Que fundamento seria melhor para começarmos do que admoestar-nos no sentido de que devemos ser santificados porque o nosso Deus é santo? Fortalecemos o argumento com a lembrança de que, havendo por assim dizer vivido espelhados como ovelhas desgarradas e dispersas pelo labirinto deste mundo, ele nos recolheu para juntar-nos a si. Ao sabermos que Deus promove esta sua união conosco, devemos lembrar que o laço desta união é a santidade. Não que pelo mérito da nossa santidade passemos a gozar da companhia ou da comunhão com o nosso Deus, visto que primeiro é preciso que nos acheguemos a ele para que ele derrame a santidade sobre nós, mas sim que, como não há nenhuma associação da sua glória com a iniqüidade e com a impureza, temos que nos assemelhar a ele porque lhe pertencemos.
Por isso a Escrituras nos ensina que esta é a finalidade da nossa vocação, finalidade à qual devemos estar sempre atentos, se queremos responder positivamente ao nosso Deus. Por que, de que valerá livrar-nos da impureza e da corrupção em que estávamos imersos, se o tempo todo ficamos querendo revolver-nos de novo nessa lama? Além disso, a Escritura nos admoesta no sentido de que, se desejamos estar na companhia do povo de Deus, temos que habilitar em Jerusalém, na sua santa cidade. Cidade que, como ele consagrou e dedicou à sua hora, também não é lícito que seja contaminada e corrompida por habitantes impuros e profanos. Daí decorrem sentenças como esta: “Que, Senhor, habitará no teu tabernáculo? Quem h[a de morar no teu santo nome? O que vive com integridade, e pratica a justiça, e, de coração, fala a verdade” [Sl 15.1,2; 24.3; Is 35.8etc.; Rm 6.1-3,13,17-23].
Autor: João Calvino
Fonte: As Institutas da Religião Cristã, edição especial, ed. Cultura Cristã
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