20:11

A Bíblia é enfática ao dizer que o estado de pecado é absolutamente universal. É natural e inevitável que cada pessoa peque. "Pois não há homem que não peque" (1 Rs 8.46). "Todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado... todos se extraviaram... não há quem faça o bem, não há nem um sequer... pois todos pecaram e carecem da glória de Deus" (Rm 3.9, 12, 23). "Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós" (1 Jo 1.8). A Bíblia explica essa pecaminosidade universal em termos de solidariedade dos homens com Adão (cf. 1 Co 15.22; Rm 5.12 ss.). Adão, ao transgredir, tornou-se pecador por natureza. E os descendentes de Adão já nascem pecadores, e, assim, pecam por natureza. O nome tradicional daquela disposição inerente de antipatia contra Deus e contra a sua lei, que temos herdado de Adão, é pecado original — nome esse que, embora não figure na Bíblia, é muito apropriado, quer consideremos que essa disposição é herdada por nós do primeiro homem, quer pensemos que ela encontra-se em nós desde nossa concepção, ou quer achemos que todos os nossos atos de pecado se originam dela. A Bíblia intitula essa disposição de "a carne", ou "o pendor da carne" (Rm 8.7), ou simplesmente "o pecado que habita em mim" (Rm 7.20; examine os vv. 8-13). Essa atitude controla e determina a conduta de cada homem que não está em Cristo. Onde o Senhor não governa, o pecado o faz.

A descrição bíblica sobre o estado de pecado inclui estes pontos:

1. É um estado de condenação. Isso nos mostra a relação do pecador para com Deus como Juiz, bem como para com os requisitos penais de sua lei, a qual declara: "A alma que pecar, essa morrerá" (Ez 18.20). "Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Rm 8.1) — à parte de Cristo, todos os homens estão sob sentença de morte, tanto devido às suas delinquências pessoais (cf. Rm 1.32; 2.8, 9), como por causa de sua solidariedade com Adão. Assim como os crentes são justificados por causa de Cristo, por ter-lhes sido imputada a retidão dEle, assim também aqueles que não têm a Cristo são condenados por causa de Adão, por lhes ser imputada a transgressão dele. Isso não significa, entretanto, que eles sejam tidos como se tivessem praticado pessoalmente o pecado de Adão, e, sim, que Adão pecou representativamente, em sua capacidade pública de cabeça da raça humana, e que todos os homens estão envolvidos nas consequências penais de seu ato pecaminoso. A obrigação penal que nos cabe, em virtude de nossa ligação com Adão, com frequência tem sido chamada culpa original, estando essa culpa incluída na definição do pecado original.

Em Romanos 5.12 e 15.19, Paulo desdobrou essa noção da culpa original — a ideia é que, quando um pecou, "todos pecaram", e, em razão desse ato, "tornaram-se pecadores".

2.      É um estado de contaminação. Isso nos mostra a relação entre o pecador e o Deus santo. Nos dias do Antigo Testamento, Deus muito ensinou, através de vários tabus e rituais de pureza, sobre questões de higiene e de hábitos alimentares, que há coisas que tornam o homem incapaz de ter comunhão com Ele, pois contaminam o homem, tornando-o sujo e, em consequência, repelente e inaceitável aos olhos de Deus. Nosso Senhor eliminou e cancelou esses preceitos simbólicos, tendo dito enfaticamente que aquilo que contamina o homem não são os alimentos, mas o pecado. "Assim vós também não entendeis? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar...? E assim considerou ele puros todos os alimentos. E dizia: O que sai do homem, isso é o que o contamina. Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura" (Mc 7.18 ss.). Isaías aprendera a lição há séculos. Quando ouviu os serafins proclamarem no templo a santidade de Deus, foi compelido a exclamar: "Ai de mim!... porque sou homem de lábios impuros". Ele foi forçado a reconhecer-se incapaz de ter comunhão com Deus, e, de fato, "perdido" — condenado — face a reação adversa que o Deus santo certamente demonstraria para com a sua imundícia (Is 6.3-5).

3.      É  um estado de depravação. Isso nos mostra a relação entre o atual estado do pecador e a imagem de Deus, na qual ele foi criado. Em essência, essa imagem era a retidão (cf. Ec 7.29). Conforme fora criado por Deus, o homem possuía uma mente conhecedora da vontade de Deus e um coração que se regozijava nessa vontade, amando-a e praticando-a. Fazia parte da natureza do homem, então, ser santo, como Deus é santo. No entanto, não é assim agora. A mente humana está entenebrecida no tocante às realidades espirituais, a sua vontade se alienou da vontade de Deus, a sua consciência é insensível à voz de Deus (cf. Ef 4.18, 19). O homem tornou-se não apenas fraco, mas também mau aos olhos de Deus; e agora é inegavelmente perverso e ímpio (Rm 5.6). Moral e espiritualmente, o caráter do homem estampa a imagem de Satanás, e não a de Deus. Ora, é precisamente isso o que a Bíblia quer dizer quando fala sobre o homem caído no pecado como "filho do diabo" (Jo 8.44; Mt 13.38; At 13.10 e 1 Jo 3.8).

Essa depravação, essa distorção da imagem de Deus, é comumente e corretamente tida como total: não no sentido que no homem tudo é tão mau quanto possa ser, mas no sentido que no homem coisa alguma é tão boa quanto deveria ser. Nada do que o homem faz é bom, nem o exercício de quaisquer de suas faculdades tem qualificação aos olhos de Deus. Até mesmo quando certos homens de moralidade "procedem por natureza de conformidade com a lei" (o que ocorre com certa frequência — Rm 2.14; cf. Mt 7.11), seus corações mostram-se errados. Cada ação deles é viciada, voltada de alguma maneira para seus próprios interesses, pois o motivo do pecador sempre é algo mais (e, portanto, sempre algo menos) do que o puro amor a Deus, a pura consideração para com a vontade de Deus e ó puro desejo por sua glória. Em cada ato humano, em algum ponto, manifesta-se sempre a corrupção. Deus, que lê o coração, vê tudo isso, mesmo quando o homem nada percebe. "Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum" (Rm 7.18).

4.      É um estado de incapacidade. Isso nos mostra a relação entre o pecador e Deus na qualidade de Legislador, e os preceitos de sua lei. Deus não alterou a sua santa lei, desde a Queda (e como poderia Ele fazê-lo?). Ele continua exigindo de nós um perfeito amor a Si e ao nosso próximo. Seu direito de ordenar e a retidão daquilo que Ele ordena não é afetado pela depravação de nossa natureza. O que foi afetada foi a nossa capacidade de obedecer aos seus mandamentos. Antes de cair no pecado, Adão tinha em si esta capacidade de obedecer a Deus, mas nós não a temos. Como podemos amar a Deus, se o impulso que vem do mais profundo de nosso ser é inimizade contra Ele? Para nós, isso é simplesmente impossível. "O pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus" (Rm 8.7, 8). E quando Deus ordena àqueles que estão na carne que se arrependam (At 17.30) e confiem em seu Filho (Jo 6.28, 29), eles não podem atender enquanto seus corações não forem renovados (cf. Jo 3.5; 6.44; 1 Co 2.14).

Em vista disso, nossa vontade é livre? A resposta mais simples e direta é que nossa vontade é livre, mas nós mesmos não somos. Nossa vontade é livre no sentido que temos a capacidade de fazer aquilo que queremos, no campo das ações morais; mas nós mesmos, como descendentes de Adão, somos escravos do pecado (Jo 8.34; Rm 3.9; 6.16-23). Isto significa que, de fato, jamais haveremos de querer, com todo o nosso coração, fazer a vontade Deus. Portanto, em seu estado pecaminoso, o homem jamais pode agradar a Deus. A tragédia do homem jaz precisamente no fato que a sua vontade é livre e que ele tem o poder de fazer aquilo que quer e escolhe fazer; mas, aquilo que ele quer e escolhe é sempre, de alguma forma, para a autoglorificação, e, portanto, é pecaminoso e ímpio, resultando que tudo quanto o homem faz serve para aumentar a sua condenação.

5.      E um estado de ira. Esse termo nos mostra a relação entre o pecador e Deus na qualidade de Rei e, como tal, Juiz (pois nos tempos bíblicos os reis eram juízes, assim como, antes da monarquia, os juízes de Israel na verdade eram reis). No Antigo Testamento, o Rei divino é um guerreiro que batalha contra seus inimigos, impulsionado pela ira, a fim de levá-los à ruína. No Novo Testamento, os pecadores são os inimigos do Rei divino (Rm 5.10) e estão sob a sua ira (Rm 1.18 ss.). O Senhor de todas as coisas, que é o Juiz de toda a terra (Gn 18.25), está agora contra eles. Ora, se Deus está contra os pecadores, segue-se que todas as coisas também lhes são contrárias. Deus governa o seu mundo, mas não para o bem dos pecadores (Rm 1.18-2.16; 1 Ts 2.14-16; Ap 6.15-17).

6.     É um estado de morte. Na Bíblia, a morte e a vida não são conceitos primariamente fisiológicos. Antes, são conceitos espirituais e teológicos. A vida significa comunhão com Deus, na experiência de seu amor; a morte significa estar sem esse privilégio. Os pecadores estão num estado de morte (Ef 2.1) e não têm qualquer outra expectativa, senão a de continuarem nesse mesmo estado (Rm 6.23).

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FONTE: www.josemarbessa.com

18:41

Naum profetizou contra Nínive. Embora aos olhos dos homens o julgamento sobre a capital da Assíria parecesse tardio, sem dúvida alguma aquele dia chegaria. Era a paciência de Deus que o detinha. O SENHOR é tardio em irar-se, mas grande em poder, e ao culpado não tem por inocente; o SENHOR tem o seu caminho na tormenta e na tempestade, e as nuvens são o pó dos seus pés (Naum 1: 3). Note a conexão entre o poder de Deus e Sua paciência. O poder de Deus sobre si mesmo é o que faz com que a Sua ira seja lenta. Quando Moisés intercedeu por Israel, em Números 14: 7, ele se apegou a paciência de Deus ao orar da seguinte maneira: Agora, pois, rogo-te que a força do meu Senhor se engrandeça. Deus tem poder sobre si mesmo para suportar grandes injúrias sem vingança imediata. Ele tem tanto o poder da paciência quanto o poder da justiça.

Não devemos pensar sobre a paciência de Deus como se Ele estivesse sofrendo, como ocorre no caso dos homens. Antes, a paciência de Deus nada mais é do que a disposição de adiar a Sua ira sobre criaturas ímpias. Por mais que uma pessoa sofra muito nesta vida, ainda assim ela sofre menos do que na verdade mereceria, por isso deveríamos ser gratos pela paciência de Deus. Outros termos paralelos nas Escrituras incluem: longanimidade, suportar, ficar em silêncio. Este foi um dos atributos que Deus proclamou pessoalmente a Moisés ao dizer: O SENHOR, o SENHOR Deus, misericordioso e piedoso, tardio em irar-se e grande em beneficência e verdade (Êxodo 34: 6).

I.    A NATUREZA DA PACIÊNCIA DE DEUS.

Em alguns aspectos, a paciência de Deus difere de Sua bondade e misericórdia. A misericórdia olha para as criaturas como miseráveis; a paciência as vê como criminosas. A misericórdia se compadece do pecador; a paciência suporta os seus pecados. A misericórdia não teria lugar se a paciência não preparasse o caminho; paciência é o primeiro sussurro da misericórdia. A bondade se estende a todas as criaturas em seu estado original, assim como a todas as criaturas terrenas em seu estado de caídas; paciência com respeito ao homem em particular, considerado como uma criatura culpada. O adiamento do castigo dos anjos caídos não deve ser chamado de paciência, porque onde não há propósito de misericórdia, também não há o exercício da paciência. A paciência é uma complacência temporária, a fim de permitir a mudança do coração. Se o pecado não tivesse entrado no mundo, Deus nunca teria exercido paciência.

A paciência de Deus não está fundamentada em algum tipo de fraqueza da Sua parte. Não é pelo fato de Ele ser incapaz de irar-se, ou que ignore as provocações, ou mesmo que não seja capaz de cumprir Suas promessas. Ele vê e considera cada pecado, pois diz: Estas coisas tens feito, e eu me calei; pensavas que era tal como tu, mas eu te arguirei, e as porei por ordem diante dos teus olhos (Salmo 50: 21).

A paciência de Deus não é fruto da covardia, fraqueza de espírito, ou falta de poder, como normalmente ocorre com os homens. O poder de Deus não diminuiu desde que Ele criou o mundo a partir do nada. Mas bastaria apenas uma só palavra, vinda de Sua boca, para que a criação voltasse a ser “nada” novamente. Ele pode tirar a vida de qualquer pessoa a qualquer momento.

Ao invés da falta de poder sobre Suas criaturas, a paciência de Deus está fundamentada na plenitude do poder que Ele tem em si mesmo. A pessoa considerada mais fraca é aquela que tem menos controle sobre as suas paixões. Portanto, Provérbios 16: 32 diz: Melhor é o que tarda em irar-se do que o poderoso, e o que controla o seu ânimo do que aquele que toma uma cidade. Deus tem tal domínio sobre Si mesmo, que é incapaz de ter qualquer tipo paixão semelhante a dos homens. O Seu exercício de paciência é um dos maiores argumentos a respeito do Seu poder de criar o universo. Deus suportou com muita paciência os vasos de ira, através dos quais Ele demonstraria o Seu poder (Romanos 9: 22). Nós vemos mais do Seu poder através da Sua paciência do que da Sua ira.

O exercício da paciência de Deus é o fundamento da morte de Cristo. Isso fica evidente pelo fato de Deus não ter demonstrado paciência para com os anjos caídos, pois Ele os colocou sob castigo assim que pecaram. Cristo não morreu por eles, mas pelo homem. Mesmo aqueles homens que Ele não redimiu em Sua morte, receberam certos benefícios temporais disso, especialmente por desfrutarem da paciência de Deus. Neste sentido, é dito a respeito de Cristo que Ele resgatou aqueles sobre os quais virá repentina destruição, e cuja perdição não dormita (II Pedro 2: 1-3). Ele comprou o direito da continuidade de suas vidas, e aguarda a sua execução, a fim de que a oferta da graça pudesse ser feita a eles. Como a graça não pode ser encontrada fora de Cristo, assim a paciência não poderia ser conhecida sem o sacrifício de Cristo. A vinda de Cristo foi o motivo pelo qual vemos Deus exercendo a Sua paciência nos tempos do Velho Testamento. Hoje, o ajuntamento dos Seus eleitos é o motivo do exercício da Sua paciência.

Nenhum outro atributo impede o exercício da paciência de Deus. A veracidade das ameaças de castigo não é violada simplesmente porque Deus espera muito tempo para cumpri-las. Nos quarenta dias que Ele concedeu a Nínive, através de Jonas, a mensagem era clara quanto à condição de arrependimento da parte deles, caso contrário, a cidade não seria poupada. Da mesma maneira, a ameaça de morte feita a Adão, caso ele comesse da árvore proibida, não foi cumprida até onde a compreensão da morte eterna pudesse ser alcançada, pois um Fiador se apresentou, cuja morte honra mais a Deus do que se o próprio Adão tivesse morrido. Tampouco a paciência de Deus entra em desacordo com a Sua justiça e retidão. Nunca achamos que um juiz esteja errado por adiar um julgamento ou a execução do mesmo por razões justas. E que ninguém pense o contrário por achar que Deus não tenha bons motivos para exercitar Sua paciência! Ele não tem prazer em ver a morte do Seu povo (II Pedro 3: 9 – a longanimidade diz respeito a nós, isto é, aos Eleitos de Deus, a quem a promessa é feita). Deus glorificou Sua justiça em Cristo, e a Sua paciência agora está em perfeita harmonia com a Sua justiça. Além disso, Deus tem o direito de escolher o tempo e ocasião que melhor lhe agrada para executar o julgamento dos malfeitores. Os tempos e estações estão nas mãos e no poder do Pai (Atos 1: 7). A justiça tem toda a eternidade para demonstrar a si mesma, mas a paciência não. Ao invés de ser violada, a justiça se faz mais visível pela paciência de Deus, toda objeção contra a justiça será mais do que removida, por causa da grande paciência que Deus tem demonstrado para com os pecadores.

II.    COMO A PACIÊNCIA DE DEUS É MANIFESTADA.

Consideremos alguns exemplos gerais:

Ele manifestou Sua paciência a Adão e Eva. Deus os poderia ter matado no momento em que eles primeiramente consentiram com a tentação, porque foi assim que o pecado teve início, pois comer foi mais o fim de um ato do que propriamente o seu começo. Ao invés disso, Deus permitiu que Adão vivesse 930 anos. Permitir que a raça humana viva até hoje, é um testemunho da Sua paciência.

Deus manifestou Sua paciência aos Gentios. Seus crimes, descritos em Romanos 1, são abundantemente suficientes para que a ira do Todo-Poderoso caia sobre eles num só momento. Entretanto, Deus é tão grandiosamente paciente, que não leva em conta os tempos da ignorância (Atos 17: 30). Ele pisca como se não os visse, não os chamando para prestar constas dos seus pecados neste determinado momento.

Deus manifestou Sua paciência com Israel. Embora Deus soubesse que eles eram um povo obstinado, suportou os seus costumes no deserto (Atos 13: 18). Deus os suportou por quase mil e quinhentos anos, desde a época do Êxodo, até a destruição da cidade de Jerusalém pelos Romanos.

Vamos considerar agora algumas maneiras específicas pelas quais Deus manifesta este atributo:

1.    Ele avisa de antemão os Seus julgamentos. Muitas páginas do Velho Testamento são uma prova clara disso. Quantos profetas de Deus foram enviados com uma mensagem de desgraça iminente! Enoque e Noé avisaram os antediluvianos. Todo julgamento extraordinário que sobreveio a Israel foi profetizado; desde a fome no Egito, profetizado por José; até a desolação de Jerusalém, predita por Cristo. O propósito claro destes avisos era evitar que Deus derramasse a Sua ira. Antes que Ele fira, Ele levanta a sua mão e agita a Sua vara, a fim de que o homem perceba e evite ser castigado. Através de Jonas, Deus ameaçou Nínive com destruição, para que o arrependimento daquela cidade pudesse evitar o cumprimento da profecia. Ele ruge como um leão, para que o homem ouça a Sua voz e proteja-se a si mesmo de ser despedaçado pela Sua ira.

2.    Deus adia os Seus julgamentos, mesmo que os rebeldes não se arrependam. Quantas vezes não se executa logo o juízo sobre a má obra (Eclesiastes 8: 11)! Enquanto Deus prepara as Suas flechas, espera pacientemente por uma ocasião para colocá-las de lado, e embotar suas pontas. Ele disse a Israel: Porque não tenho prazer na morte do que morre, diz o Senhor DEUS; convertei-vos, pois, e vivei (Ezequiel 18: 32). Ele pacientemente restringiu a Sua ira sobre Sodoma, até chegar ao ponto máximo que Sua justiça suportava, não permitindo mais restringi-la. Ele suportou a iniquidade dos Amorreus por quatrocentos anos (Gênesis 15: 16). Ele prolongou o julgamento de Acabe por causa de uma mera sombra de humilhação da sua parte. Ele esperou quarenta anos para se vingar da geração que crucificou Seu Filho Unigênito.

3.    Quando Deus já não pode mais adiar, então Ele executa Seus juízos, mas como se não desejasse fazê-lo. Porque não aflige nem entristece de bom grado aos filhos dos homens (Lamentações 3: 33). As profecias carregadas com julgamentos são chamadas de peso do Senhor, não somente porque são um peso para aqueles que o recebem, mas também para Aquele que os envia. Vemos o mesmo pesar no dilúvio: Então arrependeu-se o SENHOR de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração (Gênesis 6: 6). Considere ainda as Suas palavras em Oséias 6: 4: Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque a vossa benignidade é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa. Por isso o Salmista exclama: Ele, porém, que é misericordioso, perdoou a sua iniquidade; e não os destruiu, antes muitas vezes desviou deles o seu furor, e não despertou toda a sua ira (Salmo 78: 38), como se Ele estivesse indeciso quanto ao que fazer. Uma vez que o julgamento se inicie, ele ocorre gradualmente. Primeiro vem a lagarta, em seguida o locusta, depois a locusta, e por último, o pulgão (Joel 1: 4).

4.    Deus ameniza os Seus julgamentos ao enviá-los. Ele não esvazia a Sua aljava de uma vez, nem abre todo o seu arsenal. Ele frequentemente pune alguns poucos, para que sirvam de exemplo, ao passo que poderia punir a todos. Esdras assim orou: E depois de tudo o que nos tem sucedido por causa das nossas más obras, e da nossa grande culpa, porquanto tu, ó nosso Deus, impediste que fôssemos destruídos, por causa da nossa iniquidade, e ainda nos deste um remanescente como este (9: 13). Deus não amaldiçoou a terra para que não produzisse fruto, mas que esta desse fruto mediante o trabalho cansativo da parte do homem. Até mesmo quando nos castiga, Deus ainda assim nos auxilia.

5.    Deus pacientemente continua a derramar Suas misericórdias, mesmo depois de O provocarmos. Enquanto o homem continua no pecado, Deus continua a manter as Suas misericórdias da graça comum. Israel murmurou ao chegar ao Mar Vermelho, e ainda assim Deus realizou uma extraordinária libertação ali.

6.    Tudo isso é espantoso, principalmente quando consideramos as nossas muitas provocações contra Deus. Não devemos subestimar a enormidade dos nossos pecados. Cada um deles é uma alta traição contra o Rei dos céus. Sua justiça, santidade, e onisciência clamam por um julgamento, mas a paciência absoluta adia o julgamento por um tempo. A quantidade de pecado que temos cometido é estrondosa, muito além do que poderíamos calcular. Quantos pecados um homem comete durante toda a sua existência? Quantos pecados de omissão podem ser contabilizados? Quantas provocações feitas aqui na terra se levantam contra os céus em apenas um único dia? E considere o quanto Deus tem sido paciente com este mundo. Por seis mil anos, cada canto da terra tem participado das riquezas da bondade, tolerância, e longanimidade de Deus. Nenhum pecado lhe é oculto, e não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar (Hebreus 4: 13). Como a paciência de Deus é grande! Os anjos ficariam felizes de receber uma ordem vinda do trono de Deus para destruir imediatamente este mundo ímpio, e somente a paciência de Deus é que poder deter tal fúria.

III.    PORQUE DEUS EXERCE TANTA PACIÊNCIA.

Ao exercer paciência, Deus se mostra a si mesmo apaziguável. Ele nãos se mostra implacável, mas reconciliável. A Sua paciência mostra ao homem que ele pode encontrar um Deus que lhe é favorável, caso o busque e o siga. O fato de Deus não ter destruído Adão e Eva imediatamente, mas suportado a ambos, demonstrou Sua paciência e deu assim ao homem a esperança de algo melhor, mesmo que isso não tivesse sido claramente revelado. Até os pagãos, que só testemunham da glória de Deus nos céus (Salmo 19: 1), deveriam deduzir que Aquele que os criou é misericordioso, a despeito de tantas ofensas que eles tem cometido. E contudo, não se deixou a si mesmo sem testemunho, beneficiando-vos lá do céu, dando-vos chuvas e tempos frutíferos, enchendo de mantimento e de alegria os vossos corações (Atos 14: 17). Deus não está fingindo ser amigo dos Seus inimigos, mas na verdade está se mostrando amigável, encorajando-os ao arrependimento, e dando-lhes uma base firme de esperança de perdão.

Ao exercer paciência, Deus concede aos homens uma ampla oportunidade de arrependimento. Ele diz exatamente isso a respeito de Jezabel, a mulher citada na igreja de Tiatira. E dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua prostituição; e não se arrependeu (Apocalipse 2: 21). Pedro escreveu que a longanimidade do Senhor é salvação (II Pedro 3: 15), isto é, a paciência de Deus é a Sua solicitação para que o homem atenda aos meios de salvação. Pedro continua a dizer que Paulo, inspirado por Deus, escreveu a mesma coisa, referindo-se, é claro, a Romanos 2: 4; o qual nos diz que a bondade de Deus conduz o homem ao arrependimento. A bondade e longanimidade nos tomam pela mão, apontando para onde devemos seguir. Já que todo homem por natureza sabe que os pecadores merecem o julgamento de Deus (Romanos 1; 22), então eles não poderiam racionalmente interpretar mal a paciência exercida por Ele, considerando-a como uma forma de aprovação dos seus pecados. Um raciocínio saudável deveria levá-los a pensar que a lentidão da ira de Deus, e a Sua disposição em adiar o Seu julgamento, são provas claras da Sua divina paciência.

O exercício da paciência de Deus permite a propagação da humanidade. Sem paciência, nenhuma raça procederia de Adão. A honra de Deus seria manchada, pois Deus formou a terra, e a fez; ele a confirmou, não a criou vazia, mas a formou para que fosse habitada (Isaías 45: 18).

Deus exercita paciência para a continuidade da aliança feita com Seu povo. Este é um propósito especial da parte de Deus. Ele é paciente com a humanidade em geral, pois é dela que Deus chama os Seus eleitos para a salvação. Eles procedem desta fonte de pecadores. Uma mulher condenada à pena capital não poderia ser executada caso estivesse grávida, mas o adiamento ocorria por causa da criança, e não por causa dela. Da mesma maneira, se Deus tivesse executado o rei Acaz por causa do seu pecado, o rei Ezequias, que foi um bom rei, nunca teria nascido. Deus suportou por muito tempo a rebelião de Israel, e isso por causa do Salvador dos pecados que nasceria daquela nação. É por causa do Seu próprio nome que Ele adia a Sua ira. Como um capitão paciente, Deus espera até que todos os Seus passageiros estejam a bordo.

A paciência que Deus exerce com o ímpio é para o bem do Seu povo. Arrancar o joio agora, iria prejudicar a boa planta. Deus pouparia Sodoma se pudesse contar nos dedos da mão um número de pessoas tementes a Deus naquela cidade. Ele também usa o ímpio para aperfeiçoar a paciência dos santos. Ao demonstrar esta paciência com os ímpios, Deus nos prova ou nos protege, e isso para o nosso próprio proveito.

Através da paciência de Deus, os pecadores são deixados sem desculpas, e a Sua ira santa é justificada mais ainda. Como a sabedoria é justificada por seus filhos, assim também a justiça com aquele que se rebela contra a paciência. Como os homens podem culpar a Deus por alguma ofensa contra eles, quando na verdade eles é que rejeitam a Sua oferta? Já que Deus tem o direito de castigar o homem, a despeito de este ter cometido apenas um pecado, sendo que Ele pacientemente tem suportado inúmeros, não ficará o homem totalmente inescusável por continuar no pecado? Por isso, todo pecador é incontestavelmente merecedor da ira de Deus. Deus é longânimo aqui, para que a Sua justiça seja evidenciada publicamente no futuro.

Finalmente, as implicações práticas deste atributo devem ser aplicadas aos nossos corações.

I.    INSTRUÇÃO.

A paciência de Deus é abusada. Em última análise, todo pecador é culpado deste abuso. Muitos homens olham para a paciência de Deus de forma errada, ao considerarem que isso não passa de uma negligência ou um descaso da Sua parte. Alguns até imaginam que isso seja uma forma de consentimento com o seu pecado, fazendo com que Deus seja um cúmplice de seus crimes. Pelo fato de Deus permanecer em silêncio, os homens pensam que Ele seja totalmente parecido com eles (Salmo 50: 21). Qualquer um que continue na prática do pecado, abusa da paciência de Deus, como se Deus os estivesse protegendo, enquanto se rebelam contra Ele. Quantos homens cessaram de pecar enquanto estavam sob a vara de Deus, mas assim que Ele, em Sua paciência, retirou a vara, eles retornaram aos seus antigos caminhos! Eles agem como se Deus tivesse reabastecido a Sua paciência e assim pudessem continuar pecando mais ainda. Desta forma, a paciência que deveria amolecer seus corações, acaba por endurecê-los. O Faraó foi de certo modo descongelado pelos castigos, mas congelado novamente quando Deus o rejeitou. Os homens abusam deste atributo ao tomarem coragem de ir mais fundo, abraçando pecados ainda maiores. Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para fazer o mal (Eclesiastes 8: 11).

O abuso deste atributo é um grande mal. Cada novo pecado que se comete contra a paciência gradativa de Deus, faz com que o pecado se torne mais grave, e digno assim de um maior castigo.

É muito perigoso abusar da paciência de Deus, pois ela terá um fim. Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem (Gênesis 6: 3). A Sua paciência termina quando o homem parte desta vida. Deus tem a ira para punir assim como a paciência para suportar. Que ninguém pense que Deus não exercerá a sua ira simplesmente porque Ele é tardio em irar-se (Êxodo 34: 6). Embora a paciência sobrepuje a justiça ao suspendê-la, a justiça finalmente sobrepujará a paciência ao silenciá-la totalmente. Deus é lento para tirar uma flecha da Sua aljava, e lento ao levá-la até o arco, mas nunca erra o seu alvo. Ele suportou a nação de Israel por muito tempo, mas a pulverizou até as cinzas pelo poder do império Romano! Quanto mais a Sua paciência é abusada, maior será o exercício da Sua ira. Enquanto o homem está abusando deste atributo, Deus está afiando a Sua espada. Quanto mais eles pecam, mais cortante fica o fio da espada. Quanto mais Ele toma fôlego para soprar, maior será a queda deles. E finalmente quando o juízo chegar, este será rápido e severo. Então veremos que teria sido muito melhor ter sido castigado antes, do que ter abusado da paciência de Deus e acumulado um grande tesouro de ira. Um dos grandes tormentos do inferno será o de lembrar-se da longanimidade de Deus e o seu inescusável abuso.

Este atributo explica por que Deus permite que Seus inimigos oprimam o Seu povo, pois só assim podemos ver o poder que Ele exerce sobre si mesmo. Deus não teria adquirido um nome tão grande nos dias de Moisés, se tivesse eliminado Faraó na sua primeira perseguição contra a nação de Israel.

Este atributo explica por que Deus permite que o pecado ainda permaneça naqueles que foram regenerados, pois só assim podemos pessoalmente conhecer a sua paciência. No céu, não haverá lugar para este atributo, pois não haverá mais provocações. Este mundo é o único lugar para a paciência ser demonstrada. Na eternidade, este atributo permanecerá guardado na Divindade.

II.    CONFORTO.

A paciência de Deus tem um significado especial para os cristãos. Nosso Pai Celestial é o Deus de paciência e consolação (Romanos 15: 5). A primeira expressão de conforto dada a Noé, após ele sair da arca, foi a confirmação da paciência de Deus, e isso se fez através da promessa de Deus de não mais destruir a terra com um dilúvio (Gênesis 9: 11). Desde que o mundo não melhorou em nada, é evidente que a manifestação da paciência de Deus, para com o novo mundo, é maior do que aquela manifestada ao velho.

Por que a paciência de Deus é um conforto para os cristãos?

- Porque ela prova a graça de Deus para com Seu povo. Se Ele é paciente com aqueles que não se arrependem e creem, certamente o será muito mais com aqueles que reconhecem que tal paciência os conduziu àquele propósito revelado, ou seja, ao arrependimento.

- Porque ela é um alicerce firme para confiarmos em Suas promessas. Se as provocações dos homens não são prontamente respondidas com um castigo da parte de Deus, a fé nEle redundará num “bem-vindo benditos de meu Pai.”

- Porque ela é um grande conforto nas enfermidades. O que seria de nós se Deus trouxesse cada um Seus santos para prestar contas dos pecados? Não poderíamos nem sequer completar uma oração! Mas Deus é um Pai paciente, e nos poupa como um homem poupa a seu filho, que o serve (Malaquias 3: 17). Pense em como Ele suporta a nossa adoração e serviço imperfeitos!

III.    EXORTAÇÃO.

Vamos meditar sempre sobre a paciência de Deus. Como podemos nos esquecer deste atributo, quando ele está presente em cada pedaço de pão e em cada respiração? Nada agrada mais ao Diabo do que distorcer este atributo em nossas mentes. Mas meditar nessa excelente perfeição de Deus fará:

- Que Deus nos seja mais amável. Em alguns aspectos, este atributo é mais espantoso do que Sua bondade, a qual é demonstrada a toda criação. A paciência tem a ver com as criaturas caídas.

- Que o nosso arrependimento seja mais frequente e mais sério. Ao percebermos que pecamos contra um Deus tão gentil, isso deveria nos envergonhar perante Ele. O fato de ainda existirmos não é um testemunho da pequenez dos nossos pecados, mas da imensidão da paciência de Deus. Oh, miserável homem que sou, abusando assim da longanimidade de Deus e com isso ofendendo-O! Oh, que infinita paciência, ao usar o Seu poder pra me preservar, quando poderia usá-lo para me condenar!

- Que fiquemos mais ressentidos com as injúrias que outros cometem contra Deus. Qualquer paciente que sofre atrai a compaixão dos homens. Quando vemos a paciência de Deus sendo menosprezada pelos homens, isso deveria nos levar a defender a Sua causa.

- Que sejamos pacientes sob a vara da mão de Deus. Se levássemos em conta o quanto Ele nos poupa, certamente daríamos graças nas tribulações ao invés de murmurar.

Vamos admirar e nos maravilhar com tamanha paciência, louvando a Deus por isso. Se tivéssemos roubado o nosso vizinho, ele certamente se vingaria, a menos que fosse muito fraco para fazê-lo. Nós temos feito pior com Deus, e ainda Ele mantém a Sua espada na bainha. Certamente que no céu, uma grande parte dos nossos hinos será em louvor a paciência que Deus demonstrou para conosco, ao nos chamar em Cristo; e em preservar a nossa vida; a despeito dos incontáveis insultos que cometemos contra Ele. Somente quando estivermos em uma distância segura, e contemplarmos de longe o inferno de que somos merecedores, é que reconheceremos o quanto somos devedores a Deus. Assim como Paulo, vamos olhar para nós mesmos como aqueles a quem Deus mostrou toda longanimidade (I Timóteo 1: 16).

A fim de elevar os nossos pensamentos a respeito deste atributo, vamos ressaltar alguns pontos:

- O número dos nossos pecados. Cada minuto que vivemos, o fato de sermos pecadores fica mais evidente, assim como o exercício da paciência de Deus. Pense no efeito que um só pecado causou sobre Adão, ou Moisés, ou Ananias e Safira. Agradeça a Deus por Ele exercer paciência conosco!

- Que somos criaturas vis. Vamos permanecer em espanto diante da glória de Deus, que condescendeu em descer e esperar por nós, que não passamos de vermes da terra.

- Como é sublime e santo Aquele que espera por nós. Um momento de paciência da parte de Deus transcende toda a paciência, de todas as criaturas combinadas ao mesmo tempo.

- O quanto Ele tem sido paciente até aqui. Um homem condenado a pena capital, considera um privilégio o adiamento de sua sentença por trinta dias, mas Deus tem dado a muitos homens trinta anos ou mais, a despeito das grandes ofensas por eles cometidas. Os que foram condenados ao inferno, reconhecem que foi um ato de bondade da parte de Deus o fato de terem sido poupados apenas um dia, pois desta forma também lhes foi concedido uma oportunidade para se arrependerem.

- O quanto Deus tem sido mais paciente com você do que com outros. Quantas pessoas que cercam a sua vida já morreram e você ainda continua vivo! Os seus pecados são menores do que os deles? Ou será que Deus, de fato, está sendo mais paciente com você? Se Deus já tivesse colocado um fim em sua vida, antes de você ter se preparado para a vida eterna, como seria deplorável a sua condição hoje. Que aqueles cujas vidas passadas se encontravam na cova profunda da morte devem fazer a seguinte consideração: Deus poderia ter tirado a minha vida enquanto estava no caminho da prostituição. Será que você ficará cansado de louvar e engrandecer a Deus por Sua tão grande paciência?

Não devemos tirar conclusões erradas sobre a paciência de Deus. Os pecadores devem entender que embora estejam sob a paciência de Deus, estão também sob Sua ira. Deus se ira todos os dias com o ímpio (Salmo 7: 11). Não continue a desperdiçar as oportunidades tão preciosas que Deus tem dado a você até agora, a fim de você possa abandonar o pecado e voltar-se para Ele. Lembre-se, o inferno está cheio de pessoas que desfrutaram da paciência de Deus. Portanto, você necessita mais do que a Sua paciência. A paciência de Deus diz que Ele é aplacável, mas não que dizer que Ele foi aplacado. Um Deus aplacável é um privilégio somente daqueles que genuinamente se arrependeram dos seus pecados e creram no Senhor Jesus Cristo como único Salvador.

Vamos imitar este atributo de Deus, sendo pacientes com outras pessoas. Como Deus é diferente do homem apressado! Já que Deus se mostra paciente com as nossas muitas injúrias, como podemos ser tão apressados em nos vingar de outras pessoas por causa de uma pequena ofensa? É no contexto de fazer o bem aos nossos inimigos que nosso Senhor nos ensinou a sermos semelhantes a Deus. Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus (Mateus 5: 48). Portanto, vamos demonstrar o poder que Deus exerce sobre o nosso próprio espírito, e sejamos tardios em irar-nos.


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Autor: Stephen Charnock
Tradução: Eduardo Cadete 2011
Fonte: Palavra Prudente

14:26
Dever e Honra - R.C. Sproul
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Há muitos anos atrás estava participando de uma discussão com alguns homens de negócio em Jackson, Mississipi. Durante a conversa um dos homens fez uma referência a um homem o qual não estava presente na reunião. Esse comentou, “Ele é um homem honrado.” Ao escutar esse comentário meus ouvidos se encheram de energia enquanto eu pensava estar ouvindo uma língua estrangeira. Eu me conscientizei que estava no meio do Extremo Sul onde os hábitos dos mais velhos não foram totalmente erradicados, mas esmo assim eu ainda não conseguia me recompor da idéia de alguém nos dias de hoje e nos tempos atuais estava utilizando a palavra honra como um descritivo para o ser humano. O termo honra tornou-se de alguma forma arcaico. Podemos nos lembrar do discurso do General Douglas MacArthur em West Point intitulado, “Dever, Honra, Pátria”, mas isso ocorreu cerca de meio século atrás. Hoje, a palavra honra tem tudo, mas desapareceu da língua Inglesa. Virtualmente, o único momento que vejo a palavra escrita é em adesivos que declaram que o proprietário do carro tem um filho que está na “Lista de Honra Acadêmica”, mas talvez a “Lista de Honra Acadêmica” seja o último vestígio remanescente de um conceito esquecido.

Eu falo sobre honra porque nas listas de dicionários o termo honra aparece como o sinônimo principal para a palavra integridade. Minha preocupação neste artigo é questionada com a seguinte pergunta: “Qual o significado da palavra integridade?” Se utilizamos as definições triviais fornecidas pelos lexicógrafos, como aquela encontrada no dicionário Webster`s •, poderemos ler várias definições. Primeiramente, integridade é definida como “devoção intransigente dos princípios morais e éticos.” Segundo, integridade significa “solidez de caráter.” Terceiro,integridade significa “honestidade.” Quarto, integridade refere-se ao fato de ser/estar “completo ou inteiro.” Quinto e último, integridade significa ser/estar “inalterado em uma personalidade.”

Agora, essas definições descrevem pessoas que são tão raras quanto o uso dos termos honra. Em um primeiro momento, integridade descreveria alguém que poderia ser chamada “uma pessoa de princípio.” A pessoa a qual é uma pessoa de princípio, como se define do dicionário, é alguém intransigente. A pessoa não é intransigente em todos os momentos ou discussões de questões importantes, mas é intransigente em relação à moral e princípios éticos. Essa é uma pessoa que coloca princípio à frente do ganho pessoal. A arte do compromisso é uma virtude em uma cultura politicamente correta, na qual politicamente correto em sua essência é modificado pelo qualificador adjetivado político. Ser político é usualmente ser uma pessoa que se compromete com tudo, inclusive com o princípio.

Também observamos que integridade se refere à solidez de caráter e honestidade. Quando, por exemplo, olhamos no Novo Testamento, na epístola de Tiago , Tiago fornece uma lista de virtudes que devem se manifestar na vida Cristã. No capítulo quinto da carta no versículo 12, ele escreve, “Sobretudo, meus irmãos, não jurem nem pelo céu nem pela terra, nem por qualquer outra coisa. “Mas, deixe que o seu ‘sim’ seja sim, e que seu ‘não’ seja não, para que não caiam em condenação.” Aqui Tiago eleva a probidade da palavra da pessoa, o simples uso do sim e do não, como a virtude que está “acima de tudo.” O ponto de Tiago aqui é que a integridade exige um tipo de honestidade que indica que quando dizemos que faremos alguma coisa, nossa palavra é nosso compromisso. Não devemos exigir juramentos e promessas sagrados para que possamos ser de confiança. Pessoas com integridade podem ser de confiança baseado naquilo que eles falam.

Em nossa cultura, vemos mais e mais a distinção entre político e estadista. Um conhecido fez essa distinção nos seguintes termos: Um político é uma pessoa que foca na próxima eleição, enquanto o estadista é uma pessoa que foca na próxima geração.

Pode-se admitir que exista um tipo de cinismo inerente em tal distinção, a idéia existente que os políticos são pessoas que comprometerão a virtude ou o princípio de compromisso a fim de serem eleitos ou permanecerem no poder. Tal falta de virtude é encontrada não apenas em políticos, mas também são encontrados em igrejas todos os dias, o que parece algumas vezes estarem cheias de ministros que estão bem preparados para comprometer a verdade do Evangelho por cause de sua popularidade atual. Essa é a mesma falta de integridade que destruiu a nação de Israel no Velho Testamento, onde os falsos profetas proclamaram aquilo que as pessoas queriam ouvir, ao invés daquilo que Deus havia lhes mandado falar. Essa é a quinta-essência da falta de integridade.

Quando analisamos o Novo testamento, vemos o exemplo supremo da falta de integridade no julgamento concedido à Jesus pelo Romano Pilatos . Depois de examinar e interrogar Jesus, Pilatos fez o anúncio a multidão clamorosa: “Não acho Nele motivo algum para acusação.” Ainda assim depois da declaração, Pilatos estava disposto a entregar Aquele sem culpa alguma nas mãos da multidão tempestuosa. Essa era uma atitude clara de um compromisso político onde o princípio e a ética foram jogados ao vento a fim de saciar a multidão faminta.

Olhamos novamente no Velho Testamento para a experiência do profeta Isaias em sua visão registrada no Capítulo 6 daquele livro. Lembramos que Isaias viu o Senhor em um trono alto e exaltado assim como os serafins proclamaram: “Santo, Santo, Santo.” Em resposta a sua epifania, Isaias gritou, “Ai de mim,” anunciando uma maldição sobre ele. Ele disse que a razão para essa maldição era porque “Eu estou impuro” ou “arruinado.” O que Isaias experimentou naquele momento foi desintegração humana. Anteriormente a esta visão, Isaias era talvez visto como o homem mais correto na nação. Ele permanecia seguro e confiante em sua própria integridade. Tudo era mantido junto pela sua virtude. Ele se considerava uma pessoa completa e integrada, mas assim que ele viu o modelo e padrão derradeiro de integridade e virtude no caráter de Deus, ele experimentou desintegração. Ele se viu em uma situação ruim, notando que seu senso de integridade era no mínimo uma pretensão.

Calvin indicou que isso é a sina comum entre os seres humanos, os quais enquanto mantêm os seus olhares fixos no nível horizontal e terrestre de experiência, eles são capazes de se vangloriarem e se considerarem com excessiva bajulação pelo fato de serem um pouco menos que semideuses. Mas uma vez que eles elevam o seu olhar para o céu e consideram apenas por um momento o tipo de ser que Deus é, eles se levantam tremendo e estremecendo, tornando-se completamente negando qualquer outra ilusão de sua integridade.

O Cristão é para refletir o caráter de Deus. O Cristão é para ser intransigente em relação aos princípios éticos. O Cristão é chamado a ser uma pessoa de honra o qual palavras podem ser confiadas.


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FONTE: Livros e Sermões Bíblicos
Uma Parte da série Right Now Counts Forever
Tradução por Flavia Martins dos Santos

21:04

O que Paulo escreveu acerca dos judeus não crentes de seu tempo poderia ser dito, creio, com respeito a alguns crentes de hoje: “Porque lhes dou testemunho de que eles têm zelo por Deus, porém não com entendimento”. Muitos têm zelo sem conhecimento, entusiasmo sem esclarecimento. Em outras palavras, são inteligentes, mas faltam-lhes orientação. Dou graças a Deus pelo zelo. Que jamais o conhecimento sem zelo tome o lugar do zelo sem conhecimento! O propósito de Deus inclui os dois: o zelo dirigido pelo conhecimento, e o conhecimento inflamado pelo zelo. É como ouvi certa vez o Dr. John Mackay dizer, quando era presidente do Seminário de Princeton: “A entrega sem reflexão é fanatismo em ação, mas a reflexão sem entrega é a paralisia de toda ação”. O espírito de anti-intelectualismo é corrente hoje em dia.

No mundo moderno multiplicam-se os programatistas, para os quais a primeira pergunta acerca de qualquer idéia não é: “É verdade?” mas sim: “Será que funciona?”. Os Jovens têm a tendência de ser ativistas, dedicados na defesa de uma causa, todavia nem sempre verificam com cuidado se sua causa é um fim digno de sua dedicação, ou se o modo como procedem é o melhor meio para alcançá-lo. Um universitário de Melbourne, Austrália, ao assistir a uma conferência na Suécia, soube que um movimento de protesto estudantil começara em sua própria universidade. Ele retorcia as mãos, desconsolado. “Eu devia estar lá”, desabafou, “para participar. O protesto é contra o que?” Ele tinha zelo sem conhecimento.

Mordecai Richler , um comentarista canadense, foi muito claro a esse respeito: “O que me faz Ter medo com respeito a esta geração é o quanto ela se apóia na ignorância. Ser o desconhecimento geral continuar a crescer, algum dia alguém se levantará de um povoado por aí dizendo Ter inventado... a roda”. Este mesmo espectro de anti-intelectualismo surge freqüentemente para perturbar a Igreja cristã. Considera a teologia com desprazer e desconfiança. Vou dar alguns exemplos.

Os católicos quase sempre têm dado uma grande ênfase no ritual e na sua correta conduta. Isso tem sido, pelo menos, uma das características tradicionais do catolicismo, embora muitos católicos contemporâneos (influenciados pelo movimento litúrgico) prefiram o ritual simples, para não dizer o austero. Observe-se que o cerimonial aparente não deve ser desprezado quando se trata de uma expressão clara e decorosa da verdade bíblica. O perigo do ritual é que facilmente se degenera em ritualismo, ou seja, numa mera celebração em que a cerimônia se torna um fim em si mesma, um substituto sem significado ao culto racional.

Por outro lado, há cristãos radicais que concentram suas energias na ação política e social. A preocupação do movimento ecumênico não é mais ecumenismo em si, ou planos de união de igrejas, ou questões de fé e disciplina; muito pelo contrário, preocupa-se com problema de dar alimento aos famintos, casa aos que não tem moradia; com o combate ao racismo, com os direitos dos oprimidos; com a promoção de programas de ajuda aos países em desenvolvimento, e com o apoio aos movimentos revolucionários do terceiro mundo. Embora as questões da violência e do envolvimento cristão na política sejam controvertidos, de uma maneira geral deve-se aceitar que luta pelo bem estar, pela dignidade e pela liberdade de todo homem, é da essência da vida cristã. Entretanto, historicamente falando, essa nova preocupação deve muito de seu ímpeto à difundida frustração de que jamais se alcançará um acordo em matéria de doutrina.

O ativismo ecumênico desenvolve-se com reação à tarefa de formulação teológica, a qual não pode ser evitada, se é que as igrejas neste mundo devam ser reformadas e renovadas, para não dizer, unidas. Grupos de cristãos pentecostais, muitos dos quais fazem da experiência o principal critério da verdade. Pondo de lado a questão da validade do que buscam e declaram, uma das características mais séria, de pelo menos alguns neo-pentecostais, é o seu declarado anti-intelectualismo. Um dos líderes desse movimento disse recentemente, a propósito dos católicos pentecostais, que no fundo o que importa” não é a doutrina, mas a experiência”. Isso equivale a por nossa experiência subjetiva acima da verdade de Deus revelada. Outros dizem crer que Deus propositadamente dá às pessoas uma expressão inteligente a fim de evitar a passagem por suas mentes orgulhosas, que ficam assim humilhadas. Pois bem. Deus certamente humilha o orgulho dos homens, mas não despreza a mente que ele próprio criou.

Estas três ênfases - a de muitos católicos no ritual, a de radicais na ação social, e a de alguns pentecostais na experiência - são, até certo ponto, sintomas de uma só doença, o anti-intelectualismo.
São válvulas de escape para fugir à responsabilidade, dada por Deus, do uso cristão de nossas mentes.
Num enfoque negativo, eu daria como substituto este trabalho “a miséria e a ameaça do cristianismo de mente vazia”. Mais positivamente, pretendo apresentar resumidamente o lugar da mente na vida cristã. Passo a dar uma visão geral do que pretendo abordar. No segundo capítulo, a título de introdução, apresentarei alguns argumentos - tanto seculares como cristãos - a favor da importância do uso de nossas mentes. No terceiro, constituindo a tese principal, descreverei seis aspectos da vida e responsabilidade cristãs, nos quais a mente tem uma função indispensável. Concluindo , procurarei prevenir contra o extremo oposto, também perigoso, de abandonar um anti-intelectualismo superficial para cair num árido super-intelectualismo. Não estou em defesa de uma vida cristã seca, sem humor, teórica, mas sim de uma viva devoção inflamada pelo fogo da verdade. Anseio por esse equilíbrio bíblico, evitando-se os extremos do fanatismo. Apressar-me-ei em dizer que o remédio para uma visão exagerada do intelecto não é nem depreciá-lo , nem negligenciá-lo, mas mantê-lo no lugar indicado por Deus, cumprindo o papel que ele lhe deu.

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FONTE: "Crer é também pensar - John R. W. Stott
Apenas um trecho do livro.

Reforma Radical

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