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A EXISTÊNCIA DE DEUS
Stephen Charnock
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Prefácio

O conhecimento de Deus é indispensável a qualquer outro conhecimento. A tolice que abunda hoje na religião, sem mencionar no mundo, é sintoma da ignorância básica acerca de Deus. Superficialidade é a ordem do dia. Entretanto, as gerações passadas pensaram e escreveram mais profundamente a respeito de Deus. Talvez um dos maiores autores, não inspirado, que discursou acerca deste vital assunto, foi Stephen Charnock (1628-1680), que escreveu Discursos Sobre A Existência e Atributos de Deus. Este homenageado tratado é especialmente valioso por causa da sua aplicação prática e pastoral. Fiz um resumo deste tratado nas páginas iniciais. Eu tentei ser tão transparente quanto possível, deixando assim que o Sr. Charnock falasse.

A Existência de Deus

No Salmo 14: 1 lemos: Disse o néscio no seu coração: Não há Deus. O Apóstolo Paulo faz referência a este mesmo Salmo em Romanos, no capítulo 3, para provar que todo homem, no mundo inteiro, é corrupto e pecador por natureza. Em nosso coração, cada um de nós, em algum sentido, é um ateísta.

No hebraico, a palavra traduzida por Deus, no Salmo 14: 1, não é Jeová, que fala de sua existência, mas Elohim, que o apresenta como sendo o Juiz. O homem natural acha isso muito ofensivo, ou seja, a idéia de que Deus esteja observando suas atitudes e que um dia o chamará a fim prestar contas dos seus pecados. Muitas pessoas estão dispostas a reconhecer a divindade, desde que não esteja relacionada com o Elohim das Escrituras. Mas a verdadeira religião não requer apenas que creiamos que Deus existe, mas que Ele existe com aquele caráter que as Escrituras revelam. Hebreus 11: 6 nos diz que devemos crer que Deus existe, e que Ele é galardoador daqueles que diligentemente o buscam.

Há três tipos de ateísmo. Primeiro, o ateísmo absoluto, que nega totalmente a existência de Deus. Segundo, o ateísmo providencial, que limita Deus ao céu e o mantém fora da terra. O deismo se enquadra nesta categoria. Terceiro, o ateísmo natural, que nega a natureza e perfeições atribuídos a Deus nas Escrituras. Este tipo de ateísmo é o mais comum e o mais sutil. Quantos membros de igreja confessam que só há um Deus, mas negam que Ele tenha a plenitude de caráter descrito em Sua Palavra!

Todo ateísta é um grande tolo. Ele se coloca contra toda razão, e em última instância, nega tudo. Sua consciência lhe diz que há um Deus, mas ele insiste em suprimir e negar este conhecimento (Romanos 1: 18). Ele terminará sem nada. Para que o homem seja completo, a religião é tão necessária quanto a razão. Para mostrar a tolice do ateísmo, vamos considerar alguns argumentos acerca da existência de Deus.

1. A prevalência da religião em todo o mundo prova a existência de um Deus.

A história nos mostra a inclinação religiosa do homem. Todas as sociedades estão permeadas com certo tipo religião. Negar a existência de Deus é negar aquilo que todos os homens sempre souberam. É uma grande tolice negar aquilo que está presente e ativo na consciência de todo homem. O fato de muitas sociedades crerem numa multiplicidade de deuses, não enfraquece este argumento. Isso simplesmente confirma a natureza religiosa do homem. O homem foi criado originalmente para ser um adorador. Quando ele pecou e caiu, o seu conceito sobre Deus ficou embotado, e embora continue sendo um adorador, ele faz isso através de falsos deuses.

De todas as grandes disputas na história humana, a existência de Deus tem sido uma das maiores. Muitos assuntos sobre religião foram debatidos de maneira acalorada, mas todos acreditavam na existência de um Deus. As poucas exceções a esta regra não negam seu princípio. O fato de algumas pessoas serem fisicamente cegas, não nos leva a concluir que a visão não seja um dos sentidos naturais da humanidade! Nem a existência de uns poucos ateístas ferrenhos, provam que o homem não seja naturalmente um adorador. O homem já teria se livrado desta consciência se pudesse, mas ela permanece constante. O reconhecimento da divindade é essencial à nossa existência. Até mesmo Satanás nunca procurou desarraigar este princípio quando tentou inicialmente o homem. Ao invés disso, quando tentou Eva, ele distorceu a Palavra e o caráter de Deus.

A religião é inata ao homem. A lei de Deus está escrita em seus corações, e a nossa consciência dá testemunho disso (Romanos 2: 15). A natureza religiosa do homem não é recebida por mera tradição. As tradições se perdem através do tempo, mas esta consciência sobre Deus permanece em cada indivíduo.

Algumas pessoas argumentam que a religião foi inventada por engenheiros sociais a fim de manter o povo “na linha” e sob domínio. Mas aqueles que ensinam tal idéia não podem responder a seguinte questão: Quem são estes engenheiros da sociedade? Como eles chegaram neste comum acordo? Como eles poderiam ter concretizado este propósito de caráter universal e em todas as épocas? Como que eles fizeram para manter esta manipulação em segredo?

Alguns dizem que o medo é que primeiramente introduziu a religião. “Sentimentos de culpa fizeram que o homem criasse a idéia sobre Deus,” dizem eles. Eles pensam realmente de trás para frente. É o conhecimento de Deus que produz medo e culpa no homem pecador.

II. Toda a Criação Manifesta a Existência de Deus.

Romanos 1: 19-20 afirma esta verdade. Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou.

Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis.

Todas as coisas apontam para Deus em sua origem e produção. Todo efeito tem que ter uma causa. Por exemplo, toda construção tem o seu arquiteto e construtor. Negar isso é ficar inescusável! Tudo tem sua origem em algum lugar.

No final das contas, somos deixados somente com duas possibilidades, ou seja, ou Deus é eterno, ou a matéria é eterna. Já que é inconcebível que uma personalidade inteligente surja da matéria inanimada, a única posição racional é dizer que a matéria é o fruto de um ser inteligente, que chamamos de Deus, o qual criou todas as coisas a partir do nada.

Até mesmo o tempo tem sua origem. Tempo é movimento, e todo movimento tem um começo. Não há um movimento que seja perpétuo, nem mesmo no tempo. Tanto o tempo quanto o homem tem uma origem. A razão nos diz que há um começo, o ponto exato em que a causa colocou o efeito em ação. A causa é diferente do efeito, sendo superior a este em tudo. De outro modo, cairíamos em contradições inimagináveis. Tem que haver uma infinita e independente causa para todos os efeitos que vemos, e esta causa nada mais é do que o Deus da Bíblia.

Nada nem ninguém podem dar origem a si mesmo. É impossível que alguma coisa venha a agir antes mesmo de existir. Aquilo em que não há entendimento e ordem em si mesmo, não pode criar a si próprio. Se o homem criou-se a si mesmo, por que não se fez maior do que ele é? Por que ele limita-se a si mesmo à sua presente condição? Se um sapo pudesse criar-se a si mesmo, ele faria de si mesmo um sapo ou um homem? Um homem, é claro! Por que então o homem não parou de ser homem e fez de si mesmo algo melhor? Se o homem criou-se a si mesmo, por que ele morre? Por que ele não se fez eterno? Por que o homem de hoje não se cria a si mesmo?

Nenhum ser pode criar outro ser. Pois se isso ocorresse, este seria criador e não criatura. Os inventores podem criar novos compostos, entretanto, eles não estão verdadeiramente criando, pois não partiram do nada! Os pais podem gerar filhos, mas necessitam de um óvulo e um espermatozóide. Então, isto não pode ser devidamente chamado de “criação.”

Deus criou tudo do nada. Ele é a primeira causa de cada efeito subseqüente. Ele não crio-se a si mesmo, mas tem sua existência eterna e independente. Ele é auto-existente. Tem que haver uma causa original que não foi causada. E, além disso, esta causa final tem que ser infinitamente perfeita.

O conhecimento das nossas próprias imperfeições implica na existência de algo que seja perfeito. A perfeição necessariamente existe. E esta pessoa perfeita é Deus. Assim, Gênesis capítulo 1-3, por si só, já deveria satisfazer o intelecto mais elevado no que diz respeito à questão das origens.

Todas as coisas apontam para Deus em sua harmonia. Papel e tinta não se juntaram acidentalmente para criar a página que você está lendo. Muitas e diferentes mãos a desenharam e produziram. Quando você ouve uma sinfonia, entende que algum grande compositor projetou o conjunto de todas as partes de sua obra. Até os elementos contrários estão interligados de maneira harmoniosa. Por exemplo, a água, que é um líquido, é composta de dois gases, o hidrogênio e o oxigênio. Foi um sábio construtor que ordenou tal combinação. Sendo assim, toda criação em sua harmonia, mostra que há um design inteligente por detrás de tudo.

Considere como um objeto criado serve a outro objeto também criado. O sol está precisamente posicionado em relação à terra, para transmitir a quantidade exata de calor, isso para que não venhamos a morrer de calor, ou perecermos congelados pelo frio.

Temos a quantidade certa de água e terra seca para sustentar toda a forma de vida sobre a terra. Esta regularidade e uniformidade em todo o mundo têm que ter um ordenador. O habitante primitivo de uma ilha que encontra um relógio, não somente admira o maquinário, mas também deduz que há um relojoeiro em algum lugar.

Além disso, a ordem e subserviência na criação são constantes e previsíveis. Não são acidentais, mas refletem a imutabilidade do próprio Criador.

A variedade e diversidade de coisas no mundo apontam para a sabedoria e bondade do Criador. Ele poderia ter feito tudo incolor, mas nos deu um amplo espectro de cores. Ele poderia ter feito nosso alimento insípido, mas nos deu uma ampla variedade de sabores.

Todas as coisas apontam para Deus em sua preservação. Nada pode preservar-se a si mesmo, tudo depende de uma autoridade maior para sua continuidade. Quem é o Sustentador? O salmista nos diz: Tu conservas os homens e os animais... Ó SENHOR, quão variadas são as tuas obras! Todas as coisas fizeste com sabedoria; cheia está a terra das tuas riquezas... Todos esperam de ti, que lhes dês o seu sustento em tempo oportuno...Dando-lho tu, eles o recolhem; abres a tua mão, e se enchem de bens... Envias o teu Espírito, e são criados, e assim renovas a face da terra (Salmo 36: 6; 104: 24, 27-28, 30).

III. A Existência do Homem prova a Existência de Deus.

Você não precisa ir muito longe, basta olhar no espelho para ver que há um argumento muito poderoso para a existência de um Deus!

Considere o seu corpo. Ele foi espantosa e maravilhosamente feito (Salmo 139: 15). Há ordem, disposição, e utilidade em cada parte. Considere qualquer órgão detalhadamente e você verá quão perfeitamente construído ele foi para sua função, e como ele ajuda o restante do corpo. Paulo faz menção da maravilhosa interdependência de todas as partes do corpo em I Coríntios 12. Como uma máquina muito bem ajustada, cada parte de nós testifica da habilidade do seu mestre e escultor.

Embora todos tenham as mesmas partes básicas, há uma maravilhosa diferença e variedade entre os homens. Pense na individualidade das impressões digitais. Ou pense em quantas combinações de olhos, narizes, e bocas encontramos no mundo. Sem esta variação, não poderíamos distinguir uma pessoa da outra. Ninguém pode deixar de ver claramente a mão de Deus em tudo isso.

Considere sua alma. Ela tem uma vasta capacidade de aprender e falar sobre coisas superiores a si mesmo, coisas que verdadeiramente estão muito além deste mundo. Ela possui duas grandes faculdades, a razão e a memória. Ela é muito veloz, e é capaz de percorrer o mundo todo em um só dia.

Há uma união entre a alma e o corpo do homem, pela qual ele passa a ser uma espécie de combinação. Se nós fossemos somente espírito, seríamos então uma espécie de anjo. Se fossemos somente corpo, seríamos um tipo de besta selvagem. Somos uma espantosa combinação de alma e barro. Ousaríamos dizer que tal combinação se auto-criou, ou é fruto de alguma forma inferior de espírito? Não, isso tudo provém de um maior e mais transcendente Espírito. Na verdade, o homem tem que ser muito ignorante acerca de si mesmo, antes de ser ignorante acerca de Deus!

Considere a operações da sua consciência. Sentimos que há um juiz acima de nós mesmos. Todo homem tem em si mesmo este “princípio de reflexão” com o qual ele olha para si mesmo e para o seu próximo. Estamos sempre fazendo uso disso, quer acusando ou defendendo um ao outro (Romanos 2: 15). Todo homem tem implantado em si mesmo a regra do certo ou errado. Aonde existe uma lei, existe também um legislador. E este legislador é Deus.

Temor surge dentro do homem quando este comete algum mal. Quanto mais perto ele chega perto da morte, mais transtornado fica. Ele sabe que há um Juiz Superior e acima dele, e tem pavor de encontrá-lo. Que outra razão haveria para o medo da morte? Quanto mais secreto for o pecado, mais a consciência o condena. Não é pelo fato de outros saberem, mas o de um ser muito superior saber de todas as coisas. Todo homem se pudesse, certamente se livraria deste sentimento de culpa.

É claro que o homem pode silenciar sua consciência, corromper, e até mesmo cauterizar, mas Deus pode despertá-la a qualquer momento que Ele queira. Nós temos menos controle sobre a nossa consciência do que qualquer outra faculdade. O trabalho da consciência não pode se totalmente abalado pelo homem. Mas os ímpios são como o mar bravo, porque não se pode aquietar, e as suas águas lançam de si lama e lodo (Isaías 57: 20). Devemos parar de tentar ser homens que tentam abafar a consciência.

Por outro lado, praticar o que é justo e bom faz com que o homem tenha uma boa consciência. As consciências de outros homens também aprovarão estas boas obras.

Considere a amplidão dos desejos do homem. Ele está sempre insatisfeito com tudo o que está abaixo de si mesmo. Estamos sempre preparados para olhar para o alto, acima de nós mesmos, para algo a mais, algo perfeito. Não podemos encontrar total satisfação naquilo que nos é inferior ou imperfeito. Nosso apetite por coisas superiores demonstra um defeito que temos atualmente. Na verdade, somos inquietos, até que nos acheguemos e descansemos em Deus.

IV. Ocorrências Incomuns no Mundo Provam a Existência de Deus.

Ocorrências como julgamentos excepcionais, que normalmente acompanham pecados excepcionais, demonstram a justiça de Deus. O SENHOR é conhecido pelo juízo que fez; enlaçado foi o ímpio nas obras de suas mãos (Salmo 9: 16).

Pense na mulher de Ló que foi transformada em uma estátua de sal, ou Herodes, que foi comido por vermes.

Os milagres também manifestam um poder maior do que a própria natureza em si mesma. A natureza não pode sobrepor-se a si mesma e produzir milagres. Milagres nada mais são do que o dedo de Deus. Nada, senão um Deus vivo, é que pode ser o responsável por eventos semelhantes ao da ressurreição de Cristo dentre os mortos. As profecias que se cumpriram dão testemunho da existência de Deus. Somente Deus, que está no céu, e conhece todas as coisas e tem todo poder, poderia dizer de antemão o que Ele faria, e cumprir isso detalhadamente. As Escrituras estão repletas de exemplos desta divina providência.

O que esta doutrina significa para nós? Por que precisamos aprender estas verdades?

I. O Ateísmo é uma Doutrina Destruidora.

Ela tende a destruir o mundo como um todo. O verdadeiro fundamento de uma sociedade bem ordenada, repousa no conhecimento e no temor a Deus. Sem Deus não pode haver nenhum padrão absoluto de certo ou errado. A consciência dos homens fica cauterizada. Cada um segue os seus próprios desejos egoístas, sem nenhum freio. O Homem se torna um monstro. A sociedade se torna uma selva de anarquia e tirania. A terra se transforma num inferno. Como o ateísmo é cruel.

O ateísmo destrói os próprios ateístas. Ao se remover toda ameaça de punição e recompensa, o homem é reduzido ao nível de um mero animal. Em tais casos, a esperança se acaba, e toda a possibilidade da verdadeira felicidade fica perdida. O único propósito para se viver é a gratificação monetária, independente dos meios desonestos utilizados para que isso possa ser alcançado.

Por outro lado, quanto mais consciente o homem é de Deus, mais inocente, inofensivo, e útil ele é para o mundo.

II. A Presença do Ateísmo em nossos dias é Lamentável.

Ele é uma loucura que reduz o homem a nada. O ateísmo remove o significado e o propósito da vida, nos deixando com absolutamente nada, a não ser com uma escolha cega. Ele não faz do homem um homem completo. Como é triste ver pessoas educadas e inteligentes caírem na mentira! Mas não se engane, o diabo não é um ateísta. Da mesma maneira, as almas que estão sofrendo o castigo de Deus no inferno, agora não têm dúvidas a respeito da existência de Deus. Para que você não seja enganado pela ilusão do ateísmo, considere os pontos a seguir.

Ninguém pode provar que Deus não exista. Tentar fazer isso é um grande absurdo. Alguém poderia questionar: “Mas eu não consigo ver Deus.” Se pudéssemos vê-Lo, então ele não seria de forma alguma infinito, e nem Deus realmente.

Não podemos ver o vento, mas não duvidamos da sua operação. Não entendemos muito a respeito da luz, mas somente um tolo questionaria a sua existência.

Cada criatura viva, em toda a criação, testifica contra o ateísmo. Literalmente, bilhões de argumentos poderiam ser utilizados para refutar este disparate.

Deus envia de tempos em tempos sua providência especial, para agir como um mensageiro na consciência do homem, e manter viva a intuição nata da existência de Deus. Finalmente, não pode haver um ateísmo puro. Lá no fundo, todos sabem da existência de um Deus. Num certo sentido, todos os pecadores são ateístas, como já dissemos anteriormente, porém em outro sentido, nenhum pecador é um ateísta. Os que se auto-intitulam ateístas, desejam apenas que Deus não existisse, e tentam viver de acordo com isso.

Os homens tentam ser ateístas porque possuem uma culpa secreta, que brota do conhecimento dos seus próprios pecados. Eles desejam viver livremente em seus pecados, sem qualquer restrição da parte dos trovões de suas consciências. Eles tentam se livrar do julgo da escravidão a Deus e encontrar uma nova forma de liberdade, mas apenas se tornam mais escravos do pecado. A única liberdade que o ateísmo ganha é a liberdade de enganar-se a si mesmo. Como o pecado é enganador!

Se o ateísta estiver errado, ele perderá tudo. Se ele estiver certo, não ganhará nada. Sendo assim, até mesmo do ponto de vista humano, o ateísmo é irracional.

O ateísmo é desonesto e faz do homem um inimigo da sua própria alma e felicidade. Os cristãos precisam ter grande compaixão, para não desprezarem um homem que despreza a sua própria alma. Embora os ateístas não sejam dignos do nosso cuidado, vamos cuidar e nos compadecer deles.

III. Se é uma Grande Tolice Negar a Existência de Deus, então seria Sábio Reconhecer a Sua Existência.

Assim como Satanás primeiramente atacou o caráter de Deus no Jardim do Éden, ele agora também ataca o próprio ser de Deus com mais veemência. Mas você poderia duvidar da sua própria existência, assim como duvida da existência de Deus. Ele é. E Ele é tudo o que as Escrituras afirmam que Ele é, ou seja, Senhor, Governador, e Soberano sobre todo o universo.

Este conhecimento é necessário para que o adoremos corretamente. Nossa adoração crescerá na medida em que o nosso conceito sobre Deus cresce também. Você não pode adorar alguém cuja existência você duvida.

Sem este conhecimento, não podemos dirigir nossas vidas corretamente, e vamos nos entregar a todos os pecados possíveis.

Sem este conhecimento, não podemos encontrar conforto em nossas vidas. Mas em Deus desfrutamos de refúgio e forças (Salmo 46: 1). Como poderíamos manter nossa sanidade neste mundo mal sem Ele! E mais, na medida em que nós duvidamos, mais ficamos sem conforto.

Sem este conhecimento não podemos ter uma crença firme nas Escrituras. Dizer não a Deus é dizer não a Bíblia! Sem a Bíblia ficamos sem fundamento para qualquer coisa!

Portanto, vamos estudar Deus na criação assim como nas Escrituras. Embora o vejamos mais claramente na Palavra escrita, ainda assim não deveríamos negligenciar sua evidência na criação. Ele é o autor de ambos. As Escrituras freqüentemente nos apontam para a natureza, sendo que nenhum dos dois se contradiz.

Além disso, vamos enxergar a Deus em nossa própria experiência. A experiência é um excelente professor. Embora você não possa ver a sua essência, você pode ver a bondade dele em sua vida. Da mesma forma, você não pode duvidar da existência de alguém que porventura não conheça pessoalmente! A comunhão pessoal com Deus fala mais alto quanto a sua existência do que todas as evidências externas da criação. Há realmente algo sobrenatural a respeito do verdadeiro cristianismo, que somente o coração renovado conhece.

IV. Se Professamos crer na Existência de Deus, e lhe Negarmos Adoração, Caímos na mesma Tolice dos Ateístas.

Aquele que professa crer em Deus, mas não o adora, é um ateísta para a Sua honra, se não o for para o Seu ser. Desde que vivemos e nos movemos nEle, deveríamos viver e nos mover para Ele e por Ele. É lógico que a nossa mais nobre faculdade deveria estar envolvida com aquilo que é mais excelente. Deus deveria fazer parte de todos os nossos pensamentos (Salmo 10: 4). Portanto, lembre-se sempre dEle, e medite muito sobre Ele. Um Deus esquecido é tão bom quanto um Deus que não existe.

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Autor: Stephen Charnock 
Compilado para o seculo 21: Daniel A. Chamberlin
Tradução: Eduardo Cadete 2011 
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br 

23:30

No último capítulo estabelecemos a base para o presente assunto. Desde que Deus é espírito, a adoração devida a Ele deve ser de natureza espiritual, procedente do nosso espírito. Mais uma vez, as palavras do nosso Senhor dirigidas à mulher Samaritana, em João 4: 24, se aplicam aqui; “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” Não temos que fazer uso dos cerimoniais judaicos descritos no Velho Testamento, nem dos Samaritanos, derivados de várias fontes. Este último era falso, enquanto o anterior, foi substituído pelo modelo do Novo Testamento.

Em todos os tempos, a verdadeira adoração a Deus consistia principalmente de uma estrutura espiritual e sincera. A adoração deve se adequar a natureza do objeto a ser adorado. Deve haver alguma relação entre Deus e a maneira como o adoramos. Se Ele tivesse um corpo, imagens e movimentos físicos poderiam ser suficientes. Mas por Ele ser espírito, não buscamos uma voz poderosa tanto como uma alma elevada; nem tanto joelhos dobrados como um espírito quebrantado; nem tanto meras emoções como um espírito compungido. A estrutura do Novo Testamento é extremamente adequada a verdadeira adoração.

I. ALGUMAS PROPOSIÇÕES GERAIS A RESPEITO DA ADORAÇÃO ESPIRITUAL.

A espiritualidade de Deus é o alicerce da nossa adoração. O fato dEle ser um espírito declara o que Ele é, e Suas outras perfeições declaram que tipo de espírito Ele é. Portanto, se adoramos Sua bondade, paciência, justiça, sabedoria, ou qualquer outro atributo do Seu glorioso caráter, é o fato dEle ser um espírito que nos governa na maneira como o adoramos. A Sua forma de existência é a regra da adoração. Isso deveria nos salvaguardar de descer a um nível de adoração meramente carnal.

A própria natureza nos ensina que a verdadeira adoração deve ser espiritual. A forma cerimonial de adoração que Deus requeria, deveria ser comunicada da parte de Deus para o homem, mas todo homem instintivamente sabe, que a adoração que ele presta está muito mais além daquilo que é cerimonial e externo. Até mesmo os idólatras nunca se intitulam como adoradores de um ídolo, mas daquilo que o ídolo representa. Todos sabem que a nossa mais elevada faculdade, com a qual contemplamos a Deus, deve ser usada em Sua adoração. Em Romanos capítulo um, aprendemos que ao perverter a adoração, o homem vai contra o seu mais elevado entendimento. A idolatria não é um pecado de ignorância, mas um pecado contra a luz.

Deus sempre exigiu que a adoração prestada a Ele fosse de natureza espiritual.

Isso se aplicava ao homem mesmo antes de sua queda no Paraíso. Da mesma forma, antes do início do período do Novo Testamento, Deus ordenou ao seu povo que o amasse de todo coração e também que circuncidassem seus corações.

É nosso dever adorar a Deus em espírito e completamente. Nós pecamos por não adorarmos a Deus de forma correta, assim como por não adorá-Lo completamente. Ele merece a nossa melhor e mais elevada adoração. Se o nosso espírito não estiver envolvido, mas apenas o nosso corpo, então apresentaremos a Deus um sacrifício morto.

A adoração cerimonial do Velho Testamento foi abolida a fim de promover a adoração espiritual.

A adoração espiritual estava oculta sob o véu de uma espessa nuvem de objetos materiais, os quais tocavam os sentidos da carne. Este período é chamado de a velhice da letra (Romanos 7: 6). Nele, os filhos de Israel não olhavam firmemente para o fim daquilo que era transitório (II Coríntios 3: 13).

As cerimônias carnais nunca produziram no coração do homem um formato espiritual. Elas não podiam aperfeiçoar os adoradores nem purificar suas consciências. Assim como a sombra de um homem não pode fazer aquilo que ele faz, pois lhe falta a vida, assim também estas sombras podiam apenas apontar para um período ou administração melhor. Elas não podiam mudar os corações. Poderíamos até argumentar que estas cerimônias tendiam mais a impedir do que a encorajar a adoração espiritual, devido à fraqueza do povo. A preocupação com as coisas materiais acabou criando neles a expectativa de um Messias e um reino de ordem carnal. Aqui Israel tropeçou. Eles se engasgaram com a casca e perderam o melhor da fruta.

Deus testificou que não estava satisfeito com este tipo de adoração cerimonial, demonstrando muitas vezes o quanto estava cansado daquela instituição que Ele mesmo havia ordenado. De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o SENHOR? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; nem me agrado de sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes (Isaías 1: 11). Deus nunca teve a intenção de manter esta velha dispensação, mas mencionou que ela seria substituída por outra mais duradoura, ou seja, a nova aliança. O Senhor Jesus Cristo ratificou esta aliança em Sua obra de redenção.

A Nova Aliança é mais espiritual em sua adoração do que a velha. É um período de maior graça e verdade (João 1: 17). As perfeições de Deus são reveladas mais claramente. Nós o adoramos através de Seu Filho. O Espírito Santo é derramando de forma mais abundante. Nós estamos engajados num culto racional.

Entretanto, há um lugar para o nosso corpo na adoração a Deus. Todas as nossas faculdades pertencem a Ele. Somos ordenados: glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus (I Coríntios 6: 20). Já que a adoração pública é ordenada por Deus, as dimensões físicas desta adoração são requeridas, como a própria presença, os cânticos, as orações, o ensino, e o receber do ensino. Nossa adoração espiritual deve afetar os membros externos do nosso corpo. E o Senhor é o nosso maior exemplo neste assunto, pois Ele orou muitas vezes de joelhos, e em outras, levantando os olhos.

II. EM QUE CONSISTE A ADORAÇÃO ESPIRITUAL.

Toda a alma do homem deve estar empenhada neste glorioso privilégio. Nossa mente deve se encher com pensamentos a respeito de Deus. Cantai louvores com inteligência (Salmo 47: 7). Nossas afeições devem sentir o quanto Deus é completamente amável. Nossa vontade deve ser dirigida a adorar, reverenciar, e abraçar a Deus. Não pode haver o exercício da verdadeira religião onde não há o exercício das faculdades racionais.

Vamos marcar diversas particularidades concernentes ao culto espiritual.

A adoração espiritual deve proceder de uma natureza espiritual. Isto é, o adorador deve ser alguém renovado pelo Espírito Santo, alguém que recebeu uma nova natureza da parte de Deus. Para que uma fera venha a agir como um homem, ela necessitará que a natureza de homem seja implantada nela. Da mesma maneira, atitudes espirituais não podem ser realizadas sem que Cristo esteja presente naquela alma. Devemos estar seguros de que não estejamos apenas ligados aos deveres religiosos, mas de que estamos ligados a Cristo pelo fato de sermos realmente salvos.

A adoração espiritual só é possível pela influência e assistência do Espírito Santo de Deus. Não podemos mortificar nenhum pecado nem avivar nenhum serviço sem a presença e capacitação do Espírito Santo. Somos incapazes de mover a nós mesmos até que o Espírito Santo vivifique nossas faculdades de modo a torná-las agradáveis a Deus. A verdadeira adoração é aquela oferecida no Espírito; orando no Espírito Santo (Judas 20).

A adoração espiritual é feita com sinceridade de coração. Deus diz: Dá-me, filho meu, o teu coração (Provérbios 23: 26). Assim como Paulo, devemos servir a Deus com o nosso espírito no evangelho de Seu Filho Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho (Romanos 1: 9). Sem o coração, a adoração é apenas uma charada. Sem o coração, a língua é uma mentira. Poderíamos esperar que Deus se deleitasse na mera adoração corpórea, se nós mesmos nos regozijássemos em conversar com uma carcaça.

A adoração espiritual deve ser feita com um coração unido. Assim como a vida do nosso corpo consiste da união de todas as suas partes, assim também a nossa vida de adoração consiste da união moral do nosso coração. Nós deveríamos orar como Davi: une o meu coração ao temor do teu nome (Salmo 86: 11). Oh, quem dera pudéssemos dizer como Davi: Com todo o meu coração te busquei (Salmo 119: 10). Um coração dividido corrompe a adoração. Todos os nossos pensamentos deveriam ser levados cativos a Deus. Na adoração, devemos fechar a porta, excluir os intrusos, e ficar na companhia de Cristo.

A adoração espiritual deve ser feita com um fervente e ardente espírito. Nosso entendimento e vontade devem estar ativos. A excelência dAquele a quem adoramos demanda o nosso mais alto comprometimento de esforços. Nosso espírito deve ser ampliado. A adoração apática não convém a Ele! As coisas de Deus deveriam nos estimular mais do que as coisas terrenas. Nossas almas deveriam ficar cheias de fervor enquanto servimos ao Senhor. Um dos termos nas Escrituras para designar o nosso serviço a Deus é agonizomai, de onde se deriva a palavra agonizar, em português. Esta intensidade de adoração não deve ser medida pela excitação externa. Vamos ser cuidadosos em não tentar substituir as emoções externas pelas internas. Nosso corpo pode estar fervendo enquanto nossa alma se encontra congelada. É no mais alto nível de arrebatamento do nosso espírito, que o nosso corpo fica menos envolvido.

A adoração espiritual deve ser feita a partir de um princípio da graça no interior da alma. Toda forma de graça se une ao cristão para produzir fontes de adoração. Se apenas a razão fosse necessária, então todas as criaturas racionais seriam Cristãs. Entretanto, tem que haver algo mais. A graça não exclui a razão, mas a enobrece. Se a adoração fosse feita apenas com o nosso corpo, então isso nos tornaria semelhantes aos animais. Adorar somente com a nossa razão faz com que venhamos a agir como homens. Mas adorar através da graça que recebemos, é adorar espiritualmente, como Cristãos. Já que Deus é o autor de toda graça, é sumamente apropriado que Ele a receba de volta.

As graças cristãs vêm num único pacote, ou seja, é tudo ou nada. Embora elas sejam individualmente gradativas, todas de alguma forma se fazem presentes, na vida de cada filho de Deus. Vamos considerar algumas graças necessárias para a verdadeira adoração a Deus.

O amor se faz necessário na adoração espiritual. Na dispensação do Novo Testamento, a adoração a Deus é mais frequentemente expressa pelo amor do que pelo temor. Na lei, Deus era visto mais na pessoa de um juiz, enquanto no evangelho, mais na figura de um pai. Sua bondade nos convoca ao temor, não no sentido de terror, mas de reverência. A lei é despojada de seu poder condenatório, e se faz doce no sangue do Redentor. Toda a devoção que devemos a Deus se resume em uma só frase, que encontramos em ambos os Testamentos: Amarás, pois, o SENHOR teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças (Deuteronômio 6: 5; Mateus 22: 37).

O reconhecimento de nossa própria fraqueza é necessário na adoração espiritual. Quanto mais adoramos a Deus, mais nos abominamos a nós mesmos. Quanto mais nos deleitamos nEle, mais nos afligimos em nós mesmos. A adoração tanto eleva quanto humilha. Os verdadeiros adoradores se identificam com o publicano que clamava por misericórdia, e não com o Fariseu que se orgulhava de ser melhor do que os outros. Sentimos fome, sede, e suspiramos pela sua presença, desejando segui-Lo. Nossos desejos são nada menos do que o próprio Deus. Nós ansiamos contemplar a Sua beleza e provar a encantadora doçura de Sua presença. O adorador carnal pode ter apenas o desejo de adorar como um fim em si mesmo, mas o adorador espiritual deseja isso como um meio de ter comunhão com o Deus vivo.

Gratidão e admiração são necessários na adoração espiritual. Louvar a Deus de coração é essencial para adoração do verdadeiro evangelho. Nós deveríamos louvá-lo especialmente por causa da Sua obra de redenção, a qual está acima até mesmo de suas obras de Criação.

Deleite é necessário na adoração espiritual. Um coração triste impede a adoração, e contradiz tudo aquilo que o evangelho proclama. Aarão e seus dois filhos sobreviventes, não poderiam realizar os deveres sacerdotais enquanto estivessem de luto pela morte de seus filhos e irmãos (Números 19: 14; Levítico 21: 1-3). Deve haver uma melodia em nossos corações para o Senhor. Deus ama todo aquele que dá com alegria. Quando não há deleite no dever, não há deleite no objeto para o qual nós prestamos o dever.

Ao mesmo tempo, uma profunda reverência é necessária na adoração espiritual. Mais uma vez, o evangelho remove o terror, mas não a reverência para com Deus. Até mesmo os anjos, que não tem pecados pelos quais possam se envergonhar, cobrem as suas faces diante dEle. Os anjos caídos têm um temor escravizador, mas o homem redimido tem um temor reverente e piedoso. Por isso, tendo recebido um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e piedade (Hebreus 12: 28). Para nós, Deus coloca de lado a Sua justiça, mas nunca Sua Majestade.

A humildade é necessária na adoração espiritual. Pensamentos elevados sobre Deus tendem a fazer com que tenhamos pensamentos inferiores a nosso respeito. O afastamento dos homens e dos anjos de Deus começou por causa do orgulho, e a nossa aproximação e retorno para Ele, deve começar com humildade.

A santidade é necessária na adoração espiritual. A santidade convém à tua casa, SENHOR (Salmo 93: 5). A santidade de Deus é a base da nossa adoração. Nós adoramos a Deus sem que haja nenhum interesse se sermos semelhantes a Ele? Como podemos louvar a Sua pureza, enquanto insistimos em permanecer impuros? As mãos erguidas para Deus devem ser mãos santas (I Timóteo 2: 8).

Um objetivo e fim corretos são necessários na adoração espiritual, a saber; a glória de Deus. Ele deve ser o objeto da nossa adoração. Há razões erradas para a adoração, como aquela que fazemos para sermos vistos pelos homens. Os fariseus fizeram de si mesmos um ídolo na maneira como adoravam a Deus. Nossa adoração é espiritual quando temos o mesmo propósito de Deus, ou seja, Sua própria glória.

A adoração espiritual deve ser oferecida em nome de Cristo. Reconhecemos que mesmo as nossas melhores intenções, na adoração, nunca serão aceitas se Cristo não for o nosso Mediador. Deus, à parte de Cristo, é um pensamento terrível para a raça humana caída em Adão. Mas em Cristo, Deus é mais um pai do que um juiz para nós.

III. PORQUE A ADORAÇÃO ESPIRITUAL É DEVIDA A DEUS.

Enquanto nos aprofundamos neste assunto, devemos entender Deus e homem - o adorado e o adorador, o objeto e o assunto.

Devemos adorar a Deus espiritualmente, porque Ele é digno do nosso melhor. Não podemos dar a Deus tudo o que Ele merece, mas devemos sempre lhe oferecer o nosso melhor; o melhor das nossas afeições, as primícias das nossas forças, e a nata do nosso espírito. Nada do que temos é tão bom para Deus. No Velho Testamento, Deus nos deixou um exemplo disso, ao exigir o melhor dos animais nos sacrifícios. Até mesmo os pagãos ofereciam o que tinham de melhor quando sacrificavam seus preciosos filhos a Maloque. O zelo deles nos envergonha! Além do mais, Deus nos dá o seu melhor, Seu amado e Unigênito Filho, como sacrifício por nós. Como poderíamos oferecer a Deus, com má vontade, aquela que é a melhor parte de nós?

Devemos adorar a Deus espiritualmente, porque a nossa razão assim o exige.

Sendo criados com a faculdade da razão, raciocínio, e a capacidade de ter comunhão com Deus, deveríamos empregar tudo isso para o seu uso mais nobre. Não ser um adorador espiritual nos reduz ao nível de bestas brutas, ou sem dúvida a algo ainda pior, pois os animais cumprem o fim pelos quais foram criados dentro de suas capacidades.

Devemos adorar a Deus espiritualmente, porque sem o envolvimento do espírito, nenhuma ação é de fato um ato de adoração. Nosso espírito é parte essencial da adoração, e sem ele as outras ações não passam de obras mortas e adoração fingida. Poderíamos afirmar que um defunto no templo está adorando a Deus, do mesmo modo que um corpo vivo, com um espírito embrutecido, está adorando a Deus na igreja.

Devemos adorar a Deus espiritualmente, porque na adoração, Deus se aproxima do homem. Por isso lemos nas Escrituras a respeito da presença especial de Deus no meio do Seu povo. Se Deus desce para ter comunhão conosco, não deveríamos nos apresentar a Ele com o melhor da nossa capacidade espiritual? Como podemos tê-Lo com todo o seu coração, quando não entregamos a Ele o nosso? Deus e Sua adoração estão intimamente ligados, você não pode honrar um enquanto despreza o outro.

Devemos adorar a Deus espiritualmente, porque este é o objetivo final para o qual Ele nos redimiu. Ele nos dá uma natureza santa a fim de que possamos conhecê-Lo, adorá-Lo, sermos semelhantes a Ele, e nos aproximarmos dEle. Do mesmo modo que não podemos ser adoradores de Deus sem que tenhamos a natureza de um adorador, assim também, um homem não pode ser realmente homem, sem a natureza de um homem. Deus deu primeiro a Adão o privilégio da adoração, e na redenção Ele resgatou novamente este privilégio.

Devemos adorar a Deus espiritualmente, porque esta é a única adoração que Ele aceita. Nosso grande interesse deve ser o de sermos aceitáveis a Deus. Somos expressamente avisados que nossos sacrifícios [são] aceitáveis a Deus por Jesus Cristo. (I Pedro 2: 5). Quão inaceitável deve ser a adoração que não é adequada espiritualmente a natureza de Deus! Que homem ficaria feliz com uma garrafa de água vinda daquele cuja adega esta repleta de vinho? A adoração espiritual é mais prazerosa a Deus do que os mais suntuosos adornos externos, presentes, e todo conhecimento. Vamos considerar o que devemos aprender com esta doutrina.

I. INFORMAÇÃO.

Como é triste ver que de fato muitas pessoas não estão verdadeiramente adorando a Deus! A adoração deles é tão boa quanto nada.

A adoração é um dever inerente a todo homem em virtude da criação. Negligenciar isso demonstra um alto grau de ateísmo. Poderíamos até argumentar se adorar um falso deus também não é algo tão maligno quanto não prestar nenhuma adoração.

Não deveríamos nos contentar com uma adoração meramente externa. Muitas vezes, as pessoas tentar mascarar a ausência de seus corações colocando uma grande ênfase no modo como externamente adoram. Mas a maneira exterior não é um substituto daquilo que é interior. Assim como o pecado é essencialmente uma atitude do coração, assim também é a adoração. Mesmo no Antigo Testamento, o sangue dos animais, por si só, não significava absolutamente nada para Deus.

II. Exame.

Somos advertidos contra aqueles que têm aparência de piedade, mas negam a sua eficácia (II Timóteo 3: 5). Cabe a nós estarmos certos de que não somos culpados de prestarmos este tipo de adoração. Nós preparamos o nosso coração para a adoração? Ficamos contentes de tão somente prepararmos os nossos corpos? O quanto nos assemelhamos aos Fariseus ao nos focarmos mais nas formalidades, enquanto negligenciamos aquilo que é realmente espiritual? Nossos corações estão fixos em Deus? Quando estamos adorando, permitimos que a nossa mente vagueie em assuntos menos importantes ou até mesmo em pensamentos pecaminosos? Achamos que Deus está contente e satisfeito em receber uma devoção superficial da nossa parte? Somos tocados em nosso íntimo por pensamentos a respeito de Deus? Nós adoramos com um temor servil ou com um santo temor? Nossa adoração é forçada, ou realmente sabemos o que é liberdade e espontaneidade com Deus? Depois da adoração nosso espírito brilha, assim como ocorreu com a face de Moisés? Nos sentimos fortalecidos pela graça e mortificados para o pecado? Ficamos mais desejosos de Deus?

III. Conforto.

O menor dos gestos, que brote de um coração sincero, é mais digno do que grandes obras feitas mecanicamente por um coração frio. Deus recompensa aquele de doa um simples copo d’água, se isso for feito com motivação espiritual.

Infelizmente, todo Cristão tem que lutar contra a impureza do seu coração na adoração. A corrupção natural do nosso velho homem nos causa muitas distrações, impedimentos, e interrupções. O pecado luta por sua vida enquanto estamos em adoração a Deus. Pecado e adoração são inimigos mortais, e nesta luta, ou o pecado morre, ou então a adoração morrerá. Além disso, Satanás também tenta nos impedir de adorarmos a Deus. Ele está separado de Deus, e quer nos separar também.

Estas dificuldades na adoração não devem nos levar a concluir que não somos agraciados. Ao invés disso, Deus pode realizar seus bons propósitos em nós através destas dificuldades.

Primeiro, Ele pode nos humilhar. Se nós pudéssemos adorá-Lo perfeitamente em nosso presente estado, certamente nos orgulharíamos disso. Precisamos de certos espinhos em nosso espírito, se não em nossa carne, para nos manter humildes. Nada é tão perigoso quanto o orgulho espiritual.

Segundo, Deus permite certos obstáculos na adoração a fim de a valorizarmos ao máximo. Se isso não fosse uma coisa tão boa, Satanás não se oporia tão ferozmente. Devemos valorizar muito mais a adoração ao vermos que tipo de ameaça ela representa ao nosso arqui-inimigo.

Terceiro, Admiramos muito mais a Deus quando consideramos que Ele aceita adoração de como nós. Somos tão cheios de imperfeições, e ainda assim Deus é tão gracioso em nos aceitar!

Quarto, Os obstáculos na adoração deveriam nos tornar pessoas muito mais gratas e apreciadoras do nosso Mediador. Ele permanece entre nós e nossas enfermidades na adoração. Nós reconhecemos muito mais a total dependência que temos do Salvador das nossas almas; confiamos nEle mais do que nunca. Sendo assim, o propósito de Deus se cumpre e o de Satanás cai por terra.

Portanto, não devemos deixar que os obstáculos que temos na adoração nos desencorajem. Eles provam a sinceridade dos nossos corações através da resistência e oposição que fazemos a eles. Eles nos fazem ficar mais atentos e cuidadosos. Eles fazem com que a intercessão de Cristo seja mais preciosa para nós.

IV. Exortação.

Desde que Deus leva mais em conta a disposição do ofertante do que a multidão de sacrifícios, vamos fazer todo o esforço possível para sermos adoradores espirituais sinceros. O Diabo requer obediência de coração daqueles a quem ele engana. Será que a nossa dedicação a Deus deveria ser menor? Vamos considerar alguns dos motivos deste glorioso dever.

Falhar em entregar a Deus o nosso espírito na adoração, é um grande pecado.

Este pecado de omissão é um grande insulto e zombaria. Dar pouca ou nenhuma atenção a uma pessoa é uma grande ofensa. E em se tratando de Deus, é uma ofensa muito maior! Deus disse a Israel: “Porque, quando ofereceis animal cego para o sacrifício, isso não é mau? E quando ofereceis o coxo ou enfermo, isso não é mau? Ora apresenta-o ao teu governador; porventura terá ele agrado em ti? ou aceitará ele a tua pessoa? diz o SENHOR dos Exércitos” (Malaquias 1: 8).

Falhar em adorar a Deus em espírito é pecar contra a Sua majestade. É como se um homem estivesse conversando com um príncipe e lhe virasse as costas para brincar com seu cão. É como se um homem, culpado de traição, ao invés de clamar por perdão, enviasse a sua petição cheia de rabiscos, rasgada, e ainda cheirando mal. Além disso, falhar em adorar a Deus em espírito é um pecado contra a própria essência de Deus, tratando-O como se Ele fosse um ídolo morto ou surdo. É um pecado contra a infinitude de Deus, como se Ele não fosse digno do nosso melhor. É um pecado contra a espiritualidade de Deus, como se Ele não fosse um ser racional. É um pecado contra a supremacia de Deus, pois faz com que outras coisas sejam soberanas em nossas afeições. É um pecado contra a sabedoria de Deus, pois colocamos as coisas terrenas acima das espirituais, invertendo assim a sua ordem correta. Imaginar que Deus não enxergue os nossos pensamentos mais profundos, e que podemos enganá-Lo, nos disfarçando externamente, como um sepulcro caiado, é um pecado contra a Sua onisciência. É um pecado contra a santidade de Deus, como Provérbios 21: 27 expressa muito bem: O sacrifício dos ímpios já é abominação; quanto mais oferecendo-o com má intenção! É um pecado contra o amor de Deus, pois falha em retribuir este amor, como um devedor que zomba da bondade do seu credor ao se apresentar com uma bolsa vazia ao invés do devido pagamento. Finalmente, é um pecado contra a suficiência de Deus, declarando, de fato, que Ele não pode nos satisfazer, e que encontramos algo mais gratificante e recompensador para os nossos corações. Ao invés de desejá-Lo, como a corsa anseia pelos ribeiros de água, nós achamos que as poças de lama são mais adequadas ao nosso paladar.

Quanto mais carnais forem as nossas afeições na adoração, mais clara é a evidência de que estamos em um estado pecaminoso. Ficar facilmente satisfeito com as formalidades na adoração, denuncia que o nosso coração está vazio do verdadeiro amor a Deus. Revela ainda que o coração está pronto e inclinado a se desviar para o primeiro amante que surgir. Oh, que hipocrisia dizer que amamos a Deus, enquanto vivemos em semelhante estado!

A adoração carnal é um grave perigo. Nós perdemos o verdadeiro conforto, o qual se encontra somente na verdadeira adoração. Pense no encorajamento que João recebeu na Ilha de Patmos enquanto arrebatado no Espírito no dia do Senhor (Apocalipse 1: 10). Mas a adoração carnal não é apenas inaceitável diante de Deus, mas uma abominação para Ele. Ele odeia isso.

A fim de encorajar a adoração espiritual, vamos nos esforçar para manter a nossa mente dentro dos padrões espirituais, até mesmo quando não estivermos realmente adorando. Um viver descuidado durante a semana faz com que tenhamos um domingo descuidado. Nosso sacrifício deveria ser oferecido continuamente. Não devemos dar lugar ao Diabo.

Vamos nos exercitar e animar no grande amor e dependência de Deus.

Vamos alimentar as nossas mentes com pensamentos retos e sublimes sobre Deus. Lembre-se de quem Ele é. Ele é diferente de todos os juízes humanos, pois julga o coração e não somente as ações. O temor de Deus faz a nossa adoração ser séria, e a alegria de Deus faz a nossa adoração ser duradoura.

Vamos purificar nossos corações das paixões desordenadas deste mundo. Tais paixões sufocam a Palavra, tornando-a sem proveito para nós. Assim como a gravidade nos restringe de subirmos ao céu, assim também a mente carnal nos impede de elevarmos a nossa adoração. É muito difícil meditar em meio a correria e interesses mundanos.

Vamos estar conscientes de nossas necessidades espirituais, e de como elas podem ser supridas somente através da verdadeira adoração. Exercite hoje as mesmas afeições que você poderá aplicar no seu leito de morte.

Vamos expulsar qualquer intruso que queira roubar a nossa adoração. Mesmo que isso seja algo legítimo, corte-o pela raiz, assim que brotar no solo de sua alma.

Vamos aproveitar cada oportunidade em que Deus tocar em nossos corações e nos atrair de maneira extraordinária. Seja sensível as chamadas e convites especiais da parte de Deus para ter comunhão com você. Muita coisa pode ser feita com apenas uma pancada no ferro enquanto o mesmo está quente, do que com centenas enquanto se encontra frio.

Vamos nos examinar a nós mesmos após cada ato de adoração, a fim de detectarmos qualquer coisa que tenha nos impedido ou atrapalhado. E depois disso, vamos aplicar o sangue de Cristo, pela fé, para a nossa cura.



Autor: Stephen Charnock 
Compilado para o seculo 21: Daniel A. Chamberlin, Pastor (covenantbcl@cs.com)
Tradução: Eduardo Cadete 2011 
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br 

Reforma Radical

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