Os dons desaparecerão da Igreja - Walter J. Chantry

20:09
Em nossos dias, os dons Cessaram!!!
Em nossos dias, os dons Cessaram!!!

"O amor nunca deixa de ser; mas as profecias se acabarão e cessarão as línguas, e a ciência desaparecerá. Porque em parte conhecemos e em parte profetizamos; mas quando vier o perfeito, então o que é em parte se acabará. Quando eu era menino, pensava como menino; mas quando cheguei a ser homem, deixei o que era de menino. Agora vemos por espelho obscuramente; mas então veremos face a face. Agora conheço em parte; mas então conhecerei como também sou conhecido" (1 Cor. 13.8-12).

Os versículos 8-12 fazem referência diretamente o caráter transitório dos dons miraculosos na Igreja. O que temos visto anteriormente noutras partes das Escrituras nos permite esperar isso. Aqui, simples e categoricamente, Paulo o afirma. O amor perdura, não se acabará. Jamais o amor desaparecerá da Igreja. Entretanto, as "profecias", as "línguas" e a "ciência" se acabarão. Estes são os dons mencionados em 12.8-10 como "profecia", "palavra de conhecimento" e "diversos gêneros de línguas". É isso que o apostolo tem em mente. Ele está comparando aqui os dons miraculosos com as graças internas. Ora, seria tolice pensar que o conhecimento, a linguagem e a verdade teriam de desaparecer no sentido absoluto da palavra. Mas, por outro lado, Paulo afirma que os dons desaparecerão da Igreja.

Quando e porque os dons deveriam desaparecer da Igreja é algo claramente declarado nos versículos 9-12. A ciência e a profecia apenas eram formas imperfeitas de revelação. Todavia algo "perfeito" está por chegar. Nesse ponto, a mente se eleva ao céu. É ali onde temos o estado perfeito. No entanto, a palavra traduzida por "perfeito", segundo o uso no Novo Testamento, nem sempre significa perfeito idealmente. A mesma palavra é usada novamente em 1 Cor. 14.20, onde é trazida como "homens". A ideia pois, é "idôneo" em contraste com o "infantil". Que este deve ser o significado em 13.10 é absolutamente claro à luz do contraste com o "infantil" do versículo 11. Quer dizer, quando a revelação plenamente adulta e amadurecida vier, então as revelações parciais de estado de infância desaparecerão. 

Evidentemente, a ideia deste texto deve ser examinada à luz de 2 Tim. 3.16-17."Toda a Escritura é inspirada por DEUS, e útil para ensinar, para redarguir, para corrigir e para instruir em justiça, a fim de que o homem de DEUS seja perfeito, inteiramente preparado para toda a boa obra". Em nenhuma destas duas passagens "perfeito" se refere ao homem glorificado no céu. Refere-se ao homem cabalmente preparado para a vida neste mundo - o homem que se desenvolveu plenamente. Quando as Escrituras tivessem sido completadas, então a Igreja teria a revelação completa e apta para a sua condição terrena. Nossa Bíblia havendo sido completada é perfeita no sentido que é plenamente suficiente como revelação para todas as nossas necessidades. O que realmente Paulo afirma é que "quando vier o que é suficiente, o inadequado e imparcial desaparecerá. As línguas cessarão e o conhecimento se acabará no momento em que o Novo Testamento for completado". 

Os dons maravilhosos, tal como se encontram catalogados em 1 Coríntios, capítulo 12, só seriam úteis numa situação inferior. Sua utilidade parcial os circunscreveu a um estado temporal. Então, não há necessidade de apegar-se a esses dons. Acaso se apega um homem maduro, plenamente desenvolvido, às forças infantis de expressão, entendimento e pensamento (v.11)? Quando uma pessoa se desenvolve, renuncia as coisas de menino. De modo semelhante, as palavras, os pensamentos e a segurança íntima de ter as Escrituras completas deve fazer com que a Igreja cresça e amadureça, deixando de lado a etapa infantil das revelações carismáticas.

No entanto, muitos se tem deixado extraviar ao comentar o versículo 12. Devido o contraste aparecer tão forte, há uma tendência de pensar que, novamente, se trata de uma referência ao céu. Muitos comentaristas declaram que Paulo aqui estabelece um contraste entre o conhecimento presente e o entendimento celestial. Todavia, não á sua preocupação falar aqui da glória. Não. O tema é o tempo e a razão por que os dons miraculosos cessam; "agora" e "então" sempre têm este molde de referência. 

O fato é que os contrastes do versículo 12 não são tão absolutos como frequentemente se supõe. As referências anotadas na Bíblia tem reconhecido aqui uma dependência com respeito a Num. 12.6-8. A linguagem é muito semelhante em ambas as passagens. A ocasião foi quando o Senhor repreendeu Miriam e Arão por murmurar contra Seu servo Moisés. "E ele lhes disse: ouvi agora as minhas palavras. Quando houver entre vós profetas de Jeová, lhe aparecerei em visão, em sonhos falarei com ele. Não é assim com meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Face a face falarei com ele, e claramente e não por figuras; e verá a aparência de Jeová. Por que, pois, não tivestes temor de falar contra meu servo Moisés?" Desse modo percebemos as figuras empregadas em 1 Cor. 13.12 - um contraste entre a revelação obscura e parcial e um retrato aberto e frontal do Senhor. Aqui não temos um contraste entre profeta e céu, e sim entre profeta menor e profeta maior.

No Velho Testamento Moisés apareceu como o grande profeta que falou com DEUS "cara a cara" e de modo explicito. Outros profetas receberam mensagens "por figuras" e "aparência" pelo métodos obscuros das "visões" e "sonhos". No Novo Testamento Jesus Cristo é apresentado como o grande profeta que habitou no seio do Pai e O revelou. Sua plena e total revelação do Pai foi registrada nas Escrituras pelos apóstolos. Outras revelações "carismáticas" eram equivalentes a ver através de um prisma imperfeitamente transparente (como os sonhos e visões do Velho Testamento). Eles transmitiam apenas uma revelação parcial, "obscuramente" (à maneira de "enigmas"). Em contraste, receber as Escrituras era colocar-se "face a face" com DEUS. Esta era a aproximação intima de DEUS por meio de Jesus Cristo. O versículos 12 sintetiza a necessidade de que os dons miraculosos cessem. Mesmo que a cessação fosse coisa futura quando Paulo escreveu a Epístola, ela se tornou assunto do passado depois que João escreveu o Apocalipse. Desde então, os dons mencionados no capítulo 12 já havia cessado.

O capítulo 13 conclui com um comentário que demonstra que os versículos 8-13 não contrastam o conhecimento terreno com o celestial, porque mesmo depois de cessarem as profecias e as línguas, a fé e a esperança permanecerão. Não haverá esperança nos céus. "Esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê, como esperará?" (Rom. 8.24). Mas logo que as Escrituras estejam completas, ainda a esperança permanecerá na Igreja até o dia de Jesus Cristo.

Uma observação da Igreja atual nos conduz a uma angustia por causa de sua debilidade e "fracasso", seu pecado e frieza. Não faltam as vozes que proclamam: "o que necessitamos é voltar ao estado da Igreja nos tempos apostólicos". Esta forma de raciocinar é que tem produzido a presente busca de dons miraculosos. Tais dons existiam na infância da Igreja. "Não deveis desejar o regresso ao período infantil". Antes que as Escrituras fossem terminadas, a Igreja se encontrava em posição de inferioridade com respeito à verdade. Os crentes não têm razão para regressar à época anterior ao ano cem, no qual a Bíblia ainda não estava completa. Não existe motivo para desejar mensagens obscuras, quando tem diante de si a verdade das Escrituras.

Nos capítulos 12-14 não temos uma passagem que seja afirmado que os dons miraculosos sejam norma para a Igreja de todos os períodos. Pelo contrário, eles preparam a Igreja para quando estas manifestações do Espírito tenha cessado por terem sido completa as Escrituras. Que homem adulto queria voltar à apreensão infantil da verdade, depois de experimentar a revelação completa e plena da graça da verdade, nas Escrituras? Todavia isso é precisamente o que os carismáticos nos pedem que façamos. Eles nos convidam a falar de maneira infantil e a examinar obscuros quebra-cabeças, depois que o Senhor e os apóstolos já nos deram uma revelação "face a face" do Pai. As línguas, as profecias, a palavra de sabedoria e a fé, foram bastante úteis nos dias da infância. Mas o perfeitamente adequado já chegou; o adulto já está presente. Os dons temporários cessaram.

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Extraído do livro “Sinais dos Apóstolos”, por Walter J. Chantry -  Editora PES
Tradutor: Edgard Leitão