PECADO: O MAL SEM PAR - por Samuel Bolton

PECADO: O MAL SEM PAR - por Samuel Bolton
"... porém agora, ó Senhor, peço-te que traspasses a iniquidade do teu servo; porque tenho procedido mui loucamente... " (II Samuel 24:10)

Estas palavras foram ditas quando a mão de Deus pesava sobre os filhos de Israel por causa do pecado de Davi em recensear o povo. Lemos no versículo 2 que "Davi ordenou a Joabe percorrer todo o Israel e numerar o povo", porém logo de início "Joabe tentou dissuadi-lo ".
Alguém poderia perguntar: "era contra a lei numerar o povo? Moisés não fez o mesmo no deserto tanto quanto Josué e Neemias?"
Sim, mas Joabe viu nessa atitude o orgulho do coração de Davi, como se observa pela sua resposta no versículo 3: "então disse Joabe ao rei: ora, multiplique o Senhor teu Deus a esse povo cem vezes tanto quanto agora é, e os olhos do rei meu Senhor o vejam: mas porque deseja o rei meu senhor este negócio? Porém a palavra do rei prevaleceu contra Joabe" - para a sua infelicidade e às custas de Israel.
Que felicidade teria sido para Davi e Israel se Joabe não tivesse concluído o trabalho, porém ele obedeceu e numerou o povo. Eram "... oitocentos mil homens de guerra, que arrancavam espada; e os homens de Judá eram quinhentos mil..."
Mas, qual foi o fruto, qual foi o efeito disso?
1. Lê-se: "... e o coração doeu a Davi... " versículo 10. Isto é, sua consciência o acusou. Se a consciência não for um freio, será um chicote. Se ela não for refreada, ela será açoitada. Se não ouvirmos os avisos, sentiremos os golpes. Se ela não nos impedir de pecar pela admoestação, ela nos fará sofrer pela contrição.
2. Todavia isso não era tudo. Deus o puniria pelo pecado. E nós podemos reconhecer o pecado através da punição. Ele tinha se gloriado nos números e por essa razão Deus diminuiria essa soma. Deus submeteria à sua escolha três julgamentos, os quais seriam: sete anos de fome, três meses fugindo dos seus inimigos, ou três dias de pestilência. Mas, qualquer um dos três seria um grande flagelo.
No entanto, atentemos para o comportamento de Davi. Deus o ameaça com julgamento e ele lamenta pelo seu pecado. "O coração afligido de Davi e sua oração, embora registrados antes, parecem ser um resultado da descoberta de seu pecado pelo profeta, como se yê no versículo subsequente: "... levantando-se pois Davi pela manhã veio a palavra do Senhor ao profeta Gade, vidente de Davi... ". Isso revela a razão pela qual o coração de Davi se afligira e porque ele orou assim, pois o profeta esteve com ele e havia lhe convencido de seu pecado, tinha anunciado o julgamento de Deus contra ele, depois que "o coração doeu a Davi" e ele orou, versículo 10: "... Peço-te que traspasses a iniquidade de teu servo; porque tenho procedido mui loucamente..."
Aqui, porém, alguém pode interrogar: por que Davi orou pelo perdão de seu pecado, quando Deus ameaçou com julgamento? Por que ele não pediu que Deus suspendesse Seus castigos, e assim desviasse Sua ira em vez de simplesmente suplicar perdão pelo seu pecado? Ou se ele desejou isso, por que então não suplicou tanto um quanto o outro, unindo-o na mesma petição?
Resposta 1. Para ensinar-nos em todas as opressões e aflições sobre o nosso homem exterior a voltarmos os nossos pensamentos para o nosso homem interior e lamentar pelo pecado.
Resposta 2. Porque ele viu o pecado como a causa do julgamento e portanto, desejou a remoção deste para que o outro fosse retirado.
Resposta 3. Porque ele sabia que o julgamento jamais poderia ser removido através da misericórdia, a menos que o pecado fosse retirado. Tudo o que é retido é também uma reserva. Toda libertação é feita em justiça, não em misericórdia, se permanece o pecado.
Resposta 4. Ele estava mais apreensivo por estar desonrando a Deus através de seu pecado, do que propriamente com qualquer julgamento que resultasse do seu pecado.
Resposta 5. Ele vê no pecado o grande mal, e portanto busca a correção deste mais do que qualquer outro mal: "...traspasses a inquidade do teu servo...".
No texto observa-se duas partes da oração: (1) Confissão (2) Petição.
1. Confissão, com auto-julgamento: "porque tenho procedido mui loucamente... "
2. Petição: "... traspasses a iniquidade do teu servo... ", unida com fé.
Aqui temos (1) o suplicante, Davi, declarando seu relacionamento: "... teu servo", (2) o suplicado, Deus, (3) a petição em si:"... traspasses (ou perdoes) a iniqüidade de teu servo...". A frase parece ter relação com o bode expiatório, um tipo de Cristo, que levou os pecados do povo de Israel para o deserto (Lev. 16:22), dessa forma significando a retirada dos pecados por Cristo.
Há pouca dificuldade nas palavras, a não ser aquela dificuldade que criemos. Realmente, seria criar uma dificuldade se tentássemos explicar aquilo que é tão evidente, em vez de expor as palavras. Se eu fosse falar das várias distinções que os homens fazem do pecado, diria três palavras no hebraico. Pela primeira eles entendem o significado do pecado original, pela segunda enfermidades, e pela terceira seus pecados mais graves. Mas após um exame, descobri-as usadas mescladamente, e portanto tais distinções não tem fundamento.
As letras das palavras e seu aspecto exterior no texto falam de três doutrinas:
1. Que os servos de Deus podem cometer pecado, cometer iniquidade: "... a iniquidade de teu servo..."
2. Pecados novos devem ter novos arrependimentos. Se você renova seus pecados, você deve renovar seu arrependimento.
3. É necessário perdão novo para novas insurreições: "... traspasses...". Ele não diz: "... assegure-me que estão sendo traspassados...", e sim "traspasses". Este, porém, não será o assunto de meu discurso agora.
O que pretendo enfocar é o tempo e a ocasião de tais palavras, que foi o momento da ameaça de Deus contra Davi.
1. O pecado verdadeiramente é, e o povo de Deus entende que o seja, o mal sem par no mundo.
Ele não disse, "traspasses a praga", nem "traspasses o julgamento", e sim "traspasses a iniqüidade". Ele olhou para o pecado como o maior mal.
2. Quando Deus ameaça punir o pecado, a melhor coisa é correr para Deus para que Ele o retire. Ou, quando a mão de Deus é temida ou sentida, seria sábio para o cristão arrepender-se do pecado, desejando a remoção deste.
Comecemos com o primeiro, o que o pecado realmente é, e que o povo de Deus entende que ele é o maior mal no mundo. Nós o tomaremos (1) por partes, (2) as juntaremos. A doutrina se divide em duas partes: (a) que o pecado é o maior mal no mundo, e (b) que o povo de Deus sabe disso.
Para o primeiro, que o pecado é o maior mal no mundo, posso demonstrar isso (i) pela comparação desse com outros males, e (ii) pela demonstração e prova disso.
Se você comparar o mal do pecado com os outros males, verá quão pequeno os outros males são em relação ao pecado.
1. Antes de tudo mais, os outros males são somente externos. São relacionados somente ao corpo, o estado, o nome, porém o pecado é um mal interior, um mal da alma, e este é o pior dos males.
2. Todos os outros males são somente de natureza temporal, eles têm um fim. Pobreza, doença, desgraça, todos esses são grandes males, mas estes e todos os outros, têm um fim. A morte põe um fim em todos eles. Contudo, o mal do pecado é de natureza eterna e nunca terá fim. A eternidade em si nunca porá um fim nisso.
3. Todos os outros males não fazem do homem o objeto da ira e da inimizade de Deus. O homem pode ter todos os outros males e ainda assim permanecer no amor de Deus. Você pode ser pobre e ainda ser precioso na avaliação de Deus. Você pode estar debaixo de toda espécie de miséria e ainda assim ser amado por Deus. Todavia existe um mal que faz da alma o objeto da ira e da inimizade de Deus. A ausência de todos os outros bens, e a presença de todos os males criados, não tornará você abominável para Deus se não houver pecado, contudo, a presença de todos os outros bens e a ausência de todos os outros males não irão tornar você amado se houver pecado.
4. Todos os outros males somente se oporiam ao seu bem-estar presente, porque eles não podem roubar as suas futuras alegrias, mas o pecado se oporia ao seu bem-estar para sempre. Você não pode ser feliz se não for santo. E ainda mais, este se opõe ao seu ser. Ele o leva a morte. Você pecaria até morrer, caso Deus não o impedisse e fizesse com que se sentisse um miserável, por causa do seu pecado.
5. Todos os outros males são destrutivos para o homem em si; eles lutam contra particularidades. Entretanto este é contrário ao bem universal, sendo contrário a Deus, e é, até onde pode ser, destrutivo ao próprio ser de Deus, como mostrarei doravante.
6. Todos os outros males são criações de Deus, e portanto bons. Ele é o possuidor de tudo; Ele é o autor de tudo o mais. "... sucederá qualquer mal à cidade, e o Senhor não o terá feito?" (Am. 3:6), significando todos os males de punição penal, não mal pecaminoso, pois este é criação do diabo e realmente pior do que tudo mais, sendo todo pecado.
7. Todos os outros males são medicina de Deus e são usados como remédios, tanto para a prevenção, como para a cura do pecado.
Como prevenção do pecado: para que você não seja condenado com o mundo, Ele envia aflições e males sobre você (I Cor. 11:32). Ele permitiu a satanás tentar Paulo e o entregou aos seus ataques, o que no entanto é o maior mal no mundo e o mais próximo do pecado, o maior mal punível no mundo. E para que impedisse o pecado, como disse o apóstolo em II Cor. 12:7, Deus enviou um mensageiro de satanás para esbofeteá-lo, e qual era o motivo? Só para prevenir o pecado, para que não se exaltasse, isto é, para que não ficasse orgulhoso.
E como Ele usa todos os outros males para prevenção, do mesmo modo Ele os usa para a cura do pecado. Não se conhece nenhum remédio que possa ser tão ruim como é essa doença. Todos os outros males Deus tem permitido sobre o Seu povo para a cura ou para a recuperação do estado pecaminoso. E para falar sem exagero, não há tanto mal na condenação de mil mundos de homens como existe no menor pecado, no menor pensamento pecaminoso que se levante no espírito, visto que o bem destes carece do bem e da glória de Deus.
Pela comparação deste mal com os outros males, pode ver que de todos, o pecado é o mal supremo - o que passaremos a demonstrar a seguir.

1. DEMONSTRAÇÃO
Aquilo que luta contra e se opõe ao maior Bem, deve ser o maior mal, portanto, o pecado se opõe e luta contra o maior Bem. Por isso um dos Pais da Igreja chamou o pecado de "Deus-matança", aquele que luta contra o ser e a essência de Deus, aquele que, se fosse suficiente¬mente forte e infinitamente mau como Deus é infinitamente bom, porfiaria para "acabar" com Deus. Deus é summum bonun, e realmente non datur summum malüm, o pecado não pode ser infinito.
Se o pecado fosse tão mau quanto Deus é bom, isto é, adequada e proporcionalmente, se fosse infinitamente mau como Deus é bom, o pecado seria difícil demais para Deus perdoar. Seria difícil demais para Deus subjugar, difícil demais para Deus vencer. O pecado se empenharia em vencer Deus.
Realmente há mais mal no menor pecado do que há do bem em qualquer um dos anjos do céu. Por isso o pecado conquistou-os espoliando toda a bondade deles, tornando-os demônios, o que não aconteceria se o bem existente neles tivesse sido maior do que o mal do pecado.
Contudo, ele não é capaz de conquistar a Deus, de vencê-lO (há mais bem em Deus do que mal em dez milhares de infernos de pecado e por isso ele não pode vencer o poder de Deus, a misericórdia de Deus, a santidade de Deus), ainda assim ele batalha e faz complô contra Deus continuamente. Reúne todas as forças contra Ele e vem em campo aberto desafia- IO todos os dias.
E não somente isso, quando expulso do campo aberto pelo poder de Deus e Suas ordenanças, então o pecado tem fortalezas, como diz o apóstolo em II Cor. 10:4, e a partir delas luta e se opõe a Ele. Usa sua concupisciência contra Ele, sua vontade contra Ele, seu coração se levanta contra Ele.
Quando o pecado é expulso do campo, ainda leva um longo tempo até que seja expulso da fortaleza. Quando ele na prática é vencido e conquistado, mesmo assim, na afeição é difícil de ser vencido. A oposição que há entre Deus e o seu coração pecaminoso é difícil de ser vencida. Custará a você muitas batalhas, muitos assaltos, até que possa vencê-lo em suas fortalezas, vencê-lo em seu coração.
Embora às vezes possa parecer estar vencido e extirpado, ele ainda posteriormente se refaz e fará novas investidas contra você, para enfraquecê-lo e feri-lo.
Ora, aqui está a malignidade, a maligna e venenosa natureza do pecado, embora Deus o tenha conquistado, contudo ele nunca foi enfraquecido, ele ainda irá agir contra Deus e expelir seu veneno.
Temos um exemplo disso no ladrão sobre a cruz. Quando ele foi pregado na cruz, mãos e pés cravados, somente um membro não ficou fixo, e esse membro podia ainda expelir seu veneno, injuriando Cristo. Assim, apesar de Deus ter crucificado o pecado, enquanto houver vida nele, ele agirá por si e expelirá veneno contra Deus, o que mostra essa grande oposição entre Deus e o pecado. E por isso essa obstinação e oposição ao maior Bem deve mostrar que o pecado é o maior mal.

2. DEMONSTRAÇÃO
Aquilo que é universalmente mal não tendo bem nenhum em si, deve ser o maior mal do mundo. O pecado é inteiramente mal. Como podemos dizer de Deus "não há mal nEle pois Ele é bom" então posso dizer do pecado, não há bem nele, pois ele é inteiramente mal!
Há algo de bom nas piores coisas do mundo e há algo nas piores coisas para torná-las elegíveis a nossa escolha em alguns casos; algo bom na doença, algo bom na morte. Entretanto, não há bem algum no pecado e nem pode qualquer situação no mundo fazer do pecado o objeto de nossa escolha. Embora um pecado pudesse evitar a morte, ainda assim o pecado é universalmente mal e não há bem algum nele. Você não deve fazer uso do pecado a fim de evitar a morte.
Por isso vemos que quando o apóstolo Paulo se referia ao pior pecado, ele não encontrou nenhuma expressão pior do que esta para descrevê-lo em Rom. 7:13 "excessivamente maligno ". Ele o chama de excessivamente maligno - maligníssimo!

3. DEMONSTRAÇÃO
Aquilo que é o único objeto da ira de Deus deve ser o supremo mal. Mas o pecado é o único objeto, não somente o objeto, porém o único objeto da ira de Deus. Ele não odeia nada a não ser o pecado. Seu amor flui nos diversos ribeiros em direção a tudo o que Ele tem criado, contudo a Sua fúria corre por somente um canal, e este em direção ao pecado.
Se o homem fosse feito o centro de todos os outros males no mundo, Deus ainda assim poderia amá-lo se o pecado não estivesse nele. Se existe uma confluência de todos os outros bens, saúde, beleza, riqueza, aprendizado e tudo o mais, Deus o abomina se existir nele pecado. O amor de Deus não habitará nele, e sim a Sua ira.

4. DEMONSTRAÇÃO
Aquilo que separa a alma do Bem maior, aquilo que separa a alma e Deus, o Bem maior, deve ser o maior mal. O pecado faz separação entre a alma e Deus: "mas as vossas iniquidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus" (Is. 59:2), entre sua alma e a graça de Deus, entre sua alma e o conforto de Deus, sua alma e as bênçãos de Deus.
Diz-se que Naamã era um grande homem, um homem honrado, um poderoso homem de guerra, porém ele era um homem leproso. (II Reis 5:1). Quaisquer ornamentos que o homem tenha, quaisquer dons, beleza, bens, riquezas, etc, entretanto se ele for leproso, apesar de ser um homem letrado, um homem rico, ele é um homem repulsivo e isso estraga tudo.

5. DEMONSTRAÇÃO
Aquilo que é o fundamento e a causa de todos os outros males deve ser o mal sem par, pois o pecado é a causa de todos os outros males. O mundo antigo foi submerso em água? Isso foi por causa do pecado. Sodoma foi destruída com fogo, se transformando num lago de asfalto até o dia de hoje? Isso foi por causa do pecado. Jerusalém foi transformado em ruínas? O pecado fez isso. Se eu continuar citando nunca encontrarei um fim.
O pecado é a causa de todos os males nacionais. A seguir daremos nomes a alguns deles.
1. Guerras     "E se escolhia deuses novos, logo a guerra estava às portas". (Juízes 5:8).
"De onde vem as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vem dos vossos deleites?". (Tiago 4:1).
2. Fome        "Ele converte a terra frutífera em terreno salgado, pela maldade dos que nela habitam. (Salmo 107:34). "Por isso também vos dei limpeza de dentes (por causa de seus pecados) em todas as vossas cidades, e falta de pão em todos os vossos lugares, etc." (Amós 4:6).
3. Pestilência Observe o pecado de Davi em numerar o povo em Deuteronômio 28:21: "O Senhor te fará pegar a pestilência, até que te consuma da terra a que passas a possuir." Como o pecado é a causa dos males nacionais, assim ele é também a causa dos males pessoais, e eles são (1) temporais, (2) espirituais, e (3) eternos.

O pecado é a causa, a conseqüência, o responsável por tudo. Todos os males têm origem no pecado. O pecado é um mal protuberante e todos os outros males provêm dele. Alguns se manifestam sobre os seus corpos: doenças, dores, temores, enfraquecimentos. Outros sobre suas almas: medos, corações feridos, terrores, horrores. Se você pudesse rasgar o pecado, encontraria tudo isso habitando no interior do menor pecado.
Quer saber de uma coisa? O pecado foi o fundador do inferno, aquele que assentou a pedra angular da câmara mortuária das trevas, pois antes do pecado não existia inferno. E ainda, foi o pecado que edificou o inferno e o tem equipado com aqueles tesouros e riquezas da ira, fogo e enxofre. E não somente isso, entesoura ira para o dia da ira (Rom. 2:5).
Portanto, sendo um mal universal, um mal católico, o útero dos males e a causa de tudo, é o maior mal.

6. DEMONSTRAÇÃO
Aquilo que é pior do que o mais terrível dos males, há de ser o pior dos males, porém o pecado é o mal sem par. Aquilo que é maior do que o maior mal é excessivamente mau. O inferno é o mais terrível mal, todavia o pecado é pior do que o inferno em si. O inferno separado do pecado é somente miserável, não pecaminoso; um lugar punitivo, não um pecado em si.
Separe o inferno do pecado (embora não possamos fazê-lo, ainda podemos fazer uma separação intelectual, abstrair o inferno do pecado só em nosso entendimento), digo então que o pecado é pior do que o inferno, porque o inferno é somente um lugar punitivo, o pecado é um mal excessivamente maligno. Existe o bem na punição, o bem na justiça, mas não existe bem nenhum no pecado, portanto, o pecado em si é o maior mal.
Agora vamos ao segundo ponto, que é o principal. O pecado em si, na compreensão do povo de Deus, é o mal sem par. Seus lamentos pelo pecado, e seus sofrimentos a fim de evitá-lo, mostra que ele reconhece ser o pecado o mal sem par.
1. Concernente a seus lamentos pelo pecado - pode ser visto nos salmos penitenciais de Davi quantas foram as lamentações e os gemidos dele por causa do pecado. Leiam o Salmo 51. Por que, qual foi a razão para eles? Todos os sofrimentos, todos os males no mundo não o teriam afetado tanto quanto o seu pecado. Paulo diz em Rom. 7:24: "Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte ? " A morte de seu corpo não era nada para ele em comparação com o corpo da morte!
Paulo passou por muitas tribulações, suportando grande sofrimento, como vocês podem ler em II Cor. 11:23-25. No entanto, todos esses flagelos, essas prisões e perseguições não machucaram tanto o seu coração como o pecado, isto é, não o poder do pecado, e sim sua simples presença. Ainda que tenha sofrido muito, não lemos que ele tenha lamentado por tudo isso. Mas lamentou pelo pecado, "Oh miserável homem que sou! Quem me livrará deste corpo do pecado?" Assim fez Pedro, Manasses e outros.
2. Concernente ao sofrimento deles para evitar o pecado - Daniel estava contente ao ser atirado na cova dos leões, os três jovens no fogo, Paulo e Silas nos troncos. E muitos filhos de Deus escolheram prisões, estacas, fogo, e as mais ardentes perseguições em vez de pecar, o que claramente evidencia para nós que consideraram ser o pecado o maior mal.
Eles consideraram-no pior que a pobreza, que é um grande mal. "Melhor mendigar do que pecar" disse alguém. "Moisés escolheu antes ser maltratado com o povo de Deus do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado ". (Heb. 11:24-28). Alguém semelhante a Moisés, Caleacius Caracciolus, foi um nobre príncipe e marquês que, para não pecar, deixou tudo o que tinha e foi morar em pobreza com o povo de Deus, meramente para se deleitar nas ordenanças.
Músculus, um homem de grande sabedoria e famoso teólogo, em vez de pecar preferiu se submeter a qualquer condição. A história conta-nos que sendo despojado de tudo quanto tinha, contentou-se, a fim de não pecar, em tornar-se um pobre comerciante, tecelão, para conseguir pão para sustentar sua esposa e filhos. Posteriormente, sendo marginalizado, o mundo considerando-se bom demais para ele, foi trabalhar com uma pá nas valas comuns da cidade para conseguir sua sobrevivência. Ele aceitaria qualquer condição, menos a que o levasse a pecar.
Eles não somente compreenderam que o pecado é um mal pior do que a pobreza, compreenderam que é algo pior do que a própria morte em si. Este foi o discurso de Ambrósio: "Você me lançará na prisão? Você tirará minha vida? Tudo isso é preferível para mim do que o pecado."
Quando Eudóxia, a Imperatriz, ameaçou Crisóstomo, aquele a quem posteriormente baniria, ele enviou-lhe esta mensagem: "Vá e diga-lhe", disse ele, "Eu não temo nada neste mundo a não ser o pecado".
3. Eles consideraram o pecado como sendo um mal maior do que a morte. Basil fala de uma jovem rica, à qual, sendo condenada ao fogo e sentenciada a perder todos os seus bens por não adorar ídolos, foi oferecida a promessa de vida e a restituição de seus bens se ela se retratasse. Ela respondeu, "Adeus vida, que pereça o dinheiro." Olhem para o caso das "Dez Sangrentas Perseguições" e os nossos recentes dias cruéis sob a rainha Maria, e encontrarão muitos exemplos dessa natureza.
4. Ademais, eles não somente compreenderam que o pecado é um mal maior do que a morte; mais do que isso, viram-no como um mal maior do que o inferno em si. Isto foi o que disse Crisóstomo: "Assim penso, e conseqüentemente sempre irei pregar, que é mais amargo pecar contra Cristo do que sofrer os tormentos do inferno."
Anselmo disse que se por um lado lhe fosse apresentado os males do pecado, e por outro lado os tormentos do inferno, ele preferiria escolher cair no inferno do que cair em pecado. Tal era a distância que estavam os corações deles do pecado. E nada é mais comum do que expressões como essas feitas pelos santos em tentações, em tribulações de espírito, ou num esclarecimento de seus próprios corações: "Prefiro que me matem, prefiro que me amaldiçoem, prefiro que me lancem no inferno, do que me permitir pecar contra Ti."
Isso deve ser o suficiente para esclarecer a parte doutrinária. Agora vamos à aplicação.

1. CONSEQUÊNCIA
Se o pecado é o maior mal no mundo, então vamos nos prostrar e admirar a sabedoria e adorar a bondade de Deus, Aquele que do maior mal, traria o maior bem, Aquele que faz do maior mal uma ocasião para o maior bem jamais feito antes. Bernardo foi tão absorvido por tais pensamentos a ponto de dizer: "Bendito erro que proporcionou tal Redentor."
Deveríamos ficar humilhados pelo erro e agradecidos a Deus pelo Remédio, e dessa maneira admirar a sabedoria e a bondade que foram reveladas por causa da maldade do homem para declarar a bondade de Deus; pelo pecado do homem tornou conhecida e expressa Sua infinita sabedoria, poder, misericórdia, justiça, etc. Esta seria então uma oportunidade para manifestar todos os Seus gloriosos atributos; pois Ele traria bem do mal, vida da morte, céu do inferno, bem do pecado, licor do veneno.
Nunca duvidemos, nunca suspeitemos, de que Deus pode trazer o bem de qualquer coisa, pode tornar os maiores males na manifestação de Sua glória e o bem do Seu povo, Ele pode tirar benefício do pecado e do inferno. O que é para Ele transformar as aflições, perseguições, conspirações e malignidades do homem? O que é para Ele transformar os problemas, guerras, etc., em Sua própria glória, e o progresso de Sua causa? Ele que foi capaz de transformar o maior mal em bem?
Ele que pode transformar o mal do pecado, o qual é a quintessência do mal e o maior dos males, pode muito mais transformar o mal do problema no bem de Seu povo. Isso fez com que o apóstolo dissesse que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. Aquele que tem experiência disso não precisa duvidar de nada mais. Esse Deus, que pode transformar o pecado, pode transformar as aflições, cruzes, perseguições e tantas outras coisas, no bem de Sua Igreja e de Seu povo.

2. CONSEQUÊNCIA
Daí se conclui que ser entregue ao pecado, é a mais triste punição, o mais terrível julgamento que existe no mundo.
Esta é a pior punição que Deus impõe sobre os homens, portanto, é a maior de todas as punições.
Deus normalmente age em etapas em Sua maneira de julgar. Primeiro, Ele começa com a menor. Se não der resultado, então Ele aumenta a intensidade. Ele punirá sete vezes mais, e quanto mais longe Ele for maiores serão Seus golpes.
Esta é a conclusão, o golpe final; esta é a última punição e a maior de todas elas, entregar o homem ao estado lamentável do pecado, dizendo-lhe: "Aquele que é sujo, suje-se ainda, aquele que é imundo seja imundo ainda ". Ele disse isto em Ez. 24:13:"... pois te purifiquei, e tu não te purificaste; nunca mais serás purificada da tua imundícia..." Ele diz ainda aos israelitas: "Porquanto Efraim multiplicou os altares para pecar; teve altares para pecar. " (Os. 8:11).
Oh, não há outro julgamento mais triste no mundo do que o homem ser abandonado à corrupção do seu próprio coração! Isso traz como conseqüência eterna noite de trevas.
"Bom Deus, liberta-me de mim mesmo" disse Agostinho. Seria melhor você ser entregue à corrupção dos homens, à malícia e crueldade de homens sanguinários; melhor ser abandonado a extrema fúria e malícia dos nossos irlandeses rebeldes do que ser entregue à concupiscência do seu próprio coração. Uma pessoa estaria em vantagem se fosse entregue a satanás do que ser entregue a si mesma e aos seus pecados.
Segundo lemos em I Cor. 5:5, a pessoa incestuosa foi entregue a satanás, e foi restaurada novamente. Contudo, nunca lemos de alguém que fosse entregue a si mesmo e que tenha retornado, de alguém que fosse entregue à concupiscência do seu próprio coração que tenha se recuperado. Melhor então, ser entregue a satanás do que ao pecado, pois nenhum outro mal é tão grave como o pecado.
Trata-se de Deus na posição de juiz, que pode punir um pecado com outro e amaldiçoar o pecado com dureza de coração. Mas com relação a nós é um mal pecaminoso. Trazemos o escrito e a cera e Deus coloca Sua chancela sobre ela, e então somos aprisionados para sempre. E vocês estão caminhando para esse destino, vocês que andam em pecado e não querem ser corrigidos. Apesar de Deus ter operado através da doença e das aflições para recuperá-los, vocês ainda estão de caminho para este julgamento final: "Aquele que está sujo, suje-se ainda".

3. CONSEQUÊNCIA
Se o pecado é o maior mal no mundo, então vejam quão loucos são aqueles que procuram livrar-se de outros males, admitindo o pecado. Aquele que trabalha para evitar outros males, ou removê-los praticando o pecado, incorre no maior de todos os males. Ele se mata para salvar-se. Ele se destrói para preservar-se. Aquele que tenta salvar a sua vida dessa forma, perdê-la-á.
Jamais houve tempos tão ruins que o povo de Deus não pudesse estar seguro neles se apenas tivesse confessado o pecado. No entanto, ele achou sua segurança no sofrimento, quando devia tê-la achado na confissão do pecado. Vemos isso exemplificado na ação dos três jovens: Sadraque, Mesaque e Abednego.
Este era o argumento dos cristãos primitivos quando foram ameaçados com prisões e mortes, caso não renunciassem a Cristo. "Bom Imperador, você ameaça com prisão, mas Cristo ameaça com o inferno!"
Quando Cipriano foi sentenciado a morrer pela mesma causa, o governador tentou discutir com ele que deveria ter pena de si e renunciar seu erro ao invés de perder sua vida. Cipriano, porém, respondeu-lhe: "Senhor tu és meu juiz, e não meu conselheiro. Em tão clara e justa causa não há necessidade de conselho. Não irei desonrar a justiça da minha causa, entrando em discussão e conselho como se fosse decidir entre sofrer ou pecar". É como o caso da jovem de quem Basílio fala, que preferiu dizer adeus à vida e aos seus bens do que abandonar sua profissão de fé.
Quão deplorável coisa seria assegurarmos as nossas vidas através daquilo que é a nossa ruína, comprar nossa liberdade através da escravidão, nossa salvação através do pecado. Vejam o que isso custou a Frances Spira e Cranmer nos dias da rainha Maria. Cranmer não sabia como vingar-se por seu próprio ato, a não ser queimando primeiro aquela mão que tinha contribuído para o pecado.
É melhor ainda estar na prisão do que pelo pecado abrir a porta da prisão, porque é melhor ser prisioneiro de Deus do que ser um homem livre, pertencendo ao diabo. Melhor perder tudo do que preservar nossos bens pela prática do pecado.
E portanto, quaisquer que sejam seus problemas, quaisquer que seja seus temores, quaisquer que sejam seus perigos, tenham cuidado em preservar-se ou comprar liberdade ou mesmo vida por um preço tão alto como abraçar-se ao pecado, desonrando a Deus e ferindo suas próprias consciências. Tenham cuidado ao se tornarem amigos do homem, fazendo de Deus o seu inimigo.
Não sabemos ainda qual será o rumo dos nossos tempos, porém está fora do alcance do poder ou da malícia dos homens fazer de você um miserável, meu amigo, se eles primeiro não fizerem de você um pecador.

4. CONSEQUÊNCIA
Se o pecado considerado separadamente é um mal tão grande, o que é então o pecado circunstancial? O pecado contra o conhecimento? Contra intenções? Se há tanto mal no pecado, no menor pecado, quanto haveria, então, no maior? Se os átomos são tão grandes, quão grandes então são as montanhas? Se os pensamentos impertinentes são tão pecaminosos, tendo mais pecado neles do que todos os tesouros do céu possam expiar (a exceção de Deus e Cristo) o que seriam então, os pensamentos rebeldes, os assassinatos planejados, o adultério, a maldade premeditada, os meios e fins gananciosos, o desrespeito a Deus, negligenciando e desvalorizando Seus caminhos? Se há tanto pecado e inferno numa vã e tola palavra, que inferno de pecado, que montanha de ira há em seus discursos apodrecidos, fétidos, seus terríveis juramentos de sangue e blasfêmias?
Se existe tanto mal num pecado, considerando-se simplesmente um pecado, o que devemos pensar do pecado composto, pecado pormenorizado, pecado feito excessivamente maligno? Pecado contra a sabedoria? Contra as intenções? Contra as misericórdia? Oh, sente-se e considere um pecado e veja como ele é grande! Aquele pecado que eu cometi contra o conhecimento, contra os avisos da consciência, contra o mover do Espírito, etc. E me diga se o menor pecado não é excessivamente pecaminoso.

5. CONSEQUÊNCIA
Se o pecado é um mal tão grande, então vejam quão loucos são aqueles que zombam do pecado: "Os loucos zombam do pecado " (Prov. 14:9), eles brincam com o pecado. É um esporte jurar, ficar bêbado, etc. Eles irão pecar por esporte e recreação. É recreação para eles praticar o mal, beber, jurar, mentir, profanar o dia do Senhor. Estes são loucos. Loucos naturais? Não. Aquele que prossegue assobiando, tagarelando e na ociosidade, está numa situação melhor. Este é um louco espiritual, o maior dos loucos.
Vocês se divertiriam com veneno? Vocês se divertiriam com o inferno? Não, e ainda mais, vocês se divertiriam com sua própria destruição?
Vocês se divertiriam com aquilo que foi tão amargo para Cristo, e que também lhes será, caso não sejam perdoados?
Quem se divertiria com aquilo que é a miséria dos homens e demônios perdidos, tanto aqui quanto no inferno eternamente?
Consideraríamos desprezível alguém divertir-se dilacerando o corpo, ferindo e derramando o sangue de um estranho, de um inimigo, porém quanto mais do nosso mais querido Amigo? Vocês que se divertem com o pecado, fazem o mesmo com Cristo. Vocês se divertem matando Cristo, crucificando-O, dilacerando Seu corpo novamente. Toda blasfêmia é um punhal no Seu coração, como uma lança no Seu lado novamente.
Divertir-se com o pecado é a maior manifestação da natureza demoníaca no mundo. Ninguém a não ser os demoníacos fazem isso. Este é o fardo de Deus. Ele Se queixa disso e considera um alívio ficar livre de vocês: "Ah! consolar-me-ei acerca de meus adversários." (Is 1:24).
Isto é o ferir a Cristo, o pesar do Espírito, o problema dos anjos, a destruição das criaturas. Acaso vocês se divertiriam com aquilo que trouxe todo o mal sobre o homem e mesmo sobre Cristo? Divertir-se--iam com o que gerou o inferno e o abasteceu, com o que tem sido o tormento das almas e o será para sempre?
Oh, não se alegrem naquilo que foi o sofrimento de Cristo e será o seu também para sempre, caso sua alegria no pecado não se transforme em pesar pelo pecado!

6. CONSEQUÊNCIA
Se o pecado é o maior mal, então vejam a absoluta impossibilidade de recebermos alívio e socorro da parle de qualquer um debaixo do céu, por causa da culpa do nosso pecado, a não ser que venha do próprio Senhor Jesus Cristo. Você, pecador, cometeu um único pecado? Então, disso nem todos os tesouros da justiça nos céus e na terra são capazes de livrá-lo ou ajudá-lo, a não ser o Senhor Jesus Cristo. O que é exigido para expiar a culpa de milhares de pecados é também exigido para expiar a culpa de um só pecado. Infinita justiça é exigida para um, e não mais é exigida para milhares. E tal justiça, ninguém tem a não ser Cristo somente.
Ninguém pode nos libertar do mal do pecado, a não ser Aquele que é justo. Ora, não existe justiça no mundo que seja proporcional ao mal do pecado senão a justiça de Cristo. A nossa própria justiça, vocês sabem, é muito pequena e é chamada de trapos de imundícia (Is. 64:6). Um trapo, portanto, não pode cobrir-nos; uma imundícia, portanto, embora pudesse cobrir-nos, cobriria somente a imundícia com outra imundícia, como diz o profeta em Is. 30:1: "...se cobriram com uma cobertura, mas não do meu espírito, para acrescentarem pecado a pecado, " ou seja, eles acrescentam o pecado de sua justiça ao pecado de sua injustiça. Eles cobrem mancha com mancha, adicionam pecado a pecado, esterco a esterco.
A justiça da lei ainda não seria suficiente, supondo-se que o homem fosse capaz de cumprir toda a justiça e guardar toda a lei. A obediência presente, embora supostamente adequada à justiça da lei, jamais irá responder pelas ofensas e desobediências passadas.
A lei é forte o suficiente para amaldiçoar a milhares, porém é incapaz de salvar uma só alma. Pode trazer o inferno, a ira e a condenação sobre um mundo de pecadores, todavia é incapaz de trazer a graça ou dar justificação para um só deles. O apóstolo nos diz em Rom. 8:3: "Portanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, condenou o pecado na carne " . O mesmo apóstolo nos diz em Gal. 3:21: "... se dada fosse uma lei que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria sido pela lei. " O apóstolo também nos diz em Gal. 3:17: "... a lei que veio quatrocentos e trinta anos depois... ", para mostrar que não precisamos trabalhar para que sejamos justificados, e sim sermos justificados para sermos capazes de trabalhar. Se Deus pretendesse que a lei fosse o instrumento da justificação, Ele teria dado a lei quatrocentos e trinta anos antes da promessa.
E, ainda mais, essa não é a justiça dos anjos (a qual é maior do que a da lei, visto que os anjos estavam acima do homem em inocência) porque esta também foi uma justiça criada finita e de maneira alguma proporcional ao mal do pecado. Se o tivesse sido, um pecado não teria despojado imediatamente aqueles gloriosos anjos de sua bondade e feito deles demônios, o que o pecado fez, mostrando que existiu mais mal no pecado do que bem ou justiça neles.
Bem, então isso mostra a absoluta impossibilidade de sermos libertos do mal do pecado por qualquer outro no céu ou debaixo do céu, que não seja Jesus Cristo. Nada a não ser infinitude pode lidar com o pecado. É necessário infinita sabedoria para tratar disso. É necessário infinita misericórdia para perdoar, infinito poder para subjugar; infinito mérito para purificar e limpar, e infinita graça para aniquilar o pecado.
Seja lá o que for que vocês pensem sobre o pecado, na verdade ele tem sido o grande inimigo com o qual Deus e a Sua graça têm contendido incessantemente desde que o mundo começou. E é por isso que Deus tem Se empenhado totalmente, até mesmo a Sua infinitude, em nos resgatar, em nos salvar das mãos e do poder do pecado. Sua infinita sabedoria, poder, misericórdia, verdade e santidade, tudo tem sido empregado para vencer o pecado; quero dizer, tanto para subjugar o pecado como para salvar vocês pecadores.
O grande propósito de Deus ao enviar Cristo ao mundo, Sua encarnação, humilhação, paixão e morte, foi exatamente este: subjugar e destruir o pecado. Que grande inimigo era esse para que Deus enviasse Seu Filho para subjugá-lo? Ele pode Se utilizar de moscas, piolhos, a menor das criaturas, para destruir a maior e mais poderosa força sobre a terra, mas nada menos do que Seu Filho era forte o suficiente para conquistar o pecado.
Vocês podem desprezar o pecado tanto quanto queiram, engoli-lo sem medo, viver nele sem percebê-lo, cometê-lo sem remorso, no entanto isso que vocês tornam tão sem importância, requereu nada menos do que o infinito poder de Deus para ser subjugado, a infinita misericórdia de Deus para ser perdoado, o infinito mérito de Cristo para expiá-lo. Foi isto que feriu e fez sangrar o coração de Cristo e fará o seu também, se não se interessarem por Ele.

7. CONSEQUÊNCIA
Se o pecado é o mal sem par, então vejam o quanto estamos presos a Cristo, Aquele que carregou os pecados e todos os males de vocês que têm interesse nEle.
Oh, o amor de Cristo! Quão admirável que Ele pudesse carregar o pecado, o qual é maior que todas as misérias, um mal maior do que a morte, do que o inferno em si!
Caro leitor, se houvesse alguém no mundo que ficasse contente em ser pobre no seu lugar, levar as suas dores, ficar doente, ser preso, morrer por você, e ainda sofrer a ira de Deus e padecer as dores do inferno no seu lugar, o quanto você se. consideraria preso e devedor a tal pessoa por tudo isso?
No entanto, Cristo fez isso por você. Ele carregou o pecado - o maior de todos os males, aquele que abrange todos os outros em si -pois, ninguém senão Cristo, seria capaz de fazê-lo.
Se Deus colocasse sobre você o menor pecado, simplesmente um pecado (o qual ninguém exceto Cristo jamais carregou neste mundo), isso o faria em pedaços com seu peso, ainda que todos os pilares do céu e todos os anjos gloriosos contribuíssem com sua força para o ajudar a carregá-lo.
O menor pecado merece e atrai para si uma infinita ira que nem você, nem todos os anjos do céu são capazes de ficar em pé debaixo dela. Os perdidos carregam esse peso no inferno. Eles sofrem-no, porém sem forças para suportá-lo. Eles são moribundos sem poder morrer. Sempre consumindo, nunca consumidos! Portanto, veja quanto você está endividado a Cristo - Aquele que carregou o pecado, o maior de todos os males, e com o pecado, todos os tormentos, ira e justiça atribuíveis ao pecado.
O mundo todo não é capaz de expressar que tormentos Cristo suportou quando levou o pecado, quando Ele suou gotas de sangue, quando Ele lutou com a justiça e suportou a ira de Deus: quando Ele clamou: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" Que estranha exclamação dAquele que era o Filho de Deus, Ele que fez os patriarcas da Igreja Grega dizerem: "Pela virtude de Teu desconhecido labor, e aqueles sofrimentos não revelados ao homem, tenhas misericórdia de nós". Não é desonra dizer que quaisquer que fossem os sofrimentos dos perdidos, Cristo suportou-os, contudo não em espécie. E portanto, enfatizo novamente o quanto você deve a Cristo que levou seus pecados para você. De fato, está mais preso ainda por ter sido um ato voluntário de Cristo; ninguém poderia forçá-lO ou constrangê-lO a isso. Quanto mais voluntária for a gentileza feita, tanto melhor ela é. A gentileza é muito mais digna quando feita voluntariamente.
Quando uma cortesia é voluntária, costumamos dizer que é uma dupla cortesia. A voluntariedade torna tudo maior, pois quanto maior o mal que está no pecado, maior é o pecado. Isto se aplica ao pecado contra o Espírito Santo. Ele é praticado com volição desesperada e diabólica.
Quanto maior o desejo de se prestar um serviço, maior será a aceitação dele. O que quer que você faça para Deus, quanto maior for a vontade de fazê-lo, maior será a apreciação de Deus. Quanto maior foi a voluntariedade envolvida naquele ato de Cristo, tanto maior deve ser a nossa vinculação a Ele por isso.
Ora, se você considerar isto em toda a sua extensão, não encontrará nisso outra coisa senão amor e pura boa vontade. Sua primeira aquiescência foi voluntária. Foi um acordo voluntário feito entre Deus e Cristo, um contrato de bom grado feito no céu com Deus, de que Ele Se incumbiria dessa grande obra. E Ele veio ao mundo com tanta voluntariedade: "Pelo que, entrando no mundo, diz: sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo me preparaste; holocaustos e oblações pelo pecado não te agradaram. Então disse: eis aqui venho (no princípio do livro está escrito de mim), para fazer, ó Deus, a tua vontade " (Heb. 10:5-7), evidenciando a liberdade e a voluntariedade de Cristo ao incubir-Se desta obra.
E por isso os anjos entoaram por ocasião da Sua encarnação, boa vontade para com os homens. Isso mesmo - boa vontade. E quando Ele estava no mundo, realizou Seu trabalho com a maior boa vontade. Ele nos fala: "para esse fim eu nasci, e para esse fim eu vim para o mundo ", e Ele disse que estava em angústia até que chegasse a hora, a saber, em ânsia de amor até que a hora chegasse.
E quando chegou o momento, foi uma negra e desoladora hora, chamada "A hora das trevas"; ainda assim Ele não nos abandonou, não nos deixou. Se o tivesse feito, teria nos deixado no inferno sem qualquer recuperação. Contudo, Ele não o fez, embora (em relação a Sua humanidade) isso fizesse da obra de Sua misericórdia uma coisa estranha. Não, Ele carregou o pecado, levou a ira e derramou até a última gota de sangue do Seu corpo.
Oh, leitores, pensem consigo mesmos, vocês que são o povo de Deus, o quanto estão dependentes de Cristo!
Quantos de nós podemos dizer como Bernardo: "Tu és minha vida, sou Tua morte; Tu és minha justiça, sou Teu pecado; Tu és meu céu, sou Teu inferno; Tu és minhas riquezas, sou Tua pobreza." Oh, quanto vocês estão dependentes de Cristo, dAquele que carregou o pecado!
E ainda mais, vocês sabem o quanto estão dependentes de Cristo, dAquele que carregou o pecado de maneira como jamais poderíamos fazê-lo, pagando assim o débito do qual estamos absolvidos? "Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz." (Col. 2:14). Como a morte de Cristo foi o pagamento necessário para nosso resgate, assim também a Sua ressurreição constitui-se em nossa absolvição. "O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação. " (Rom. 4:25). Somos justificados pelo Seu sangue? Somos. Todavia Ele não ressuscitou formalmente para justificar-nos, e sim para declarar que já estávamos justificados, que estávamos desobrigados, e que nossos pecados foram perdoados.
Se Cristo ainda fosse prisioneiro sob as cadeias da morte, não poderíamos ter nenhuma certeza de que nosso débito fora pago. Como diz o apóstolo Paulo: "Se Cristo não houvesse ressuscitado, estaríamos ainda em nossos pecados". Mas agora Cristo - preso, levado prisioneiro, posto no túmulo e tendo quebrado os grilhões da morte, na qual era impossível prendê-lO - tendo ressuscitado, declara, por tudo que passou, que nossos pecados estão perdoados.
Se realmente Cristo levou o pecado e nós também tivéssemos que levá-lo, qual a nossa vantagem? No entanto, Cristo levou o pecado de maneira tal que não temos de levá-lo, então quão infinitamente somos devedores a Ele por isso!
Cristo não deixou nada para fazermos, a não ser receber o que Ele adquiriu e entregou nas mãos do Pai: nada além de pedir uma absolvição, sim, e das mãos dEle que é justo e nunca nos decepcionará, das mãos dAquele que certamente concederá o que quer que seja que Seu Filho tenha tão custosamente adquirido pela Sua obra expiatória.
Se um homem morre e deixa legados nas mãos de alguém que é fiel, não podemos requerê-los? Quando Cristo morreu, Ele confiou todos os Seus méritos nas mãos de Seu Pai, e Ele não deixou nada para fazermos, a não ser requerê-los todos.
Deus fez um pacto com Cristo que, se Ele levasse o pecado, não precisaríamos carregá-lo também; que se Ele morresse pelo pecado, o mesmo seria perdoado por Ele; pois tudo isso está incluso em Isaías, capítulo 53, versículo 11: "O trabalho de sua alma ele verá, e ficará satisfeito ".
Ora, Cristo colocou em nossas mãos todas as cédulas e fianças de Seu Pai, e ainda uma procuração pela qual estamos autorizados a reivindicar tudo isso das mãos de Deus.
Foi por nós que Cristo Se incumbiu do trabalho e tudo o que Cristo fez foi para nos comprometer com Deus, para satisfazê-lO e depois comprometê-lO, fazer de Deus o devedor daqueles que foram Seus devedores. E enquanto houver uma gota do sangue de Cristo para ser distribuída (o qual nunca se esgotará, é uma justiça eterna) haverá a misericórdia de Deus, ou melhor, a justiça de Deus incumbida de transmiti-la a nós que pela fé chegamos a Ele. E não sobrou nada para fazermos em relação à justificação, a não ser requisitar tudo o quanto Cristo já adquiriu.
Vivemos no mundo como se tivéssemos que comprar o perdão, quando temos apenas de recebê-lo. Deus nos detém pelo débito do nosso pecado, mas vocês pensam que temos de pagar por ele? Ai de nós, pobres criaturas, se tivéssemos que pagar! Isto não é senão para tirar-nos de nós mesmos e trazer-nos para Cristo - Aquele que já pagou o débito.
Oh, como isso nos faria proclamar Cristo, admirá-lO, prezá-lO! O que poderia aproximar mais o nosso coração a Cristo do que o fato de que Ele levou os nossos pecados, e o fez de modo que nunca teremos que levá-los se tivermos interesse nEle?

8. CONSEQUÊNCIA
Se o pecado é o maior mal, então isso deve conduzir-nos para:
1. a maior tristeza
2. o maior ódio
3. o maior cuidado em evitá-lo
4. o maior empenho em livrar-nos dele.
Se o pecado é o maior mal, então precisa haver a maior tristeza por sua causa. Nenhuma aflição, nenhum problema, nenhum mal deve ser tão amargo para nós como o pecado, porque o pecado é o maior mal. É uma coisa triste ver nossos corações suscetíveis e sensivelmente afetados com males menores e problemas, e ainda permanecerem duros e insensíveis ao pecado, o qual é o maior dos males.
Seria sábio de nossa parte, portanto, quando nenhum outro mal estiver sobre nós, voltarmos todos os nossos lamentos, lágrimas e tristezas para o pecado.
É um aforismo na medicina que, se um homem sangrar copiosa¬mente num lugar, os médicos o farão sangrar em outro lugar, a fim de fazer o fluxo de sangue mudar de direção. Seria sábio de nossa parte, quando nossas almas sangrarem e nossos corações lamentarem por outros males, direcionar todos os lamentos angustiosos para o pecado. Deixem que eles corram pelo canal certo.
Lágrimas derramadas deveriam ser derramadas novamente se não foram derramadas pelo pecado. A tristeza é como a influência de Mercúrio: boa, se unida a outro planeta bom, má, se ligada a um planeta mau. Não é tanto a tristeza em si como o é a base e a fonte da tristeza. O motivo dela é que deve chamar a atenção. A tristeza era nula em Judas, sincera em Pedro, foi nula em Saul, sincera em Davi. Mundana em um, divina em outro - "A tristeza do mundo opera a morte ". E tal é toda tristeza que não tem o pecado como seu fundamento, a graça como seu princípio e Deus como seu fim.
Onde o pecado é entendido como sendo o maior mal, será objeto da maior tristeza, tristeza para exceder todas as outras tristezas.
1. Embora nem sempre em quantidade c tamanho, mas em qual ida de e equivalência: um pouco de ouro vale tanto quanto unia grande quantidade de terra e entulho.
2. Embora não em força - porém em extensão e continuidade -outras tristezas são como terra inundada, ocasionada pela tempestade a qual quando se vai, a inundação desaparece. Esta tristeza divina vem de um manancial, e tendo uma fonte para alimentá-la, é permanente mesmo quando a outra se vai. Esta é a diferença entre a tristeza divina e a outra.
As tristezas do povo de Deus, que são espirituais, vêm de um manancial. A tristeza mundana surge da tempestade, da comoção. As tristezas do ímpio surgem de suas tristezas emocionais, surgem de uma tempestade, de peso na consciência, de temor da ira, portanto suas tristezas mundanas surgem de uma fonte.
Onde o pecado é compreendido como sendo o maior mal, haverá a maior tristeza, (1) a tristeza é proporcional à medida e gravidade do pecado e (2) a tristeza é proporcional ao merecimento e valia do pecado.
Como o merecimento do pecado é infinito, então a tristeza por ele deve ser uma tristeza infinita. Infinito, digo, não em ação e expressão, porém no desejo e afeição da alma. Aquele cujo coração e olhos secam ao mesmo tempo, cuja expressão em lágrimas e inclinação à tristeza terminam ao mesmo tempo, embora tenha chorado um mar de lágrimas, não tem ainda verdadeiramente chorado pelo pecado. Se a tristeza vem de Deus, há uma disposição ao lamento mesmo quando cessam as expressões de lamento, porque cada gota de lágrima vem de uma fonte interior de lágrimas.
Como cada ato de fé surge de uma disposição de crer, um hábito de fé interior, todo ato de amor surge de um princípio de amor interior, assim toda expressão de tristeza surge de uma disposição à tristeza no espírito. Por isso lemos em I Sam. 7:6 que as tristezas dos filhos de Israel são expressas por esta metáfora:"... e tiraram água (vinda de um poço) e a derramaram perante o Senhor ". Seus olhos não davam vazão à medida que seus corações se enchiam. Seus olhos não podiam extravasar tão rápido quanto seus corações produziam. Todas as suas expressões de lamento, estavam aquém da disposição ao lamento que havia em seus corações.
Esta é a tristeza pelo pecado: uma tristeza proporcional à medida, ao demérito do pecado; uma tristeza que excede todas as outras tristezas, embora não em quantidade, mas em qualidade; embora não em força, porém, em extensão e continuidade.
O pecado é o supremo mal? Então exige que seja manifestada uma aversão ainda maior. Nada é propriamente o objeto de aversão a não ser o mal, no entanto, nem todos os tipos de males, e sim o mal do pecado. Males puníveis são mais objetos de medo do que de aversão, porque eles são males impróprios. Nada realmente é mal a não ser o que nos torna maus, e esse pode ser um meio de nos tornarmos bons e, por isso, não é propriamente mal e sim um objeto de aversão.
O mal pecaminoso é objeto de inimizade por que é mal e, sendo o maior dos males, deveria então ter o máximo de nossa aversão." Vocês que amam o Senhor, odeiem o pecado. (Sal. 97:10). Não é suficiente ficar irritado e descontente com ele, pois é assim que o homem age com alguém que seja seu amigo, alguém a quem ele ame, no caso de alguma descortesia. Nem é suficiente desferir golpes contra o pecado, pois assim muitos o fazem hoje e o abraçam amanhã. Entretanto, vocês precisam se esforçar para matar o pecado. O ódio procura anular aquilo que ele odeia. Nada a não ser a destruição dele irá satisfazer a alma que realmente odeia o pecado.
Há muitos erros nos homens com relação à este ponto. Em resumo, eu mostrarei a vocês os enganos secretos do espírito em relação a isso e quão longe estão de odiar o pecado.
1. Um homem pode desavir-se com um pecador pelo qual ele foi persuadido a pecar, e ainda assim não odiar o pecado; pode matar o traidor e ainda gostar da traição.
2. O homem pode desavir-se consigo mesmo pelo pecado e ainda assim não odiá-lo quando este o incomoda, pois ele gosta de pecar.
3. O homem pode indispor-se com o pecado e ainda assim não odiá-lo; atira fora o carvão em brasa quando ele o queima, e ainda assim não se contraria com o negrume ou a sujeira que vem dele.
Se o pecado é o maior mal, então isso requer o maior cuidado para evitá-lo. Os homens naturalmente têm medo de cair no mal. Que estudos, que cuidados, que esforços há para prevenir o mal? Se vocês entendem que o pecado é o maior mal, devem então não medir esforços em evitá-lo. Vocês precisam se esforçar para andarem o mais próximo e corretamente com Deus, a fim de estarem atentos a todas as ocasiões, tentações e seduções que poderiam atraí-los para o pecado. Ninguém está totalmente seguro; pode cair em pecado aquele que negligenciar a vigilância cristã.
Assim, onde o pecado é entendido como sendo o maior mal existirá maior cuidado e seriedade contra o pecado. Tal homem é familiarizado com as falhas dos outros, as quais para ele não são limites da terra para orientá-lo, e sim limites da maré e rochas a evitar. Ele é familiarizado com a fraqueza e a iniqüidade de seu próprio coração e espírito, e por conseguinte vigia. Ele sabe que não pode confiarem nenhum dos seus membros sem que esse esteja debaixo de vigilância.
Os olhos estão cheios de pecado: adultério, orgulho, inveja, concupiscência dos olhos (I João 2:16) e ele não pode confiar em seus olhos sem o pacto de Jó: "Fiz um concerto com meus olhos, como eu os colocaria sobre uma virgem ? (Jó 31:1).
A língua está cheia de pecado: de maldição, murmurações, injúrias, palavras vãs e não há confiança nela sem o freio de Davi: Eu disse: guardarei os meus caminhos para não delinqüir com a minha língua" (Sal. 39). Ele conhecia sua própria fraqueza e iniqüidade, e por isso não ousava confiar em nenhum membro sem ser vigiado.
Tal homem está familiarizado com o poder e estratégia de satanás, que é, como Lutero o chamou, um inimigo sutil, cujas tentações são chamadas de "as profundezas de satanás". Apoc. 2:24; seus ardis, II Cor. 2:11, seus métodos Ef. 4:14. Ele também adapta espertamente suas tentações.
Tal pessoa está familiarizada com os perigos e as estratégias do pecado, e como ele é (1) enganoso em seu objetivo; (2) enganoso em seus argumentos; (3) enganoso em suas pretensões e artimanhas; (4) enganoso em suas intrusões e (5) enganoso em suas promessas. E assim tal pessoa manterá uma santa sobriedade, um temor humilde, grande e cuidadoso sobre seu próprio espírito de modo a não cair em pecado. Ele vê o pecado como seu mal sem par, emprega seu maior esforço e cuidado para evitá-lo.
Se o pecado é o maior mal, então devemos principalmente nos empenhar em nos livrar do pecado. Todo homem deveria se esforçar para livrar-se do mal, e quanto maior o mal, tanto maior deveria ser o desejo dele de se livrar desse mal. Ora, o pecado é o maior dos males. Quanto mais então deveríamos labutar e esforçarmo-nos para sermos libertos do maior dos males?
Ai, ai de mim! O que são os outros males comparados ao mal do pecado - o qual torna nosso bem em mal? E ainda para se ver a vileza do íntimo dos homens, ficam felizes em se livrar de todos os outros males, senão o do pecado. Assim disse Faraó: "Retire esta morte, esta praga." Eles reclamam do resultado do mal, porém não do mal em si, da punição do mal, no entanto não do mal punido. Eles uivam sob os castigos e aflições presentes, mas nunca lamentam o pecado. Eles ficariam felizes em se livrar da dor, todavia ainda prefeririam manter os dentes. Infelizmente, até que o pecado seja removido, não seremos tratados em misericórdia, e sim em julgamento; uma temporária libertação somente nos reservaria o mais severo golpe. Pelo contrário, onde o pecado é removido, a aflição será removida. Eles são como o corpo e a sombra: remova o corpo e a sombra será removida. O pecado é o corpo e as aflições são sua sombra.
Se, por outro lado, as aflições continuam, ainda que Deus tenha levado embora o pecado, a vileza do mal terá sido retirada. O pecado é a lança de toda aflição. O pecado é aquilo que amarga toda cruz, e o pecado sendo retirado, aquilo que é malévolo é retirado e aquilo que é terapêutico e para a salvação, permanece. Trata-se de resultados mais do que da punição em si. Tudo acaba na misericórdia quando pela misericórdia o pecado é retirado.
Se o pecado é o maior mal, então vamos escolher cair em qualquer grande mal do mundo, exceto no menor mal do pecado. Todos os outros males têm algum bem neles e são objetos de escolha, no caso de não podermos evitá-los, mas no caso do pecado é questão de admissão e não de escolha. Desse modo, vejamos o que Moisés fez, como se lê em Hebreus, capítulo onze. Ele preferiu ser maltratado com o povo de Deus do que gozar os prazeres do pecado por um pouco de tempo. Todavia o pecado é totalmente mau, sem nenhum bem nele, e não existe nada no mundo que deveria nos obrigar a escolher o pecado.
Seria o pecado o maior mal? Deixemos que isso nos leve a sentir compaixão e a orarmos por aqueles que estão sob o domínio do pecado. Vocês se compadecem de amigos doentes, de amigos pobres, amigos arruinados. Contudo, o que são todos esses males comparados com o mal do pecado? O que é a pobreza? O que é a doença? O que é qualquer coisa comparada com o mal do pecado? Todos eles são males exteri¬ores, o pecado é um mal interior. Tudo isso tem uma natureza temporal, a morte é o fim de tudo, entretanto este mal é de natureza eterna. Todos os outros males não tornarão ninguém em objeto da inimizade e ira de Deus. Portanto, gastem algumas lágrimas e orações por aqueles que estão dominados pelo pecado. "Oh!", disse Abraão: "Quelsmaelviva diante de ti". Mencionem então os amigos, um irmão, um pai, etc., que estão debaixo do domínio do pecado, que estão sob a tirania do pecado. Oh, que vocês possam compadecer-se de suas almas! Oh, que vocês possam arrebatá-las do domínio do pecado!
Se o pecado é um mal tão grande, então prostremo-nos e admire¬mos a grandiosidade da paciência de Deus em suportar os pecadores e a grandeza da misericórdia de Deus em perdoar o pecado. Admiremos a grandeza da paciência de Deus em suportar os pecadores. É possível que você, amigo, tenha sido um pecador depravado, um beberrão,umblasfemomiserável nesses vinte, trinta, quarenta, talvez sessenta anos ou mais. Deus desistiu de você? Oh, veja nisso a maravilha da paciência de Deus.
Se não fosse por Deus ser Todo-poderoso na extensão da Sua paciência, teria sido impossível para Ele suportá-lo por tanto tempo. Assim Ele nos fala em Os. 11:9: "Eu sou Deus e não homem — eu entrareina cidade para destruí-la ". EmMal. 3:6 -."Eu sou Jeová e não mudo; por isso vós, os filhos de Jacó não sois consumidos", significando que se Ele não fosse Deus, se não fosse Todo-poderoso na extensão de Sua paciência, eles teriam sido certamente eliminados muitos antes.
Se o homem é provocado diariamente e irritado com ofensas e não revida, atribuímos isso à sua pusilanimidade ou à sua impotência; ou à sua falta de coragem ou à sua falta de poder. Mas não é assim com Deus. Sua paciência é o Seu poder (Num. 14:17-18). Quando Deus tinha ameaçado destruí-los Moisés orou a Deus para perdoá-los, e chamou este ato de Sua paciência nada menos que Seu poder: "Agora, pois, rogo-te que a força do meu Senhor se engrandeça; como tens falado, dizendo: o Senhor é longânimo... " Vejam, Ele faz Sua paciên¬cia ser Seu poder. E é isso realmente, se vocês considerarem o que é o pecado. Eu não direi nada mais sobre o assunto além do que Deus diz em Lev. 26:21 - pecar é contrariar Deus.
1. Pecar é contrário às obras de Deus. Tão logo que Deus revelou e aperfeiçoou o sistema do mundo, o pecado deu um golpe na tentativa de abalar esse sistema, e ele gostaria de ter feito tudo em pedaços. Se não fosse pela promessa de Cristo, tudo teria se desintegrado.
Se um homem viesse ao atelier de um artesão e com um golpe quebrasse em pedaços a peça de arte que custou muitos anos de estudo e dores para idealizá-la, como o artesão suportaria isso? Assim fez o pecado, e será que Deus deveria suportá-lo? Oh, onipotente paciência!
2. E ainda mais, tudo isso é contrário à natureza de Deus. Ele é santo, o pecado é obsceno; Deus é puro; o pecado é impuro e, por isso, é comparado ainda à coisa mais impura do mundo: o veneno de áspides, úlceras, feridas, etc. Se toda a contaminação nociva do mundo se concentrasse em um antro comum, não seria igual à contaminação do pecado.
Deus é bom, perfeitamente bom; o pecado é mau, universalmente mau. Existe o bem em todas as outras coisas, pragas, doenças. O inferno em si tem um tipo de bem nele. Mas no pecado não. Pecado é a blasfêmia prática do nome de Deus. É o desafio à Sua justiça, a violência à Sua misericórdia, o zombar de Sua paciência, o desrespeito ao Seu poder, o desacato ao Seu amor. É totalmente contrário a Deus.
3. O pecado é contrário à vontade de Deus. Deus nos ordena a fazer algo. O pecado diz: "Eu não vou fazer isso". "Santificado seja meu sábado", diz Deus. "Eu não o santificarei", diz o pecado. Aqui há contradição, e quem pode suportar a contradição?
Isso é considerado como parte importante dos sofrimentos de Cristo (Heb. 12:3). Ele suportou a contradição dos pecadores contra Si mesmo. Certamente esse foi um grande sofrimento. Como pode um homem sábio suportar a contradição de um tolo? É aqui que Cristo -a sabedoria do Pai - suportou tal contradição dos tolos, a qual Lhe causou grande sofrimento.
O pecado contradiz Deus. Ele põe a vontade contra a sabedoria e o inferno de uma vontade corrupta contra o céu da infinita sabedoria. Imaginem! Deus suportando pecadores. Eis a maravilha!
Vocês sabem que em todas as criaturas a oposição opera toda a combustão. Ela faz toda a guerra na natureza, ela provoca um elemento para brigar contra outro. Fogo contra água, água contra fogo. Ela faz as muitas pedras suarem e partir em pedaços.
Percorram toda a criação e não encontrarão nenhuma criatura que possa suportar ser contrariada. Como pode o pecador viver num mundo onde Deus e o pecado estão em oposição? Eis aí a maravilha: uma extraordinária paciência!
O pecado seria um mal tão grande? Então prostremo-nos, e admi¬remos a grandeza da misericórdia de Deus em perdoar o pecado. Vejam como o profeta clama e o admira: "Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade, e que te esqueces da rebelião do restante da tua herança?... " (Miq. 7:18).
Esta é uma das maiores obras que Deus faz no mundo: perdoar o pecado. É uma obra na qual Ele revela todos os Seus gloriosos atributos: Sua sabedoria, Seu poder, Sua justiça, Sua misericórdia, Sua santidade e assim por diante, ao perdoar o pecado.
Os homens que pensam que a misericórdia perdoadora de Deus é simples e sem importância, dão dessa forma um sinal evidente de que nunca receberam perdão, nunca souberam o que era realmente receber o perdão.
Seja houve alguma obra no mundo que pôs Deus à prova, o perdão foi essa obra. E se algum dia Deus intentou algo de bom para você, Ele o instruirá e o orientará quanto ao perdão do pecado. Entretanto, Deus humilha os homens em sua prestação de contas para elevar o conceito deles sobre o perdão, para promover a grandeza de sua própria misericórdia em perdoar o pecado. E realmente não precisaríamos de tão grandes preparações e humilhações ao virmos para Cristo se tivéssemos pensamentos mais elevados sobre o perdão do pecado. Os homens consideram perdão aquilo que não passa de um lamento: "Deus, tenha misericórdia!" Cometem uma blasfêmia e então dizem: "Deus, me perdoe!" ou dizem: "Senhor tenha misericórdia de mim quando eu morrer!"
Dizem que Luiz II, rei da França, usava um crucif i xo em seu chapéu e quando ele pecava, beijava o crucifixo e então tudo estava resolvido. Os papistas fizeram o mesmo com o crucifixo e a confissão. Ah, meus irmãos, se Deus destinou o bem para vocês, Ele os fará saber o que é perdão. Em Is. 55:8, quando Deus atraiu os homens para mostrar-lhes o perdão, Ele os chamou para um lugar alto acima do mundo "... meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos cami¬nhos os meus caminhos ", diz o Senhor. "Se eles fossem, então Eu não poderia multiplicar o perdão, mas como os céus são mais altos do que a terra, assim são os Meus pensamentos mais altos do que seus pensamentos, e Meus caminhos mais altos do que seus caminhos. Eu sou infinito".
Se a misericórdia criadora de Deus é tão grande, como Davi com dupla admiração declarou no Sal. 8:1 e no último versículo: "O Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra, pois puseste a tua glória sobre os céus " o que dizer então de Sua misericórdia perdoadora?
Finalmente, seria o pecado um mal tão horrendo? Então vejam que motivo temos para humilhar nossas almas diante de Deus neste dia devido termos pensamentos tão superficiais sobre o pecado, e desde que Deus tem classificado o pecado como o maior de todos os males. Que pensamentos levianos temos do pecado? Podemos engoli-lo sem medo, podemos viver nele sem percebê-lo, podemos cometê-lo sem remorso. Tudo isso mostra a superficialidade dos nossos pensamentos sobre o pecado. Não avaliamos o pecado como sendo um mal tão grave como realmente ele é.
Agora, para que vocês possam ter conceitos mais adequados sobre a magnitude dele, para que sejam capazes de ver o pecado como algo excessivamente maligno, irei apresentá-lo resumidamente sob seis aspectos.
1. Olhem para ele sob o prisma da natureza a qual, embora seja um cristal pouco transparente, é um refletor autêntico. O pecado tem ofuscado essa lente, ainda assim ela é capaz de revelar-nos muito do mal do pecado. Mesmo os pagãos têm visto e julgado por eles mesmos, muitos pecados como sendo o maior dos males.
Embora os pecados espirituais fossem ocultos a eles, sua luz não era capaz de descobrir a infidelidade e os pecados íntimos. Todavia eles têm descoberto os pecados morais, e os evitado, e prefeririam correr o risco de sofrer do que cometer tais pecados. Os exemplos de Platão, Cipião, Catão, e muitos outros irão elucidar isso. Tudo isso foi descoberto pelo prisma da natureza, feito por ela própria, porém não pela mera natureza caída, e sim pela natureza bem administrada, pela natureza desenvolvida, pela implantação de princípios morais junta¬mente com a graça restringedora e de outros dons comuns do Espírito.
O grande ódio que sentem pelo pecado, o grande cuidado que têm para evitá-lo, o grande sofrimento que experimentam por não quererem cometer pecado, deveriam ser suficientes para revelar-nos quão grande é o mal do pecado - mas interromperemos o assunto aqui.
2. A segunda lente pela qual vocês podem ver até onde vai o pecado é a lente da lei, a lente que revela o pecado em todas as suas dimensões: a culpa, o demérito, a corrupção e a malignidade do pecado. Portanto, o apóstolo diz em Rom. 7:7 "... mas eu não conheci o pecado senão pela lei..." Isto é, eu não teria conhecido o pecado como sendo tão abominável quanto ele o é, eu não teria conhecido o pecado em sua amplitude e latitude. Eu não teria conhecido a gravidade do pecado se não tivesse sido pela lei, se a lei não tivesse sido a lente para revelar o pecado a mim.
Ela revelou a grandeza do pecado para Davi: "A toda a perfeição vi limite, mas o teu mandamento é amplíssimo " (Sal. 119:26), isto é, por revelar a extensão do pecado em proporção a sua amplitude e grandeza.
Que lástima! Isso irá revelar a vocês mais nudez num pecado do que o mundo todo pode cobrir, mais indigência num pecado do que todos os tesouros da justiça disponível são capazes de suprir; mais obliquidade e injustiça num pecado, num pensamento errado, do que a morte de todos os homens e o extermínio dos anjos seriam capazes de expiar.
Procurem na lei e vocês descobrirão milhares de pecados que caem sob toda e qualquer lei de Deus. Eis aqui a lente!
3. Olhem para o pecado sob a lente das dores, feridas penetrantes e tristezas, as quais os santos encontraram em seu acesso e primeira entrada no estado de graça, em suas reincidências e retornos à insensatez.
Para o primeiro, vejam que gemidos e humilhações tiveram que suportar em sua primeira admissão ao estado de graça - Manasses em II Crôn. 33:12, Paulo em Atos, capítulo nove, os judeus convertidos em Atos 2:37 - admissão semelhante à ocasião quando os pregos perfuraram Cristo, agora cravados em seus corações como a lança no lado de um animal.
Quantos dos muitos santos que já existiram estiveram presos num leito de miserável angústia, acamados sob os golpes da justiça possivelmente por muitos anos, e tudo isso por causa do pecado. Em todas as épocas houve milhares de exemplos dessa natureza.
Olhem para as angústias e quebrantamentos que os santos tiveram que suportar por causa de suas reincidências no pecado. Vejam nos em Pedro e em Davi. Leiam as tristes expressões que ele tem no Sal. 6:1-7 e no Sal. 32:3-5. Do mesmo modo no Sal. 51. Como ele lamenta pela sua alma perturbada, seus ossos quebrados, seus olhos consumidos pela tristeza, sua cama está encharcada com lágrimas! E tudo isso por causa do pecado. Aqui está a lente pela qual pode-se ver o mal do pecado como sendo o maior mal. Sim, quando Deus o enfoca, o menor pecado resultará em tudo isso.
4. Olhem para o pecado em Adão e vejam a extensão dele. Aquele único pecado de Adão trouxe todas as misérias, doenças, morte e outras desgraças, sobre toda a sua posteridade desde aquele tempo. O pecado tem sido a maldição de milhares de homens e ainda continua sendo. A justiça de Deus ainda não foi satisfeita. Se ela tivesse sido, haveria um fim. Não morreríamos, nem ficaríamos doentes jamais, etc. Oh, aqui vocês podem ver o pecado em sua extensão!
5. Olhem para o pecado sobre Cristo. Vejam que humilhações, que quebrantamentos, que feridas cruciantes, que ira isso trouxe sobre o próprio Cristo. Foi isso que misturou aquele cálice amargo com ingredientes tão terríveis, os quais, se tivéssemos que libá-lo quando assim estava temperado, teriam colocado nossas almas debaixo de uma ira pior do que aquela que todos os condenados sofrem no inferno. Cristo suportou plena justiça por causa do pecado.
Isso fez com que Ele que era tanto Deus quanto homem, santificado pelo Espírito para essa missão, fortalecido pela Deidade, suasse gotas de sangue, e até lutasse, parecendo recuar e orar contra a obra de Sua própria misericórdia, querendo desistir do propósito de Sua própria vinda ao mundo.
Ah, ninguém sabe senão Cristo, nem é o finito entendimento humano capaz de conceber, o que Cristo suportou quando estava para carregar o pecado e com isso lutou contra a infinita ira e justiça do infinito Deus, os terrores da morte, e os poderes do mundo vindouro. Aqui está uma lente pela qual vocês podem ver a grandeza, a amplitude, a culpa, o demérito do pecado, tudo o que é revelado ao indivíduo na morte, sofrimentos, quebrantamentos e feridas do Filho de Deus.
Você, amigo, que despreza o pecado, vá para Cristo e pergunte a Ele quão duro isso foi, aquilo que você despreza esmagou-O contra o chão. E o menor pecado esmagaria você e todos os pilares do céu para o fundo do inferno para sempre.
6. A sexta lente: olhem para o pecado na condenação eterna da alma, que nada satisfaria à justiça de Deus a não ser a destruição da criatura. Nem doenças, nem prisões, nem sangue, nem sofrimentos, a não ser os sofrimentos do inferno! E esses não por um tempo, mas para sempre! Ah, vejam aqui a enormidade do pecado, o qual poderia ser ainda mais ampliado considerando-se a preciosidade da alma, a qual o pecado arruina por toda a eternidade. E portanto, vocês conheceriam o pecado? Perguntem aos condenados: o que é pecado? Volvam seus ouvidos ao inferno e ouçam todos aqueles berros, aqueles gritos, aqueles rugidos dos condenados, e tudo isso por causa do pecado. Oh, eles foram os prazeres custosamente comprados, os quais precisam ser conseqüentemente pagos com dores sem fim.
Assim através destas lentes vocês vêem o que é o pecado. E por conseguinte como devemos ser humilhados por causa de nossa indiferença em relação ao pecado, o qual é um mal tão grande!

Samuel Bolton, D.D.
Falecido Mestre do Colégio de Cristo, Cambridge. 


(Publicado pela primeira vez em 1657)