Ortodoxia ou a Perdição - Thomas Watson

13:56
Thomas Watson
“... se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes...” (Cl 1:23).

É dever dos cristãos se firmarem na doutrina. É obrigação dos cristãos serem firmes na doutrina da fé. O apóstolo afirma: “Ora, o Deus de toda a graça..., Ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar” (1 Pe 5:10). Essas palavras ensinam que os cristãos não devem semelhantes aos meteoros do céu, mas como as estrelas fixas. O apóstolo Judas fala sobre “estrelas errantes” (Jd 13). São chamadas estrelas errantes porque, como Aristóteles diz: “elas vão para cima e para baixo vagueando por várias partes do céu; e por não serem feitas do material celeste do qual as estrelas fixas são, mas apenas uma emanação dele, esses corpos celestes algumas vezes caem na terra”. Assim são aqueles que não são firmes na fé. Uma hora ou outra, eles farão como as estrelas cadentes, perderão a firmeza e vaguearão de uma a outra opinião.

Agirão impetuosamente à semelhança da tribo de Ruben (Gn 49:4); como um navio sem lastro, levado por qualquer vento de doutrina. O francês Leodore Beza (1519 – 1603), sucessor de Calvino, escreve sobre Belfectius de quem a religião mudava como a lua. Os arianos, por sua vez, a cada ano mudavam a sua fé. Pessoas assim não são pilares no templo de Deus, mas caniços movidos para todas as direções. O apóstolo chama tal atitude de “heresias destruidoras” (2 Pe 2:1). Uma pessoa pode ir ao inferno tanto por heresia quanto por adultério. Não ser firme na fé é quer julgamento. Se as mentes deles não fossem volúveis, não mudariam tão rápido de opinião. A razão de tal atitude é a falta de substância. Como penas sopradas para todos os lados, assim também são os cristãos sem fé. Como disse Cipriano: “O trigo que não é ajuntado, o vento sora como palha”. Portanto, são comparados às crianças: “para que, não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro...” (Ef 4:14). As crianças são volúveis, às vezes se comportam de um modo e às vezes de outro. Nada lhes agrada por muito tempo. Por isso, cristãos que não são firmes, são infantis. As verdades que abraçam em um momento rejeitam noutro.

O grande propósito da pregação da Palavra é conduzir à firmeza na fé. Efésios 4:11, 12, 14 diz: “E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento doas santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo... para que não mais sejamos como meninos...”. A Palavra de Deus é chamada de martelo (Jr 23:29). Cada pancada do martelo serve para firmar o ouvinte mais e mais em Cristo. Os pregadores se desgastam para fortalecer e firmar o crente. E este é o grande proposito da pregação: não somente guiar no caminho certo, mas manter no caminho. Então, se você não for firmado, não atingiu o propósito de Deus que concedeu a você a instrução.

Firmar-se na fé é tanto uma honra para os cristãos quanto uma qualidade. É sua qualidade. Quando o leite fica firme, vira nata; o cristão zeloso pela verdade andará em comunhão com Deus.
A honra do cristão são as cãs: “Coroa de honra são as cãs, quando se acham no caminho da justiça” (Pv. 16:31). É maravilhoso ver um discípulo idoso, ver cabelos prateados enfeitados com virtudes de ouro. Aqueles que são firmados na fé nunca poderão sofrer ela. Céticos jamais experimentam o martírio. Aqueles que não estão firmes, estão em suspense. Quando pensam nas alegrias do céu se entregam ao Evangelho, mas quando pensam nas perseguições, o abandonam. Cristãos que não são firmes não levam em consideração o que é melhor, mas o que é mais seguro.

Tertuliano diz: “o apóstata parece colocar Deus e Satanás em uma balança e, depois de pesar ambos, prefere servir ao maligno. Proclama-o como o melhor mestre e, neste sentido, expõe Cristo à ignominia” (Hb, 6:6) Ele nunca sofrerá pela verdade, mas será como um soldado que deixa sua farda e corre para o lado do inimigo. Lutará do lado do maligno por lucro.

Não ser firme na fé é provocar a Deus. Dar-se à verdade e depois se desviar traz mal-estar sobre o Evangelho, e isso não ficará sem punição. Tornaram atrás e se portaram aleivosamente como seus pais; desviaram-se como um arco enganoso... Deus ouviu isso, e se indignou, e sobremodo se aborreceu de Israel” (Sl. 78:57,59). O apóstata cai repentinamente na boca do demônio.

Caso você não seja firme na fé, nunca crescerá. Somos ordenados a crescer “naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef 4-15). Contudo, se não estamos firmados, não há crescimento: “a planta que é constantemente transplantada, nunca cresce”. Quem não é firme não pode crescer na piedade, como um osso do corpo não pode crescer se estiver fora da junta.

Há uma grande necessidade de ser firme em razão de tantas coisas que existem para nos abalar. Os sedutores estão por toda parte. E o trabalho deles é afastar as pessoas dos princípios da fé: “Isto que vos acabo de escrever é acerca dos que vos procuram enganar” (1 Jo 2:26). Os enganadores são agentes do maligno; são os grandes bandidos que tentam nos tirar da verdade. Eles têm línguas de prata que podem semear coisas más. Eles são astuciosos em induzir ao erro (Ef 4:14). A palavra grega para astucia, em Efésios 4:14, provém do jogo de dados. Há os que jogam dados e o fazem para vantagem própria.

Sedutores são impostores, podem jogar um dado. Podem dissimular e distorcer a verdade enganando os outros. Sedutores enganam pelo uso inteligente das palavras. Romanos 16:18 diz: “... com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos”. Eles apresentam frases elegantes, uma linguagem bajuladora com a qual atacam o caráter do mais fraco.

Outra astucia dos sedutores é sua pretensa piedade extraordinária, de maneira que muita gente os admira e corrobora suas doutrinas. Parecem homens zelosos, santos e divinamente inspirados, mas simulam novas revelações. Uma terceira enganação por parte dos sedutores é seu trabalho para difamar e anular mestres da boa ortodoxia.

Ofuscam aqueles que trazem a verdade, como a fumaça negra que escurece a luz do céu. Difamam outros para que sejam mais admirados. Assim os falsos mestres depreciam Paulo, a fim de serem o centro das atenções (Gl 4:17). A quarta enganação por parte dos sedutores é sua pregação da doutrina da liberdade. Como se o homem estivesse livre da lei moral, da regra e do castigo, e Cristo tenha feito tudo por eles e não precisassem fazer mais nada. Transformam a doutrina da livre graça em uma porta para toda licenciosidade.

Outra maneira usada pelos enganadores é o estremecimento dos cristãos por meio da perseguição (2 Tm 3:12). O Evangelho é uma rosa que não pode ser arrancada sem espinhos. O legado que Cristo deixou em herança é a CRUZ.

Enquanto houver o diabo e um homem da iniquidade no mundo, não espere a isenção de problemas. Muitos são os que caem na hora da perseguição. Apocalipse 12:3-4, fala sobre “um dragão, grande, vermelho, com sete cabeças, dez chifres e, nas cabeças, sete diademas. A sua cauda arrastava a terça parte das estrelas do céu...”. O dragão vermelho, por seu poder e sutileza, arrastou estrelas, ou destacados mestres, que pareciam brilhar como estrelas no firmamento da igreja.

Não estar firmado no bem é o pecador dos demônios (Jd 6). São chamados “estrelas da alva” (Jó 38-7), mas são “estrelas cadentes”. Eram santos, mas mudaram. A semelhança de um navio que naufragou, eles, quando suas velas (corações) se incharam de orgulho, foram derrubados (1Tm 3:6). Co a inconstância, os homens imitam anjos caídos. O diabo foi o primeiro apóstata. Os filhos de Sião devem ser como o monte Sião que não se abala, mas permanece para sempre.

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Transcrição: Necilia Paula