A Morte Eterna Com a Qual Deus Ameaça o Ímpio

13:22
Jonathan Edwards
A Morte Eterna Com a Qual Deus Ameaça o Ímpio Não é a Aniquilação, Mas Uma Justa e Permanente Punição ou Tormento.

   A verdade desta proposição será demonstrada pelas seguintes características:

   Primeiro, a Escritura em toda a parte retrata o castigo dos ímpios como algo que implica dores e sofrimentos extremos. Mas um estado de aniquilação não é um estado de sofrimento. Pessoas aniquiladas não têm nenhum senso ou sentimento de dor ou prazer, e muito menos podem sentir esta punição que carrega em si mesma uma extrema dor ou sofrimento. Eles não sofrem nada mais na eternidade do que já sofreram da eternidade.

   Segundo, está de acordo tanto com a Escritura quanto com a razão, supor que os ímpios serão punidos de tal forma que estarão conscientes da punição que estão sofrendo: que eles estarão cientes que naquela circunstância Deus executou e cumpriu o que havia ameaçado; ameaça a qual eles desconsideraram e não acreditaram. Eles saberão que a justiça veio sobre eles, que Deus estará reivindicando aquela autoridade a qual eles desprezaram, e que Deus não é um ser tão desprezível quanto eles pensavam que fosse. Enquanto estiverem sob a punição ameaçada, eles estarão conscientes do porquê estão sendo punidos. É sensato que eles estejam conscientes de sua própria culpa, lembrem de suas antigas oportunidades e obrigações, e vejam a sua própria loucura e a justiça de Deus. Se a punição ameaçada for a aniquilação eterna, eles nunca saberão que isto é infligido. Eles nunca saberão que Deus é justo em puni-­los, ou que eles são merecedores do mesmo. Como pode isto estar de acordo com as Escrituras, em que Deus ameaça, que Ele retribuirá o ímpio diretamente ­ Dt 7:10; com Jó 21:19­-20: "Deus reserva o castigo para ele, e ele o saberá. Que os seus próprios olhos vejam a sua ruína; que ele mesmo beba da ira do Todo ­poderoso!" ; e com Ezequiel 22:21­-22: "Eu [Deus] os ajuntarei e soprarei sobre vocês a minha ira impetuosa, e vocês se derreterão. Assim como a prata se derrete numa fornalha, também vocês se derreterão dentro dela, e vocês saberão que eu, o Senhor, derramei a minha ira sobre vocês"? E como pode isto estar de acordo com aquela expressão tantas vezes anexada as ameaças da ira de Deus contra os ímpios: "E vós sabereis que eu sou o Senhor"? (cf. Ez 7:14)

   Terceiro, a Escritura ensina que os ímpios sofrerão diferentes graus de tormento, de acordo com os diferentes agravos de seus pecados. "Mas Eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão: ‘Racá’, será levado ao tribunal. E qualquer que disser: ‘Louco! ’, corre o risco de ir para o fogo do inferno" ­ Mt 5:22. Aqui Cristo nos ensina que o tormento dos ímpios será distinto para cada pessoa, de acordo com o diferente grau de sua culpa. Haverá mais tolerância para Sodoma e Gomorra, para Tiro e Sidom do que para as cidades onde a maioria dos milagres de Cristo foram realizados (cf. Mt 11:21­-24). Novamente, nosso Senhor nos assegura que: "Aquele servo que conhece a vontade de seu senhor e não prepara o que ele deseja, nem o realiza, receberá muitos açoites. Mas aquele que não a conhece e pratica coisas merecedoras de castigo, receberá poucos açoites" ­ Lc 12:47­-48. Essas várias passagens da Escritura infalivelmente provam que haverá diferentes graus de punição no inferno, o que é totalmente inconsistente com a suposição de que a punição consiste na aniquilação, no qual não pode haver graus.

   Quarto, a Escritura é muito clara e rica neste assunto: que o castigo eterno dos ímpios consistirá no sofrimento e tormento consciente, e não na aniquilação. O que se diz sobre Judas é digno de ser observado aqui: "Melhor lhe seria não haver nascido" ­ Mt 26:24. Isso parece claramente nos ensinar, que o castigo dos ímpios é tal que a sua existência, como um todo, é pior do que a não existência. Mas se a sua punição consiste meramente na aniquilação, isso não é verdade! É dito que os ímpios, em seu castigo, lamentarão, chorarão e rangerão seus dentes ­ o que não implica apenas na existência real, mas em vida, conhecimento e atividade ­ e que eles são, de uma maneira muito consciente e intensa, afetados por sua punição ­ Is 33:14. Pecadores no estado de sua punição são retratados como seres habitando com chamas eternas. Mas se eles são apenas transformados em nada, onde é a base para esta retratação? É absurdo dizer que os pecadores habitarão com a aniquilação, pois não há habitação neste caso.Também é absurdo chamar a aniquilação de fornalha ardente, o que implica em um estado de existência, sensibilidade e dor extrema: enquanto na aniquilação não há nem um nem outro.

   É dito que eles serão lançados no lago de fogo e enxofre. Como pode esta expressão, com alguma propriedade, ser entendida como um estado de aniquilação? Sim, eles são expressamente avisados que não terão descanso nem de dia nem de noite, mas serão atormentados com fogo e enxofre, para todo o sempre ­ Ap 20:10. Mas, aniquilação é um estado de descanso, um estado em que nem mesmo o menor tormento pode, possivelmente, ser experimentado. O homem rico no inferno, ergueu os olhos de onde estava sendo atormentado, e viu ao longe Abraão, e Lázaro em seu seio, e entrou em uma conversa particular com Abraão: tudo o que prova que ele não foi aniquilado (cf. Lc 16:19­-31).

   Os espíritos dos homens ímpios antes da ressurreição não estão em um estado de aniquilação, mas em um estado de tormento. Eles são espíritos em prisão, como diz o apóstolo sobre os que se afogaram no dilúvio ­ 1Pe 3:19. E isso aparece bem nitidamente no exemplo do homem rico, mencionado anteriormente, se considerarmos ele como o representante do ímpio em seu estado intermediário entre a morte e a ressurreição. Mas se os ímpios, mesmo ali, estão em um estado de tormento, muito mais estarão, quando sofrerem aquilo que é a punição adequada pelos seus pecados.

   A aniquilação não é uma desgraça tão grande assim, de forma que alguns a preferiram a um estado de sofrimento até mesmo nesta vida. Este foi o caso de Jó, um homem justo. Mas se um homem justo pode, neste mundo, sofrer o que é pior do que a aniquilação, sem dúvida, a punição adequada dos ímpios, na qual Deus pretende manifestar Seu repúdio singular pela maldade deles, será uma desgraça muitíssimo maior e, portanto, não pode ser a aniquilação. Esta só pode ser uma declaração muito vil e desprezível da ira de Deus para com aqueles que se rebelaram contra Sua coroa e dignidade ­ quebraram as suas leis, e desprezaram tanto a Sua vingança quanto Sua graça ­ o que não é uma desgraça tão grande quanto aquela que alguns de seus verdadeiros filhos têm sofrido nesta vida.

   O castigo eterno dos ímpios é considerado a segunda morte ­ Ap 20:14; 21:8. É, sem dúvida, chamado a segunda morte, em alusão à morte do corpo, e como a morte do corpo é normalmente assistida com grande dor e angústia, então o mesmo, ou algo imensamente maior, está implícito em chamar o castigo eterno do ímpio a segunda morte. Não haveria propriedade alguma em chama-­lo assim, se o castigo consistisse meramente na aniquilação. E estes ímpios que morrerem pela segunda vez sofrerão, pois não poderia ser chamado a segunda morte com relação a nenhum outro ser, senão aos homens. Não se pode chamar desta maneira quando se trata dos demônios, visto que eles não morrem de morte temporal, a qual é a primeira morte. Em Apocalipse 2:11 diz: "Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. O vencedor de modo algum sofrerá a segunda morte"; sugerindo que todos os que não vencem os seus desejos, mas vivem no pecado, sofrerão a segunda morte.

   Repetindo, os ímpios sofrerão o mesmo tipo de morte que os demônios, assim como diz no verso 41 do contexto: "Malditos, apartem­-se de mim para o fogo eterno, preparado para o diabo e os seus anjos". Ora, o castigo do diabo não é a aniquilação mas o tormento. Portanto, ele treme de medo. Não por medo de ser aniquilado ­ ele estaria contente com isso. O que ele teme é o tormento, como aparece em Lucas 8:28, onde ele grita e implora a Cristo que não o atormente antes do tempo. E diz: "O diabo, que as enganava, foi lançado no lago de fogo que arde com enxofre, onde já haviam sido lançados a besta e o falso profeta. Eles serão atormentados dia e noite, para todo o sempre" ­ Ap20:10.

   É estranho como os homens vão diretamente contra revelações tão claras e plenas das Escrituras, a ponto de supor, mesmo diante de todas estas coisas, que a punição eterna ameaçada contra os ímpios não significa nada mais do que a aniquilação.

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Fonte: A Eternidade dos Tormentos do Inferno.
Traduzido do original em inglês: The Eternity of Hell's Torments
Jonathan Edwards © Domínio Público
Tradução: Firelandmission