Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Para se obter um entendimento correto do conselho de paz ou pacto de redenção, é de extrema importância distinguir nitidamente entre o pacto que Deus estabelece com Cristo como o servo do Senhor, permanecendo como cabeça daqueles que o Pai lhe deu, e o pacto eterno das três pessoas da santa Trindade. O fracasso em fazer essa distinção tornou-se a causa do pacto de redenção ser apresentado como uma relação ou acordo entre o Pai e o Filho, no qual não é encontrado nenhum lugar para o Espírito Santo, e cujo resultado foi praticamente uma negação da santa Trindade e da co-igualdade do Filho com o Pai. Isso era inevitável. As passagens da Escritura que mencionam o pacto que Deus estabelece com Cristo de acordo com sua natureza humana e como servo do Senhor foram usadas como prova para o pacto de redenção, e aceitas como mostrando que em todas essas passagens da Escritura Cristo aparece como subordinado ao Pai.
A distinção entre o conselho de paz, o pacto de redenção, e o pacto de Deus com Cristo como permanecendo como o cabeça dos seus deve estar perfeitamente clara. O conselho de paz é um pacto entre as três pessoas da santa Trindade; o pacto de Deus com Cristo como o cabeça dos eleitos é um pacto estabelecido pelo Deus triúno com Cristo e aqueles que lhe foram dados. No conselho de paz, o Filho aparece como Deus em sua natureza divina, co-igual com o Pai e o Espírito Santo. No pacto com Cristo, o Filho aparece como o mediador em sua natureza humana. No conselho de paz, o Filho, com o Pai e o Espírito Santo, aparece como parte que decreta.
O pacto com Cristo como o servo de Jeová é de Deus somente e foi estabelecido com Cristo pelo Deus triúno. No conselho de paz, o Filho é co-igual com o Pai e com o Espírito Santo. No pacto de Deus com Cristo, ele é o servo do Senhor e subordinado a Jeová. É verdade que o pacto com Cristo está intimamente ligado ao conselho de paz. Pode de fato ser dito que o pacto com Cristo como o servo de Jeová pressupõe o pactum salutis. Mas isso não é razão para identificar os dois. O conselho de paz permanece por detrás do pacto que Deus estabelece com Cristo e aqueles que o Pai lhe deu.
Um estudo cuidadoso da Escritura sobre esse ponto revelará que isso é correto. Quando prestamos atenção a todas aquelas passagens da Escritura que [teólogos] dogmáticos do passado citaram como prova para o conselho da paz ou pactum salutis, torna-se evidente que todas as passagens sem exceção referem-se ao pacto que Deus estabelece com Cristo como o cabeça dos eleitos.
Fonte: Reformed Dogmatics, Herman Hoeksema,
Reformed Free Publishing Association, vol. 1, pp. 422-424.
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