Parte (02) - A Escravidão da Vontade - Martinho Lutero

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Esta é uma versão condensada do clássico de Martinho Lutero,
A Escravidão da Vontade. Publicada inicialmente em 1525.

A Escravidão da vontade Parte II

Argumento 3: O “livre-arbítrio não pode obter aceitação diante de Deus através da observância da lei moral e cerimonial.

Eu argumento que quando Paulo disse em Romanos 3:20,21: “...ninguém será justificado diante dEle por obras da lei”, pensou na lei moral (os dez mandamentos), bem como lei cerimonial. Tem-se generalizado a ideia de que Paulo tinha em mente apenas a lei cerimonial o ritual de sacrifícios de animais e a adoração no templo. É espantoso que chamem Jerônimo, que criou essa ideia, de santo! Eu o classificaria de forma bem diferente! Jerônimo Declarou que a morte de Cristo pôs fim a qualquer possibilidade de alguém ser justificado (ou declarado justo) por meio da observância da lei cerimonial. Mas deixou inteiramente aberta a possibilidade de alguém ser justificado mediante a observância da lei moral, contando apenas com as suas próprias forças, sem a ajuda de Deus.

Minha resposta a isso é que se Paulo Quis dar a entender somente a lei cerimonial, então o argumento do apostolo não tem qualquer significado. Paulo estava afirmando que todos os homens são injustos e necessitados da graça especial de Deus o amor, a sabedoria e o poder de Deus por intermédio dos quais Ele nos salva. O resultado da ideia de Jerônimo seria que a graça de Deus é necessária para salvar-nos da lei cerimonial, mas não da lei moral.

Todavia, nós não podemos observar a lei moral à parte da graça divina. Você pode intimidar as pessoas para que observem as cerimonias, mas nenhum poder humano pode força-las a guardar a lei moral. Paulo estava argumentando que não podemos ser justificados diante de Deus mediante a tentativa de guardar a lei moral, ou mesmo a lei cerimonial. Comer e beber, e fazer outras coisas semelhantes, Em si mesmos, nem nos justifica nem nos condena.

Irei ainda mais longe, afirmando que Paulo queria dizer que a totalidade da lei, e não alguma porção particular dela, é obrigatória a todos os homens. Se a lei não se aplicasse mais aos homens devido a morte de Cristo, tudo quanto Paulo precisava dizer era isto e nada mais. Em Gálatas 3:10, Paulo escreveu: “Todos quantos, pois, são das obras da lei, estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as cousas escritas no livro da lei, para praticá-las”. Nesse texto, Paulo busca apoio em Moisés para afirmar que a lei é imposta sobre todos os homens, e que o fracasso na obediência à lei sujeita todos os homens à maldição divina.

Nem os homens que procuram obedecer a lei, nem aqueles que não tentam guarda-las estão justificados diante de Senhor, porquanto todos estão espiritualmente mortos. O ensinamento de Paulo é que há duas classes de pessoas no mundo aquelas que estão espiritualmente vivas e aquelas que não estão. Isso está em harmonia com o ensinamento de Jesus Cristo em João 3:6: “O que é nascido da carne, é carne; e o que nascido do Espírito, é espírito”. Para as pessoas que não possuem o Espírito Santo, a lei é sem utilidade. Não importa quanto procurem guardar a lei, não serão justificadas exceto pela fé.

Finalmente, portanto, se existe tal coisa como “livre-arbítrio”, deve ser a mais nobre das capacidades humanas, porque, mesmo sem o Espírito Santo, professa possibilitar o homem a guardar a lei inteira! Entretanto, Paulo assevera que aqueles que são das “obras da lei” não estão justificados. Isso significa que o “livre-arbítrio”, mesmo considerado por seu melhor ângulo, é capaz de corrigir a situação do homem diante de Deus. De fato, em Romanos 3:29, Paulo afirma que a lei é necessária para mostrar-nos no que consiste o pecado: “...pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”. Aqueles que são das “obras da lei” não são capazes de reconhecer o que o pecado realmente é. A lei não foi dada a fim de mostrar aos homens o que eles podem fazer, mas para corrigir as suas ideias sobre o que é o certo e o errado aos olhos de Deus. O “livre-arbítrio” é cego, porquanto precisa ser ensinado pela lei. E também é importante, pois não consegue justificar a ninguém diante de Deus.

Argumento 4: A lei tem o propósito de conduzir os homens a Cristo, dando-lhes o conhecimento do pecado.
O argumento a favor do “livre-arbítrio” é que a lei não nos teria sido dada se não fossemos capazes de obedecê-la. Erasmo, por repetidas vezes você tem dito: “Se nada podemos fazer, qual é o propósito das leis, dos preceitos, das ameaças e das promessas?” A resposta é que a lei não foi dada para mostrar-nos o que podemos fazer. Nem mesmo a fim de ajudar-nos a fazer o que é correto. Diz Paulo, em Romanos 3:20: “...pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”. O propósito da lei foi o de mostrar-nos no que consiste o pecado e ao que ele nos conduz à morte, ao inferno e à ira de Deus.

A lei só pode destacar essas coisas. Não pode livrar-nos delas. O livramento nos chega exclusivamente através de Cristo Jesus, que nos é revelado através do Evangelho. Nem a razão nem o “livre-arbítrio” podem conduzir os homens a Cristo, visto que a razão e o “livre-arbítrio” precisam da luz da lei para mostrar-lhes sua enfermidade. Paulo faz está indagação em Gálatas 3,19: “Qual, pois, a razão de ser da lei?” Entretanto, a resposta de Paulo à sua própria pergunta é o contrário da resposta que você e Jeronimo dão. Você diz que a lei foi dada a fim de provar a existência do “livre-arbítrio”. Jeronimo diz que ela tem o propósito de restringir o pecado. Mas Paulo não diz nada disso. Seu argumento todo é que os homens precisam de graça especial para combaterem contra o mal que a lei desvenda. Não Pode haver cura enquanto a enfermidade não for diagnosticada. A lei é necessária para fazer os homens perceberem a perigosa condição em que estão, a fim de que anelem pelo remédio que se encontra somente na pessoa de Cristo. Portanto, as palavras de Paulo, Romanos 3,20, podem parecer muito simples, mas elas têm poder suficiente para fazer com que o “livre-arbítrio” seja total e completamente inexistente.

Diz Paulo em Romanos 7,7: “...pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás”. Isso significa que o “livre-arbítrio” nem mesmo reconhece o que o pecado é! Como, pois, poderia chegar a conhecer o que é certo? E, se não sabe reconhecer o que é certo, como poderia esforçar-se por fazer o que é certo?

Argumento 5: A doutrina da salvação pela fé em Cristo prova que o “livre-arbítrio” é falso. 
No trecho de Romanos 3,21-25, Paulo proclama com toda a confiança: “Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos (e sobre todos) os que creem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante o redentor que há em Cristo Jesus; a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé...” Essas palavras são quais raios contra a ideia do “livre-arbítrio”. Paulo faz distinção entre a justiça conferida por Deus e a justiça que vem mediante a observância da lei. O “livre-arbítrio” só poderia ser uma realidade se o homem pudesse ser salvo mediante a observância da lei. Não obstante, Paulo demonstra claramente que somos salvos sem dependermos, em absoluto, das obras da lei. Sem importar o quanto possamos imaginar um suposto “livre-arbítrio”, como capaz de praticar boas obras ou de tornar-nos bons cidadãos, Paulo continua asseverando que a justiça dada por Deus é de natureza inteiramente diferente. É impossível que o “livre-arbítrio” consiga resistir a assaltos de versículos como esses.

Esses versículos desfecham ainda outro raio contra o “livre-arbítrio”. Neles, Paulo traça uma linha distintiva entre os crentes e os incrédulos (Rm 3,22).  Ninguém pode negar que o suposto poder do “livre-arbítrio” é bem diferente da fé em Jesus Cristo, conforme Paulo esclarece, ninguém pode se aceito por Deus. E se alguma coisa é inaceitável para Deus, então é pecado. Não pode ser algo neutro. Por conseguinte, o “livre-arbítrio”, se existe, é pecado, visto que se opõe à fé e não redunta em glória a Deus, mas para o homem.

O trecho de Romanos 3,23 constitui-se em mais outro raio. Paulo não diz que todos pecaram, exceto aqueles que praticam boas obras mediante seu próprio “livre-arbítrio”. Não há exceções. Se fosse possível nos tornarmos aceitáveis diante de Deus através do “livre-arbítrio”, então Paulo seria um mentiroso. Ele deveria ter dado margem a exceções. No entanto, Paulo afirma, categoricamente, que em face do pecado ninguém pode realmente glorificar e agradar a Deus. Todo aquele que agrada ao Senhor deve saber que Deus está satisfeito com ele. Porém, a nossa experiência ensina-nos que coisa alguma em nós agrada a Deus. Pergunte àqueles que defendem o “livre-arbítrio” se existe neles alguma coisa que agrada a Deus. Eles serão forçados a admitir que não existe. E é isto que Paulo claramente afirma.

Até mesmo àqueles que acreditam no “livre-arbítrio” precisam concordar comigo que não podem glorificar a Deus, contando apenas com os seus próprios recursos. A despeito do seu “livre-arbítrio”, eles têm dúvidas se podem agradar a Deus. Assim, eu provo, com base no testemunho da própria consciência deles, que o “livre-arbítrio” não agrada a Deus. Apesar de todos os seus esforços e de seu empenho, o “livre-arbítrio” é culpado do pecado de incredulidade. Portanto, vemos que a doutrina da salvação pela fé é completamente contraria a qualquer ideia de “livre-arbítrio”.

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Fonte: http://youtu.be/X2Vk8Dp_0UE -  Canal  "Josemar Bessa"
Transcrição: Necilia Paula
Fonte: trovian.blogspot.com.br