Abraão: A Fé que obedece - R.C. Sproul

14:55
Abraão: A Fé que obedece - R.C. Sproul
"Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança” (Hb 11.8). 

Observe que, neste versículo, a palavra fé está conectada com a palavra obedeceu. Viver em submissão ao que Deus ordena é a essência da fé. Isso foi o que Abraão fez em grau profundo, pelo que ele é chamado o pai dos que creem. Quando Abraão ainda vivia no paganismo, Deus lhe apareceu e lhe fez a promessa de que seria o pai de uma grande nação. 

A Bíblia nos diz que Abraão “creu no Senhor, e isso lhe foi imputado para justiça” (Gn 15.6). Paulo desenvolveu o ensino de que Abraão representa o grande exemplo de uma pessoa que é justificada pela fé e não pelas obras (Rm 4.17). Quando uma pessoa aceita as promessas de Deus que estão em Cristo, essa pessoa é instantaneamente justificada. Foi assim que Abraão foi contado (ou reputado) como justo por Deus, porque ele creu na promessa de Deus. À medida que o tempo passava, Abraão demonstrava sua fé por meio de obediência. Essa é a razão por que, mais tarde, Tiago se refere a Gênesis 22, quando Abraão ofereceu Isaque sobre o altar, demonstrando o fruto de sua fé por meio de obediência (Tg 2.21).

Portanto, o autor de Hebreus diz que foi pela fé que Abraão obedeceu, quando Deus o chamou para ir a um lugar que ele não conhecia. Pensemos sobre isso. Podemos apresentá-lo de maneira sensacional e torná-lo mais piedoso do que real, mas a verdade é que Abraão era um homem velho. Ele tinha suas raízes estabelecidas firmemente na Mesopotâmia. Sua família era desse lugar. Seus bens estavam ali. Sua herança estava ali. Mas, quando já era velho, Deus veio até ele e lhe disse: “Quero que você saia desta terra. Saia do lugar em que você está culturalmente confortável. Farei de você um forasteiro numa terra alheia e estranha. Eu lhe mostrarei onde fica essa terra”.

Assim, Abraão arrumou suas coisas e partiu. Se já houve uma aventura realizada tão somente pela fé, essa aventura foi a imigração de Abraão para uma terra estranha. É por isso que a Bíblia nos diz: “Pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa; porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hb 11.9-10).

Há algo significativo a respeito do estilo de vida de Abraão como homem de fé, bem como de seus filhos e de seus netos. Abraão teve uma vida de peregrino. Ele não tinha um endereço permanente. Vivia numa tenda; e essa foi também a experiência do povo de Israel. Eles eram semin mades. Mudavam para lugares diferentes quando a situação climática mudava, para garantir sustento para seus rebanhos. Tinham de ir para onde havia grama crescendo, em tempos específicos. Assim, não havia um lugar permanente que podiam chamar de lar. Abraão esperava e procurava não uma cidade que era terrena, e sim uma cidade cujo edificador era Deus.

No entanto, Abraão procurava algo mais do que uma terra. Lembre as palavras de Jesus: “Se vós permanecerdes na minha palavra, sois, verdadeiramente, meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8.31-32). Os fariseus se ofenderam com isso e responderam: “Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém” (v. 33). Jesus disse: “Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão... Abraão, vosso pai, alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se” (vv.39, 56). Jesus estava dizendo o mesmo que o autor de Hebreus disse: “Abraão aguardava não somente a promessa da terra, ele aguardava a promessa do Redentor, a qual se cumpriu na pessoa de Cristo”.

Quando Paulo ensinou a doutrina da justificação somente pela fé, em sua Epístola aos Romanos, sua “Exibição A”, a pessoa que ele usou para ilustrar como a salvação opera foi Abraão. Ele formulou o ensino de que pessoas no Antigo Testamento eram redimidas exatamente da mesma maneira como as pessoas são redimidas hoje.

Não havia um meio de salvação em Israel e outro meio na comunidade (cristã) da nova aliança. A justificação é pela fé agora; a justificação era pela fé naquele tempo. As bases meritórias de salvação no Antigo Testamento eram os méritos de Cristo, e não os méritos de touros e de bodes.

Como lemos em outra passagem de Hebreus, o sangue de touros e de bodes não podiam, jamais, remover o pecado (Hb 10.4, 11), mas aqueles sacrifícios apontavam para além de si mesmos (Hb 9.13-14). Eles prefiguravam ou prenunciavam a vinda do Messias, cujo sangue removeria o pecado.

A única diferença entre Abraão e nós é a direção de tempo. Abraão olhava para frente, para a cruz; nós olhamos para trás, para a cruz. A fé de Abraão estava na promessa; nossa fé está no cumprimento da promessa. Mas o meio de salvação era o mesmo para Abraão, como o é para nós hoje.

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Trecho do livro: "O Que É Fé?", por R.C. Sproul