Tal assertiva deve determinar, como ficará evidente, o conteúdo do
evangelho de Deus. Se ele é as boas novas sobre a promessa, isto é, sobre uma
positiva garantia de Deus para a descendência de Abraão, os herdeiros da
promessa, que o Senhor irá conferir uma grande bênção e uma gloriosa herança a
eles, segue-se que o conteúdo do evangelho deve estar sempre em coerência com o
conteúdo da promessa; e aquele que declarar qualquer coisa além de suas
preciosas dádivas não esta pregando o evangelho, mas vãs filosofias de homens.
Deve ser dessa maneira a certeza da promessa; a tal ponto que aquele que muda
esta certeza numa oferta incerta e condicionada está corrompendo a promessa e o
evangelho de Deus. Finalmente, aquele que apresenta a matéria como se a
promessa de Deus fosse feita a todos os homens, ou a um número incerto de
pessoas, não esta pregando o evangelho e está fazendo de Deus um mentiroso. O
Senhor não cumpre a promessa exceto para aqueles a quem ela foi feita, isto é,
para a descendência de Abraão, os herdeiros de acordo com a eleição da graça.
Agora, o conteúdo da promessa, de acordo com a Escritura, é Cristo todas
suas riquezas de salvação e bênção. Pois, o conteúdo é promessa que Deus
levantaria um Salvador da descendência de Davi; que essa descendência iria
levar sobre si os pecados de Seu povo; e que Deus iria fazê-Lo ressurgir dos
mortos e dar Lhe a glória, exaltando-O no trono de Seu pai Davi, e Lhe dando os
confins da terra como Sua possessão. Ele é a Semente prometida. A promessa,
consequentemente, em concordância com a Bíblia, implica a garantia de retidão e
paz, de perdão e filiação, de libertação e santificação, de vida eterna e
glória, da incorruptível e indefinível herança que não acaba. Isso envolve
Cristo e todos que Nele estão, posto que serão herdeiros do mundo, herdeiros do
novo reino celestial, onde habitarão no tabernáculo de Deus para todo o sempre.
Desta forma, a promessa implica ainda o presente do Espírito Santo,
primeiro a Cristo, depois àqueles que pertencem a Ele, e pelo Espírito todas as
bênçãos de Cristo podem ser realizadas na igreja. Assim, é um erro apresentar o
assunto, como se Deus tivesse simplesmente prometido a bênção objetiva da
salvação para a descendência de Abraão, ou mesmo para os homens de maneira
geral, como se dependesse de seus consentimentos para a promessa ser cumprida
neles. Definitivamente, o dom do Santo Espírito está incluído na promessa. Ele
é promessa de Deus, é a promessa de que Deus derramará Seu
Espírito sobre toda carne. E através do Espírito, Ele efetivamente coloca a
salvação em Cristo no coração de todo o Seu povo, por meio da regeneração, do
chamado, da fé, da justificação, da santificação, da perseverança e da
glorificação. Através do Espírito, eles são trazidos das trevas para a luz, e
são mantidos no poder de Deus até a salvação que é para ser revelada no final
dos tempos. Tudo isso está incluído na promessa, isto é, na declaração positiva
por parte de Deus de que Ele, certamente, irá honrar estas bênçãos e
bem-aventuranças da salvação em todo o Seu povo.
Esta promessa é, ao mesmo tempo, o conteúdo do evangelho. É o evangelho
de Deus, evangelho que Ele sozinho é o Autor e que Ele proclama. Só Ele é capaz
de declará-lo, ainda que revelado e pregado por meio de homens. Como seu
conteúdo é o evangelho referente a Seu Filho, o Evangelho de Cristo, assim
somente o Senhor Jesus pode ser pregado na proclamação desse evangelho. Por
essa razão, é também o evangelho da glória do Deus bendito, através do qual e
pelo qual Cristo, a glória dessa bênção, é revelado. Foi por esse evangelho que
Deus deu a Cristo e a todos que Lhe pertencem a Sua própria glória.
Essa glória do Deus bendito, através da glória de Cristo e da igreja da
qual Ele é o cabeça, deve ser realizada no evangelho. É o evangelho do Reino,
pois o Reino do céu, em sua realização final e espiritual, é o fim da promessa
que precisa ser proclamada. É o evangelho da graça de Deus, posto que todas as
obras Dele, em nome da realização da promessa, são uma manifestação de Sua
soberana graça, soberana em sua concepção, soberana em sua manifestação
objetiva de Cristo, soberana em sua aplicação ao Seu povo. É o evangelho da
paz, uma vez que nele o Senhor dos céus publica paz e leva boas novas. E,
finalmente, é o evangelho da nossa salvação, posto que ele declara a plenitude
da nossa salvação do pecado e da morte, e nossa entrada na gloriosa liberdade
de filhos de Deus.
Chegamos, pois, à conclusão, com base na Palavra de Deus, a qual sozinha
pode ser a nossa luz, que o evangelho é notícia agradável a respeito da
promessa da nossa salvação, verdadeira promessa de Deus de que Ele nos livra de
todos os pecados e culpas, da corrupção e da morte, e nos leva para a mais
alta, ou melhor, para a mais humanamente inconcebível felicidade de Seu
prometido Reino Celestial. O evangelho declara:
(1) que Deus, objetivamente, realiza, em e através de Cristo Jesus, de Sua
humilhação e exaltação, toda a plenitude da Sua salvação;
(2) que Deus, subjetivamente, realiza e aplica todas as bênçãos da salvação através
do Espírito da promessa;
(3) que Ele realiza sua obra de salvação em quem Ele quer, isto é, em Seu povo,
os eleitos, aqueles que creem em Cristo, os humildes e de coração quebrantado,
os cansados e oprimidos, todos aqueles que pranteiam em Sião.
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Extraído de: O Evangelho – por Herman Hoeksema
Tradução de Rev. Pedro Corrêa Cabral
Fonte (original): "The Gospel"
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