A causa de toda a idolatria é a corrupção natural do coração do homem. Essa grande enfermidade congênita com a qual todos os filhos de Adão nascem infectados se manifesta de muitas e variadas formas. Da mesma fonte de onde saem "os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os roubos, os homicídios, os adultérios, as cobiças, as maldades, o engano, a devassidão, a inveja, a calúnia, a arrogância e a insensatez" (Mc 7.21,22) surgem também as falsas ideias sobre Deus e as falsas ideias sobre adoração; e quando o Apóstolo Paulo fala aos gálatas sobre as "obras da carne" (Gl 5.20), coloca a idolatria em lugar de destaque entre elas.
O homem terá sempre algum tipo de religião. Deus não ficou sem testemunho entre nós. Como velhas inscrições soterradas sob montanhas de escombros, como escritos quase apagados em antigos palimpsestos, há algo gravado tenuamente no fundo do coração humano, algo que nos faz sentir que deve haver alguma religião e algum tipo de culto. A prova disso pode ser encontrada ao redor de todo o planeta. O homem sempre terá alguma forma de culto.
Então entram em jogo os efeitos da Queda. O desconhecimento de Deus, os conceitos carnais e vis a respeito da natureza e dos atributos divinos, ideias mundanas e sensuais a respeito do culto que é aceitável para a Divindade, tudo isso caracteriza a religião do homem natural. Há um desejo em sua mente de ver, sentir e tocar a Divindade. Quer trazer Deus ao seu próprio nível degradado. Não tem a mínima ideia sobre a religião do coração, da fé e do espírito. Em resumo, deseja viver com Deus ao mesmo tempo em que vive de forma corrompida e caída. Até ser renovado pelo Espírito Santo, o homem sempre prestará um culto distorcido. A idolatria, portanto, é um produto do coração caído do homem. É uma erva daninha que, como terra sem cultivo, o coração está sempre disposto a produzir.
Nos surpreendemos ao ler sobre a idolatria de Israel, a Igreja do Antigo Testamento, a adoração a Baal, Moloque, Quemos e Aserá; os lugares altos e os postes-ídolo; as imagens de madeira, e tudo isso à luz da lei mosaica? Não deveríamos nos surpreender. Há uma explicação. Há uma causa.
Nos surpreendemos ao ler sobre como a idolatria se infiltrou gradualmente na Igreja de Cristo, como pouco a pouco foi substituindo o verdadeiro Evangelho, até que os homens chegaram a preferir o altar da Virgem Maria ao de Jesus Cristo? Deixemos de nos surpreender; é compreensível. Há uma causa.
Nos surpreende ouvir falar de homens que abandonam o protestantismo e voltam para a Igreja de Roma? Pensamos que é inexplicável e cremos que nós mesmos jamais poderíamos abandonar a verdadeira adoração pela do papa? Não deveríamos ficar surpresos. Há uma causa.
Essa causa é a corrupção do coração humano. Há uma propensão e uma tendência natural em todos nós de oferecer a Deus uma adoração carnal, sensual, e não a que Ele ordena em Sua Palavra. Estamos sempre dispostos, devido a nossa preguiça e incredulidade, a inventar ajudas visíveis e atalhos em nossa aproximação a Deus. De fato, a idolatria é fácil, é como ir ladeira abaixo, num caminho amplo e espaçoso. A adoração genuína, por outro lado, é como remar contra a corrente. Qualquer outra forma de adoração é mais agradável para o coração corrompido do ser humano do que aquela descrita por nosso Senhor: "Em espírito e em verdade" (Jo 4.23).
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Extraído do livro "A Espada e a Espátula" Projeto Spurgeon
FONTE: “Idolatria”, 19º capitulo do livro “nós desatados” escrito por J.C.Ryle
Tradução: Fábio Vaz; blog http://www.alegrem-se.blogspot.com.br/
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