser resumido em duas declarações:

I. O Homem Deseja Ser o seu Próprio Deus.

Ele faz de si mesmo a sua própria lei, ao invés de Deus. Isso significa destronar totalmente a Deus, pois Deus não pode existir à parte de sua própria prerrogativa de autoridade.

O homem primeiramente nega o governo de Deus. O homem naturalmente não tem disposição para aprender as verdades de Deus. Ele se recusa a utilizar os meios que lhe estão disponíveis para aprender sobre Deus. Ele rejeita qualquer pensamento a respeito de Deus que ocasionalmente vêem em sua mente, desejando que a Bíblia não diga o que ela tem a dizer. O único pensamento que ele tem interesse a respeito de Deus é proveniente da mera e carnal curiosidade, e não de um desejo genuíno de obediência.

Interiormente, o homem que está em pecado se opõe ativamente à verdade de Deus. Quanto mais ele conhece da vontade de Deus, mais ele luta contra ela. O apóstolo descreve isso em Romanos 7: 8, Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, operou em mim toda a concupiscência; porquanto sem a lei estava morto o pecado. O pecado que habita em nós aproveita do conhecimento que temos da lei de Deus e se opõe a isso com mais ferocidade.

Exteriormente, o homem persegue aqueles que proclamam a verdade. Cada canto da face da terra tem sido manchado com o sangue daqueles que defendem a Deus e Sua autoridade. Em tempos de calmaria, o povo tolera o som da verdade, simplesmente porque procedem dos lábios de um vizinho ou amigo.

Alguns ateístas práticos até estão dispostos a abraçarem algumas verdades, desde que eles tenham a liberdade de escolha. De fato, eles estão dizendo: “A verdade que me favorece é legal, mas eu me reservo ao direito de rejeitar qualquer verdade que me reprove!”

Muitas pessoas pervertem a Palavra de Deus a fim de se desculparem dos seus pecados. Por exemplo, a longanimidade de Deus é interpretada erradamente como falta de interesse de Sua parte. A justificação pela fé é torcida em licença para pecar. A conversa de Cristo com os pecadores se transforma em uma defesa para fazer parte de más companhias.

Este mau uso da verdade revela que elegemos a nossa própria vontade má, e não a vontade de Deus, como nossa regra. Isso nos faz lembrar o método de torcer as escrituras que Satanás utilizou para tentar a Cristo.

O homem natural não deseja um Deus santo e nem uma santa lei. Qualquer conhecimento a respeito de qualquer coisa é aceitável a ele, exceto o conhecimento de Deus. Por quê? Porque o conhecimento de Deus humilha o homem e o seu orgulho não suporta isso.

A verdade que o homem não pode evitar, ele despreza e desonra. Se ele quebra qualquer parte da lei de Deus, acaba se achando no direito de desprezar todo restante (Tiago 2: 10). Mesmo que ele pareça guardar alguns preceitos de Deus, isso ocorre incidentalmente e por motivos egoístas, e não por ser o fruto de um coração obediente. Adão insistiu em sua liberdade, apesar de isso ter causado o seu próprio dano. Sendo assim, todo homem em Adão é um perfeito tolo. Ele é inimigo de sua própria felicidade. Os homens insistem em se afastar de Deus a qualquer custo. O lema do pecador é: “Melhor servir ao pecado do que servir a Deus.” Ele sofre uma dor muito maior por violar a lei de Deus do que sofreria se a cumprisse!

O homem odeia aqueles mandamentos que são mais espirituais, mais íntimos, e que mais glorificam a Deus. Ele quase não suporta o que é mais externo, aquelas partes cerimoniais da adoração. Ele tem pensamentos fugazes sobre Deus e encontra pouca satisfação nEle. Ele precisa ser constrangido a fazer o bem, e dá uma série de desculpas para não fazer isso. Ele odeia chegar na presença de Deus, e sai o mais rápido que pode. Ele oferece a Deus as sobras. Ele serve a Deus com medo de que Seu governo seja estabelecido em seu coração.

Se o homem natural chega a servir a Deus de alguma maneira, é somente por motivos interesseiros. Se Deus não concede aquilo que ele deseja, então ele o abandona e deixa de servi-Lo. Ele tem a Deus como o seu servo, e não o seu Senhor.

O homem mostra o seu desprezo a Deus nas muitas promessas que ele quebra. Em tempos de perigo ou aflição, ele rapidamente faz um voto a Deus, mas após isso, relaxa. Assim ele prova que é filho do pai da mentira (João 8: 44). Poderia existir uma evidência mais clara do que esta, a de renegar o governo de Deus?

O homem busca estabelecer a si mesmo como seu próprio Deus.

Ele faz da sua própria vontade um ídolo. O amor próprio e a independência são a base do ateísmo, e também a raiz de todo o pecado no mundo. Adão cobiçou a igualdade com Deus. Ele pensou em usurpar o trono de Deus. Desde a queda, a grande controvérsia entre Deus e o homem tem sido: Quem realmente é Deus? Deus ou o homem?

Graças a Deus pelo segundo Adão, pois não levou em conta Seus privilégios Divinos, mas humilhou-se a si mesmo, vindo a terra e morrendo (Filipenses 2: 5-8) a fim de fazer o que o primeiro Adão não fez!

Quando o homem peca, sua consciência o acusa, por isso ele procura eliminá-la. Ele não gosta de reter qualquer conhecimento sobre o Deus verdadeiro (Romanos 1: 28). Isso é um grande mal, pois destruir sua consciência é o mesmo que tentar destruir a Deus. Ela é Seu mensageiro.

O bem que o homem natural faz é relativo, pois ele faz isso para agradar a si próprio, ao invés de honrar a Deus. Ele faz o que é bom somente pelo fato de sua vontade coincidir com a vontade de Deus naquele ponto. Entretanto, o principio governante em sua alma não diz respeito a Deus, mas a si mesmo. A reputação diante dos homens, ou outras vantagens egoístas, é que motiva os homens. Sendo assim, aquilo que para nós parece ser obediência, muitas vezes não passa de desobediência aos olhos de Deus. Quando o homem traça o curso de sua vida sem considerar a Palavra e vontade de Deus sobre o assunto, ele age como seu próprio Deus. Ele prefere agradar a si mesmo ao invés de Deus. O ateísta prático, com efeito, se torna o seu próprio soberano.

E por último, o homem deseja ser um Deus para Deus. Ele deseja ser todo poderoso sobre o Todo Poderoso. Até onde Deus caminhe sob nossas regras, nós o reconheceremos. Estamos dispostos a deixar que Deus seja o nosso benfeitor, mas não o nosso governante. Queremos experimentar um Deus novo e aprimorado. Mas isso é uma fantasia que somente existe em nossa imaginação. Deus nos diz: “Estas coisas tens feito, e eu me calei; pensavas que era tal como tu, mas eu te argüirei, e as porei por ordem diante dos teus olhos: Ouvi pois isto, vós que vos esqueceis de Deus; para que eu vos não faça em pedaços, sem haver quem vos livre.” Vamos considerar algumas maneiras como o homem tenta reconstruir a Deus em sua imaginação.

Quando lutamos contra a santa lei de Deus e queremos estabelecer a nós mesmos como Deus. Na prática estamos dizendo: “Eu sei melhor do que Deus aquilo que é bom para mim.” Deus tem o direito de ditar leis para Suas criaturas. Mas nós queremos ditar leis para Deus a qualquer momento que entremos em desacordo com os Seus mandamentos.

Quando desaprovamos o seu governo neste mundo e queremos estabelecer a nós mesmos como Deus. É como se Deus tivesse a obrigação de nos prestar contas e, como se nós, e não Ele, é que fossemos os únicos realmente interessados nos problemas. Damos a nós mesmos o status de conselheiros e professores de Deus. Pensamos que Ele está errado, e nós é que estamos certos.

Quando somos impacientes durante as dificuldades e imaginamos que a nossa sabedoria, justiça, e momento de agir são melhores do que os do próprio Deus. Pensamos que somos superiores a Ele em matéria de providência.

Quando invejamos aos homens e traímos a Deus em nosso coração. Dizemos: “Deus não me consultou ao distribuir seus dons. Ele me deve isso ou aquilo.”

Quando oramos de maneira egoísta, exigindo de Deus aquilo que Ele não prometeu e nem determinou nos dar, evidenciando assim um grande pecado de orgulho. Orando como se determinássemos que Deus fosse rebaixado aos nossos termos.

Quando interpretamos de maneira apressada e descuidada a providência de Deus em algum julgamento específico, nos fixando em nossa própria vontade como uma lei ou um motivo para Deus agir. Por exemplo, em Lucas 13, Cristo fez uma advertência contra a forma precipitada de julgamento, pois alguns assumiram que os Galileus, mortos por Pilatos, eram mais pecadores do que os outros homens. Vamos ser cuidadosos na maneira como interpretamos as aflições que ocorrem com nossos inimigos.

Quando desrespeitamos o princípio regulador da adoração a Deus, introduzindo nossas próprias novidades, as quais somente agradam e atraem os homens, e praticamente lançam a Deus para fora do Seu trono.

Quando torcemos as Escrituras para ajustá-las as nossas preferências, ao invés de seguir a intenção da mente de Deus, nos colocando como uma autoridade superior ao próprio Deus.

Qualquer um que deixe de servir a Cristo, quando os problemas surgem, estão praticamente deificando a si mesmos. Facilidades pessoais e cobiça se tornam o seu Deus. Eles pensam que são melhores juízes do que Deus em tudo o que é verdadeiramente proveitoso.

Poderíamos acrescentar a esta lista a ingratidão, teimosia, e coisas semelhantes. Mas a suma disso tudo é esta: o ateísmo prático se torna um Deus para si mesmo.

II. O Homem Estabelece a Si Mesmo como Seu Próprio Fim e Felicidade, ao Invés de Deus.

Deus é digno da nossa mais alta estima. Nós deveríamos não somente depender como também nos regozijarmos em Deus. Mas por causa da nossa natureza caída, nós tentamos inverter tudo isso.

Quando o homem rebaixa a Deus, ele exalta a si mesmo. Nosso amor próprio, que é tão pecaminoso, exerce um papel mortal nisso. Precisamos entender que há três tipos de amor próprio, os quais podemos definir como natureza, pecado, e graça.

Primeiro, Deus implantou em cada individuo um amor próprio natural. A nossa auto-preservação instintiva evidencia este tipo de amor. Sem ele, não poderíamos ser realmente homens.

Segundo, o homem pecador possui um amor próprio carnal, que o leva a exaltar a si mesmo acima de Deus. Este amor próprio é distorcido, pois está cheio de amor próprio natural, que é pecaminoso.

Terceiro, num estado de graça, o homem passa a ter amor pelo interesse maior de sua alma. Honrar a Deus passa a ser o seu maior deleite. Os interesses terrenos e temporais tornam-se subservientes aos interesses de sua alma. O segundo tipo de amor próprio é o único envolvido no ateísmo prático. O pecado apela para nós com base na auto-satisfação. Vemos o pecado como algo bom para nós. Viver para o pecado é como viver para nós mesmos. Até mesmo na religião podemos ser motivados pelo amor próprio. Por exemplo, podemos entregar o nosso corpo para ser queimado como mártir, mas se fazemos com um afeto não santificado, então não tem valor algum (I Coríntios 13: 3).

De que maneira o homem faz de si mesmo o seu próprio fim?

- Ao aplaudir e abraçar a si mesmo, permanecendo em sua própria percepção de perfeição, ao invés de Deus.

- Ao atribuir glória e honra a si mesmo, levando o crédito por qualquer bem que faça, ou culpando a Deus por qualquer problema.

- Ao insistir em doutrinas que o agradam, e sustentando um falso profeta que o ensina.

- Ao demonstrar maior interesse pelas injúrias cometidas contra si mesmo do que por aquelas cometidas contra Deus.

- Ao confiar em si mesmo e em sua inteligência e sabedoria ao invés de buscar conhecer a opinião de Deus.

- Ao violar a consciência, que é um agente de Deus, a fim de agradar a si mesmo. É desta e de muitas outras maneiras que demonstramos se somos um ateísta prático.

Nós usurpamos a prerrogativa de Deus ao fazer de nós mesmos nosso próprio fim. Difamamos a Deus insinuando que Ele não seja digno do nosso amor assim como nós mesmos somos. Nós praticamente destruímos a Deus, tanto quanto possível, ao negar a Ele, a Sua vontade revelada, e a Sua honra em nossas vidas.

O Homem Estabelece Qualquer Coisa, Exceto a Deus no Lugar de Deus. Somente um ser irracional faria formal e abertamente tal coisa, porém, todo homem por natureza faz estas coisas virtual e implicitamente. Ao invés de cultivar a Deus em todos os seus pensamentos, ele o nega (Salmo 10: 4). Ele pensa muito menos em Deus do que na maioria das outras coisas. Ele não encontra prazer em Deus como sendo Deus. Ele enfática e ansiosamente busca os interesses mundanos. Ele é um adicto aos prazeres da carne e desdenha dos caminhos de Deus, os quais os anjos se deleitam, por causa da gratificação terrena. Ele louva os meios e os instrumentos ao invés da fonte de todas as suas bênçãos. Ele trata a Deus como um mero espectador em sua vida. Ele rebaixa a Deus ao colocar alguém ou algum pecado como o Deus de sua vida. Em tudo e em cada passo ele nega a Deus.

O homem faz de si mesmo o fim de todas as criaturas. Nós somos tão egoístas por natureza, que nos achamos dignos não somente de nossa suprema afeição, mas também da afeição de outros. Nós imaginamos que somos o fim para o qual tudo mais existe. Embora alguns tentem disfarçar isso, todo homem tem uma opinião muito elevada de si mesmo.

O homem faz de si mesmo o fim pelo qual Deus existe. Ele faz que até mesmo Deus seja sujeito ao homem. Como ele faz isso? Faz de maneiras muito sutis, como demonstram os exemplos a seguir.

O homem faz de Deus o seu fim, quando o ama somente por motivos egoístas, e quando Deus lhe garante algum benefício. Isso não passa de amor as bênçãos e não ao Doador.

O homem faz de Deus o seu fim, quando se abstém de certos pecados somente porque isso o ajudará a promover outros propósitos pecaminosos. Por exemplo, ele pode se abster do alcoolismo apenas porque isso preserva o seu corpo para si mesmo. Não é pelo temor a Deus, mas por algum interesse próprio que o ateísmo prático é motivado.

O homem faz de Deus o seu fim, quando cumpre deveres religiosos tão somente para ganhos de ordem pessoal. Os ateístas vestem uma máscara muito fina de religião! Se não houver nenhum proveito claro para si mesmo, ele deixa de cumprir qualquer dever. Se ele pode se virar sem Deus, ele faz isso com satisfação. Ele somente ora em tempos de aflição e necessidades pessoais. A oração normalmente é mais “fervorosa” quando é menos piedosa. O ateísta prático só quer que Deus carimbe as suas idéias pessoais. Ele fica impaciente quando Deus não responde as suas orações e nem segue a sua agenda pessoal.

O homem faz de Deus o seu fim, quando busca objetivos pessoais no cumprimento de seus deveres religiosos. Simão, o mágico, exerceria alegremente os dons milagrosos se por meio deles recebesse reconhecimento e honra dos homens (Atos 8). Aqueles que vêm a Cristo somente para escapar do inferno, não tendo nenhum desejo de santidade pessoal e a glória a Deus, são igualmente culpados neste sentido. Nós detestamos o pecado por que isso primeiramente nos prejudica, ou por que ofende a Deus? A motivação por detrás de toda a nossa obediência é questionada. Por exemplo, nós mantemos o culto familiar somente para reivindicar direitos? Em tudo nós devemos manter a avaliação de Deus em vista, buscando Sua honra e glória.

O homem faz de Deus o seu fim, quando faz uso de Deus somente como uma desculpa para o pecado. Os homens utilizam algumas passagens distorcidas das Escrituras como uma muleta para apoiar suas concupiscências. Por exemplo, usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago (I Timóteo 5: 23), é uma passagem muito citada pelos beberrões. Isso é tentar fazer Deus concordar com o pecado e demonstra um alto grau de ateísmo.

Nós vemos mais evidências do ateísmo prático naquele homem que sustém uma visão indigna sobre Deus.

Ele tenta reduzir Deus a um tamanho que seja manipulável. Este pequeno Deus pode ser satisfeito com uma pequena justiça, pequena santidade, e pequena obediência. As superstições não demoram a surgir. Os homens começam a tratar Deus como se fosse um bebê, bajulando e subornando sua pessoa. Então eles imaginam que as ameaças de Deus são vazias, servindo apenas para assustá-los. Tudo isso se trata apenas idolatria mental, que é uma doença muito comum no mundo inteiro. Se um quadro correto desse deus pudesse ser retratado, que monstro não iria aparecer na tela!

Tais pensamentos a respeito de Deus são depravados e difamadores. São piores do que a própria idolatria. Eles fazem com que Deus não passe de uma mera criatura, mais uma dentre as criaturas pecadoras. Eles são piores do que o ateísmo absoluto. O que é pior, negar a Sua existência ou negar a Sua perfeição?

A anulação natural de Deus demonstra o ateísmo prático deles. Eles abominam a Deus simplesmente porque Ele é santo, puro, e perfeito. O homem não tem interesse em imitar a santidade de Deus. O homem presta atenção a tudo, menos para o grande Deus. Ele não quer se comunicar com Deus. Quanto mais alto Deus clama, mas o homem se afasta.

Para que nos serve este estudo?

I. INFORMAÇÃO.

Deus excede em paciência e misericórdia. Ele continua a ser o doador da vida e do fôlego de Seus inimigos declarados, que constantemente o provocam. Ele poderia ter aniquilado todos eles há muito tempo, mas ainda os preserva. Ele até determinou salvar um grande número deles. Que Deus Maravilhoso!!

Deus é justificado ao exercer justiça contra os Seus inimigos. Somos culpados de traição espiritual e deveríamos ser destruídos. Por pecarmos contra um Deus infinito, nossa culpa é infinita, e merecemos um castigo infinito.

Nós precisamos de uma nova criatura em nosso interior para evitarmos o nosso ateísmo natural. Uma disposição perversa está instalada em nossa natureza. Não se trata de uma pequena ferida, mas uma doença que está nos corrompendo mais e mais. Precisamos de todo um novo princípio de vida em nosso interior. Só então poderemos amar a Deus supremamente.

Assim, vemos como é difícil a conversão do pecado, e subseqüentemente a mortificação do pecado. Na verdade isso é impossível aos homens. É fácil para um homem voltar os seus braços contra si mesmo e destruir seu próprio império? Uma conversão verdadeira é tão radical quanto dolorosa. Viver uma vida santa não é brincadeira de criança. Isso é contrário a tudo o que conhecemos e somos por natureza.

Aqui descobrimos a razão pela qual os homens persistem na incredulidade. O evangelho nos humilha completamente. No evangelho, Deus é tudo em todos. O homem naturalmente prefere a lei, a qual lhes diz o que devem fazer, ao invés do evangelho, que nos diz que Deus, em Cristo, fez absolutamente tudo. A verdadeira essência da fé requer que renunciemos a nós mesmos e olhemos para Cristo para a nossa justiça.

Observe os prazeres sensuais. Nós devemos praticar a autonegação e moderar o uso dos confortos terrenos. Nada é mais eficaz para extinguir nosso apetite por Deus do que a dependência dos prazeres mundanos. Cuidado com esta grande armadilha!

Cuidado para não cair no pecado da presunção. Em outras palavras, não peque contra o conhecimento, mas caminhe com toda a luz que você tenha. Quando você peca deliberadamente, sua alma se torna um campo fértil para o crescimento de uma vasta plantação de ateísmo prático.



Autor: Stephen Charnock 
Tradução: Eduardo Cadete 2011 
Fonte: Palavra Prudente