Os Sacramentos - João Calvino

20:06
João Calvino
1. NECESSIDADE DOS SACRAMENTOS 
Os  sacramentos  foram  instituídos  para  exercitar  a  nossa  fé  tanto diante de Deus como ante os homens. Ante Deus exercitam a nossa fé confirmando-a na verdade de Deus. o Senhor conhece, em efeito, que para a ignorância de nossa carne é útil  propor-lhe  os  mistérios  excelsos  e  celestiais sob  a  forma  de realidades  visíveis.  Não  é  que  estas  qualidades  estejam  na  natureza das  coisas que  nos  são  propostas  nos  Sacramentos,  senão  que  a Palavra  de  Deus  as  marca  com  este significado. 

A  promessa compreendida  na  Palavra  precede  sempre;  o  sinal  se  agrega  para confirmar e selar esta promessa, e a faz mais segura, pois o Senhor vê que isto convém a nossas pobres aptidões. Nossa fé é tão pequena e tão  fraca  que  se  não  estiver  sustentada  por  todas partes  e  escorada por toda classe de médios, fica logo quebrantada, agitada e vacilante. Ante  os homens,  os  Sacramentos exercitam  a  nossa  fé,  já  que  se manifesta numa confissão pública e deste modo é impelido a louvar ao Senhor.

2. QUE É UM SACRAMENTO
 O  sacramento  é  um  sinal  externo  por  meio  do  qual  o  Senhor representa  e  nos  testemunha sua  boa  vontade  para  conosco,  para sustentar nossa débil fé. De modo mais breve e mais claro: Sacramento é um testemunho da graça de Deus que se manifesta por meio de um sinal exterior. A Igreja cristã só reconhece dois Sacramentos: o Batismo e a Ceia.

3. O BATISMO
Deus nos deu o Batismo, primeiro para servir nossa fé nEle, e depois para servir a nossa confissão ante os homens. A fé olha para a promessa pela que o Pai misericordioso nos oferece a comunhão com seu Cristo para que, revestidos dEle, participemos de todos seus bens. O  Batismo  representa em  particular  duas coisas:  a  purificação  que obtemos  pelo  sangue  de  Cristo,  e  a  mortificação de  nossa  carne  que obtivemos por sua morte. O  Senhor  mandou  que  os  seus  se  batizem  para remissão  dos pecados. E são Paulo ensina que Cristo santifica pela Palavra de vida e purifica  pelo Batismo  de  água  a  Igreja  da  qual  Ele  é  o  Esposo. 

São Paulo  ensina  também  que  somos batizados  na  morte  de  Cristo  sendo sepultados em sua morte para andar em novidade de vida. Isto não  quer  dizer  que  a  água  seja  a  causa,  nem  sequer o instrumento da purificação e da regeneração, senão só que recebemos neste Sacramento o conhecimento  de  estes  dons.  Se  diz que recebemos,  obtemos  e  confessamos  o  que  acreditamos que o Senhor nos dá, já seja que conheçamos estes dons pela primeira vez ou que, conhecendo-os de antes, nos persuadamos deles com maior certeza.

O Batismo serve também a nossa confissão diante dos homens, pois é um sinal pelo qual, publicamente, fazemos profissão de nosso desejo de formar parte do povo de Deus, para servir e honrar a Deus numa mesma religião com todos os fiéis. E  por  quanto  a  aliança  do  Senhor conosco  é  principalmente confirmada pelo Batismo, por isso com toda razão batizamos também os nossos filhos, pois participam da aliança eterna pela que o Senhor promete  que  será  não  só  nosso Deus,  senão  também  o  de  nossa descendência.

4. A CEIA DO SENHOR
A promessa que acompanha o mistério da Ceia aclara com evidência por que tem sido instituído e a que fins tende. Este  mistério  nos  confirma  que  o  corpo  do  Senhor  tem  sido entregado  por  nós numa  única  vez,  e  isto  de  modo  tal  que  agora  é nosso  e  o será também  perpetuamente; pois o sangue  do Senhor foi derramado  por  nós  uma  única  vez  e  de  modo  que  Ele  será  sempre nosso. Estes  sinais  são  o  pão  e  o  vinho,  sob  os  quais  o  Senhor  nos apresenta  a  verdadeira comunhão  de  seu  corpo  e  de  seu  sangue.  E esta uma comunhão espiritual, para a qual bastam os laços do Espírito Santo, já que não requer a presença de sua carne sob o pão, ou a de seu  sangue  sob o  vinho.  Pois  ainda  que  Cristo,  elevado  para  o  céu, deixou  esta  morada  terrena  na  que  nós estamos  ainda  como peregrinos, contudo nenhuma distância pode diminuir seu poder com o qual alimenta  os  seus  de  si  mesmo,  e  lhes  concede,  ainda  estando distanciados  dEle,  desfrutar  de sua  comunhão  de  um  modo  muito íntimo.

E isto no-lo ensina o Senhor na Ceia de um modo tão verdadeiro e manifesto que devemos possuir, sem a mais mínima dúvida, a plena certeza de que Cristo nos é apresentado ali com todas suas riquezas, com maior realidade que se o vissem os nossos olhos, e os tocassem nossas mãos. O poder e a eficácia de Cristo é tão grande que não só outorga na Ceia  a  nossos  espíritos  uma  confiança segura  na  vida  eterna,  senão que  além  da  certeza  da imortalidade  de  nossa  carne;  pois  está  já vivificada com sua carne imortal e participa, de alguma forma, de sua imortalidade. 

Por  isso  o  corpo  e  o  sangue  estão  representados  sob o pão e o vinho, para que aprendamos não só que são nossos, senão que também são vida e alimento. Assim, quando vemos o pão consagrado em corpo de Cristo, devemos pensar imediatamente nesta semelhança; assim  como  o  pão  alimenta e  conserva a vida de nosso corpo, assim também o Corpo de  Cristo  é  o  alimento  e  a  proteção  de nossa  vida espiritual. 

E quando  se  nos  apresenta  o vinho  como  símbolo  de  seu sangue,  devemos  também  considerar que recebemos  espiritualmente do sangue de Cristo os mesmos benefícios que proporciona o vinho ao corpo. E assim, do mesmo modo que este mistério nos ensina quão grande é a generosidade divina conosco, da mesma maneira nos insta também a não sermos ingratos ante uma bondade tão manifesta, exortando-nos a louvá-la como convém e a celebrá-la com ações de graças.

Finalmente, este Sacramento nos exorta a unir-nos uns com outros do  mesmo modo  que  se  unem entre sim  os  membros  de um  mesmo corpo. Nenhum incentivo mais poderoso e mais eficaz se nos podia dar para promover e excitar entre nós uma mútua caridade como o de que Cristo, ao dar-se a nós, nos convide só com seu exemplo a dar-nos e consagrar-nos uns aos outros, senão que, fazendo-se comum a todos, nos faz também a todos um em si mesmo.


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* Texto extraído da quinta parte do livro e-book por título: "Breve Instrução Cristã"
* Fonte: Biblioteca Evangélica Virtual
* AUTOR: Juan Calvino
* SITE: www.iglesiareformada.com
* CÓPIA: segunda-feira, 28 de janeiro de 2008, 13:46:03
* Tradução do espanhol realizada por Daniela Raffo,