Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta

07:21

A. W. Pink
A Interpretação das Escrituras --- Capítulos:1 pg:4 — A. W. Pink

      Tiago 1.13: “...Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta”. Esses versículos parecem uma flagrante contradição, contudo o crente sabe que não é esse o caso, ainda que não saiba explicar o que está acontecendo. É por isso que o significado desses versículos precisa ser esclarecido. E isso não é difícil de fazer. É evidente que a palavra “tentar” não é usada com o mesmo sentido em ambas as passagens. A palavra “tentar” tem um significado primário e um secundário. Primariamente, significa fazer uma experiência, provar, testar. Secundariamente, significa seduzir, incitar para o mal. 

      Sem sombra de dúvida, o termo é usado em Gênesis 22.1 no sentido primário, porque mesmo que Deus não tenha interferido até o último momento, Abraão não cometeu pecado ao sacrificar Isaque, uma vez que foi Deus que ordenou que o fizesse.

      Quando lemos que Deus tentou Abraão nessa ocasião, não devemos entender que Deus o incitou para o mal, como Satanás o faz, mas devemos entender que Ele testou a lealdade do patriarca, suprindo-lhe uma oportunidade de comprovar o seu temor de Deus, sua fé nEle, seu amor a Ele. Quando Satanás tenta, ele nos apresenta uma sedução com o objetivo de provocar nossa queda; mas quando Deus nos tenta ou testa, Ele tem como objetivo nosso bem-estar. Toda prova é, assim, uma tentação, porque serve para manifestar aquilo que está no coração, quer seja santo ou impuro. Cristo foi “tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hebreus 4.15). A sua tentação foi real, contudo não houve conflito dentro dEle (como acontece conosco) entre o bem e o mal, a Sua santidade inerente repeliu as ímpias sugestões de Satanás como água repele fogo. Devemos considerar como motivo de grande alegria quando “cairmos em várias tentações” ou “várias provas”, uma vez que são meios de mortificar nossos apetites, testam nossa obediência, são oportunidades de provar a suficiência da graça de Deus. É evidente que não somos exortados a nos regozijar nas instigações para o pecado!

     Outro caso: “O SENHOR está longe dos perversos” (Provérbios 15.29), contudo em Atos 17.27 somos informados que Deus “não está longe de cada um de nós” palavras essas dirigidas a uma audiência pagã!

       Essas duas afirmações parecem contraditórias; sim, a não ser que sejam interpretadas como elas de fato são. Temos, então, de averiguar em que sentido Deus está “longe” dos perversos, isso é o que queremos dizer com “interpretação”. Temos de traçar uma distinção entre a presença poderosa e providencial de Deus e a Sua presença aprovadora. Quanto à Sua essência espiritual ou onipresença, Deus está sempre próximo de todas as Suas criaturas (porque Ele “enche os céus e a terra” Jeremias 23.24) sustentando-lhes a existência, preservando-lhes a alma com vida (Salmo 64.9), concedendo-lhes as misericórdias do Seu cuidado. Mas, visto que os perversos estão longe de Deus em suas afeições (Salmo 73.27), dizendo no coração: “Retira-te de nós! Não desejamos conhecer os teus caminhos” (Jó 21.14), a graciosa presença de Deus está longe deles: Ele não Se manifesta a eles, não tem comunhão com eles, não lhes ouve as orações (“os soberbos, ele os conhece de longe” Salmo 138.6), não os socorre quando eles têm necessidade de socorro, e ainda lhes haverá de dizer: “Apartai-vos de mim, malditos” (Mateus 25.41). Quanto aos justos, Deus está graciosamente perto deles: Salmo 34.18; 145.18.

FONTE: A Interpretação das Escrituras  — Capítulos:1 pg:4 — A. W. Pink