Onipotência Nua do Salvador Crucificado

18:01
C.H.Spurgeon
   Talvez vocês tenham escutado do famoso pintor que pintou o rei Jaime I. Ele representou-o sentado sob um caramanchão com todas as flores da estação ao seu redor, e ninguém emprestou a menor atenção ao rosto do rei, posto que todas as olhadelas eram cativadas pela beleza das flores! 
    Paulo resolveu não ter flores ao seu redor! 
   O quadro que ele ia desenhar devia ser de Cristo crucificado, sem adornos, e a doutrina da Cruz, com a exclusão de qualquer flor que proviesse de poetas ou de filósofos! 

   Alguns de nós devemos ser discretos a respeito da nossa resolução de evitar uma linguagem florida, já que podemos ser muito pouco dotados a esse respeito. Mas o Apóstolo era um homem de poderes naturais subtis e de vastos predicados pessoais, um homem ao qual não poderiam desprezar os críticos de Corinto, se bem que Paulo se tenha despojado de todo o ornamento para dar passo à beleza sem adornos da Cruz!

   Da mesma maneira que ele não adicionaria flores, tampouco ia enegrecer a Cruz com fumo, pois há uma forma de pregar o Evangelho que o asfixia no mistério e na dúvida, de tal maneira que os homens não podem recebê-lo. Um grupo numeroso de pessoas está sempre aquecendo e removendo um gigantesco caldeirão filosófico, fumegante com um denso vapor, que oculta a Cruz de Cristo da maneira mais horrível. Ai daquela sabedoria que oculta a Sabedoria de Deus! 

   É a mais culpada forma de loucura. Algumas pessoas pregam a Cristo, da mesma maneira como é representado, às vezes, um casco de um navio de guerra, em alguma pintura. O pintor pintou unicamente o fumo, de tal forma que te perguntas: "E onde está o navio?" 
   Pois bem, se olhares com atenção, podes, eventualmente, discernir um fragmento da parte superior de um dos mastros e, talvez, uma porção de sua estrutura; o navio estava ali, indubitavelmente, mas o fumo ocultava-o! 
   Da mesma maneira Cristo pode estar na pregação de alguns homens, mas esta pregação encontra-se rodeada de tanta nuvem de pensamento, de tão densa cortina de profundidade, de tão horrível roupagem de filosofia, que os impedem de ver o Senhor!

   Paulo pintava sob um limpo céu. Não queria utilizar nenhuma escuridão ilustrada; decidiu abandonar qualquer técnica da oratória quando falava; para não pensar com a profundidade que presumem os filósofos, mas só saber de Jesus Cristo, e Ele crucificado, e apresentá-Lo na Sua própria beleza natural, sem adornos. Ele prescindiu de todo o elemento acessório que tendesse a distrair o olho da mente do ponto mais importante, Cristo crucificado. "Um experimento imprudente", diria alguém. Ah, Irmãos, é o experimento da fé, e a fé é justificada por todos os seus filhos! 
    Se confiarmos no simples poder de persuasão, confiamos no que é nascido da carne! 
   Se dependermos do poder da argumentação lógica, então novamente confiamos no que é nascido da razão do homem! 
   Se confiarmos nas expressões poéticas e nos atrativos rodeios da linguagem, estamos procurando médios carnais.

   Mas se descansarmos na Onipotência nua de um Salvador crucificado, no poder inato da maravilhosa obra de amor que foi consumada sobre o Calvário, e se crermos que o Espírito de Deus fará desta obra o instrumento para a conversão dos homens, o experimento não pode terminar no fracasso! 
   Mas oh, meus queridos Irmãos e Irmãs, que tarefa deve ter sido esta para Paulo! 
   Ele não era como muitos de nós, que nem estamos familiarizados com a filosofia nem somos capazes na oratória. Ele dominava ambos os campos de tal maneira que certamente precisava de controlar-se continuamente. 

   Às vezes parece-me vê-lo, acossado na sua mente por um pensamento profundamente intelectual e assediado ao mesmo tempo por uma bela forma de expressá-lo, e vejo-o controlar-se pondo-se rédeas a ele mesmo e dizendo à sua mente: "Deixarei estes profundos pensamentos para a epístola aos Romanos. Compartilharei tudo isto com eles no oitavo capítulo da carta que lhes escreverei. 
   Mas quanto a estes coríntios, não terão nada senão a Cristo crucificado, posto que eles são muito carnais, grosseiramente escravos de entendimento, e que ir-se-ão com a idéia de que a maneira excelente em que apresentei a Verdade de Deus constituiu a sua força. 

   Terão somente a Cristo e somente a Cristo. Eles são uns meninos e deverei falar-lhes como a tais. Eles são uns meros meninos em Cristo, e têm necessidade de leite, só leite lhes darei. Eles consideram-se inteligentes e cultos, mas são arrogantes, altivos, repletos de divisões e controvérsias. Não lhes direi nada exceto a história, "a velha, velha história de Jesus e do Seu amor", e dir-lhes-ei essa historia com toda a simplicidade como a um menino pequeno.”

Fonte: www.charleshaddonspurgeon.com