A Santidade de Deus
- Stephen Charnock
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Uma das mais sublimes descrições da majestade e excelência de Deus que encontramos está no cântico de Moisés e dos filhos de Israel, feito logo após a vitoriosa travessia do Mar Vermelho. Ó SENHOR, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu glorificado em santidade, admirável em louvores, realizando maravilhas? (Êxodo 15: 11). A santidade de Deus é a Sua glória, assim como a Sua graça são as Suas riquezas. Um deus com um grau mínimo de impiedade seria um monstro, inclinando-se mais a ser um diabo do que realmente um Deus.
Este atributo possui um grau de excelência acima das outras perfeições de Deus. Ele é o único que ao ser mencionado é repetido três vezes, e isso tanto no Velho quanto no Novo Testamento. Santo, Santo, Santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória (Isaías 6: 3). Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que era, e que é, e que há de vir (Apocalipse 4: 8). Deus o escolhe para jurar por ele, como se ele fosse o Seu atributo mais querido. Uma vez jurei pela minha santidade que não mentirei a Davi (Salmo 89: 35). Jurou o Senhor DEUS, pela sua santidade (Amós 4: 2). Nenhum outro atributo poderia dar uma garantia paralela a ele. A santidade é a beleza e a glória de Deus. É a sua própria vida, pois Deus jura por Sua vida e por Sua santidade. Ele jura por diversas vezes “Como eu vivo, diz o Senhor” (Números 14: 21; Ezequiel 5: 11; Sofonias 2: 9; Romanos 14: 11). A santidade é a coroa e beleza de todas as Suas outras perfeições. O Seu poder é um poder santo. A Sua sabedoria é uma sabedoria santa. Sem santidade, Sua paciência se transformaria em indulgência, Sua misericórdia em afeto, Sua ira em maldade, Seu poder em tirania, e sua sabedoria em sutileza. O seu nome, que significa tudo o que Ele é, é santo (Salmo 103: 1). Santo é o seu nome (Lucas 1: 49). Todas as Suas ações são feitas em santidade. Justo é o SENHOR em todos os seus caminhos, e santo em todas as suas obras (Salmo 145: 17).
I. A NATUREZA DA SANTIDADE DE DEUS.
De um modo geral, a santidade é a mais perfeita e pura liberdade do mal. É integridade e retidão moral. Deus age para que tudo redunde em Sua própria excelência. De um modo mais específico, vamos observar os seguintes pontos:
A santidade é essencial à natureza de Deus. Aparte disso, Ele não seria Deus. Ele não escolheu ser santo, pois então Ele também poderia ter escolhido não o ser. Ele também não foi compelido de alguma maneira a ser santo. Porém, ao invés disso, a santidade é um atributo necessariamente livre. É simplesmente inconcebível que Deus não seja outra coisa a não ser santo.
Somente Deus é absolutamente santo. Não há santo como o SENHOR (I Samuel 2: 2). Quem te não temerá, ó Senhor, e não magnificará o teu nome? Porque só tu és santo (Apocalipse 15: 4). Nenhuma criatura pode ser totalmente santa porque todas as criaturas são mutáveis. Qualquer santidade presente em nós é proveniente de Deus, sendo tudo por graça. Até aos anjos eleitos Deus atribui loucura (Jó 4: 18), pois a santidade deles é finita e separada da Sua essência, enquanto a santidade de Deus é infinita em sua essência.
Deus odeia perfeitamente o mal, ao passo em que Ele também ama aquilo que é justo. Ele tem prazer nas boas coisas que produz a partir do pecado, mas este prazer está em Sua própria bondade e sabedoria e não propriamente no pecado. Desde que o mal é o oposto da santidade, Deus tem que necessariamente odiá-lo. Se Ele não o fizesse, acabaria odiando a si mesmo, e se tornando um inimigo da Sua própria natureza. Além disso, Ele odeia intensamente o mal, que lhe é tremendamente odioso. Ele odeia os obreiros da iniquidade por causa de sua natureza ímpia (Salmo 5: 5). A Sua ira é tão infinita quanto o Seu amor e misericórdia, sendo tão perfeita como elas são. Deus odeia o mal onde quer que este se encontre. Ele muitas vezes castiga os pecados dos Seus remidos mais do que os de outros homens nesta vida. Não lemos de nenhuma outra alma sendo lançada no ventre de um peixe como o foi o profeta Jonas. Cristo repreendeu os Fariseus chamando-os de filhos do Diabo, mas não chamou nenhum deles de Satanás, como o fez com Simão Pedro (Mateus 16: 23). Deus odeia perpetuamente o mal, sem interrupção alguma. Deus é juiz justo, um Deus que se ira todos os dias (Salmo 7: 11). Deus pode se reconciliar com o pecador, mas nunca com o pecado. A Sua reconciliação com o pecador ocorre somente por causa da remissão dos pecados feita por Cristo.
Deus é tão santo que não pode deixar de amar a santidade em outros. Porque o SENHOR é justo, e ama a justiça; o seu rosto olha para os retos (Salmo 11: 7). Ele não está em débito com ninguém por causa da Sua justiça. Antes, os homens é que estão em débito com Ele. Mas Deus ama a estampa ou o selo que Ele mesmo coloca em uma pessoa.
Deus é tão santo que não pode de maneira alguma desejar ou encorajar o pecado a ninguém. Não há contradição em Deus. A santidade não pode ser a causa da impiedade. Por isso lemos em Tiago 1: 13 que Deus não tenta nenhum homem a pecar. Nem comanda ou ordena alguém a pecar. E também não inspira secretamente nenhum mal em alguém, pois Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e reto é (Deuteronômio 32: 4). Deus também não coage nenhum homem a pecar. O pecado é um ato voluntário da parte do ímpio. É claro que isso não diminui em nada a soberania absoluta de Deus, mas somente deixa claro que Deus não tem cumplicidade alguma quanto ao pecado. Como Deus poderia nos incitar para aquilo que, quando feito, Ele certamente condenará? Se Deus fosse o autor do pecado, por que então a nossa consciência nos acusaria? Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma (Romanos 9: 14).
Deus é incapaz de praticar o mal. Não há imperfeição alguma na santidade de Deus. Nele não há mudanças nem sombra de variação (Tiago 1: 17).
II. A DEMONSTRAÇÃO DA SANTIDADE DE DEUS.
Primeiro, nós vemos a santidade de Deus no estado original da criação. O primeiro estado dos anjos era santo (Judas 6). O primeiro estado do homem era santo também. Deus fez ao homem reto (Eclesiastes 7: 7). O homem foi feito à imagem moral de Deus, ou seja, em verdadeira justiça e santidade (Colossenses 3: 10; Efésios 4: 24). A cristalinidade da água aponta para a pureza da fonte.
Segundo, nós vemos a santidade de Deus em Sua obra como legislador e juiz. Todas as Suas leis e administração da justiça refletem a retidão da Sua natureza. Moisés perguntou a Israel: E que nação há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje ponho perante vós? (Deuteronômio 4: 8).
1. A lei moral aponta para a santidade de Deus. E assim a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom (Romanos 7: 12). A lei do Senhor é perfeita (Salmo 19: 7). A lei de Deus ordena todo o bem e renega todo o mal, não meramente para o simples benefício do homem como o fazedor das obras, e nem para o simples benefício da humanidade como sendo o recipiente das obras, mas porque a lei de Deus é santa em seu próprio caráter, quando considerada isoladamente. As leis dos homens visam somente o comportamento exterior, enquanto a lei de Deus está interessada no coração e atitudes. A lei é espiritual (Romanos 7: 14). Ela não somente requer a frente da casa isenta de lama, como também o quarto dos fundos sem teia de aranha. Deus mesmo não viola a Sua santa lei, pois isso o faria um inimigo de si mesmo. Ele preferiu expor Seu Filho a vergonha e morte, do que perdoar a culpa violando o Seu padrão de santidade e justiça.
2. A lei cerimonial aponta para a santidade de Deus. O povo de Israel, diariamente, se não de hora em hora, testemunhava a lembrança do santo caráter de Deus nos sacrifícios levíticos, nas ordenanças, na purificação com água, nas leis dietéticas, e etc.
3. Deus revelou a Sua santidade nas promessas e ameaças anexadas à Sua lei. O pecado era visto como odioso e destrutivo, enquanto a justiça era recomendada e promovida. A finalidade da ameaça era inculcar temor no homem e detê-lo da prática do mal. O fim das promessas era inculcar esperança no homem e direcioná-lo a obediência. ORA, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus (II Coríntios 7: 1).
4. Na santidade, Deus infringe julgamento sobre aqueles que violam a Sua lei. A santidade divina é a raiz da justiça divina, e a Justiça divina é o triunfo da santidade divina. Ambos os conceitos são expressos nas Escrituras por uma só palavra, justiça. O primeiro pensamento que vem à mente do homem, quando diante de uma forca ou guilhotina, é a atrocidade do seu crime, e a justiça do juiz. Portanto, quando consideramos a expulsão daquele que um dia foi um anjo glorioso e a condenação que sobreveio sobre toda a raça humana, por causa de um pecado, não podemos deixar de ver em tudo isso a santidade de Deus. Até os instrumentos utilizados na prática do pecado são detestáveis para Deus. Ele pronunciou uma maldição especial contra a serpente, pois foi utilizada como um instrumento do Diabo. Ele proibiu Israel de utilizar do ouro que os Cananeus tinham usado na idolatria. As imagens de escultura de seus deuses queimarás a fogo; a prata e o ouro que estão sobre elas não cobiçarás, nem os tomarás para ti, para que não te enlaces neles; pois abominação é ao SENHOR teu Deus (Deuteronômio 7: 25). A própria terra foi amaldiçoada por causa do homem. Infantes pereceram no fogo que caiu sobre Sodoma. A família de Acã e seu gado foram apedrejados juntamente com ele. Tudo isso e muitos outros eventos manifestam a santidade de Deus.
Terceiro, nós vemos a santidade de Deus na restauração do homem. Todo cenário da redenção nada mais é do que a revelação da santidade, justiça, e retidão de Deus. Considere a modo como esta redenção foi feita. Não há nada que demonstre mais a santa ira de Deus como o fato dEle castigar o Seu próprio Filho. Seria muito melhor que o Filho de Deus morresse do que o pecado permanecesse vivo. O Pai não diminuiu a Sua ira pelo fato de Seu Filho ser o objeto dela, mas a derramou completamente. A santidade infinita não tem lugar para a indulgência paternal. É como se as afeições de Deus por Sua santidade suplantassem as afeições por Seu Filho. Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do pecado (Isaías 53: 10). Enquanto Cristo estava pendurado na cruz, o Pai parece ter deixado de lado o Seu coração de pai, e se revestido com os trajes de um inimigo. Isso só foi possível, porque Cristo se revestiu com os trajes de um pecador. A morte de Cristo reivindicou a honra de Deus. Ela restaurou o crédito da santidade divina no mundo ao destruir o pecado e restaurar novamente a imagem de Deus no homem. Portanto, o Pai ressuscitou a Seu Filho da sepultura e o exaltou nas alturas. Amaste a justiça e odiaste a iniquidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu Com óleo de alegria mais do que a teus companheiros (Hebreus 1: 9). Em última análise, Deus demonstra valorizar mais a Sua ira santa contra o pecado do que qualquer outro atributo. A misericórdia e a graça não podem ser demonstradas a menos que a Sua ira também o seja. Deus não irá demonstrar misericórdia à custa da justiça.
Podemos ver mais profundamente a santidade de Deus nas condições que Ele exige para a justificação, a saber; o arrependimento e a fé. Devemos condenar a nossa própria justiça, e nos despirmos de tudo o que possuímos. Devemos nos curvar pela fé diante da justiça de Deus, isto é, a justiça que Ele aponta e aceita, e que foi feita por nós na Pessoa de Cristo. Todo o plano da redenção visa nos restabelecer à semelhança da santidade de Deus. A regeneração, a santificação, e a perfeição final são a felicidade do povo de Deus, ou seja, ser santo como Ele é santo.
III. A SANTIDADE DE DEUS EM TODOS OS SEUS TRATOS COM O PECADO.
Caminhamos em um terreno perigoso e delicado aqui. Não devemos ser curiosos, mas ao invés disso, não ficar especulando aquilo que Deus não nos revelou. Entretanto, vamos colocar algumas proposições a fim de defendermos o caráter de Deus de certas acusações de impiedade, em virtude da existência do pecado.
Primeiro, Deus não deixou de ser santo por ter feito o homem um ser mutável. Tudo o que Deus criou, como já vimos anteriormente, criou com grande sabedoria. Foi do agrado dEle dar ao homem, como criatura racional, a liberdade de escolha. Se ele obedecesse, a sua obediência seria muito valiosa; e se ele pecasse, o seu pecado seria indesculpável. Deus não era obrigado a criar o homem imutável. De fato, nenhuma criatura pode ser imutável e infinitamente perfeita. Nenhum homem ou anjo foi forçado a pecar. Eles pecaram voluntariamente. No livro de Eclesiastes, as palavras “porém eles buscaram muitas astúcias”, comprovam esta verdade (7: 29). Embora Deus tenha feito o homem mutável, Ele não criou o mesmo em um estado de pecado, mas muito bom (Gênesis 1: 31). Adão não tinha motivos para pecar. Ele possuía a tendência natural para a obediência. Ele era dotado por Deus de todos os recursos para resistir à tentação. Deus não foi a causas da sua queda. Deus não ofereceu o fruto a Eva. Além disso, foi ela, e não Deus, quem tomou do fruto e o deu a Adão. A ruína da casa produzida por um inquilino desleixado não é culpa do construtor que no início entregou a casa em boas condições.
Segundo, Deus não deixou de ser santo ao entregar ao homem a lei que ele não guardaria.
A lei não estava acima das forças de Adão. No estado original, ele podia muito bem guardá-la. Será que um magistrado se negaria a promulgar leis justas só porque ele sabe de antemão que alguns em seu reino não as obedeceriam? Agora, embora o homem se encontre caído no pecado, Deus em Sua santidade mantém a Sua lei. Alguns pensam que isso seja injusto, e que Deus deveria relaxar a Sua lei, já que o homem não pode obedecê-Lo. Mas será que Deus deve deixar a sua santidade porque o homem deixou a dele? O conhecimento antecipado de Deus de todas as ações dos homens, de modo algum é a razão ou a causa da ocorrência dessas ações. O homem voluntariamente corre em direção ao pecado. A presciência de Deus não elimina a liberdade das ações dos homens.
Terceiro, Deus não deixou de ser santo por ter decretado a rejeição de alguns homens. A reprovação se deu para alguns que já eram considerados ímpios. A reprovação não os tornou ímpios. Não é a decretação de um crime, mas a sua punição. Deus poderia muito bem ter rejeitado toda a raça humana, e de forma justa, condenar a nós todos ao inferno. Ele tem o direito de restringir o Seu poder como bem lhe parecer. A reprovação não é uma ação, mas uma cessação, deixando assim o homem entregue a si mesmo. Se ao homem for permitido a realização dos seus próprios desejos, então ele não poderá culpar a Deus pelos problemas que se seguirão. Qualquer outra posição coloca Deus em débito com a criatura, roubando-Lhe assim a Sua Divindade.
Quarto, Deus não deixou de ser santo por permitir que o pecado entrasse no mundo. Não foi por Sua vontade que o pecado veio à existência, mas foi da Sua vontade não impedi-lo. Dizer que Deus desejou criar o pecado, assim como fez com as outras coisas, é negar a Sua santidade. Por outro lado, dizer que o pecado entrou na criação sem a permissão de Deus, é negar a Sua onipotência. Ele não desejou de forma direta o pecado, antes decretou não dar a graça necessária para impedi-lo. Ele não pode desejar o mal como mal, mas sim para produzir um bem maior, de acordo com a Sua infinita sabedoria. Embora Deus não aprove o pecado, Ele aprova o ato da Sua vontade, por meio do qual Ele permite o pecado. E Ele aprova o resultado final que Ele determinará, a saber; a exaltação de si mesmo como o Salvador dos pecadores. Ele nunca poderia ficar desapontado com qualquer um dos Seus decretos. Se por acaso alguém ainda quiser questionar a santidade de Deus, pelo fato dEle ter permitido a entrada do pecado, então não deixe de considerar os seguintes argumentos adicionais. Deus, nos tempos passados deixou andar todas as nações em seus próprios caminhos (Atos 14: 16). Esta permissão não foi uma permissão de libertinagem moral, onde os homens poderiam pecar impunemente. Mas foi da determinação de Deus não impedir um ato que Ele eventualmente poderia ter impedido. Vale lembrar que Deus impediu Abimeleque de pecar contra Sara dizendo: e também eu te tenho impedido de pecar contra mim; por isso não te permiti tocá-la (Gênesis 20: 6). Entretanto, Ele não impediu que Adão pecasse. Ele deixou satanás livre para tentar Adão, assim como deixou Adão livre para resistir. Deus de forma alguma é causa eficiente do pecado. Permissão não é ação, nem a causa da ação. A pessoa que comete a ação é a que é a causa. Além disso, Deus não é obrigado a impedir os homens e anjos de pecarem. Quando falamos da nossa obrigação de ajudar ao necessitado ou evitar um desastre, estamos falando daquela obrigação que recai sobre nós por causa dos nossos laços sanguíneos naturais, que nos torna “guardador de nosso irmão.” Mas este tipo de laço não se aplica a Deus. Ele não é obrigado a impedir o pecado mais do que o foi primeiramente ao nos criar. Ao conceder a Adão a força para resistir à tentação, Deus deixou de estar sob a obrigação de ampliar ainda mais a Sua graça. A graça nunca é um assunto de débito! Estando sob essa condição, mesmo que Adão tivesse orado a Deus para que o impedisse de pecar, Deus não seria obrigado a fazê-lo. Ele já havia feito o suficiente por Adão, e não estaria sendo injusto em deixá-lo entregue aos princípios de sua natureza.
Havendo retirado o nome de Deus de qualquer ato iníquo quanto à existência do mal, não podemos ressaltar o fato dEle impedir o pecado muito mais do que permiti-lo. O Salmista declara: Certamente a cólera do homem redundará em teu louvor; o restante da cólera tu o restringirás (Salmos 76:10). Se Deus não limitasse o pecado, o mundo se transformaria literalmente em uma fossa, um mar de Sodomia, um covil de assassinos. Somente através da entrada do pecado no mundo é que nós pudemos ver as maravilhas da graça salvadora. Além disso, a justiça de Deus revelada na condenação do ímpio seria para nós uma perfeição desconhecida.
Quinto, Deus não deixa de ser santo por sustentar a vida dos pecadores. Todas as criaturas dependem de Deus no que diz respeito a todas as suas faculdades. Ninguém vive, se move, ou existe fora Dele. Entretanto, Deus não instiga o mal em Suas criaturas. Ele nos capacita a agir, mas a maldade ou bondade moral de nossas ações é determinada pelo objeto, circunstâncias, e motivos do ato. Nenhuma ação, em si mesma, é má. Por exemplo: comer é bom, se a comida for obtida de forma justa, desfrutada com moderação, e recebida com ações de graças a Deus. Mas comer é um mal se isso for um ato de rebelião, como o fez Adão. Entretanto, Deus não teve participação no pecado de Adão só porque deu à ele mãos para pegar do fruto e levá-lo a boca para comer. Consideremos ainda o seguinte exemplo: tirar a vida humana é um mal, se isso for feito com malícia ou por motivo torpe, mas é um bem quando se está fazendo justiça ou lutando numa guerra justa. Portanto, devemos fazer distinção entre a essência e a pecaminosidade de qualquer ato. O pecado pode ser comparado com a lepra que ataca um braço, sendo que o braço em si mesmo não é o problema. O solo, a chuva, e o brilho do sol não são culpados pelo veneno que algumas plantas produzem, pois estas mesmas coisas também nutrem aquelas plantas que produzem bons frutos. O problema está na natureza da planta. Da mesma forma, a natureza do homem é o que produz o pecado, e não Deus, que deu a vida a ele. As manchas de tinta contidas em um papel devem ser atribuídas a uma caneta defeituosa, e não às mãos daquele que eventualmente escreve. O relógio que atrasa não é reflexo daquele que o ajusta todo dia. Certamente que Deus poderia aniquilar o homem pecador, mas Ele tem mais prazer em governá-lo e mantê-lo com sua natureza, ainda que seja uma criatura caída. Embora o objetivo final das ações do homem seja má, Deus, no entanto, tem um objetivo bom em permitir estas ações. Os irmãos de José planejaram destruí-lo, mas Deus preservou tanto a ele como a seus irmãos, cumprindo assim o Seu propósito, embora eles pensassem que fosse o deles. Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar muita gente com vida (Gênesis 50: 20). Deus concordou que satanás arruinasse a vida de Jó, mas com diferentes objetivos, Satanás pensava que iria fazer com que Jó blasfemasse contra Deus, mas Deus pensava em fazer com que Jó o adorasse. Judas pensou em satisfazer suas cobiças às custas de Cristo, mas Deus pensou em satisfazer Sua justiça e manifestar o Seu amor às custas de Cristo.
Sexto, Deus não deixa de ser santo quando provê os objetos que o homem usa para pecar. Deus colocou a árvore do conhecimento do bem e do mal no meio do jardim, mas isso não teve nenhuma influência interna na vontade de Adão. A árvore, por si mesma, não poderia forçar Adão a pecar. Os objetos que em si mesmos são bons, podem ser utilizados pelos homens para fins malignos. Por exemplo: algumas pessoas não utilizam suas riquezas somente para o próprio benefício, mas também para o de outros, entretanto, elas também podem ser utilizadas com propósitos egoístas e para o detrimento de outras pessoas. O caráter de Deus não fica manchado pelo fato dEle colocar estes objetos nas mãos de homens que irão utilizá-los impiamente. Deus tem o direito de utilizar as corrupções dos homens para o cumprimento dos Seus propósitos. Ele pode usar as Suas criaturas, independentemente da natureza que possuam, de acordo com a Sua vontade. Já que a semente do pecado está presente em toda natureza humana, Deus tem o direito de impedir o surgimento de algumas sementes e permitir o crescimento de outras, remover alguns objetos que o homem possa utilizar para pecar, e oferecer outros, para no fim cumprir a Sua própria vontade.
Sétimo, Deus não deixa de ser santo por restringir a graça comum de certos homens pecadores, ainda que com isso eles venham a pecar ainda mais. Deus deu graça a Eli para que reprovasse os pecados dos seus filhos, mas Ele não deu graça para que eles prestassem atenção a isso. Mas não ouviram a voz de seu pai, porque o SENHOR os queria matar (I Samuel 2: 25). Quando as Escrituras falam do endurecimento do coração do homem, isso não se refere a uma ação positiva sobre este, mas o abandono do homem à sua própria dureza de coração, embora esteja com Deus o poder de amolecer, avivar, e mudar tal homem. Deus endurece o homem quando não remove seus estímulos pecaminosos, quando não contém os desejos que operam no cumprimento desses estímulos, quando não permite que Suas admoestações sejam eficazes, e quando não condena mais as suas consciências como tinha feito anteriormente. Por conseguinte lemos: Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si (Romanos 1: 24). Enquanto o retirar da graça pode vir a ser considerada a causa lógica, no entanto, não é a verdadeira e natural causa, pois o coração ímpio e a causa do crescimento do pecado. Sendo assim, as Escrituras relatam que tanto Deus quanto Faraó é que endureceram o coração do Faraó (Êxodo 7: 13; 8: 32). Mas em nada disso Deus é a causa real do primeiro ou do subsequente pecado, assim como o por do sol não é o causador das trevas. Portanto, Deus não é culpado de nenhum crime por deixar de deter o pecado que brota de dentro do homem. Além disso, Deus não se retira do homem até que o homem se retire dEle. Em Adão, todos nós o provocamos. Será que nós culparíamos um pai que através de repetidos conselhos e correções deixasse o seu filho desobediente entregue aos seus próprios planos, e retirasse a assistência que ele rejeitou e zombou? Deus é obrigado a manter a Sua graça uma vez que esta é tratada com desprezo? Não, pois a graça não conhece obrigações, de outra forma a graça de maneira nenhuma seria graça. Deus pode estendê-la ou restringi-la como bem lhe parece. Se queremos exigir os nossos direitos, também deveríamos exigir a nossa condenação e miséria, pois isso é o que Deus teria que nos dar como obrigação.
Oitavo, Deus não deixa de ser santo por nos ordenar a fazer algo que pareça naturalmente contrário, ou estar em conflito, com os Seus preceitos. Por exemplo: Ele disse a Abraão para oferecer Isaque em sacrifício. Também disse aos Israelitas que pedissem joias aos Egípcios. Ele mesmo fez com que os Egípcios voluntariamente as entregassem (Êxodo 11: 2-3; 12: 36). É muito simples, a autoridade de Deus sobrepuja toda e qualquer autoridade pública ou privada. Ele, que é o legislador, pode dispor de Suas próprias leis assim como bem lhe agrada. Como Criador e proprietário de tudo, Ele pode administrar Suas propriedades como bem quiser. Ele não pode mandar que alguém peque, mas pode dispor das vidas e bens de Suas criaturas da maneira que lhe parecer mais adequada.
Vamos agora observar o que devemos aprender deste atributo.
I. INSTRUÇÃO E INFORMAÇÃO.
A humanidade despreza este atributo de Deus mais do que qualquer outro. O homem fabrica deuses com várias qualidades, mas nunca esta perfeição. Nós aceitaríamos qualquer tipo de deus, menos um Deus santo. Isto é um testemunho da natureza depravada do homem, ou seja, o atributo mais glorioso de Deus é o mais odiado. Todo pecado ataca especialmente a santidade de Deus.
Vamos observar as maneiras como o homem despreza esta perfeição.
- Quando temos pensamentos indignos em nossa mente. Os pagãos atribuem aos seus deuses os mesmos pecados e paixões que possuem, esperando desta forma obter proteção contra os seus próprios pecados. Entretanto, quantos cristãos professos são culpados deste mesmo erro ao imaginarem um Deus segundo os seus próprios desejos, ao invés do que Ele realmente é! Invariavelmente, o “novo deus” é menos santo e mais propenso a fechar os olhos para o pecado. Estas coisas tens feito, e eu me calei; pensavas que era tal como tu, mas eu te arguirei, e as porei por ordem diante dos teus olhos (Salmo 50: 21).
- Quando distorcemos a imagem de Deus em nossa própria alma. Nós fomos feitos à imagem de Deus, e aos nos entregarmos ao pecado, desprezamos o nosso Criador. Na mente de muitos, ser um homem verdadeiro é ser ímpio, imoral, e equivalente a um demônio encarnado.
- Quando culpamos a Deus por nossos pecados. Todos nós queremos dar desculpas por nossos pecados, e no final, esta é na verdade a desculpa: “Deus foi um acessório para o meu crime”. Foi exatamente isso que Adão fez ao dizer: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi (Gênesis 3: 12).
- Quando torcemos as Escrituras a fim de encontrar apoio para o nosso pecado. Quantos defendem a devassidão e a bebedeira ao citarem Eclesiastes 2: 24, que diz: Não há nada melhor para o homem do que comer e beber, e fazer com que sua alma goze do bem do seu trabalho. Também vi que isto vem da mão de Deus. Ou Mateus 5: 11: O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem.
- Quando oramos para que Deus nos ajude em nosso pecado. Alguns ladrões ficaram conhecidos por pedirem para que Deus lhes abençoasse em seus maus feitos. Alguns homens, em suas cobiças, pedem para Deus os abençoe em seus injustos negócios. Tudo isso nada mais é do que pressupor que Deus é um amigo do crime, ao invés de dizer: Santificado [santo] seja o teu nome.
- Quando debochamos da santidade dos Cristãos sinceros. A santidade do Cristão é parcial, ou imperfeita no momento. Mas aqueles que debocham desta santidade parcial, na verdade desprezam mais ainda a perfeita santidade de Deus. O rebelde que não ousa injuriar pessoalmente o rei, frequentemente injuria os seus súditos mais leais quando estes estão por perto.
- Quando adoramos a Deus de maneira relaxada, sem a devida preparação e purificação dos nossos corações de todos os pecados já conhecidos. Um Deus santo, merece uma adoração santa, feita por adoradores santos. Nos achegarmos a Deus sem a devida confissão dos nossos pecados, é como se o Sumo Sacerdote Aarão se apresentasse nos Santos dos Santos com balde de esterco para oferecer em sacrifício a Deus.
- Quando dependemos da nossa justiça própria para agradar a Deus. Os homens imaginam que Deus pode ser satisfeito com tão pouco, umas poucas orações de um ritual frio e externo, ou até mesmo construindo um hospital. Sacrifícios pacíficos tenho comigo; hoje paguei os meus votos, disse a mulher adúltera de Provérbios 7: 14, ao retornar para o seu adultério.
- Quando nos queixamos de que a lei de Deus é muito dura, restrita. Isso é como desejar que Deus fosse tão impuro como nós mesmos. Isso equivale a culpar a Deus, como se fossemos consultores e conselheiros da Sua justiça. Por detrás disso está o desejo de pecarmos impunemente.
- Quando acrescentamos opiniões vazias às Santas Escrituras. Os Romanistas fazem isso com o ensino dos pecados perdoáveis, ou seja, aqueles pecados que não são tão sérios, que merecem mais ser perdoados do que castigados. Mas a verdade é essa: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las (Gálatas 3: 10). Os Romanistas também ensinam a respeito das obras de supererrogação, isto é, obras que Deus não exigiu, as quais beneficiam aos seus praticantes e a outros também. Sendo assim, eles flagelam seus corpos e se vestem de trapos. Até os Judeus, que desprezam a santidade de Deus, nunca sonhariam e praticar tamanha perversão como esta. Este ensino presume que a lei de Deus não é suficiente, e que o homem pode suplantar o padrão da santidade de Deus. Sendo assim, aqueles que decretam a própria falência imaginam ter o suficiente para emprestar aos seus vizinhos.
Nossa queda foi excessivamente grande. A distância entre nós e Deus não é menor do que a distância entre Deus e satanás. Em Adão, nós perdemos a santidade que era a glória da nossa natureza e o único meio de glorificarmos a Deus. Que ninguém pense que a queda do homem não passou de um pequeno escorregão!
Toda impiedade é um ato contra a natureza de Deus. Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a opressão não podes contemplar (Habacuque 1: 13). O pecado é exposto em termos vis, é uma coisa abominável que Deus odeia como: o vômito do cão, um defunto exposto em uma cova aberta, esterco (Jeremias 44: 4; II Pedro 2: 22; Romanos 3: 13; Filipenses 3: 8). Devemos odiar o pecado e amar a Deus. Vós, que amais ao SENHOR, odiai o mal (Salmo 97: 10).
Nenhuma impiedade escapará do juízo de Deus. A Sua ira contra o pecado deve ser manifestada. A Sua santidade assim o exige, pois de outra forma, Ele estaria negando a Sua própria essência. As Suas ameaças de punir o pecado não são vazias. Se não for encontrado um caminho para separar o pecador do pecado, então ele será condenado eternamente. Como Deus pode odiar o pecado e amar o pecador quando as naturezas desses dois partidos lhe são tão opostas? O homem ímpio pensa que Deus deveria odiar a Si mesmo a fim de ter comunhão com eles.
Para que qualquer pecador pudesse ser salvo, a santidade de Deus teria que ser satisfeita através de um suficiente mediador. A lei não poderia ser abolida para que a culpa pudesse ser perdoada. Deus não poderia abrir mão de Sua santidade a fim de acomodar a impiedade do homem. Deus só poderia justificar a culpa se a Sua justiça fosse mantida. A expiação feita por Cristo foi a única maneira de demonstrar ao mesmo tempo a santidade e a misericórdia de Deus. Deus é tanto justo como justificador daquele que tem fé em Jesus (Romanos 3: 26).
O pecador não tem como justificar a si mesmo. Após o pecado colocar os seus pés neste mundo, o homem não tinha mais nada para oferecer a Deus. Daquele ponto em diante, a nossa reivindicação só poderia ser: não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não se achará justo nenhum vivente (Salmo 143: 2). E, ai de mim! Pois estou perdido (Isaías 6: 5). Mas Deus providenciou essa justiça, feita pelo Seu Filho, a qual satisfez perfeitamente a Sua santidade.
A divindade de Cristo pode ser confirmada por este atributo. Ele é chamado de o Santo (Atos 2: 27; 3: 14). O apóstolo João, inspirado pelo Espírito Santo, mostra que o clamor do serafim de Isaías 6: 3; Santo, santo, santo, era uma referência ao Filho de Deus (João 12: 37-41).
A santidade de Deus o torna apto a governar o mundo. O apóstolo pergunta: E, se a nossa injustiça for causa da justiça de Deus, que diremos? Porventura será Deus injusto, trazendo ira sobre nós? (Falo como homem.) De maneira nenhuma; de outro modo, como julgará Deus o mundo?(Romanos 3: 5-6). Assim como a Sua onisciência o torna apto a ser um juiz, assim também a Sua santidade o torna apto a ser um juiz justo.
O cristianismo é de origem divina. É a única e verdadeira religião, pois revela um Deus santo e torna o homem santo como Ele. É a doutrina que é segundo a piedade (I Timóteo 6: 3). Deus nos ordena: sede santos, porque eu sou santo (I Pedro 1: 16).
II. CONFORTO.
Embora sendo amarga para a alma perdida, esta doutrina é doce para os santos. O meu coração exulta ao SENHOR... porquanto me alegro na tua salvação... Não há santo como o SENHOR (I Timóteo 2: 1-2). E o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador... E santo é seu nome (Lucas 1: 47-49). Através da aliança de misericórdia de Deus, os que creem em Cristo também podem compartilhar deste atributo, pois Ele nos tornou participantes da sua santidade (Hebreus 12: 10). Que conforto nós teríamos se Ele não nos tornasse santos?
Deus é digno da nossa confiança. Quem poderia confiar em um Deus que não é santo? Nós bem poderíamos pensar que Seu poder nos esmagaria a qualquer momento; Sua misericórdia nos abandonaria; ou Sua sabedoria tramaria algo contra nós; caso não houvesse este atributo de santidade. Mas Deus jura pela Sua santidade: Uma vez jurei pela minha santidade (Salmo 89: 35), colocando-a como uma garantia da segurança de Sua promessa. É em razão da Sua santidade que oramos. Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem? Mateus (7: 11). Nós podemos ir até Ele com nossas angústias e encontrar socorro, que na verdade é um excelente socorro. Podemos depender dEle no que diz respeito à Sua promessa de nos proteger e preservar, pois a Sua santidade não permite que Ele viole a aliança feita conosco através de Cristo.
Deus valoriza grandemente aquilo que é santo. Nada é mais precioso no céu do que aquilo que mais se assemelha com a santidade de Deus. Sabei, pois, que o SENHOR separou para si aquele que é piedoso (Salmo 4: 3).
Que todos os crentes em Cristo encontrem conforto no fato de serem participantes da natureza divina, e terem escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo (II Pedro 1: 4). Se Deus se deleita em nós hoje, imagine quão maior não será esse deleite quando formos glorificados!
Deus não permitirá que a obra da redenção, iniciada em nós, fique inacabada. Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo (Filipenses 1: 6). Portanto, podemos orar com a mesma confiança com que Davi orou ao dizer: Guarda a minha alma, pois sou santo: ó Deus meu, salva o teu servo, que em ti confia (Salmo 86: 2). O propósito de Deus é santificar a Sua igreja e apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível (Efésios 5: 26-27), não deixando de nos purificar até que Ele possa dizer: Tu és toda formosa, meu amor, e em ti não há mancha (Cantares 4: 7).
III. EXORTAÇÃO.
Vamos dedicar e manter toda a nossa atenção neste atributo. Sem ele nunca poderemos exaltar a Deus em nossos corações.
Ele nos convence de nossos pecados. A profundidade da nossa convicção é proporcional ao senso que temos da santidade de Deus.
Ele nos mantém humildes, a despeito de quão santos nós sejamos. Até os anjos eleitos, ou sem pecado escondem seus rostos da Santidade infinita. O homem mais santo é detestável em si mesmo.
Ele faz com que nos aproximemos de Deus de maneira mais reverente e sincera. Santo e tremendo é o seu nome (Salmo 111: 9). Um conhecimento crescente da Sua santidade nos preparará para o cumprimento dos nossos deveres com um fervor mais profundo.
Ele nos guardará de pecar ao infundir o temor de Deus em nós. O homem tende a ficar semelhante ao Deus que ele adora. Poucos são os que percebem que os pagãos são cheios de vícios e concupiscências, pois os seus deuses possuem esse mesmo caráter. Mas o Deus vivo e verdadeiro é puro e justo, e isso faz com que nos desfaçamos de todos os nossos ídolos, mortifiquemos todo o desejo mau, e fiquemos em alerta contra toda tentação.
Ele cria em nós o desejo ardente de ser conformado à imagem de Deus. Um bom exemplo estimula um admirador a imitá-lo. Aqui temos o Supremo exemplo, que desafia todo coração regenerado a tê-Lo como modelo. Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor (II Coríntios 3: 18).
Ele faz que sejamos mais pacientes e contentes quanto às providências de Deus. Como Rei, Deus governa os Seus súditos em perfeita justiça. Nosso Salvador, quando em profunda agonia e humilhação, adorou a Deus em Sua santidade. Deus meu, eu clamo de dia, e tu não me ouves; de noite, e não tenho sossego. Porém tu és santo, tu que habitas entre os louvores de Israel (Salmo 22: 2-3). É como se Ele dissesse: “Não vejo erro algum em Seus planos. Tu és santo em tudo o que fazes.” Deus nos derrete como o ouro para que possamos receber a marca da Sua graça. Todos os Seus tratos para conosco são feitos em santidade e para santidade.
Vamos honrar e glorificar este atributo na natureza de Deus. Toda criatura está em débito na adoração a Deus por conta da Sua santidade. Louvem o teu nome, grande e tremendo, pois é santo (Salmo 99: 3). Ao honrarmos a santidade de Deus, honramos todas as Suas perfeições.
Nós exaltamos este atributo:
- Quando ele é a base do nosso amor a Deus. Aquilo que faz com que Deus seja amável em si mesmo, também deve fazê-Lo amável para nós. Não devemos amar a Deus por razões puramente egoístas, mas pela Sua beleza intrínseca.
- Quando reconhecemos que a santidade está por detrás de cada julgamento temporal neste mundo. O julgamento severo de Seus inimigos aqui é apenas um ligeiro sopro da sua santidade.
- Quando prestamos atenção a cada promessa cumprida e a cada ato de misericórdia da parte de Deus. A Sua fidelidade no cumprimento da aliança feita com Seu povo, deve ser motivo de louvor e ações de graças.
- Quando confiamos em Sua aliança e promessa a despeito das circunstâncias externas serem contrárias a isso.
- Quando demonstramos grande amor pela santidade mesmo que outros a desprezem. Vamos juntar nossas vozes com a do salmista que disse: eles têm quebrantado a tua lei. Por isso amo os teus mandamentos mais do que o ouro, e ainda mais do que o ouro fino (Salmo 119: 126-127). Se honrarmos a Deus pelo reconhecimento da Sua santidade, então Ele também nos honrará ao compartilhá-la conosco. porque aos que me honram honrarei, porém os que me desprezam serão desprezados (I Samuel 2: 30).
Vamos nos esforçar para sermos conformarmos à imagem de Deus, nessa que é a Sua perfeição mais excelente. A pureza de nosso Senhor nos leva a purificarmos a nós mesmos. E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro (I João 3: 3).
Embora a criatura nunca possa se igualar em santidade ao Seu criador, no entanto, podemos e devemos ter o mesmo tipo de santidade. Adão desejou ser igual a Deus em conhecimento, mas deveria ter desejado ser igual a Deus em santidade. Verdadeiramente, Deus é o nosso único padrão de santidade. Os Seus preceitos nos instruem muito, mas os Seus exemplos nos afetam mais. Ser conformado à Sua imagem significa uma imitação da Sua Lei, que é uma transcrição da Sua santidade, e uma imitação do Seu Cristo, que é a imagem da Sua santidade. Assim como Ele morreu na cruz, assim também devemos morrer para o pecado; assim como Ele se levantou do túmulo, assim também devemos nos levantar de nossas concupiscências; assim como Ele ascendeu às alturas, assim também as nossas afeições devem se ascender para as coisas celestiais.
Somos ordenados a nos tornarmos semelhantes a Deus somente na perfeição moral, pois nenhuma criatura tem a capacidade de ser mais do que isso. Os demônios estão mais próximos da força e conhecimento de Deus do que nós, mas estão muito longe da Sua santidade. Nossa principal maneira de glorificar a Deus não é aplaudindo a Sua santidade, mas nos conformando a ela. Quando Deus nos ordena: Ao SENHOR dos Exércitos, a ele santificai; e seja ele o vosso temor e seja ele o vosso assombro (Isaías 8: 13), Ele está dizendo: “Manifeste a pureza da minha natureza através da santidade da sua vida.” Devemos manter a reputação de Deus no mundo.
A santidade é a nossa beleza. A beleza das coisas que são copiadas está na sua semelhança com o original, nem tanto pelo fato de ser a obra de Deus, mas por ter a Sua marca estampada sobre nós. Santidade é a nossa vida. A vida da nossa alma, que é a nossa parte primária, não consiste em sua existência, mas em suas ações morais. O que a vida é para o corpo, a santidade é para a alma. Sem santidade estamos mortos. A santidade nos torna aptos à comunhão com Deus. Sem ela, ninguém verá o Senhor (Hebreus 12: 14). Deus e o homem não podem desfrutar um do outro a menos que sejam semelhantes um ao outro. Da mesma maneira, a santidade é a evidência da nossa eleição e adoção em Cristo. Ele nos escolheu em Cristo, antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos (Efésios 1: 4). Ele não nos receberá como Seus filhos se não houver esta marca em nós.
Portanto, vamos estudar a santidade de Cristo. Olhares ocasionais não são suficientes. Vamos envolver amorosamente os nossos corações em Sua santidade. Vamos fazer de Deus o nosso objetivo final, e então perceberemos passo a passo, que uma semelhança silenciosa ocorrerá sobre e dentro de nós. Façamos da santidade de Deus o padrão para cada uma das nossas atitudes. Se fizéssemos essas coisas, quão felizes nós seríamos!
Vamos trabalhar no fortalecimento das áreas em que temos fraquezas, crescendo sempre em santidade.
Quanto mais formos semelhantes a Deus, mais desfrutaremos dEle. Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele (João 14: 21).
Vamos nos comportar de maneira santa sempre que nos aproximarmos de Deus. Mui fiéis são os teus testemunhos; a santidade convém à tua casa, SENHOR, para sempre (Salmo 93: 5). Assim como fez Moisés, devemos tirar nossas sandálias, que representam o abandono de toda e qualquer impureza da nossa parte.
Vamos nos dirigir a Deus na busca da santidade, pois Ele é a nossa única fonte. Eu sou o SENHOR que vos santifica (Levítico 20: 8). A santidade é o Seu atributo favorito, e Ele se deleita em compartilhá-la. Sem Deus, não poderemos alcançá-la ou mantê-la. Mas devemos nos alegrar por alcançá-la em pequenas medidas e graus. E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso SENHOR Jesus Cristo (I Tessalonicenses 5: 23).
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Autor: Stephen Charnock
Compilado para o seculo 21: Daniel A. Chamberlin
Tradução: Eduardo Cadete 2011
Fonte: Palavra Prudente
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