13:20
John MacArthur
Pragmatismo: Modernismo Reciclado?
O pragmatismo é realmente uma séria ameaça?

Estou convencido de que o pragmatismo apresenta precisamente a mesma sutil ameaça para a igreja em nosso tempo que o modernismo representou há quase um século.

O Modernismo foi um movimento que abraçou a chamada alta crítica e a teologia liberal enquanto negava quase todos os aspectos sobrenaturais do Cristianismo. Mas o modernismo não se apresentou primeiramente como um ataque evidente à doutrina ortodoxa. Os modernistas mais antigos pareciam preocupados principalmente com a unidade interdenominacional. Eles estavam dispostos a subestimar a doutrina em prol daquela meta, porque eles acreditavam que a doutrina era inerentemente divisionista e que uma igreja fragmentada seria irrelevante nos tempos modernos. Para aumentar a relevância do Cristianismo, os modernistas procuraram sintetizar ensinos cristãos com os mais recentes insights da ciência, filosofia, e crítica literária.

Modernistas viam a doutrina como um assunto secundário. Eles enfatizavam a fraternidade e a experiência e minimizavam as ênfases nas diferenças doutrinárias. Doutrina, eles acreditavam, deveria ser fluida e adaptável - certamente não alguma coisa pela qual valha e pena lutar. Em 1935 John Murray fez esta avaliação do modernista típico:

"O modernista muito freqüentemente orgulha-se na suposição de que ele se preocupa com a vida, com os princípios de conduta e com a colocação em prática dos princípios de Jesus em todas as áreas da vida: individual, social, eclesiástica, trabalhista e política. Seu slogan tem sido que o Cristianismo é vida, não doutrina, e ele pensa que a ortodoxia Cristão ou fundamentalista, como ele gosta de chamar, simplesmente está preocupada com a conservação e perpetuação de dogmas desgastados de convicção doutrinária, uma preocupação que faz da ortodoxia, na opinião dele, uma petrificação fria e inanimada do cristianismo. ["A Santidade da Lei Moral", Escritos Selecionados de John Murray 4 vols. (Edimburgo: Banner of Truth, 1976), 1:193.]

Quando os precursores do modernismo começaram a surgir no fim do século XIX, poucos cristãos ficaram preocupados. As controvérsias mais quentes naqueles dias eram reações relativamente pequenas contra homens como Charles Spurgeon - homens que estavam tentando advertir a igreja sobre a ameaça que pairava sobre ela. A maioria dos cristãos - particularmente líderes das igrejas - não estavam nem um pouco abertos para tais advertências. Afinal de contas, não era como se estranhos estivessem impondo ensinos novos na igreja; estas eram pessoas de dentro das denominações - e grandes estudiosos do assunto. Certamente eles não tinham nenhum plano para arruinar o núcleo da teologia ortodoxa ou atacar o próprio coração do cristianismo. Divisionismo e cisma pareciam perigos muito maiores que a apostasia.

Mas quaisquer que tenham sido os motivos dos modernistas no princípio, as idéias deles representaram uma ameaça séria à ortodoxia, como a história provou. O movimento gerou ensinos que dizimaram praticamente todas as principais denominações na primeira metade do século XX. Subestimando a importância da doutrina, o modernismo abriu a porta para o liberalismo teológico, o relativismo moral, e a acentuada incredulidade . A maioria dos evangélicos hoje tende a comparar a palavra "modernismo" com a negação completa da fé. É freqüentemente esquecido que o alvo dos primeiros modernistas simplesmente era tornar a igreja mais "moderna", mais unificada, mais relevante, e mais aceitável para uma cética era moderna.

O alvo é o mesmo dos pragmatistas de hoje.

Como a igreja de cem anos atrás, nós moramos em um mundo de mudanças rápidas - grandes avanços na ciência, na tecnologia, na política mundial, e na educação. Como os irmãos daquela geração, os cristãos hoje estão abertos, até mesmo ansiosos, por mudanças na igreja. Como eles, nós ansiamos por unidade entre os crentes. E como eles, somos sensíveis à hostilidade de um mundo incrédulo.

Infelizmente, há pelo menos um outro paralelo entre a igreja de hoje e a igreja do fim do século dezenove: muitos cristãos parecem completamente inconscientes - se não pouco dispostos a enxergar -  que sérios perigos ameaçam a igreja, vindo de dentro. No entanto, se a história de igreja nos ensina alguma coisa, ela ensina que as agressões mais devastadoras contra a fé sempre começaram com erros sutis que surgem de dentro.

Vivendo em uma era instável, a igreja não pode se dar ao luxo de ficar vacilando. Ministramos a pessoas desesperadas por respostas, e  não podemos minimizar a importância da verdade ou atenuar o Evangelho. Se nos tornamos amigos do mundo, posicionamo-nos como inimigos de Deus. Se confiamos em dispositivos mundanos, automaticamente renunciamos ao poder do Espírito Santo.
Essas verdades são repetidamente afirmadas na Bíblia: "Não sabeis que a amizade do mundo é inimizade com Deus? Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus." (Tg 4:4). "Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele." (1 Jo. 2:15).

"Não há rei que se salve com a grandeza de um exército; não há valente que se livre pela muita força. O cavalo é vão para a segurança; não livra a ninguém com a sua grande força." (Ps. 33:16, 17). "Ai dos que descem ao Egito a buscar socorro, que se estribam em cavalos, e têm confiança em carros, porque são muitos, e nos cavaleiros, porque são poderosíssimos, mas não atentam para o Santo de Israel, nem buscam ao Senhor." (Is 31:1). "Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos." (Zc. 4:6).

O mundanismo ainda é um pecado?

Mundanismo é até mesmo raramente mencionado hoje, muito menos identificado pelo que realmente é. A própria palavra está começando a soar esquisita. Mundanismo é o pecado da pessoa permitir que seus apetites, ambições, ou conduta sejam moldados de acordo com valores terrestres. "Pois tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. Ora, o mundo passa, e a sua concupiscência, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre." (1 Jo. 2:16, 17).
Entretanto hoje nós vemos o extraordinário espetáculo dos programas de igreja projetados explicitamente para suprir o desejo carnal, apetites sensuais, e o orgulho humano; " a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida." Para alcançar esse apelo mundano, as atividades da igreja vão freqüentemente além do meramente frívolo. Durante vários anos um colega meu tem colecionado um "arquivo de horrores" com recortes que informam como igrejas estão empregando inovações para impedir que os cultos de adoração tornem-se tediosos. Na última meia década, algumas das maiores igrejas evangélicas dos Estados Unidos empregaram esquemas mundanos como comédias "pastelão", shows de variedades, exibições de luta livre, e até mesmo strip-tease simulado, para apimentar as suas reuniões de domingo. Nenhum tipo de grosseria, ao que parece, é ultrajante demais para ser trazido ao santuário. O entretenimento está rapidamente se tornando a liturgia da igreja pragmática.

Além disso, muitos na igreja acreditam que este é o único meio de alcançarmos o mundo. Se as multidões de sem-igreja não querem hinos tradicionais e pregação bíblica, dizem-nos, temos que lhes dar o que eles querem. Centenas de igrejas seguiram precisamente essa teoria, chegando ao ponto de promover pesquisas entre os incrédulos para aprender o que os levaria a comparecerem.

Sutilmente o alvo maior vem se tornando a freqüência à igreja e a aceitação por parte do mundo em vez de uma vida transformada. Pregar a Palavra e corajosamente confrontar o pecado são vistos como meios arcaicos, ineficazes de ganhar o mundo. Afinal de contas, essas coisas na verdade afugentam a maioria das pessoas. Por que não atraí-las ao aprisco oferecendo o que elas querem, criando um ambiente amigável, confortável, e suprindo exatamente aqueles desejos que são os mais prementes? Como se pudéssemos fazer com que eles aceitem Jesus tornando-O de alguma forma mais agradável ou fazendo a mensagem dEle menos ofensiva.

Esse tipo de pensamento provoca um grave desvio na missão da igreja. A Grande Comissão não é um manifesto de marketing. Evangelismo não requer vendedores, mas profetas. É a Palavra de Deus, não alguma sedução terrena, que planta a semente para o novo nascimento (1 Pe 1:23). Nós ganhamos nada mais que o desprazer de Deus se buscamos remover a ofensa da cruz (Gl 5:11).

Toda inovação é errada?

Por favor não entendam mal minha preocupação. Não é à inovação em si que eu me oponho. Eu reconheço que estilos de adoração estão 
sempre em transformação. Também percebo que se o Puritano típico do décimo sétimo século entrasse na Grace Community Church (onde eu sou o pastor) ele poderia ficar chocado com nossa música, provavelmente espantado por ver homens e mulheres sentados juntos, e muito possivelmente perturbado por nós usarmos um sistema de alto-falantes para falar à igreja. O próprio Spurgeon não apreciaria nosso órgão. Mas eu não sou a favor de uma igreja estagnada. Não estou preso a nenhum estilo musical ou litúrgico em particular. Essas coisas por si só são assuntos que as Escrituras sequer abordam. Também não penso que minhas preferências pessoais em tais assuntos são necessariamente superiores às preferências de outros. Não tenho nenhum desejo de fabricar algumas regras arbitrárias que governam o que é aceitável ou não em cultos da igreja. Fazer assim seria a essência do legalismo.

Minha queixa é quanto a uma filosofia que relega a Palavra de Deus a um papel secundário na igreja. Eu creio que é anti-bíblico elevar o entretenimento acima da pregação e da adoração no culto da igreja. E eu me oponho àqueles que acreditam que técnicas de vendas podem trazer as pessoas ao reino mais efetivamente do que um Deus soberano. Essa filosofia abriu a porta para o mundanismo na igreja.

"Não me envergonho do evangelho", escreveu o apóstolo Paulo (Rom. 1:16). Infelizmente, "envergonhado do evangelho" parece cada vez mais uma hábil descrição de algumas das igrejas mais visíveis e influentes do nosso tempo.

Eu vejo impressionantes paralelos entre o que está acontecendo na igreja hoje e o que aconteceu cem anos atrás. Quanto mais eu leio sobre aquela época, mais a minha convicção é reforçada de que estamos vendo a história se repetir.


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Fonte: http://www.gracechurch.org

20:38 1
Por que Precisamos dos Puritanos - J. I. Packer

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O hipismo é conhecido como esporte de reis. O esporte do “atiralama”, porém, possui mais ampla adesão. Ridicularizar os Puritanos,em particular, há muito é passatempo popular nos dois lados do Atlântico,e a imagem que a maioria das pessoas tem do Puritanismo ainda contém bastante da deformadora sujeira que necessita ser raspada. “Puritano”, como um nome, era, de fato, lama desde o começo. Cunhado cedo, nos anos 1560, sempre foi um palavra satírica e ofensiva, subentendendo mau humor, censura, presunção e certa medida de hipocrisia, acima e além da sua implicação básica de descontentamento, motivado pela religião, para com aquilo que era visto como a laodicense e comprometedora Igreja da Inglaterra, de Elizabeth. Mais tarde, a palavra ganhou a conotação política adicional de ser contra a monarquia Stuart e a favor de algum tipo de republicanismo; sua primeira referência, no entanto, ainda era ao que se via como um forma estranha, furiosa e feia de religião protestante. Na Inglaterra, o sentimento antipuritano disparou no tempo da Restauração e tem fluído livremente desde então; na América do Norte edificou-se lentamente, após os dias de Jonathan Edwards, para atingir seu zênite há cem anos atrás na Nova Inglaterra pós-Puritana. No último meio século, porém, estudiosos têm limpado a lama meticulosamente.

E, como os afrescos de Michelangelo na Capela Sistina têm cores pouco familiares depois que os restauradores removeram o verniz escuro, assim a imagem convencional dos Puritanos foi radicalmente recuperada, ao menos para os informados. (Aliás, o conhecimento hoje viaja devagar em certas regiões.) Ensinados por Perry Miller, William Haller, Marshall Knappen, Percy Scholes, Edmund Morgan e uma série de pesquisadores mais recentes, pessoas bem informadas agora reconhecem que os Puritanos típicos não eram homens selvagens, ferozes e monstruosos fanáticos religiosos, e extremistas sociais, mas sóbrios, conscienciosos, cidadãos de cultura, pessoas de princípio, decididas e disciplinadas, excepcionais nas virtudes domésticas e sem grandes defeitos, exceto a tendência de usar muitas palavras ao dizer qualquer coisa importante, a Deus ou ao homem. Afinal está sendo consertado o engano.

Mas, mesmo assim, a sugestão de que necessitamos dos Puritanos — nós, ocidentais do final do século vinte, com toda nossa sofisticação e maestria de técnica tanto no campo secular como no sagrado — poderá erguer algumas sobrancelhas. Resiste a crença de que os Puritanos, mesmo se fossem de fato cidadãos responsáveis, eram ao mesmo tempo cômicos e patéticos, sendo ingênuos e supersticiosos, super-escrupulosos, mestres em detalhes e incapazes ou relutantes em relaxarem. Pergunta-se: O que estes zelotes nos poderiam dar do que precisamos? A resposta é, em uma palavra, maturidade. A maturidade é uma composição de sabedoria, boa vontade, maleabilidade e criatividade. Os Puritanos exemplificavam a maturidade; nós não. Um líder bem viajado, um americano nativo, declarou que o protestantismo norte-americano— centrado no homem, manipulativo, orientado pelo sucesso, auto-indulgente e sentimental como é, patentemente — mede cinco mil quilômetros de largura e um centímetro de profundidade. Somos anões espirituais. Os Puritanos, em contraste, como um corpo eram gigantes. Eram grandes almas servindo a um grande Deus.

Neles, a paixão sóbria e a terna compaixão combinavam. Visionários e práticos, idealistas e também realistas, dirigidos por objetivos e metódicos, eram grandes crentes, grandes esperançosos, grandes realizadores e grandes sofredores. Mas seus sofrimentos, de ambos os lados do oceano (na velha Inglaterra pelas autoridades e na Nova Inglaterra pelo clima), os temperaram e amadureceram até que ganharam uma estatura nada menos do que heróica. Conforto e luxo, tais como nossa afluência hoje nos traz, não levam à maturidade; dureza e luta, sim, e as batalhas dos Puritanos contra os desertos evangélico e climático onde Deus os colocou produziram uma virilidade de caráter, inviolável e invencível, erguendo-se acima de desânimo e temores, para os quais os verdadeiros precedentes e modelos são homens como Moisés e Neemias, Pedro, depois do Pentecoste, e o apóstolo Paulo.

A guerra espiritual fez dos Puritanos o que eles foram. Eles aceitaram o antagonismo como seu chamado, vendo a si mesmos como os soldados peregrinos do seu Senhor, exatamente como na alegoria de Bunyan, sem esperarem poder avançar um só passo sem oposição de uma espécie ou outra. John Geree, no seu folheto “O Caráter de um Velho Puritano Inglês ou Inconformista” (1646), afirma: “Toda sua vida ele a tinha como uma guerra onde Cristo era seu capitão; suas armas: orações e lágrimas. A cruz, seu estandarte; e sua palavra [lema], Vincit qui patitur [o que sofre, conquista]”.

Os Puritanos perderam, em certa medida, toda batalha pública em que lutaram. Aqueles que ficaram na Inglaterra não mudaram a igreja da Inglaterra como esperavam fazer, nem reavivaram mais do que uma minoria dos seus partidários e eventualmente foram conduzidos para fora do anglicanismo por meio de calculada pressão sobre suas consciências. Aqueles que atravessaram o Atlântico falharam em estabelecer Nova Jerusalém na Nova Inglaterra; durante os primeiros cinqüenta anos suas pequenas colônias mal sobreviveram, segurando-se por um fio. Mas a vitória moral e a espiritual que os Puritanos conquistaram permanecendo dóceis, pacíficos, pacientes, obedientes e esperançosos sob contínuas e aparentemente intoleráveis pressões e frustrações, dão-lhes lugar de alta honra no “hall” de fama dos crentes, onde Hebreus 11 é a primeira galeria. Foi desta constante experiência de forno que forjou-se sua maturidade, e sua sabedoria relativa ao discipulado foi refinada. George Whitefield, o evangelista, escreveu sobre eles como se segue:
Ministros nunca escrevem ou pregam tão bem como quando debaixo da cruz; o Espírito de Cristo e de glória paira então sobre eles. Foi isto sem dúvida que fez dos Puritanos... as lâmpadas ardentes e brilhantes. Quando expulsos pelo sombrio Ato Bartolomeu (o Ato de Uniformidade de 1662) e removidos dos seus respectivos cargos para irem pregar em celeiros e nos campos, nas rodovias e sebes, eles escreveram e pregaram como homens de autoridade. Embora mortos, pelos seus escritos eles ainda falam; uma unção peculiar lhes atende nesta mesma hora... Estas palavras vêm do prefácio de uma reedição dos trabalhos de Bunyan que surgiu em 1767; mas a unção continua, a autoridade ainda é sentida, e a amadurecida sabedoria permanece empolgante, como todos os modernos leitores do Puritanismo cedo descobrem por si mesmos. Através do legado desta literatura, os Puritanos podem nos ajudar hoje na direção da maturidade que eles conheceram e que precisamos. De que maneiras podemos fazer isto? Deixe-me sugerir alguns pontos específicos. Primeiro, há lições para nós na integração das suas vidas diárias. Como seu cristianismo era totalmente abrangente, assim o seu viver era uma unidade. Hoje, chamaríamos o seu estilo de vida de “holístico”: toda conscientização, atividade e prazer, todo “emprego das criaturas” e desenvolvimento de poderes pessoais e criatividade, integravam- se na única finalidade de honrar a Deus, apreciando todos os seus dons e tomando tudo em “santidade ao Senhor’’. Para eles não havia disjunção entre o sagrado e o secular; toda a criação, até onde conheciam, era sagrada, e todas as atividades, de qualquer tipo, deviam ser santificadas, ou seja, feitas para a glória de Deus. Assim, no seu ardor elevado aos céus, os Puritanos tornaram- se homens e mulheres de ordem, sóbrios e simples, de oração, decididos, práticos. Viam a vida como um todo, integravam a contemplação com a ação, culto com trabalho, labor com descanso, amor a Deus com amor ao próximo e a si mesmo, a identidade pessoal com a social e um amplo espectro de responsabilidades relacionadas umas com as outras, de forma totalmente consciente e pensada.

Nessa minuciosidade eram extremos, diga-se, muito mais rigorosos do que somos, mas ao misturar toda a variedade de deveres cristãos expostos na Escritura eram extremamente equilibrados. Viviam com “método” (diríamos, com uma regra de vida), planejando e dividindo seu tempo com cuidado, nem tanto para afastar as coisas ruins como para ter certeza de incluir todas as coisas boas e importantes — sabedoria necessária, tanto naquela época como agora, para pessoas ocupadas! Nós hoje que tendemos a viver vidas sem planejamento, ao acaso, em uma série de compartimentos incomunicantes e que, portanto, nos sentimos sufocados e distraídos a maior parte do tempo, poderíamos aprender muito com os Puritanos nesse ponto. Em segundo lugar, há lições para nós na qualidade de sua experiência espiritual. Na comunhão dos Puritanos com Deus, assim como Jesus era central, a Sagrada Escritura era suprema. Pela Escritura, como a Palavra de instrução de Deus sobre relacionamento divino-humano, buscavam viver, e aqui também eram conscienciosamente metódicos. Reconhecendo- se como criaturas de pensamento, afeição e vontade, e sabendo que o caminho de Deus até o coração (a vontade) é via cabeça humana (a mente), os Puritanos praticavam meditação, discursiva e sistemática, em toda a amplitude da verdade bíblica, conforme a viam aplicando- se a eles mesmos. A meditação Puritana na Escritura se modelava pelo sermão Puritano; na meditação o Puritano buscaria sondar e desafiar seu coração, guiar suas afeições para odiar o pecado, amar a justiça e encorajar a si mesmo com as promessas de Deus, assim como pregadores Puritanos o fariam do púlpito.

Esta piedade racional, resoluta e apaixonada era consciente sem tomar- se obsessiva, dirigida pela lei sem cair no legalismo, e expressiva da liberdade cristã sem vergonhosos deslizes para a licenciosidade. Os Puritanos sabiam que a Escritura é a regra inalterada da santidade, e eles nunca se permitiram esquecer disto. Conhecendo também a desonestidade e a falsidade dos corações humanos decaídos, cultivavam humildade e auto-suspeita como atitudes constantes, examinando-se regularmente em busca dos pontos ocultos e males internos furtivos. Por isso não poderiam ser chamados de mórbidos ou introspectivos; pelo contrário, descobriram a disciplina do autoexame pela Escritura (não é o mesmo que introspecção, notemos), seguida da disciplina da confissão e do abandono do pecado e renovação da gratidão a Cristo pela sua misericórdia perdoadora como fonte de grande gozo e paz interiores. Hoje nós que sabemos à nossa custa que temos mentes não esclarecidas, afeições incontroladas e vontades instáveis no que se refere a servir a Deus e que freqüentemente nos vemos subjugados por um romanticismo emocional, irracional, disfarçado de superespiritualidade, nos beneficiaríamos muito do exemplo dos Puritanos neste ponto também. Em terceiro lugar, há lições para nós na sua paixão pela ação eficaz. Embora os Puritanos, como o resto da raça humana, tivessem seus sonhos do que poderiam e deveriam ser, não eram definitivamente o tipo de gente que denominaríamos “sonhadores”! Não tinham tempo para o ócio do preguiçoso ou da pessoa passiva que deixa para os outros o mudar o mundo. Foram homens de ação no modelo puro reformado — ativistas de cruzada sem qualquer autoconfiança; trabalhadores para Deus que dependiam sumamente de que Deus trabalhasse neles e através deles e que sempre davam a Deus a glória por qualquer coisa que faziam, e que em retrospecto lhes parecia correta; homens bem dotados que oravam com afinco para que Deus os capacitasse a usar seus poderes, não para a auto-exibição, mas para a glória dEle. Nenhum deles queria ser revolucionário na igreja ou no Estado, embora alguns relutantemente tenham-se tornado tal; todos eles, entretanto, desejavam ser agentes eficazes de mudança para Deus onde quer que se exigisse mudança. Assim Cromwell e seu exército fizeram longas e fortes orações antes de cada batalha, e pregadores pronunciaram extensas e fortes orações particulares sempre antes de se aventurarem no púlpito, e leigos proferiram longas e fortes orações antes de enfrentarem qualquer assunto de importância (casamento, negócios, investimentos maiores ou qualquer outra coisa).

Hoje, porém, os cristãos ocidentais se vêem em geral sem paixão, passivos, e, teme-se, sem oração. Cultivando um sistema que envolve a piedade pessoal num casulo pietista, deixam os assuntos públicos seguirem seu próprio curso e nem esperam, nem, na maioria, buscam influenciar além do seu próprio círculo cristão. Enquanto os Puritanos oraram e lutaram por uma Inglaterra e uma Nova Inglaterra santas — sentindo que onde o privilégio é negligenciado e a infidelidade reina, o juízo nacional está sob ameaça — os cristãos modernos alegremente se acomodam com a convencional respeitabilidade social e, tendo feito assim, não olham além. Claro, é óbvio que a esta altura também os Puritanos têm muita coisa para nos ensinar. Em quarto lugar, há lições para nós no seu programa para a estabilidade da família. Não seria demais dizer que os Puritanos criaram a família cristã no mundo de língua inglesa. A ética Puritana do casamento consistia em primeiro se procurar um parceiro não por quem se fosse perdidamente apaixonado no momento, mas a quem se pudesse amar continuamente como seu melhor amigo por toda a vida e proceder com a ajuda de Deus a fazer exatamente isso. A ética Puritana de criação de filhos era treinar as crianças no caminho em que deveriam seguir, cuidar dos seus corpos e almas juntos e educá-los para a vida adulta sóbria, santa e socialmente útil. A ética Puritana da vida no lar baseava-se em manter a ordem, a cortesia e o culto em família. Boa vontade, paciência, consistência e uma atitude encorajadora eram vistas como as virtudes domésticas essenciais. Numa era de desconfortos rotineiros, medicina rudimentar sem anestésicos, freqüentes lutos (a maioria das famílias perdia tantos filhos quantos criava), uma média de longevidade um pouco abaixo dos trinta e dificuldade econômica para quase todos, salvo príncipes mercantes e pequenos proprietários fidalgos, a vida familiar era uma escola para o caráter em todos os sentidos.

A fortaleza com que os Puritanos resistiam à bem conhecida tentação de aliviar a pressão do mundo através da violência no lar e lutavam para honrar a Deus apesar de tudo, merece grande elogio. Em casa os Puritanos mostravam-se maduros, aceitando as dificuldades e decepções realisticamente como vindas de Deus e recusando-se a desanimar ou amargurar- se com qualquer uma delas. Também era em casa, em primeira instância, que o leigo Puritano praticava o evangelismo e ministério. “Ele esforçou-se para tornar sua família numa igreja”, escreveu Geree, “.. .lutando para que os que nascessem nela, pudessem nascer novamente em Deus.” Numa era em que a vida em família tornou-se árida mesmo entre os cristãos, com cônjuges covardes tomando o curso da separação em vez do trabalho no seu relacionamento, e pais narcisistas estragando seus filhos materialmente enquanto os negligenciam espiritualmente, há, mais uma vez, muito o que se aprender com os caminhos bem diferentes dos Puritanos.

Em quinto lugar, há lições para se aprender com o seu senso de valor humano. Crendo num grande Deus (o Deus da Escritura, não diminuído nem domesticado), eles ganharam um vívido senso da grandeza das questões morais, da eternidade e da alma humana. O sentimento de Hamlet “Que obra é o homem!” é um sentimento muito Puritano; a maravilha da individualidade humana era algo que sentiam pungentemente. Embora, sob a influência da sua herança medieval, que lhes dizia que o erro não tem direitos, não conseguissem em todos os casos respeitar aqueles que se diferenciavam deles publicamente, sua apreciação pela dignidade humana como criatura feita para ser amiga de Deus era intensa, e também o era seu senso da beleza e nobreza da santidade humana. Atualmente, no formigueiro urbano coletivo onde vive a maioria de nós, o senso da significação eterna individual se acha muito desgastado, e o espírito Puritano é neste ponto um corretivo do qual podemos nos beneficiar imensamente.

Em sexto lugar, há lições para se aprender com o ideal de renovação da igreja com os Puritanos. Na verdade, “renovação” não era uma palavra que eles usavam; eles falavam apenas de “reformação” e “reforma”, palavras que sugerem às nossas mentes do século vinte uma preocupação que se limita ao aspecto exterior da ortodoxia, ordem, formas de culto e códigos disciplinares da igreja. Mas quando os Puritanos pregaram publicaram e oraram pela “reformação”, tinham em mente nada menos do que isso, mas de fato muito mais. Na página de título da edição original de The Reformed Pastor (traduzido para o português sob o título “O Pastor Aprovado” — PES) de Richard Baxter, a palavra “Reformado” foi impressa com um tipo de letra bem maior do que as outras; e não se precisa ler muito para descobrir que, para Baxter, um pastor “Reformado” não era alguém que fazia campanha pelo calvinismo, mas alguém cujo ministério como pregador, professor, catequista e modelo para o seu povo demonstrasse ser ele, como se diria, “reavivado” ou “renovado”.

A essência deste tipo de “reforma” era um enriquecimento da compreensão da verdade de Deus, um despertar das afeições dirigidas a Deus, um aumento do ardor da devoção e mais amor, alegria e firmeza de objetivo cristão no chamado e na vida de cada um. Nesta mesma linha, o ideal para a igreja era que através de clérigos “reformados” cada congregação na sua totalidade viesse a tornar-se “reformada” — trazida, sim, pela graça de Deus a um estado que chamaríamos de reavivamento sem desordem, de forma a tornar-se verdadeira e completamente convertida, teologicamente ortodoxa e saudável, espiritualmente alerta e esperançosa, em termos de caráter, sábia e madura, eticamente empreendedora e obediente, humilde mas alegremente certa de sua salvação. Este era em geral o alvo que o ministério pastoral Puritano visava, tanto em paróquias inglesas quanto nas igrejas “reunidas” do tipo congregacional que se multiplicaram em meados do século dezessete. A preocupação dos Puritanos pelo despertamento espiritual em comunidades se nos escapa até certo ponto por seu institucionalismo. Tendemos a pensar no ardor de reavivamento como sempre impondo-se sobre a ordem estabelecida, enquanto os Puritanos visualizavam a “reforma” a nível congregacional vindo em estilo disciplinado através de pregação, catequismo e fiel trabalho espiritual da parte do pastor. O clericalismo, com sua supressão da iniciativa leiga, era sem dúvida uma limitação Puritana, que voltou-se contra eles quando o ciúme leigo finalmente veio à tona com o exército de Cromwell, no quacrismo e no vasto submundo sectarista dos tempos da Comunidade Britânica. O outro lado da moeda, porém, era a nobreza do perfil do pastor que os Puritanos desenvolveram — pregador do evangelho e professor da Bíblia, pastor e médico de almas, catequista e conselheiro, treinador e disciplinador, tudo em um só. Dos ideais e objetivos Puritanos para a vida da igreja, os quais eram inquestionável e permanentemente certos, e dos seus padrões para o clero, os quais eram desafiadora e inquisitivamente elevados, ainda há muito que os cristãos modernos podem e devem levar a sério. Estas são apenas algumas das maneiras mais óbvias como os Puritanos nos podem ajudar nestes dias. Em conclusão, elogiaria os capítulos do Professor Ryken [autor de Santos no Mundo], que estas observações introduzem, como uma detalhada apresentação da perspectiva Puritana. Tendo lido vastamente a recente erudição Puritana, ele sabe o que está dizendo. Ele sabe, como o sabem a maioria dos estudantes modernos, que o Puritanismo como uma atitude distinguidora começou com William Tyndale, contemporâneo de Lutero, uma geração antes de ser cunhada a palavra “Puritano”, e foi até o final do século dezessete, várias décadas depois que o termo “Puritano” havia caído do uso comum. Ele sabe que na formação do Puritanismo entrou o biblicismo reformador de Tyndale, a piedade de coração que rompeu a superfície com John Bradford, a paixão pela competência pastoral exemplificada por John Hooper, Edward Dering, e Richard Greenham, entre outros, a visão da Escritura como o “princípio regulador” de culto e ordem ministerial que incendiou Thomas Cartwright, o abrangente interesse ético que atingiu seu apogeu na monumental Christian Directory, de Richard Baxter, e a preocupação em popularizar e tomar prático, sem perder a profundidade, tão evidente em William Perkins e que tão poderosamente influenciou seus sucessores. O Dr. Ryken também sabe que, além de ser um movimento pela reforma da igreja, renovação pastoral, e reavivamento espiritual, o Puritanismo era uma visão de mundo, uma filosofia cristã total, em termos intelectuais, um medievalismo protestantizado e atualizado, e em termos de espiritualidade um tipo de monasticismo fora do claustro e dos votos monásticos. Sua apresentação da visão e do estilo de vida Puritanos é perspicaz e exata. Esta obra [Santos no Mundo] deveria conquistar novo respeito pelos Puritanos e criar um novo interesse em explorar a grande massa de literatura teológica e devocional que eles nos deixaram, para descobrir as profundidades da sua percepção bíblica e espiritual. Se tiver este efeito, eu pessoalmente, que devo mais aos escritos Puritanos do que a qualquer outra teologia que tenha lido, ficarei transbordante de alegria.

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Fonte: Editora Fiel

13:01
A Imutabilidade De Deus - Stephen Charnock (1628–1680)
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As coisas mais estáveis e imutáveis que vemos são os corpos celestes, incluindo a própria terra. Eles todos são obra da mão de Deus “Desde a antiguidade fundaste a terra, e os céus são obra das tuas mãos” (Salmo 102: 25). Eles são a melhor ilustração que temos da imutabilidade de Deus. Entretanto, eles também perecerão “Eles perecerão, mas tu permanecerás; todos eles se envelhecerão como um vestido; como roupa os mudarás, e ficarão mudados” (v.12). Deus, que os criou, irá transformá-los. Eles não serão aniquilados, mas refinados, com melhorias na qualidade daquilo que vemos agora. Que pena daquela alma que vive somente para as coisas que perecem! Coisas perecíveis não podem sustentar nossas almas.

Deus é o mesmo “Porém tu és o mesmo, e os teus anos nunca terão fim” (v.27). Ele nunca muda. Sua essência, natureza, e perfeições, não podem ser alteradas. Imutabilidade significa que nada pode ser acrescentado ou diminuído. O que Deus é, Ele sempre será. Eternidade e imutabilidade estão intimamente ligadas. Um implica no outro. A imutabilidade é um estado em si mesmo, e a eternidade é a medida deste estado. A imutabilidade, em si mesmo, não é necessariamente perfeição. Os anjos caídos agora são imutáveis, mas isso constitui a imperfeição e miséria deles. A imutabilidade é uma perfeição em Deus por causa da Excelência do Seu caráter. Ele é imutável em todos os Seus outros atributos. A imutabilidade lhe é tão essencial, que sem ela, Ele não poderia ser Deus.

I. EM QUE DEUS É IMUTÁVEL.

Deus é imutável em Sua essência. Deus é o primeiro ser. A Sua auto-existência prova a Sua imutabilidade. Já que Ele não deve a Sua existência a ninguém, então Ele não pode deixar de ser aquilo que Ele é. O fato dEle ser espírito, e não corpo, indica que Ele não está sujeito às mudanças físicas que um ser normal experimenta. O fato dEle ser o único independente e eterno espírito, indica que Ele é diferente dos espíritos criados, que são passíveis de mudança. Se Deus fosse sujeito a mudanças, estas poderiam ser para melhor ou para pior. Se fosse para melhor, então agora Ele não seria perfeito, e nem um Deus infinito. Se fosse para pior, Ele cessaria de ser perfeito. Em ambos os casos, as mudanças iriam corromper a Sua perfeição eterna e a Sua verdadeira deidade. Deus também não muda temporariamente para depois voltar ao seu estado original. Não há, de maneira alguma, mudança nem sombra de variação em Deus.

Deus é imutável em Seu conhecimento. Deus conhece todas as coisas assim como sempre as conheceu. Ele nunca ganhou conhecimento, pois não há nada que Ele não saiba. Seu conhecimento é perfeito e não pode mudar.

Se Deus fosse mutável, então Ele não seria digno da nossa confiança. Ele não seria um juiz competente para nada, e a verdade seria impossível de ser definida. Diferente do homem, cujo conhecimento é separado dele próprio, podendo crescer ou diminuir, o conhecimento de Deus é uma propriedade essencial do Seu ser. Ele conhece todas as coisas por um ato intuitivo. Assim como não há sucessão em Sua existência, assim também não há sucessão em Seu conhecimento. Ele compreende todas as coisas ao mesmo tempo, inclusive aquilo que chamamos de futuro.

Além disso, o conhecimento e vontade de Deus é a causa de todas as coisas, e não o efeito delas. Por isso lemos em Atos 15: 18: Conhecidas são a Deus, desde o princípio do mundo, todas as suas obras.

A distinção que fazemos de passado e futuro não implica em mudança no conhecimento de Deus. É claro que Deus vê a sucessão das coisas, mas não há sucessão em Seu conhecimento a respeito delas. Grande é o nosso Senhor, e de grande poder; o seu entendimento é infinito (Salmo 147: 5). É óbvio que estamos tratando de algo fora do nosso alcance. O conhecimento imutável de Deus é incompreensível para nós!

Deus é imutável em Sua vontade e propósito. Qualquer mudança desta categoria implicaria numa oposição aos seus planos anteriores, e O faria um inimigo de si mesmo. A verdade é esta; a vontade de Deus é essencial ao Seu ser, não sendo um componente acrescentado a este. De outro modo, Ele não seria um ser único (não composto). Há um perfeito acordo entre o conhecimento de Deus e Sua vontade. Ele conhece tudo o que existe, e o conhecimento de qualquer coisa pressupõe um ato de Sua vontade. Assim como o Seu conhecimento é um ato intuitivo, assim também Sua vontade é um ato de volição. É por isso que encontramos constantemente nas Escrituras a expressão “conselho” de Deus, e não “conselhos”, no plural. Por exemplo: O conselho do SENHOR permanece para sempre; os intentos do seu coração de geração em geração (Salmo 33: 11). Há um perfeito e imutável ato de vontade em Deus. Não há motivos para Deus mudar Sua vontade com relação a qualquer coisa. Quando o homem muda a sua vontade, isso ocorre por falta de visão, falta de poder, ou mesmo instabilidade. Mas Deus sabe todas as coisas, é Todo Poderoso, e constante. Embora Deus e Seus decretos sejam imutáveis, as coisas que Ele decreta podem mudar de acordo com Sua vontade. Esta subsequente mudança não implica em uma mudança no decreto de Deus.

“Mas a liberdade de mudar é a expressão mais alta das perfeições,” poderia alguém argumentar. “A imutabilidade infringe a liberdade de Deus.” Mas isso não parece razoável. Deus é imutavelmente livre; Ele não quer ser diferente do que é. Ser perfeitamente bom não é um sinal de imperfeição. Antes, a expressão mais alta da perfeição é ser imutável em perfeição.

Deus é imutável em termos de lugar. Ele está presente em todos os lugares. Se Ele tivesse que se mover de um lugar para o outro, então haveria uma mudança de local. Entretanto, Ele é ubíquo, ou onipresente. Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? diz o SENHOR. Porventura não encho eu os céus e a terra? diz o SENHOR (Jeremias 23: 24). É inconcebível existir um lugar aonde Deus não se faça presente. Aquele cuja existência não tem causa, também não está limitado em Sua existência.

Quando nos é dito que Deus desceu à terra, ou veio até o homem, não significa que houve uma mudança de lugar da parte de Deus, mas sim uma influência especial do Seu Espírito. Trata-se mais de uma aproximação da nossa parte, do que realmente Ele se dirigindo até nós. Por exemplo, nós falamos do sol da manhã chegando ao nosso quarto, embora o sol não tenha realmente mudado de lugar, mas, na verdade, seus raios é que penetraram em nossa janela. Ou, quando os tripulantes de um barco dizem que a terra está se aproximando, mas realmente são eles que estão se aproximando da terra, através de uma corda puxada por um homem nas docas. Deus é uma rocha imutável, mas nós somos criaturas flutuantes e instáveis. Ele se move em nós para mudar as nossas mentes, emoções, e vontade. Deus permanece sempre o mesmo.

II. PROVAS DA IMUTABILIDADE DE DEUS.

O nome Jeová prova a imutabilidade de Deus. Ser o EU SOU não é somente ser eterno, mas também ser estável. O nome de Deus nunca será EU ERA ou EU SEREI.

A perfeição de Deus prova a Sua imutabilidade. Se Ele mudasse para melhor, então haveria alguma perfeição fora ou acima dEle. Se Ele mudasse para pior, então não haveria perfeição alguma nEle, e Ele seria um inimigo de Sua própria glória. O homem poderia, de alguma forma, acrescentar alguma coisa à perfeição de Deus? A resposta é: tanto quanto uma vela acesa pode acrescentar luz ao sol! A perfeição de Deus pode ser maculada pelo pecado do homem? A resposta é: tanto quanto a luz do sol pode ser obscurecida por um inimigo atirando flechas contra ele!

A simplicidade de Deus prova a Sua imutabilidade. Aquilo que é composto de várias partes ou peças é passivo de mudanças, pois uma das partes pode ser removida. Mas aquilo que é único, simples, não pode ser dividido, e, portanto, não pode ser modificado. A primeira causa de todas as coisas deve ser de natureza simples, pois se for composta, dependerá das outras partes, não podendo ser a primeira coisa. Em outras palavras, não há nada em Deus que não seja Divino.

A eternidade de Deus prova a Sua imutabilidade. Toda mudança assemelha-se à morte; a algo que deixa de ser ou existir. Mas desde que Deus é antes do tempo, então o tempo não pode afetá-Lo ou causar-Lhe qualquer tipo de mudança. Com Ele não há uma nova essência, nem conhecimento, e nem propósito. Se Deus fosse sujeito a qualquer tipo de mudança, então Ele poderia eventualmente deixar de existir, pois tudo aquilo que é mutável, é passivo de corrupção.

A infinidade e o poder de Deus provam a Sua imutabilidade. Toda mudança implica em limites e barreiras. Se algo pudesse ser acrescentado a Deus, então Ele não poderia de forma alguma ser infinito. O mesmo ocorre com o Seu poder Soberano, pois acrescentar ou tirar algo deste poder, seria impossível.

O governo de Deus sobre a criação prova a Sua imutabilidade. Todas as coisas se movem através de um poder que é estável. De outro modo, não haveria ordem nos movimentos do universo. Tudo seria um caos. Deus é o governador e o administrador de todo movimento, e por isso Ele tem que necessariamente ser imutável.

III. SOMENTE DEUS É IMUTÁVEL.

Mutabilidade é inerente a toda criatura. A nossa própria vinda à existência foi uma tremenda mudança do nada para alguma coisa. No primeiro capítulo de Hebreus, um dos argumentos para a deidade de Cristo se apoia no fato de que toda a criação está sofrendo mudanças. Eles perecerão, mas tu permanecerás; E todos eles, como roupa, envelhecerão (v. 11).

Nenhuma coisa criada pode ser absolutamente perfeita, tudo depende de Deus, admitindo lugar para uma maior perfeição. Isso se aplica tanto para criação antes de Adão, quanto depois.

Toda a forma de criação corpórea esta sujeita a mudanças. Até o sol, que permanece em seu lugar desde a criação, sendo aparentemente constante, tem mudado. Ele ficou inerte durante um período no tempo de Josué, mas moveu-se 10 graus para trás no tempo de Ezequias. O homem, a mais nobre de todas as criaturas, é sujeito a mudanças. Pense nas muitas mudanças que podem ocorrer a nós em um só dia!

Toda a criação espiritual está sujeita a mudanças. Os anjos crescem em entendimento assim como cresce a adoração que prestam a Deus. Para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus (Efésios 3: 10).

ARGUMENTOS CONTRA A IMUTABILIDADE DE DEUS DEVIDAMENTE RESPONDIDOS.

Deus não mudou quando criou o mundo? De fato, a criação envolveu grandes mudanças, mas não da parte de Deus. Deus não foi tomado por uma nova vontade quando do ato da criação, pois sua determinação em criar já existia desde a eternidade. A obra era nova, mas o decreto foi proposto nEle mesmo antes da fundação do mundo. Ele não executa nada no tempo que não tenha ordenado desde a eternidade. Imagine um construtor projetando em sua mente aquilo que irá construir, mesmo que isso demore muitos anos. No tempo em que ele iniciar a obra, isso não envolve uma mudança em sua vontade, pois ele simplesmente está realizando tudo aquilo que antes planejara. Assim é com Deus, com a exceção de que a Sua vontade é eterna como Ele mesmo.

Além disso, não houve um novo poder em Deus quando Ele começou a criar. Seu poder existe desde a eternidade, embora Ele o tivesse manifestado na obra da criação.

Deus também não adquiriu uma posição nova na criação, pois Ele já possuía as prerrogativas de Criador, mesmo não criando nada. Ele pode devidamente ser chamado de Criador desde a eternidade. O ato da criação não mudou nada em Sua essência, conhecimento, ou vontade.

Deus não mudou na encarnação do Seu Filho? Não, não houve mudança alguma na natureza do Filho ao assumir a natureza humana. Ele tomou a forma de servo, mas não perdeu a forma de Deus. Sua glória essencial não foi mudada, mas simplesmente oculta aos olhos humanos. Ambas as naturezas, divina e humana, preservaram suas propriedades particulares. É óbvio que a Sua natureza humana era sujeita a mudanças. Mas em toda a Sua vida terrestre, e até mesmo em Seus sofrimentos na cruz, Ele não deixou de ser Deus.

Deus não muda quando Ele se arrepende (como as Escrituras dizem algumas vezes)? Não no mesmo sentido em que o arrependimento se aplica ao homem. Para nós, o arrependimento é necessário por causa dos nossos erros, ou pela nossa falta de visão. Mas Deus nunca erra, e não há nenhum evento inesperado para Ele. Assim ocorre também com Sua tristeza. Deus não está sujeito as paixões como nós as conhecemos. Ele é bendito [feliz] eternamente (Romanos 9: 5). Entretanto, em sua Santa Palavra, Deus frequentemente acomoda a si mesmo à nossa frágil capacidade de entendimento. Ele condescende em falar conosco como um homem. Ele nos informa através da nossa própria linguagem, como uma mãe fala numa linguagem infantil com a sua criança. Se não fosse assim, quão pouco nós entenderíamos a respeito de Deus!

O arrependimento em Deus tem apenas a ver com o Seu trato com o homem. Quando Ele se arrependeu de haver feito o homem sobre a terra (Gênesis 6: 5), houve uma mudança na conduta de Deus na maneira de tratar com o homem, ou seja, da bondade para a severidade. Entretanto, não há mudança em Seu eterno, imutável, conselho e vontade. Tais arrependimentos estão de acordo com o que Deus decretou desde a eternidade.

Deus não muda quando Ele deixa de cumprir Suas ameaças?

As ameaças feitas por Deus são alertas enviados contra os pecadores, mostrando o Seu direito em puni-los por causa dos seus pecados. Mas estas ameaças são condicionais, pois declaram o que Deus fará se o homem continuar sendo teimoso e obstinado em seu pecado. As ameaças não declaram o que Deus tem absolutamente decretado desde a eternidade. Quando uma ameaça deixa de ser concretizada por Deus, não é devido a qualquer mudança que houve nEle, mas sim uma mudança da parte do pecador. Isso ocorre da mesma maneira com as promessas de bênçãos que Deus faz, pois estão condicionadas à perseverança em fazer o bem da parte do povo de Deus. Estas condições nem sempre são expressas, pois não tem tal necessidade. Os Ninivitas entenderam que embora Deus tivesse, através da pregação de Jonas prometido o julgamento, ainda assim Ele poderia poupá-los, caso se arrependessem. Quando Deus disse a Ezequias que se preparasse para morrer, ele orou e se humilhou. A ameaça que Deus faz quando o pecado tem atingido o seu limite mais alto, é uma parte da Sua justiça, e a sua não execução, quando o pecado é abandonado através do arrependimento, uma parte da bondade de Deus. Através destes meios Ele realiza a Sua vontade imutável.

Deus não muda quando fica irado com alguém que Ele ama, ou aplaca a Sua ira com alguém com quem estivera irado?

A resposta é a mesma da questão anterior. É a criatura que muda, não Deus. Sua santidade é constante, mas as criaturas morais mudam com relação a santidade de Deus. O sol muda enquanto endurece um determinado material e amolece a outro? Ou quando faz uma flor ficar mais perfumada e um cadáver mais podre?

Na redenção, Cristo reconciliou o homem com Deus, mas não alterou a vontade de Deus de forma alguma. Foi da vontade do Pai que o Filho viesse primeiro para redimir. Cristo não mudou a vontade do Pai, mas cumpriu. Ele disse: Eis aqui venho (No princípio do livro está escrito de mim ), Para fazer, ó Deus, a tua vontade (Hebreus 10: 7).

Deus não mudou quando a dispensação do Velho Testamento deu lugar a do Novo Testamento?

Um médico não prescreve o mesmo remédio a todos os seus pacientes. Mas ainda assim a sua vontade e habilidades permanecem as mesmas. É a capacidade e a necessidade dos pacientes que varia. Mesmo assim, Deus determinou o que era preparatório e aquilo que viria a seguir. Ele não mudou ao colocar um fim ao velho testamento, mais do que mudou quando o estabeleceu. Não há mudança na vontade Divina, mas somente na sua execução.

Agora vamos considerar o que deveríamos aprender.

I. INFORMAÇÃO.

Já que somente Deus é imutável, então Cristo é Deus. As Escrituras nos fornecem um abundante testemunho da imutável natureza da Segunda Pessoa da Trindade. Por exemplo: o livro de Hebreus, capítulo 1, cita o Salmo 45, falando profeticamente de Cristo ao dizer: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos. E esse mesmo capítulo do livro de Hebreus cita o Salmo 102, para se referir à mudança que Cristo faria na criação. Contudo, Aquele que faz a mudança permanece imutável.

Não é inútil servir a Deus. Como poderíamos adorar um Deus que muda de cor como um camaleão? Nada seria definitivo com Ele. Amanhã Ele poderia se tornar um Deus injusto. Ficaríamos tentando adivinhar quem Ele realmente é, ou se aquilo que nos revelou de si mesmo continua valendo. Como poderíamos orar a um Deus tão imprevisível? Quando oramos nós reconhecemos que dependemos dEle, mas não poderia ser assim com um Deus sujeito a mudanças. Lembre-se, nós não oramos a fim de mudá-Lo, mas para pedir que Ele nos dê aquilo que já tem proposto para nós.

A humanidade é tremendamente diferente de Deus. O homem teria muitos motivos para se humilhar totalmente mesmo antes da queda, e muito mais depois dela! A única coisa imutável em nós, é o fato de sermos sujeitos a mudanças. Somos instáveis em nosso conhecimento, nos opomos à verdade, e somos naturalmente levados em roda por todo vento de doutrina. Somos instáveis em nossas afeições e vontade, e assim como Israel, coxeamos entre dois caminhos. Até mesmo os Cristãos são inconstantes. Como Pedro, nós juramos lealdade, e depois a negamos. Somos instáveis em nossas ações, assim como Nabucodonosor, que louvou o Deus de Daniel, mas logo depois construiu um imenso ídolo. Até o apóstolo Paulo tinha razões para se lamentar, pois disse: quando quero fazer o bem, o mal está comigo (Romanos 7: 21).

O ímpio deveria prestar atenção. Deus não mudará a Sua natureza e a Sua Lei a fim de que os pecadores permaneçam em seus próprios pecados. Ele nunca aprovará o pecado. A paz com este imutável Deus requer mudanças da parte dos pecadores, abandonando seus pecados.

II. CONFORTO.

Se há um momento para se crer em Deus, então este momento é agora. Deus está tão pronto, como sempre esteve, para receber a qualquer um que venha a Ele. Ele é tão digno agora da nossa confiança, como sempre o foi. O Seu pacto de graça permanece inalterável. Ele não diz: e eu serei o seu Deus se eles forem o meu povo, mas antes, e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo (Jeremias 31: 33). Num certo sentido, Ele coloca uma condição de fé em sua aliança, embora Ele conceda essa fé no coração dos eleitos. E então Ele continua a operar poderosamente em nós a fim de que possamos ser preservados nessa fé. Ele escreve as Suas leis em nossos corações. Nós dependemos totalmente do poder da sua graça a fim de nos impedir de negá-Lo. Sua imutabilidade assegura ainda mais a nossa felicidade eterna nos céus. Nós receberemos um reino, que a semelhança do seu Rei, não pode ser abalado (Hebreus 12: 28).

III. EXORTAÇÃO.

Não devemos nos conformar com este mundo. Ele está sempre mudando. Tudo está sujeito a decadência. Ló escolheu a Campina fértil do Jordão, que cedo se transformou em enxofre. Todos naturalmente desejamos as coisas estáveis e seguras, mas nunca as encontraremos aqui na terra. Não desperdice muito tempo pensando nas coisas temporais. Que tolice é trocar um Deus imutável por um mundo caído e sujeito a tantas mudanças! Não coloque a sua confiança e nem a sua alegria nas coisas temporais. Riquezas, honra, e até mesmo o conhecimento, podem rapidamente desaparecer. Todos os benefícios temporais de Deus são revogáveis. É muito melhor nos regozijarmos no próprio Benfeitor, em quem não há mudanças nem sombra de variação! Qualquer outra fonte de prazer e alegria é passageira. Devemos colocar Deus acima de tudo.

Sejamos pacientes em todas as providências de Deus. A retidão da nossa vontade consiste na nossa conformidade com a vontade de Deus. O descontentamento é uma forma de contender com Ele. Ele é imutavelmente bom para nós, mesmo quando nos corrige. Se Deus é por nós, nada poderá ser contra nós, pois não há nada que se compare a Ele. Quanto mais clara a Sua vontade nos é revelada, mais ímpia é a nossa luta contra ela. Que arrogância da nossa parte querer que Deus mude os Seus propósitos e natureza para que não venhamos a sofrer nenhuma mudança!

Vamos imitar a perfeição de Deus nos esforçando para sermos imutáveis em santidade. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes (I Coríntios 15: 58). Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu (Hebreus 10: 23). Deus é constante em Suas promessas, e, portanto, deveríamos ser constantes em nossa obediência. Deus tem prazer em que Seu povo se assemelhe a Ele em tudo o que for possível. Para sermos mais semelhantes a Ele, temos que nos aproximar mais dEle.


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Autor: Stephen Charnock 
Compilado para o seculo 21: Daniel A. Chamberlin
Tradução: Eduardo Cadete 2011 
Fonte: Palavra Prudente

15:47
C. H. Spurgeon
ORAÇÃO EFICAZ - C. H. Spurgeon

"Ah, se eu soubesse onde encontrá-lo, e pudesse chegarão seu tribunal! Exporia ante ele a 
minha causa e encheria a minha boca de argumentos." - (Jo 23:3,4)

Em sua mais extrema aflição Jó clamou ao Senhor. O supremo desejo de um aflito filho de Deus é, uma vez mais, ver a face de seu Pai. Sua primeira oração não é, "Ah, se eu pudesse ser curado da enfermidade que agora enche meu corpo de chagas!" nem, "Ah, se eu pudesse ver meus filhos trazidos de volta das profunde­zas da morte e minhas propriedades mais uma vez reavidas das mãos do espoliador!" mas seu primeiro e mais profundo clamor é, "Ah, se eu soubesse onde encontrá-lo - aquele que é o meu Deus! - e pudesse chegar ao Seu tribunal!"

Os filhos de Deus correm para casa quando chega a tempestade. É instinto natural de uma pessoa salva buscar abrigar-se de todos os males sob as asas do Senhor. "Aquele que fez de Deus o seu refúgio", poderia servir como título para um verdadeiro crente. Um hipó­crita, quando sente que foi afligido por Deus, se revolta contra a aflição e, como um escravo, foge de seu mestre que o açoitou; o mesmo, no entanto, não acontece com um verdadeiro herdeiro do céu; ele beija a mão que o castigou e busca abrigar-se da vara no seio do mesmo Deus que lhe havia repreendido.

Você perceberá que o desejo de ter comunhão com Deus se intensifica devido terem fracassado todas as outras fontes de consolação. Quando Jó viu seus amigos pela primeira vez à distância, talvez ele tenha alimentado a esperança de que a ternura deles e seus conselhos bondosos mitigassem suador, mas logo depois que eles falaram ele clamou com amargura: "Todos vós sois consoladores molestos." Eles puseram sal em suas feridas, agravaram sua tristeza, aumentaram censuras acrimoniosas ao amargor de suas aflições. No calor do seu sorriso, anteriormente eles desejaram se aquecer, porém agora ousam duvidar da sua reputação da forma mais injusta e ingrata. Assim sendo, o patriarca volveu--se de seus amigos pessimistas e olhou para o trono celestial, do mesmo modo que um viajante se volta do seu cantil vazio, indo às pressas para o poço. Ele des­carta as esperanças terrenas e exclama: "Ah, se eu soubesse onde encontrar meu Deus!" Nada nos ensina melhor quão precioso é o Criador, do que a percepção da futilidade de tudo que nos cerca. Quando você se sente terrivelmente afligido pelo juízo, "Maldito o homem que confia no homem e faz da carne o seu braço", então você fruirá indizível doçura desta segurança divina: "Bem-aventurado aquele cuja confiança está no Senhor e cuja esperança é o Senhor"* Afastando-se com desdenhoso amargor dos favos da terra, onde não encontrou mel, e sim afiados aguilhões, você se regozijará nAquele cuja palavra fiel é mais doce do que o mel ou o favo de mel.

Podemos observar ainda que, embora um bom homem se dirija apressadamente a Deus quando em problemas, e corra velozmente por causa da falta de bondade de seus amigos, muitas vezes a alma redimida é privada da confortável presença de Deus. Esta é a pior de todas as tristezas; o clamor neste texto é um dos gemidos mais profundos de Jó, muito mais profundo do que qualquer outro que tenha surgido por causa da perda de seus filhos e propriedades: "Ah, se eu soubesse onde encontrar meu Deus!" A pior de todas as perdas é perder o sorriso do meu Deus. Já experimentou, então, algo da amargura do clamor de seu Redentor; "Deus meu, Deus meu, porque me desamparastes?" A presença de Deus está sempre com o Seu povo, em certo sentido, quanto a sustentá-lo secretamente, mas Sua presença manifesta eles não gozam constantemente. Assim como a esposa no Cantares de Salomão, eles buscam seu amado pela noite sobre sua cama, procuram-no mas não o acham, e embora se levantem e perambulem pela cidade não podem encontrá-lo, e esta pergunta pode ser feita ansiosamente a todo instante: "Tendes visto aquele a quem minha alma ama?" Você pode ser amado por Deus e não ter consciência desse amor em tua alma. Você pode ser tão querido ao Seu coração como o próprio Jesus Cristo e, no entanto, momentaneamente ser abandonado por Ele, assim como num breve momento de ira Ele pode esconder-Se de você.

Mas, nessas ocasiões o desejo da alma crente aumenta em intensidade devido a luz de Deus ter-lhe sido retirada. Ao invés de dizer orgulhosamente: "Bem, se Ele me deixou então terei que passar sem Ele; se não posso ter Sua confortadora presença devo lutar da melhor forma possível", a alma exclama: "Não, é a minha própria vida, preciso ter o meu Deus. Pereço, atolo-me em profundo lamaçal, onde se não pode estar em pé, e nada a não ser o braço de Deus pode me libertar". A alma agraciada se empenha com zelo redobrado para encontrar a Deus, e envia aos céus seus gemidos, súplicas, soluços e suspiros com mais frequên­cia e mais fervor. "Ah, se eu soubesse onde encontrá-lo!" Distância ou fadiga não são nada, se a alma somente soubesse para onde ir, logo percorreria a distância. Ela não faz nenhuma exigência acerca de montanhas ou rios, mas promete que se soubesse, chegaria mesmo até ao Seu tribunal. Minha alma em seu desejo ardente quebraria paredes de pedra ou escalaria as ameias dos céus para alcançar seu Deus, e embora existisse sete infernos entre eu e Ele, mesmo assim, encararia as chamas se apenas pudesse alcançá-lO. Nada me desanimaria se tivesse esperança de, ao final, permanecer em Sua presença e sentir o delírio do Seu amor. Esse me parece ser o estado mental no qual Jó proferiu as palavras que estamos considerando.

Mas não podemos parar neste ponto. Parece que o alvo de Jó em desejar a presença de Deus, era para que pudesse orar a Ele. Jó havia orado, porém queria sentir--se na presença de Deus. Ele desejava suplicar ante Alguém que o ouviria e o ajudaria. Ansiava ardentemente expor o seu caso diante do Juiz imparcial, diante da face do Deus todo sábio; e passando das cortes inferiores, onde seus amigos emitiram juízo injusto, ele queria ape­lar para o Tribunal Superior de justiça - o Alto Tribunal do céu. Lá, segundo ele, "Com boa ordem exporia ante ele a minha causa, e a minha boca encheria de argumentos".

Neste último versículo citado, Jó nos ensina como ele almejava suplicar e interceder diante de Deus. De certa forma, ele nos revela os segredos do seu íntimo e nos mostra a arte da oração. Aqui somos incorporados ao grêmio dos suplicantes; é-nos mostrado a arte e o mistério da súplica; aqui se nos ensina a abençoada ciência e habilidade da oração, e se nós nos tornarmos aprendizes de Jó, e se pudermos receber uma lição do seu Mestre, poderemos adquirir bastante habilidade para interceder diante de Deus.

I - PONDO EM ORDEM NOSSA CAUSA DIANTE DE DEUS

Há uma idéia popular de que a oração é uma coisa muito fácil, uma espécie de atividade comum que pode ser feita de qualquer forma, sem nenhum cuidado ou esforço. Alguns pensam que somente é necessário pegar um livro, utilizar certo número de palavras atraen­tes, e assim terá orado, podendo então guardá-lo novamente. Outros supõem que usar um livro é coisa supersticiosa, e aquilo que se deveria fazer é repetir uma série de frases improvisadas, frases essas que viriam à mente de súbito como uma manada de porcos ou uma matilha de cães, e uma vez tendo-as pronunciado com certa atenção, pronto, a oração foi feita.

Ora, nenhum desses modos de orar foi adotado pelos santos do passado. Parece que eles pensaram muito mais seriamente sobre oração do que muitos pensam em nossos dias. Parece ter sido algo impor­tantíssimo para eles - um exercício constantemente praticado, no qual alguns deles atingiram grande eminência e foram, dessa forma, singularmente abençoados. Ceifaram grandes colheitas no campo da oração e descobriram que o propiciatório é uma mina de tesouros inimagináveis.

Os santos do passado tiveram o costume de colocarem em ordem, como Jó, sua causa diante de Deus. Assim como um peticionário não vai a uma corte impulsivamente, sem antes pensar no que vai dizer, mas entra na sala de audiências com seu processo bem preparado, tendo também aprendido como deve se comportar diante da grande autoridade a quem vai apelar, da mesma forma é bom que nos aproximemos do trono do Rei dos reis, tanto quanto possível, com premeditação e preparação, sabendo o que fazemos, qual a nossa posição e o que desejamos obter. Em tempos de perigo e aflição podemos correr para Deus da forma como estamos, assim como a pomba voa para uma fenda na rocha, mesmo que suas penas estejam arrepiadas; mas em tempos normais não deveríamos nos aproximar dEle com espírito despreparado, assim como uma criança não se aproxima do seu pai pela manhã sem antes ter lavado o rosto.

Veja ali o sacerdote; ele tem um sacrifício para oferecer, porém não se apressa para o pátio dos sacerdotes a fim de picar o novilho com o primeiro machado em que puder pôr a mão. Pelo contrário quando se levanta lava seus pés na bacia de bronze, coloca suas vestimentas e se enfeita com seus trajes sacerdotais. Então ele se achega ao altar com sua vítima adequadamente dividida de acordo com a lei. Sendo cuidadoso em fazer de conformidade com o manda­mento, mesmo em coisas simples tais como onde colocar a gordura, o fígado e os rins. Ele põe o sangue numa bacia, derrama-o num lugar apropriado aos pés do altar, não o jogando de forma que mais lhe agrade, e acende o fogo, não com chama comum, e sim com o fogo sagrado retirado do altar. Atualmente todo este ritual foi superado, mas a verdade que ele ensinava permanece a mesma; nossos sacrifícios espirituais devem ser ofe­recidos com santo cuidado. Deus nos livre de que nossa oração seja somente saltar da cama, ajoelhar-nos e dizer qualquer coisa que venha à mente. Pelo contrário, que possamos esperar no Senhor com santo temor e reverência.

Veja como Davi orou quando Deus o abençoou - ele entrou na presença do Senhor. Compreenda isso. Ele não ficou de fora a uma certa distância, porém entrou na presença do Senhor e sentou-se (pois sentar-se não é posição errada para orar, ainda que critiquem contra isso) e uma vez sentado, calma e tranquilamente diante do Senhor, começou a orar. Todavia, ele não fez isso sem antes pensar na bondade divina. Dessa maneira chegou ao espírito de oração. Daí, pela assistência do Espírito Santo, abriu sua boca. Oxalá buscássemos mais freqüentemente o Senhor desse modo!

Davi se expressa da seguinte forma: "Pela manhã ouvirás a minha voz, ó Senhor; pela manhã me apre­sentarei a ti, e vigiarei" (Salmo 5:3). Sempre lhes tenho explicado isso como significando pôr em ordem de batalha seus pensamentos tais quais homens de guerra, ou apontar suas orações como se fossem flechas. Davi não apanhava uma flecha para colocá-la na corda do arco e atirá-la em qualquer direção, mas tendo apanhado a flecha escolhida e a colocado na corda, ele se fixava no alvo. Olhava - olhava bem - para o círculo branco do alvo; mantinha seu olho fixo no mesmo, dirigia sua oração, então puxava o arco com toda sua força e deixava a flecha voar. Uma vez em pleno vôo, tendo ela deixado suas mãos, o que diz ele? "Olharei para cima." Olhava para cima a fim de ver aonde a flecha foi e saber que efeito havia causado, pois esperava resposta as suas orações e não era como muitos que raramente pensam em suas orações depois de as haverem profe­rido. Davi sabia que tinha diante de si uma obrigação que requeria toda a sua capacidade mental; ele punha em ordem de batalha suas faculdades e partia para a obra de maneira esmerada, como alguém que cria na mesma e desejava obter sucesso. Deveríamos tanto arar cuida­dosamente como orar cuidadosamente. Quanto melhoro trabalho mais atenção ele merece. Ser diligente na sua loja e negligente no lugar de oração, é nada menos do que blasfêmia, pois é uma insinuação de que qualquer coisa servirá para Deus, enquanto que o mundo deve ter o melhor de nós.

Se alguém me perguntar qual a ordem a ser observada em oração, eu não darei um esquema como muitos têm feito, no qual a adoração, confissão, petição, intercessão e louvor estão arranjados numa sucessão. Não estou convencido de que uma ordem desse tipo tenha autoridade divina. Não é à ordem mecânica que estou me referindo, pois nossas orações serão igual­mente aceitáveis, e talvez igualmente apropriadas, em quaisquer formas, posto que existem, exemplos de orações, de todos os tipos, tanto no Velho como no Novo Testamento.

A verdadeira ordem espiritual da oração parece--me consistir em algo mais do que um mero arranjo. É muito apropriado para nós sentirmos que agora estamos fazendo algo real; sentirmos que estamos nos dirigindo a Deus, a Quem não podemos ver, porém que está realmente presente; a Quem não podemos tocar ou ouvir, nem por meio de nossos sentidos perceber, a Quem, entretanto, está conosco tão realmente como se estivéssemos falando com um amigo de carne e osso. Sentindo a realidade da presença de Deus, nossa mente será conduzida pela graça divina a um estado de humildade; sentir-nos-emos como Abraão quando disse: "Eis que agora me atrevi a falar ao Senhor, ainda que sou pó e cinza". Assim sendo, não faremos nossas orações como garotos que repetem suas lições de forma roti­neira, muito menos falaremos como se fôssemos rabinos instruindo nossos alunos, ou como alguns fazem, com a aspereza de um assaltante parando alguém na estrada e obrigando-o a entregar-lhe sua bolsa; mas seremos humildes suplicantes, embora ousados, humildemente importunando a misericórdia mediante o sangue do Salvador. Não teremos a reserva de um escravo, mas a cândida reverência de uma criança, contudo não uma criança impudente, impertinente, e sim uma criança obediente e dócil, honrando seu Pai, e portanto rogando sinceramente, com respeitosa submissão à vontade de seu Pai. Quando sinto que estou na presença de Deus e tomo o meu devido lugar ali, a próxima coisa que faço é reconhecer que não tenho direito algum àquilo que estou buscando e não posso recebê-lo, exceto como um dom da graça. Devo reconhecer também que Deus limita o canal através do qual me concede misericórdia - Ele o fará por meio do Seu amado Filho. Portanto, quero me colocar sob a proteção do grande Redentor. Quero sentir que agora não sou mais eu que falo, mas Cristo fala comigo e que, enquanto suplico, faço-o através de Suas chagas, Sua vida, Sua morte, Seu sangue e Seu ser. É dessa maneira que realmente alcançamos uma ordem na oração.

O que devo pedir? É muito apropriado que, na oração, objetivemos uma grande clareza nas súplicas. Há muitos motivos para deplorar sobre certas orações feitas em público, pois aqueles que as fazem realmente não pedem nada a Deus. Preciso admitir que eu mesmo tenho orado assim, e certamente tenho escutado muitas orações desse tipo, nas quais tive a impressão que nada foi pedido a Deus. Muito de excelentes assuntos dou­trinários e experimentais foi enunciado, mas bem poucas súplicas e esse pouco de um modo nebuloso, caótico e disforme. Todavia, parece-me que a oração deve ser clara, o pedir por alguma coisa definida e claramente, pois a mente percebe sua necessidade premente de tal coisa, e portanto deve suplicar por ela. Não é bom usar de rodeios na oração, mas ir direto ao assunto. Eu gosto daquela oração de Abraão: "Oxalá viva Ismael diante de ti!" Ele menciona o nome e a pessoa pela qual está orando e a bênção desejada, tudo isso em poucas palavras - "Ismael viva diante de ti!" Muitas pessoas teriam usado uma expressão cheia de rodeios, tal como esta: "Oh que nossa prole possa ser agraciada com o favor que Tu dispensas para aqueles que..." etc. Diga "Ismael", se você quiser dizer "Ismael"; coloque isso em palavras simples diante do Senhor. Algumas pessoas não podem sequer orar pelo pastor sem usar certos adjetivos de tal forma que pensaríamos ser o bedel da paróquia ou alguém que não poderia ser mencionado tão particularmente.

Porque não sermos claros e dizermos o que pen­samos, e pensarmos o que queremos dizer? Ordenar nossa causa nos levaria a uma maior clareza de pensamento. Quando em particular, não é necessário pedir todos os bens possíveis e imagináveis; não é necessário recitar o catálogo de todos os desejos que você tem, teve, pode ter ou terá. Peça o que precisa no momento e, como regra, atenha-se à tua necessidade da hora; peça pelo pão de cada dia - o que deseja no momento - peça isso. Peça-o sem rodeios, diante de Deus, que não repara em tuas expressões rebuscadas, para Quem tua eloquência e oratória não serão mais do que puro vaidade. Você está diante do Senhor; sejam poucas as tuas palavras, mas seja cheio de fervor teu coração.

Você ainda não terá posto as coisas em ordem quando ti ver pedido o que deseja através de Jesus Cristo. É preciso examinar a bênção que deseja para saber se ela é algo apropriado a ser pedido, pois algumas orações jamais seriam feitas se os homens apenas refletissem. Uma pequena reflexão nos faria ver que seria melhor se certas coisas que desejamos fossem postas de lado. Além disso, podemos terem nosso íntimo um motivo que não vem de Cristo - motivo egoísta - que esquece da glória de Deus e só se preocupa com nosso próprio alívio e conforto. Ora, embora possamos pedir coisas que sejam para nosso proveito, não devemos permitir que nosso proveito interfira, de maneira alguma, com a glória de Deus. Deve haver junto com a oração aceitável o santo sal da submissão à vontade divina. Gosto destas palavras de Lutero: "Senhor, terei aquilo que quero de Ti". "Como você gosta de uma expressão como essa"? -você me pergunta. Gosto por causa do que se segue: "Terei o que desejo, pois sei que a minha vontade é a Tua vontade". Lutero se expressou muito bem, mas sem as últimas palavras teria sido uma ímpia presunção. Quando estamos certos de que aquilo que pedimos é para a glória de Deus, então, se tivermos poder na oração, podemos dizer: "Não te deixarei ir se não me abençoares". É possível chegar a um tal relacionamento íntimo com Deus, e como Jacó com o anjo, podemos lutar e tentar vencer o anjo para não sermos mandados embora vazios, sem recebermos a bênção desejada. Mas antes de chegarmos a essa intimidade, devemos ter a certeza de que aquilo que estamos buscando é realmente para a honra do Mestre.

Ponha estas três coisas juntas: 1) profunda espi­ritualidade que reconhece a oração como sendo conversa real com o Deus invisível - clareza que evidencia realidade na oração, pedindo por aquilo que sabemos necessitar; 2) muito fervor, crendo que é realmente necessário aquilo que desejamos, estando dispostos a obtê-lo pela oração, desde que seja possível tê-lo por meio da mesma; 3) acima de tudo isso, completa submissão, deixando-o ainda com a vontade do Mestre. Tudo isso deve ser amalgamado e então terá uma idéia clara do que é ordenar sua causa diante de Deus.

Ainda mais, a oração em si mesma é uma arte que somente o Espírito Santo pode nos ensinar. Ele é o doador de todas as orações. Rogue pela oração - ore até que consiga orar, ore para ser ajudado a orar e não abandone a oração porque não consegue orar, pois nos momentos em que você acha que não pode orar, é que realmente está fazendo as melhores orações. As vezes quando você não sente nenhum tipo de conforto em suas súplicas e seu coração está quebrantado e abatido, é que realmente está lutando e prevalecendo com o Altíssimo.
   
II - ENCHENDO NOSSA BOCA COM ARGUMENTOS

Com isto não quero dizer enchendo a boca com palavras, frases bonitas, expressões agradáveis, e sim de argumentos, como os santos da antiguidade costu­mavam arrazoar na oração. Quando nos aproximamos da porta da misericórdia, argumentos convincentes são as batidas na argola que fazem com que a porta se abra.

Por que os argumentos deveriam ser usados? Certamente não é porque Deus demore para dar; não é porque podemos mudar o propósito divino, nem porque Deus necessite ser informado acerca de quaisquer circunstâncias concernentes a nós ou sobre a benção pedida. Os argumentos a serem usados são para nosso próprio benefício, não benefício dEle. Deus exige que pleiteemos com Ele e apresentemos nossas razões fortes, como diz Isaías, pois isso mostrará que valorizamos a bênção. Quando um homem busca argumentos em favor de uma determinada coisa é porque ele atribui importância àquilo que está procurando.

Reitero, o uso de argumentos nos ensina a base pela qual obtemos a bênção. Se um homem vier com um argumento baseado em seu próprio mérito, não conse­guirá nada; o argumento bem sucedido está sempre fundamentado sobre a graça, e daí a alma que assim suplica começa a entender intensamente que é pela graça, e graça somente, que um pecador obtém algo do Senhor. Além disso, o uso de argumentos é destinado a estimular o nosso fervor. A pessoa que usa um argumento com Deus terá mais força para usar o segundo, e usará o terceiro com poder ainda maior, e o quarto com maior poder ainda. As melhores orações que já ouvi em nossas reuniões de oração foram aquelas mais repletas de argumentos. Às vezes minha alma tem-se comovido por completo ao escutar irmãos que vieram a Deus sentindo a real necessidade da benção e que realmente era preciso tê-la, pois a princípio pleiteavam de Deus que a concedesse por essa razão, e depois por uma segunda, terceira, quarta e quinta, até que tivessem despertado o fervor de todos ali presentes.

No que se refere a Deus, a oração não é necessária de forma nenhuma, mas quanto a nós ela é inteiramente necessária. Se não fôssemos constrangidos a orar, du­vido que poderíamos vi ver como cristãos. Se as bênçãos de Deus chegassem até nós sem serem pedidas, não teriam metade do valor que têm, pois, ao pedi-las, obtemos uma dupla bênção - uma em obter, outra em pedir. O próprio ato de orar é uma bênção. Orar é, de certa forma, banhar-se em águas cristalinas, e assim escapar do calor do sol de verão. Orar é subir em asas de águia acima das nuvens e chegar ao céu claro onde Deus habita. Orar é entrar na tesouraria de Deus e enriquecer-se de um reservatório inexaurível. Orar é tomar o céu nos braços, é abraçar a Deidade dentro da alma e sentir o corpo feito o templo do Espírito Santo. Independente da resposta, a oração em si mesma é uma bênção. Orar é desfazer-se de seus fardos, despir-se de seus trapos, lançar fora suas enfermidades, ficar cheio de vigor espiritual, alcançar o mais alto ponto da saúde cristã. Que Deus nos ajude a sermos diligentes na santa arte de argumentar com Ele mediante a oração.

Ainda resta a parte mais interessante do nosso assunto; trata-se de um catálogo resumido de alguns dos argumentos que têm sido usados com grande sucesso junto a Deus. Não posso te fornecer uma lista completa; para tanto seria necessário um tratado do tipo que só John Owen poderia produzir.

 1. Os atributos de Deus
Abraão fundamentou-se neles quando tentou sustar a justiça de Deus. Era necessário que alguém orasse por Sodoma, e Abraão começou assim: "Se porventura houver cinqüenta justos na cidade, destruí-los-á também, e não pouparás o lugar por causa dos cinqüenta justos que estão dentro dela? Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti seja. Não fará justiça o Juiz de toda a terra?" Aqui começa a luta. Com este poderoso argu­mento o patriarca segurou a mão esquerda do Senhor e prendeu-a exatamente quando o raio estava prestes a cair. Mas, então, veio uma resposta. Foi comunicado a ele que isso não pouparia a cidade e você se recorda como aquele bom homem, quando duramente pressio­nado foi recuando pouco a pouco, e por último, quando não mais podia deter a justiça, agarrou a mão direita de Deus, a da misericórdia, e isso lhe deu grande segurança quando suplicou para que a cidade fosse poupada se nela houvesse pelo menos dez justos. Assim sendo, eu e você podemos nos agarrar, a qualquer instante, à justiça, misericórdia, fidelidade, sabedoria, paciência e ternura de Deus, e descobriremos que todos os atributos do Altíssimo são, em certo sentido, um grande aríete com o qual poderemos abrir as portas do céu.

2. A promessa de Deus
Quando Jacó estava do outro lado do vau do Jaboque e seu irmão Esaú vinha ao seu encontro com homens armados, ele implorou a Deus para que não o permitisse destruir a mãe e as crianças, e a razão prin­cipal usada foi esta: "Tu disseste: certamente te farei bem". Que força tem esse argumento! Ele estava responsabilizando Deus pelo cumprimento de Sua palavra: "Tu disseste". O atributo serve como um ótimo chifre do altar para segurarmos, mas a promessa, a qual contém o atributo é algo mais, é um chifre ainda mais forte. "Tu disseste". Lembramo-nos como Davi se expressou. Depois de Nata ter proferido a promessa, Davi disse no final de sua oração: "Faz como tu dis­seste". Este é um argumento legítimo para todo homem honesto usar. E tendo Deus falado, não o fará? "Seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso". Não será Ele verdadeiro? Não manterá Ele Sua palavra? Porven­tura não permanecerá de pé e não será cumprida toda palavra que sai de Seus lábios?

Salomão, quando da inauguração do templo, usou o mesmo argumento poderoso. Ele suplica a Deus para que Se lembre da palavra que havia falado a seu pai Davi e abençoe aquele lugar. Quando um homem emite uma nota promissória, sua honra está comprometida. Ele a assina com sua mão e deve pagá-la ao chegar o dia do vencimento, senão ficará desacreditado. Jamais devemos dizer que Deus não paga Suas contas. O crédito do Altíssimo nunca foi contestado e nunca o será. Ele é pontual, jamais está adiantado, mas também não Se atrasa. Podemos procurar por todo o Seu livro e compará-lo com a experiência do povo de Deus, e veremos que os dois estão em acordo, do começo ao fim; muitos dos antigos patriarcas disseram como Josué na sua velhice: "Nenhuma promessa falhou de todas as boas palavras que o Senhor falara à casa de Israel: tudo se cumpriu" (Josué 21:45). Se há para você uma promessa divina, não precisa pedir o cumprimento dela com o "se", pode fazê-lo com toda a confiança. Se a bênção que deseja está prometida pela palavra empenhada de Deus, dificilmente haverá necessidade de acautelar-se quanto à insubmissão à Sua vontade. Você conhece a vontade dEle. Essa vontade está na promessa; fundamente-se nela. Não dê descanso a Ele até que a cumpra. Deus deseja cumpri-la; de outra forma não a teria proferido. Ele não profere Suas palavras apenas para silenciar o nosso barulho e nos manter esperançosos por alguns momentos, com a intenção de, afinal, fazer-nos desistir; quando Ele fala é porque tem intenção de agir.

3. O grande nome de Deus
Quão poderosamente Moisés argumentou com Deus, certa ocasião, fiando-se nessa base! "O que farás pelo Teu grande nome? Os egípcios dirão: porquanto o Senhor não podia pôr este povo na terra que lhes tinha jurado; por isso os matou no deserto." Há algumas ocasiões em que o nome de Deus está intimamente ligado à história do Seu povo. Às vezes um crente será obrigado a seguir um curso de ação, baseado numa promessa divina. Ora, se o Senhor não cumprisse a Sua promessa, não somente o crente estaria enganado, mas o mundo perverso olharia para ele, dizendo: ah! ah! onde está teu Deus? Tomemos, por exemplo, o caso do nosso respeitado irmão, o Sr. Jorge Müller, de Bristol. Durante muitos anos ele declarou que Deus ouve e atende as orações e, firme nessa convicção, construiu casa após casa para abrigar órfãos. Posso imaginar, portanto, que se ele estivesse necessitando de meios para o sustento daquelas mil ou duas mil crianças, teria usado o seguinte argumento: "O que farás pelo Teu grande nome?" E você, em meio a um problema angustiante, quando tiver se apossado firmemente da promessa, pode dizer, "Senhor, Tu disseste: "Em seis angústias te livrarei; e na sétima o mal não te tocará" (Jó 5:19). Eu disse a meus amigos e vizinhos que tenho posto minha confiança em Ti, e se Tu não me libertares agora, onde estará Teu nome? Levanta-Te, ó Deus, e faz isso, para que a Tua honra não seja lançada ao pó."

Juntamente com isso podemos empregar o argu­mento das duras coisas ditas pelos injuriadores. Ezequias, rei de Judá, fez muito bem quando pegou a carta de Rabsaqué e a expôs diante do Senhor. Isso o ajudaria? Ela está cheia de blasfêmias; isso o ajudaria? "Onde estão os deuses de Arpade e Sefarvaim? Onde estão os deuses das cidades que destruí? Não deixem que Ezequias vos engane, dizendo que Jeová vos libertará." Será que isso surtirá algum efeito? Claro que sim! Foi uma coisa abençoada o fato de Rabsaqué ter escrito essa carta, pois ela moveu o Senhor a ajudar o Seu povo. Às vezes os filhos de Deus podem se regozijar quando vêem seus inimigos dando vazão ao seu mau humor e dizendo injúrias. "Agora", podem dizer, "inju­riaram o próprio Senhor; não atacaram somente nós, mas o próprio Altíssimo". Agora não é mais o pobre insignificante Ezequias com seu pequeno grupo de soldados que vão lutar contra Rabsaqué, mas é Jeová, o Senhor dos anjos. O que vocês farão agora orgulhosos soldados do altivo Senaqueribe? Porventura não serão completamente destruídos, desde que Jeová entrou na luta? Todo o avanço feito pelo catolicismo romano, todas as coisas erradas ditas por ateus bisbilhoteiros e quejandos, deveriam ser usados pelos cristãos como argumentos perante Deus para que Ele faça prosperar o evangelho. Senhor, veja como eles reprovam o evangelho de Jesus! Tira Tua mão direita do Teu seio! O Deus, eles Te desafiam! O anticristo se lança no lugar onde Teu Filho foi uma vez honrado, e dos púlpitos onde o evangelho foi outrora pregado, o catolicismo romano é agora anunciado. Levanta-Te ó Deus, desperta o Teu zelo, permita que Tua santa ira se inflame! Teu antigo inimigo novamente prevalece. Eis que a prostituta de Babilônia mais uma vez montada na besta de vestes escarlates cavalga em triunfo! Vem Senhor, vem Senhor e novamente mostra o que o Teu braço sozinho pode fazer! Este é um modo legítimo de importunar a Deus, por causa do Seu grande nome.

4. As tristezas do povo de Deus
Isto é freqüentemente usado na Bíblia. Jeremias é o grande mestre nesta arte. Assim diz ele: "Os seus nazireus eram mais alvos do que a neve, eram mais brancos do que o leite, eram mais roxos de corpo do que os rubis, mais polidos do que a safira; mas agora sua aparência é mais escura do que a fuligem" (Lamentações 4:7,8). "Os preciosos filhos de Sião, comparáveis a ouro puro, como são agora reputados por vasos de barro, obra das mãos do oleiro" (Lamentações 4:2). Ele fala de todas as suas tristezas e apertos por que passou durante o cerco. Ele clama ao Senhor pedindo que olhe para Sua Sião sofredora, e logo depois seus clamores melancó­licos são ouvidos. Nada tão eloqüente para um pai como o clamor de seu filho; oh sim, existe algo mais tocante ainda, é o gemido - quando o filho está tão doente que não consegue mais chorar e permanece deitado jeremiando de maneira que indica extremo sofrimento e intensa fraqueza. Quem pode resistir a tal gemido? E quando o Israel de Deus for conduzido a uma situação tão ruim que já não possa clamar, onde somente seus gemidos podem ser ouvidos, aí então virá de Deus a libertação, e certamente Ele mostrará que ama o Seu povo. Quando vocês, irmãos, estiverem em tal situação, podem usar os vossos sofrimentos como um argumento para que Deus se volte e salve o remanescente do Seu povo. Procedam da mesma maneira em relação à igreja em transe de sofrimento.

5. O passado
Povo experiente de Deus, você sabe como apropriar-se disso. Aqui está o exemplo de Davi: "Tu tens sido o meu auxílio. Não me deixes, nem me desampares". Ele se baseia na misericórdia de Deus desde a sua mocidade. Fala de sua dependência de Deus desde o nascimento, e então suplica: "Agora, quando estou velho e de cabelos brancos, não me desampares, ó Deus...". Moisés tam­bém, falando com Deus, diz: "Tu tiraste do Egito o teu povo". É como se ele dissesse: "Não deixeis o Teu trabalho incompleto ;começaste a construir, complete-o. Tu travaste a primeira batalha; Senhor, termine a campanha! Prossiga até conseguir a vitória completa". Quantas vezes, estando em problemas, temos clamado: "Senhor, Tu me libertaste de duras provações, quando parecia não haver nenhum socorro por perto; não me abandonaste até agora, Tenho levantado meu Ebenézer em Teu nome. Se Tua intenção era me abandonar, por que me mostraste tais coisas? Trouxeste Teu servo até aqui para expô-lo à vergonha?" Temos de tratar com um Deus imutável, que fará no futuro o que tem feito no passado, pois nunca muda de propósito e o Seu desígnio não pode ser frustrado; assim sendo, o passado torna-se um poderoso meio de conseguir bênçãos de Deus.

Podemos até mesmo usar nossa própria indig­nidade como argumento com Deus. "Do comedor saiu comida, e doçura saiu do forte." Davi em determinado lugar argumenta da seguinte forma: "Senhor, perdoa a minha iniqüidade, pois é grande". Esse é um modo especial de raciocinar, mas sendo interpretado significa: "Senhor, por que farias coisas pequenas? Tu és um grande Deus e eis aqui um grande pecador. Eis uma oportunidade em mim para demonstrar a Tua graça. A enormidade do meu pecado faz de mim um palco para manifestar a grandeza da Tua misericórdia. Permite que a grandeza do Teu amor seja vista em mim." Moisés parece estar pensando desta mesma maneira quando pede a Deus que mostre Seu grande poder em poupar Seu povo pecaminoso. Realmente, o poder com que Deus Se restringe é grande. Existe alguma coisa como rastejar aos pés do trono, fazer uma reverência e clamar: "O Deus, não me quebres, pois sou uma cana esmagada. Não pises sobre minha pequena vida, a qual não passa de pavio que fumega. Tu me caçarás? Sairás, como disse Davi, atrás de um cachorro morto ou de uma pulga? Perseguir-me-ás como uma folha soprada pela tempestade? Olhar-me-ás, como disse Jó, como se fosse um vasto mar ou uma grande baleia? Sou tão pequeno, e desde que a grandeza da Tua misericórdia pode ser mostrada em alguém tão insignificante e tão vil, ó Deus, então tenha misericórdia de mim".

Houve uma vez em que a própria Deidade de Jeová serviu de base para um clamor triunfante do profeta Elias. Podemos imaginar a excitação mental dele naquela augusta ocasião quando mandou seus adversários verem se seus deuses poderiam lhes respon­der através do fogo. Com que duro sarcasmo ele disse: "Clamai em altas vozes, porque ele é um deus; pode ser que esteja falando, ou que tenha alguma coisa que fazer, ou que intente alguma viagem; talvez esteja dormindo, e necessite de que o acordem". E, enquanto eles se cortavam com facas e saltavam sobre o altar, veja o escárnio com que aquele homem de Deus deve ter olhado para tais esforços impotentes e seus gritos extremos e inúteis! Mas pense como seu coração teria palpitado, se não fosse a força de sua fé, quando reparou o altar de Deus que estava quebrado, pôs a lenha em ordem e matou o novilho. Ouça-o exclamar: "Derramem água sobre ele. Não quero que pensem que eu esteja escondendo o fogo; derramem água sobre a vítima". Quando o fizeram, ele lhes ordenou: "Fazei-o segunda vez" e o fizeram segunda vez. Disse ainda: "Fazei-o terceira vez". Quando o altar estava completamente coberto de água, embebido e saturado, ele se levanta e clama a Deus: "O Senhor, manifeste-Se hoje que Tu és Deus". Aqui tudo foi posto à prova. A própria existência de Jeová foi aqui posta, de certo modo, em jogo diante dos olhos dos homens por este ousado profeta. E como ele foi ouvido! O fogo desceu e consumiu não somente o sacrifício, mas também a lenha, as pedras e mesmo a própria água que havia nas valas, pois o Senhor Jeová respondera à oração do Seu servo. Nós podemos tam­bém, em certas ocasiões fazer o mesmo e dizer a Ele: "Oh, por Tua Deidade, por Tua existência, se verdadeiramente Tu és Deus, mostra-Te agora para socorro do Teu povo!"

6. O sofrimento, morte, mérito e intercessão de Cristo Jesus
Receio que não estamos compreendendo o que está à nossa disposição quando somos permitidos supli­car a Deus baseados nos méritos de Cristo. Deparei-me com esse pensamento um dia desses; foi algo novo para mim, mas acho que não devia ter sido. Quando pedimos a Deus que nos ouça, enquanto invocamos no nome de Cristo, geralmente queremos dizer: "Ó Senhor, Teu amado Filho merece isso de Ti; faze-o para mim porque Ele merece". Mas se nós soubéssemos poderíamos ir adiante. Suponha que você tenha um armazém na cidade e diz a mim: "Meu amigo, vá até o meu escritório e use o meu nome e diga que devem lhe dar o que deseja". Eu poderia ir e usar o teu nome e obteria o meu pedido como uma questão de direito e de necessidade. Isto é virtualmente o que Jesus Cristo diz a nós. "Se você necessita algo de Deus, tudo o que o Pai tem pertence a Mim; vá e use Meu nome." Suponha que você dê a um homem o seu talão de cheques assinados com seu pró­prio nome e com os cheques em branco a serem preenchidos conforme ele desejasse; isso se aproxima muito do que Jesus fez quando disse: "Se pedirdes algo em meu nome, eu o farei". Se eu tivesse um bom nome assinando um cheque, estou certo que ele seria trocado por dinheiro ao apresentá-lo ao banco. Semelhante­mente, quando você tem o nome de Cristo, a quem a própria justiça de Deus é devedora, e cujos méritos fazem reivindicações diante do Altíssimo, não há necessidade de falar com medo, temor ou com o fôlego suspenso. Não fique indeciso e não deixe que a fé vacile! Quando você pleiteia no nome de Cristo, está usando algo que balança as portas do inferno e ao qual os exércitos do céu obedecem. Até o próprio Deus sente o poder sagrado desse clamor divino.

Seria melhor se em tuas orações você pensasse mais nos sofrimentos e tristezas de Cristo. Apresente diante do Senhor as Suas chagas; fale ao Senhor sobre Seus clamores; faça com que os gemidos de Jesus clamem novamente do Getsêmani, e Seu sangue fale novamente desde o Calvário horrível. Clame e diga ao Senhor que devido tais tristezas, lamentos e gemidos, você não pode aceitar uma resposta negativa.

III - LOUVOR E AÇÕES DE GRAÇAS

Se o Espírito Santo nos ensinar como porem ordem a nossa causa e como encher a nossa boca de argu­mentos, o resultado será que haveremos de tê-la cheia de louvores. O homem que tem a sua boca cheia de argumentos em oração, logo a terá cheia de ações de graças em resposta às suas orações. Você tem a tua boca repleta esta manhã, não tem? Mas de quê? De reclamações? Ore para que o Senhor a limpe dessas coisas más, pois em nada elas te servirão, e se tornarão amargas dentro de ti a qualquer dia. Que você tenha a tua boca cheia de orações e de argumentos, de tal forma que não haja lugar para nada mais. Então logo te retirarás com aquilo que pediu a Deus. "Deleita-te também no Senhor, e ele te concederá o que deseja o teu coração."

Diz-se - não sei bem como - que a explicação da frase: "Abre a tua boca e eu a encherei" pode ser encontrada num costume muito especial do Oriente. Diz-se que não muitos anos atrás - lembro-me das circunstâncias sendo relatadas - o rei da Pérsia ordenou ao chefe dos seus palacianos, o qual havia feito algo que o agradara, que abrisse sua boca, e quando ele o fez o rei começou a enchê-la de pérolas, diamantes, rubis e esmeraldas, até que a deixou tão cheia quanto pudesse aguentar, e então lhe ordenou que se retirasse. Conta-se que isso tem sido feito ocasionalmente em cortes orien­tais para certas pessoas favoritas. No entanto, se isto é uma explicação da frase ou não, certamente é no mínimo, uma ilustração dela. Deus diz: "Abra a tua boca com argumentos", e então Ele a encherá de misericórdias preciosas, jóias de valor incalculável. Porventura, um homem não abriria sua boca para tê-la cheia de maneira tal? Certamente o mais tolo entre vocês seria bastante sábio para isso. Então abramos bem nossa boca quando tivermos de pleitear diante de Deus. Nossas necessida­des são grandes; que sejam grande os nossos pedidos, e o suprimento o será também. Você não está estreitado nEle, e sim em ti mesmo. Que o Senhor lhe dê grandeza de boca na oração, grande potência, não no uso de linguagem, mas no emprego de argumentos.

O que tenho dito ao cristão é aplicável também em grande parte ao incrédulo. Que Deus conceda a ele sentir a força desta mensagem e lhe ajude voar em oração humilde ao Senhor Jesus Cristo, para que encontre vida eterna nEle.

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Fonte: PES 
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Reforma Radical

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