14:30
John Owen
A Obra do Espírito Santo na Regeneração - John Owen 

A obra do Espírito Santo na regeneração de almas precisa ser estudada e claramente compreendida pelos pregadores do evangelho, e por todos aqueles a quem a Palavra de Deus é pregada. É pelos verdadeiros pregadores do evangelho que o Espírito Santo regenera as pessoas (lCo.4:15; Fm.10; At.26: 17,18). Por isso, todos aqueles que pregam o evangelho precisam conhecer totalmente a regeneração para que possam com Deus e o Seu Espírito trazer almas ao “novo nascimento”. É também dever de todos os que ouvem a Palavra de Deus estudar e entender a regeneração (2Co.13:5).

O grande trabalho do Espírito Santo é a obra de regeneração (Jo.3:3-6). Certa noite Nicodemus, um mestre de Israel, veio até Jesus, que lhe disse: “se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. (...) O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito”. O nosso Senhor tendo o conhecimento de que a fé e a obediência a Deus, e a nossa aceitação da parte de Deus, dependem de um novo nascimento, fala a Nicodemus do quão necessário é nascer de novo. Nicodemus fica surpreso com isso, e assim Jesus segue adiante a ensinar-lhe que obra de regeneração é esta. Ele diz: “quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus” (v.5).

A regeneração, portanto, ocorre por meio “da água e do Espírito”. O Espírito Santo faz a obra de regeneração na alma do homem, da qual a água é o sinal exterior. Este símbolo externo é um solene compromisso e selo do pacto que até então lhes vinha sendo anunciado por João Batista. A água pode também significar o próprio Espírito Santo.

João nos fala que todos aqueles que receberam a Cristo só o fizeram por terem nascido de Deus (Jo. 1:12,13). Nem a hereditariedade, nem a vontade do homem podem produzir um novo nascimento. A obra como um todo é atribuída tão-somente a Deus (veja também Jo.3:6; Ef.2:1,5; Jo.6:63; Rm.8:9,10; Tt.3:4-6).

É sempre importante lembrar que toda a Trindade está envolvida nesta obra de regeneração. Ela se origina na bondade e no amor de Deus como Pai (Jo.3:16; Ef.1:3-6), da Sua vontade, propósito e conselho. É uma obra do Seu amor e graça. Jesus Cristo nosso Salvador a adquiriu para pecadores (Ef. 1:6). Mas o verdadeiro “lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” nas nossas almas é obra do Espírito Santo (Tt.3:4-6).

Todavia o meu presente objetivo é confirmar os princípios fundamentais da verdade concernente a essa obra do Espírito Santo que vêm sendo negados e combatidos.

A REGENERAÇÃO NO VELHO TESTAMENTO

No Velho Testamento a obra de regeneração ocorria desde a fundação do mundo, e foi registrada nas Escrituras. Contudo o seu conhecimento era muito vago comparado ao conhecimento que temos dela no evangelho.

Nicodemus, um importante mestre de Israel, declarou a sua ignorância quanto a isso. “Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?”. Cristo maravilhou-se de que um mestre de Israel não conhecesse esta doutrina da regeneração. Estava nitidamente declarado nas promessas especificas do Velho Testamento, como também em outras passagens (conforme veremos), que Deus haveria de circuncidar os corações do Seu povo, tirar-lhes o coração de pedra e dar-lhes um coração de carne. Em sua ignorância os mestres de Israel imaginavam que a regeneração significava apenas uma reforma de vida. De modo semelhante muitos hoje consideram a regeneração como nada mais que o esforço para se levar uma vida moral. Mas se a regeneração significar nada mais do que se tornar um novo homem moral — algo a que todos, tanto mais ou menos, recomendam — dessa forma o nosso Senhor Jesus Cristo, bem mais do que esclarecer a Nicodemus sobre esta questão, a obscureceu mais ainda.

O Novo Testamento ensina claramente que o Espírito Santo faz uma obra secreta e misteriosa nas almas dos homens. Agora, se esta obra secreta e misteriosa for na verdade apenas uma reforma moral que capacita os homens a viverem melhor, se for apenas um convencimento externo para abandonar o mal e se fazer o bem, então, a doutrina da regeneração ensinada por Cristo e todo o Novo Testamento, é definitivamente incompreensível e sem sentido.

A regeneração e a doutrina da regeneração existiram no Velho Testamento. Os eleitos de Deus, de qualquer geração, nasceram de novo pelo Espírito Santo. Mas antes da vinda de Cristo, todas as coisas dessa natureza, estavam “desde o princípio do mundo, ocultas em Deus” (Ef.3:9 — tradução literal NKJV).

Mas agora chegou o grande médico, aquele que haveria de curar a terrível ferida das nossas naturezas pela qual estávamos mortos em nossos “delitos e pecados”. Ele abre a ferida, mostra-nos o quão é terrível e revela a situação de morte que ela trouxe sobre nós. Ele assim o faz para que sejamos verdadeiramente agradecidos quando nos curar. Assim pois, nenhuma doutrina é mais completa e claramente ensinada no evangelho do que esta doutrina da regeneração.

Quão corrompidos, portanto, são os que a negam, desprezam e rejeitam.

A CONSTANTE OBRA DO ESPÍRITO

Os eleitos de Deus não eram regenerados de uma maneira no Velho Testamento e de outra completamente diferente, pelo Espírito Santo, no Novo Testamento. Todos eram regenerados de um mesmo modo pelo mesmo Espírito Santo. Aqueles que foram milagrosamente convertidos, como Paulo, ou que em suas conversões lhes foram concedidos dons miraculosos, como muitos dos cristãos primitivos, não foram regenerados de um modo diferente de nós mesmos, que também temos recebido esta graça e privilégio.

Os dons miraculosos do Espírito Santo nada tinham a ver com a Sua obra de regeneração. Não eram a comprovação de que alguém havia sido regenerado. Muitos dos que possuíram dons miraculosos jamais foram regenerados; outros que foram regenerados jamais possuíram dons miraculosos.

É também o cúmulo da ignorância supor que o Espírito Santo no passado regenerava pecadores miraculosamente, mas que agora Ele não o faz de modo milagroso, mas por persuadir-nos que não é razoável que não nos arrependamos dos nossos pecados.

Jamais cairemos neste erro se considerarmos o seguinte:

a) A condição de todos os não-regenerados é exatamente a mesma. Uns não são mais não-regenerados que outros. Todos os homens são inimigos de Deus. Todos estão sob a Sua maldição (Sl.51:5;Jo.3:5, 36; Rm.3:19; 5:15-18; Ef.2:3; Tt.3:3,4).

b) Há variados níveis de malignidade nos não-regenerados, assim como há diversos níveis de santidade entre os regenerados. Todavia o estado de todos os não-regenerados -é o mesmo. Todos carecem de que se faça neles a mesma obra do Espírito Santo.

c) O estado a que os homens são trazidos pela regeneração é o mesmo. Nenhum é mais regenerado do que outro, contudo uns podem ser mais santificados que outros. Aqueles gerados por pais naturais nascem de um mesmo modo, embora alguns logo superem os outros em perfeições e habilidades. O mesmo também ocorre com todos os que são nascidos de Deus.

d) A graça e o poder pelos quais esta obra de regeneração é operada em nós são os mesmos. A verdade é que aqueles que desprezam o novo nascimento, fazem-no porque desprezam a nova vida. Aquele que odeia a idéia de viver para Deus, odeia a idéia de ser nascido de Deus. No final, entretanto, todos os homens serão julgados por esta pergunta: “Você nasceu de Deus?”.

A COMPREENSÃO ERRADA SOBRE A REGENERAÇÃO

Em primeiro lugar regeneração não é meramente ser batizado e dizer: “eu me arrependi”. A água do batismo é apenas um sinal externo (lPe.3:21). A água mesmo só pode molhar e lavar alguém da “imundícia da carne”. Mas como um sinal exterior ela significa “uma boa consciência para com Deus, por meio da ressurreição de Jesus Cristo” (lPe.3:21. Veja Hb.9:14; Rm.6:3-7). O apóstolo Paulo faz claramente a distinção entre a ordenança exterior e o ato de regeneração em si mesmo (Gl.6:15). Se batismo acompanhado de confissão de arrependimento for regeneração, então todos aqueles que foram batizados e se confessaram arrependidos têm de ser regenerados. Mas é claro que isso não é assim (veja At.8: 13 com os vv. 21, 23).

Em segundo lugar a regeneração não é uma reforma moral da vida exterior e do comportamento. Por exemplo, suponhamos uma tal reforma exterior pela qual alguém volta-se de fazer o mal para fazer o bem. Deixa de roubar e passa a trabalhar. Não obstante, haja o que houver de justiça real nessa mudança moral exterior de comportamento, ela não procede de um novo coração e de uma nova natureza que ama a justiça. É tão-somente pela regeneração que um corrupto e pecaminoso inimigo da justiça pode ser trazido a amá-la e a deleitar-se em praticá-la. Há os que escarnecem da regeneração como sendo inimiga da moralidade, justiça e reforma, mas um dia hão de descobrir o quanto estão errados.

A idéia de que a regeneração nada mais é do que uma reforma moral da vida, procede da negação do pecado original e do fato de sermos maus por natureza. Se não fôssemos maus por natureza, se fôssemos bons no fundo do nosso coração, então não haveria necessidade de nascermos de novo.

A REGENERAÇÃO NÃO PRODUZ EXPERIÊNCIAS SUBJETIVAS.

A regeneração nada tem a ver com enlevos extraordinários, êxtases, ouvir vozes celestiais ou com qualquer outra coisa do tipo. Quando o Espírito Santo faz a Sua obra de regeneração nos corações dos homens, Ele não vem sobre eles com grandes e poderosos sentimentos e emoções aos quais não podem resistir.

Ele não se apodera dos homens como os maus espíritos se apossam das suas vitimas. Toda a Sua obra pode ser racionalmente compreendida e explicada por todo aquele que crê na Escritura e recebeu o Espírito da verdade que o mundo não pode receber. Jesus disse a Nicodemus: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai”, assim é com a obra de regeneração do Espírito Santo.

A NATUREZA DA REGENERAÇÃO

Regeneração é colocar na alma uma nova lei de vida que é verdadeira e espiritual, que é luz, santidade e justiça, que leva à destruição de tudo o que odeia a Deus e luta contra Ele. A regeneração produz uma milagrosa mudança interior do coração. “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura”. A regeneração não se dá pelos sinais exteriores de uma mudança moral do coração e é muito distinta deles (Gl.5:6; 6:15).

A regeneração é um ato onipotente de criação. Um novo princípio ou lei é criado em nós pelo Espírito Santo (Sl.51:10; Ef.2:10). Esta nova criação não é um novo hábito formado em nós, mas uma nova capacidade e faculdade. É chamada, portanto, de “natureza divina” (2Pe. 1:4). Esta nova criação é o revestir de uma nova capacidade e faculdade criada em nós por Deus e que traz a Sua imagem (Ef.4:22-24).

A regeneração renova as nossas mentes. Ser renovado no espírito de nossas mentes significa que as nossas mentes possuem agora uma nova e salvadora luz sobrenatural que as capacita a pensarem e a agirem espiritualmente (Ef.4:23; Rm.12:2). O crente é renovado em “conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Cl.3:10).

O NOVO HOMEM

Esta capacidade e faculdade nova produzida em nós pela regeneração é chamada de “novo homem”, porque envolve uma completa e total mudança da alma, de onde procede toda ação espiritual e moral (Ef.4:24). Este “novo homem” é contraposto ao “velho homem” (Ef.4:22,24). Este “velho homem” é a nossa natureza humana corrompida que tem a capacidade e faculdade de produzir pensamentos e atos malignos. O “novo homem” está capacitado e habilitado a produzir atos religiosos, espirituais e morais (Rm.6:6). Denomina-se de “novo homem” porque é uma “nova criação de Deus” (Ef.l:19; 4:24; Cl.2:12, 13; 2Ts.1:11).

Este “novo homem” é criado de imediato, num átimo. É por isso que a regeneração não pode ser uma mera reforma de vida, que é o trabalho de toda uma vida (Ef.2:10). É a obra de Deus em nós que antecede todas as nossa obras para com Deus. Somos feitura de Deus, criados para produzir boas obras (Ef.2: 10).

Assim pois não podemos produzir boas obras aceitáveis a Deus sem que primeiro Ele produza esta nova criação em nós. Está dito que este “novo homem” é “criado segundo Deus [i.e., à Sua imagem], em justiça e retidão procedentes da verdade” (Ef.4:24). A imagem de Deus no primeiro homem não foi uma reforma de vida. Nem foi um padrão de bom proceder. Adão foi criado à imagem de Deus antes que fizesse qualquer boa obra. Esta imagem de Deus era a capacidade e faculdade dada a Adão para viver uma vida tal que manifestasse verdadeiramente o caráter santo e justo de Deus. Tal capacidade e faculdade foi dada a Adão antes mesmo dele começar a viver para Deus. É verdadeiramente indispensável que o mesmo ocorra também conosco. Primeiro, a imagem de Deus, a qual é o “novo homem”, é novamente criada em nós. Então podemos começar mais uma vez a apresentar em nossas vidas o caráter santo e justo de Deus (Lc.6:43; Mt.7:18).

A ALIANÇA DE DEUS

Deus já nos tem dito como nos trata em Sua aliança (Ez.36:25-27; Jr.31:33; 32:39,40). Ele primeiro lava e limpa a nossa natureza; arranca o nosso coração de pedra e dá-nos um coração de carne; escreve as Suas leis em nossos corações e coloca o Seu Espírito em nós para nos capacitar a guardar essas leis. É isso o que significa regeneração. Que também é descrita como o santificar, o tornar santo todo nosso espírito, alma e corpo (lTs.5:23).

COMPROVADO PELA ESCRITURA

O Espírito Santo não opera de qualquer outro modo senão por aquilo que nos mostra a Escritura. Tudo que alega ser obra de regeneração Sua, precisa ser comprovado pela Escritura. O Espírito Santo, por ser onisciente, conhece as nossas naturezas perfeitamente, e por isso sabe com exatidão como operar nelas sem as ferir ou danificar, sem forçá-las de modo algum a concordar com a Sua vontade.

A pessoa ao ser regenerada, jamais, em momento algum, sente que está sendo malignamente forçada contra a sua vontade. A despeito disso, muitos que são verdadeiramente regenerados têm sido tratados pelo mundo como se fossem loucos, ou algum tipo de fanático religioso (2Rs.9:11; Mc.3:21; At.26:24, 25).

A obra do Espírito Santo na regeneração de almas precisa ser estudada e claramente compreendida pelos pregadores do evangelho, e por todos aqueles a quem a Palavra de Deus é pregada. É pelos verdadeiros pregadores do evangelho que o Espírito Santo regenera as pessoas (lCo.4:15; Fm.10; At.26: 17,18). Por isso, todos aqueles que pregam o evangelho precisam conhecer totalmente a regeneração para que possam com Deus e o Seu Espírito trazer almas ao “novo nascimento”. É também dever de todos os que ouvem a Palavra de Deus estudar e entender a regeneração (2Co.13:5).

A regeneração foi-nos revelada por Deus (Dr.29:29). Assim pois não estudar nem tentar compreender esta grande obra é revelar a nossa própria estultícia e loucura. Enquanto não tivermos nascido de Deus nada poderemos fazer que Lhe agrade, nem obtemos dEle quaisquer consolações, e nada somos capazes de entender a Seu respeito ou sobre o que Ele está realizando no mundo.

Há o grande perigo de que os homens possam estar enganados quanto à regeneração e que estejam, portanto, eternamente perdidos. Crendo erroneamente que podem obter o céu sem que lhes seja necessário nascer de novo, ou que havendo nascido de novo podem continuar a levar uma vida pecaminosa. Tais opiniões contradizem claramente o ensinamento do nosso Senhor e dos apóstolos (Jo.3:5; 1Jo.3:9).


Fonte: Jornal Os Puritanos – Ano X – No 04 – Out./Nov./Dez./2002 
(Extraído do Livro “O Espírito Santo”, do teólogo puritano John Owen (O Príncipe dos Puritanos), publicado pela Banner Of Truth, cap 8, pg 43-51. 
Adaptado das suas obras para uma linguagem contemporânea por R.J.K. Law.)

14:46
A Suficiência da Graça por RC Sproul

O seguinte é um excerto do livro de RC Sproul, disposto a acreditar

A questão clássico entre teologia agostiniana e todas as formas de semi-Pelagianismo se concentra em um aspecto da ordem de salvação (ordo salutis): Qual é a relação entre a regeneração e a fé? A regeneração é uma obra monergística ou sinérgica? Que uma pessoa deve primeiro exercício da fé, a fim de nascer de novo? Ou devem ocorrer antes de renascimento de uma pessoa é capaz de exercer a fé? Outra forma de declarar a questão é esta: É a graça de regeneração operativa ou cooperativa?

Regeneração monergística significa que a regeneração é realizada por um único ator, Deus. Isso significa, literalmente, um "one-trabalho." Sinergismo, por outro lado, refere-se a um trabalho que envolva a acção de duas ou mais partes. É um co-funcionamento. Todas as formas de semi-Pelagianismo afirmar algum tipo de sinergia no trabalho de regeneração. Normalmente graça assistir Deus é visto como um ingrediente necessário, mas é dependente da cooperação humana para sua eficácia.

Os reformadores ensinaram não só que a regeneração não preceder a fé, mas também que deve preceder a fé. Por causa da escravidão moral do pecador não regenerado, ele não pode ter fé até que ele seja mudado internamente pelo trabalho, operativa monergística do Espírito Santo. A fé é fruto da regeneração, não a sua causa.

De acordo com o semi-Pelagianismo regeneração é operada por Deus, mas apenas naqueles que primeiro responderam com fé para ele. Fé não é visto como fruto da regeneração, mas como um ato da vontade cooperar com a oferta da graça de Deus.

Evangélicos são assim chamados por causa de seu compromisso com a doutrina bíblica e histórica da justificação pela fé. Porque os reformadores viu sola fide como central e essencial para o evangelho bíblico, o termo evangélico foi aplicado a eles. Evangélicos modernos em grande número abraçar a sola fide da Reforma, mas descartou a sola gratia que embasados-lo. Packer e Johnston afirmar:

"Justificação somente pela fé" é uma verdade que precisa de interpretação. O princípio da Sola Fide não é bem compreendido até que é visto como ancorada no princípio mais amplo de Sola Gratia. Qual é a origem e o estado de fé? É dado por Deus, meio pelo qual a justificação dada por Deus é recebido, ou é uma condição da justificação que é deixado para o homem a cumprir? É uma parte do dom da salvação de Deus, ou é própria contribuição do homem para a salvação? É a nossa salvação totalmente de Deus, ou será que dependem em última instância algo que fazemos para nós mesmos? Aqueles que dizem que a última (como os arminianos mais tarde), assim, negar total desamparo do homem em pecado, e afirma que uma forma de semi-Pelagianismo é verdadeiro, afinal. Não é de admirar, então, que a teologia Reformada condenou o Arminianismo mais tarde como sendo, em princípio, um retorno a Roma (porque na verdade ele virou a fé em um trabalho meritório) e uma traição da Reforma (porque negava a soberania de Deus em salvar os pecadores , que foi o mais profundo princípio religioso e teológico do pensamento dos reformadores). Arminianismo foi, de fato, aos olhos de Reformados uma renúncia de Cristianismo do Novo Testamento em favor do Novo Testamento o judaísmo, por que confiar em si mesmo para a fé não é diferente, em princípio, de confiar em si mesmo para as obras, e um é como não-cristã e anti -cristã como o outro. À luz do que Lutero diz a Erasmo, não há dúvida de que ele teria aprovado este juízo. "

Devo confessar que a primeira vez que ao ler este parágrafo, eu pisquei. Na superfície parece ser uma acusação grave de Arminianismo. Na verdade, dificilmente poderia ser mais grave do que a falar dele como "não-cristão" ou "anti-cristã". Isso significa que Packer e Johnston acredita arminianos não são cristãos? Não necessariamente. Todo cristão tem erros de algum tipo em seu pensamento. Nossos pontos de vista teológicos são falíveis. Qualquer distorção em nosso pensamento, qualquer desvio puro, categorias bíblicas pode ser vagamente considerada "não-cristã" ou "anti-cristã." O fato de que o nosso pensamento contém elementos não-cristãos não exige a conclusão de que estamos, portanto, não cristãos de todo.

Concordo com Packer e Johnston que o Arminianismo contém elementos não-cristãos nele e que a sua visão da relação entre fé e regeneração é fundamentalmente não-cristã. É este erro tão flagrante que é fatal para a salvação? Muitas vezes as pessoas perguntam se eu acredito arminianos são cristãos? Eu costumo responder: "Sim, mal." Eles são cristãos, o que chamamos de uma inconsistência feliz.

O que é esta incoerência? Arminianos afirmam a doutrina da justificação pela fé. Eles concordam que não temos nenhuma obra meritória que conta para a nossa justificação, que a nossa justificação recai exclusivamente sobre a justiça e o mérito de Cristo, que a Sola Fide justificação meios é somente por Cristo, e que devemos confiar, não em nossas próprias obras, mas em A obra de Cristo para a nossa salvação. Em tudo isso, eles diferem de Roma, em pontos cruciais.

Packer e Johnston notar que a teologia reformada mais tarde, no entanto, condenou o Arminianismo como uma traição à Reforma e, em princípio, como um retorno a Roma. Eles apontam que o Arminianismo "com efeito voltou a fé em um trabalho meritório."

Notamos que esta carga é condicionada pelas palavras em vigor. Normalmente arminianos negar que a sua fé é uma obra meritória. Se eles insistem que a fé é uma obra meritória, seriam explicitamente como negar a justificação pela fé. O arminiano reconhece que a fé é algo que uma pessoa faz. É um trabalho, embora não um meritório. É um bom trabalho? Certamente não é um trabalho ruim. É bom para uma pessoa a confiar em Cristo e em Cristo para a sua salvação. Uma vez que Deus nos ordena a confiar em Cristo, quando o fazemos estamos obedecendo este comando. Mas todos os cristãos concordam que a fé é algo que fazemos. Deus não faz o crer para nós. Concordamos também que a nossa justificação é pela fé na medida em que a fé é a causa instrumental de nossa justificação. Todos arminiano o quer e pretende afirmar é que o homem tem a capacidade de exercer a causa instrumental da fé sem primeiro ser regenerado. Esta posição claramente nega Sola Gratia, mas não necessariamente Sola Fide.

Então por que dizer que o Arminianismo "em efeito" faz da fé uma obra meritória? Porque as pessoas fazem boa resposta ao evangelho torna-se o último fator determinante na salvação. Eu sempre peço aos meus amigos arminianos por que eles são cristãos e outras pessoas não. Eles dizem que é porque eles acreditam em Cristo, enquanto outros não. Então eu perguntar por que eles acreditam e outros não? "É porque você é mais justo do que a pessoa que permanece na incredulidade?" Eles são rápidos em dizer não. "É porque você é mais inteligente?" Mais uma vez a resposta é negativa. Eles dizem que Deus é gracioso o suficiente para oferecer a salvação a todos os que crêem e que não pode ser salvo sem que a graça. Mas a graça é graça cooperativa. O homem em seu estado caído deve alcançar e agarrar esta graça por um ato da vontade, que é livre para aceitar ou rejeitar esta graça. Alguns exercício da vontade justamente (ou justiça), enquanto outros não. Quando pressionado sobre este ponto, o arminiano acha difícil escapar à conclusão de que, em última análise a sua salvação repousa sobre algum ato justo do que ele tem realizado. Ele "em efeito" mereceu o mérito de Cristo, que difere apenas um pouco do ponto de vista de Roma.



Um trecho do livro de RC Sproul, Disposto a Acreditar

Fonte: http://www.monergism.com/thethreshold/articles/onsite/willing.html

07:58
O que Jerusalém tem a ver com Atenas? Muito, em todos os sentidos. No lado negativo, faríamos bem em relembrar que os cidadãos da cidade de Deus, como aqueles na cidade dos homens, ainda são pecadores. Embora sejamos habitados pelo Espírito Santo de Deus, embora tenhamos recebido corações de carne, permanecemos pecadores deste lado do véu, não diferente daqueles ao redor de nós. Dessa forma, Jesus, em seu Sermão do Monte, nos exorta a não fazer aquilo que nos ocorre com muita naturalidade: se atormentar e preocupar com nossa comida e vestimenta. São sobre tais coisas, diz ele, que os pagãos se preocupam.

Num lado mais positivo, Jerusalém e Atenas têm isto em comum: elas são governada pelo mesmo Homem. Isto é, Jesus é Senhor de ambas. Não existe nenhuma cidade sobre a qual Jesus não reina. Ele é Senhor sobre tudo da criação. Devemos ser zelosos em fazer essa afirmação com ousadia. Devemos, contudo, fazer isso com cuidado.

Que Jesus é o Senhor de Atenas não significa que tudo está bem com Atenas. Não podemos assumir que a cidade está salva porque nosso Senhor governa sobre ela. Em vez disso, lembrando a antítese, a verdade bíblica de que a semente da mulher e a semente da Serpente farão guerra uma contra a outra até que o reino chegue em sua plenitude, o reinado de Jesus sobre Atenas significa que Atenas está em apuros. A cidade pertence a Jesus, e todavia ela se rebela contra ele. Seu senhorio é menos uma aprovação sobre a cidade e mais uma Espada de Damocles, uma ameaça constante de juízo.

Há uma terceira coisa que essas cidades têm em comum. Não somente Jesus governa sobre elas, não somente as duas cidades são povoadas por pecadores, mas ambas são povoadas por aqueles que carregam a imagem de Deus. Embora a semente da Serpente esteja em guerra contra Deus e o Seu povo, eles ainda carregam a marca de Deus. Vemos esse tema repetido várias vezes na Bíblia. Deus chama os seus filhos para exercer domínio sobre a criação. A linhagem ímpia de Caim não é perguiçoas com respeito a exercer domínio. Carregando a imagem de Deus, eles trabalham, transformam barro em tijolo, e constroem uma torre para fazer um nome para si. O fato de essa linhagem não trabalhar para a glória de Deus, mas para a sua própria glória, é um sinal de pecado. Que ela constroi algo a despeito disso é um sinal da imagem de Deus. O mesmo é verdade com respeito à adoração. Em Romanos 1 Paulo fala sobre as duas coisas: (1) que todos os homens, em todos os lugares adoram e (2) que, à parte da graça ativa de Deus em nossas vidas, adoramos antes às criaturas do que ao Criador. Porque somos portadores da imagem de Deus, adoramos. Porque estamos em rebelião, adoramos falsamente.

Isso deveria informar nosso entendimento de como essas duas cidades se relacionam. Não enviamos emissários de paz para os inimigos de Deus, trocando nossas espadas por enxadas. Nem, contudo, permitimos nosso senso de antítese ofuscar nossa humanidade comum, ou melhor ainda, a verdade de que carregamos a imagem de Deus. Dessa forma, não determinamos que a piedade exige que nós que adoramos ao Senhor ressurreto deveríamos andar com as mãos, já que os filhos das trevas usam os pés para caminhar. Não assumimos que a coisa certa para os cristãos é odiar os seus filhos porque os incrédulos amam os seus filhos. Em vez disso, agradecemos ao Senhor de todos por tudo o que ainda temos em comum. Em vez disso, encorajamos tudo que é bom, verdadeiro e belo em Atenas, sabendo que, no final, tudo deve pertencer ao Senhor.

O ateniense Platão não era, contra aqueles que esquecem a antítese, um homem tristemente desinformado, mas brilhante, cujos meandros filosóficos bem intencionados podem ser ricamente adquiridos pela sabedoria. Em vez isso, ele era um inimigo de Deus, assim como nós antes da obra do Espírito de Deus em nós. Seus pensamentos filosóficos tinham como seu objetivo final a negação de Deus. Platão era, com respeito à sabedoria, surdo, mudo e cego. Ele não podia, de acordo com a Escritura, sequer ver o reino de Deus (João 3.3). Há sabedoria, contudo, naquele provérbio que sugere que “mesmo um esquilo cego encontra uma noz aqui e acolá”. Platão não nos disse nada que já não sabíamos quando ele primeiro sugeriu que as três maiores virtudes são a bondade, verdade e beleza. Ele, contudo, falou bem, veraz e belamente ao assim dizer. Platão, ao trazer nossa atenção à bondade, verdade e beleza, tornou manifesto a imagem de Deus em sua própria vida, e por sua vez nos ensinou a como reconhecer melhor essa imagem nos outros. Quando bombeiros incrédulos agem heroicamente — quando exibem o bem — não temos razão para nos envergonharmos. Quando cientistas incrédulos falam com veracidade, não temos nenhuma razão para vergonha. Quando musicistas incrédulos criam momentos de beleza, não temos motivo para nos envergonharmos. Pois essas coisas não pertencem no final à Jerusalém ou Atenas. Em vez disso, elas pertencem Àquele que é Senhor de ambas.

Platão reconheceu a bondade, a verdade e a beleza da bondade, da verdade e da beleza. Jesus é a bondade, verdade e beleza, e toda outra perfeição de forma infinita. Se quisermos buscar a bondade, verdade e beleza, devemos buscá-lo. Devemos buscar em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas nos serão acrescentadas.




FONTES: Ligonier Ministries
http://monergismo.com
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto – fevereiro/2012


Sobre o autor R. C. Sproul Jr
Dr. R.C. Sproul Jr. gradou-se no Reformed Theological Seminary e no Grove City College. Recebeu seu Doutorado em Ministério em 2001. É o pastor fundador da Saint Peter Presbyterian Church, e é o fundador, diretor e professor do Highlands Ministries. Sproul Jr. escreveu e editou dezenas de livros, incluindo Biblical Economics, Almighty Over All,Tearing Down Strongholds, Eternity in our Hearts, Bound for Glory, When You Rise Up, Believing God e The Call to Wonder (2012). The important thing is that he is the the father of Darby, Campbell, Shannon, Delaney, Erin Claire, Maili, Reilly and Donovan.

07:38
A glória de Deus é encobrir as coisas, mas a glória dos reis é esquadrinha-las. (Provérbios 25.2)

Hoje alguém me perguntou ressabiado se é possível fazer a fé cristã e ciência conversarem. Nada estranho! Afinal, de modo geral, para o nosso tempo, fé em Deus é fé em Deus, e ciência é ciência. Aliás, talvez a maioria das pessoas em nossos dias, contraponha o pensamento cientifico não apenas ao conhecimento de Deus, mas à fé, em geral, como se houvesse uma contradição necessária entre ambos, e uma conversa entre eles fosse algo impossível. Se a pergunta fosse quanto a contradição entre ciência e fé, a resposta voltaria imediatamente em forma de outra pergunta: E quando foi que elas deixaram de se falar? Mas como a pergunta qualificou a fé, o diálogo continua.

Apesar deste status quo contemporâneo, à luz de uma cosmovisão cristã não existe uma contradição necessária entre o conhecimento científico e o conhecimento de Deus, isto é, elas não são necessariamente inimigas. Pelo contrário, de acordo com a revelação bíblica, o mundo foi trazido à existência por Deus, e, portanto, está repleto de traços autorais dele. Nas palavras de Davi: Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos (Salmo 19.1). E, nas palavras do Apóstolo Paulo: os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas (Romanos 1.20). Isto significa que, o verdadeiro conhecimento científico, ao invés de nos afastar de Deus, deveria nos aproximar dEle. Na perspectiva bíblica, ciência e fé cristã deveriam conversar sempre. Aliás, a ciência moderna nasceu em solo cristão. Schaeffer afirma que os primeiros cientistas modernos alimentavam a convicção, em primeiro lugar, de que Deus proporcionou o conhecimento ao homem através da Bíblia – conhecimentos acerca do próprio Criador e também acerca do universo e da história. A afirmação de Schaeffer se confirma, por exemplo, na declaração de Copérnico, de que estava tentando descobrir o mecanismo do universo, feito para nós por um criador supremamente bom e ordeiro. Os primeiros cientistas tinham a percepção de que as regularidades presentes na realidade apontam para um “projeto inteligente”, e criam ser Deus a origem do mesmo. Eles sabiam exatamente da glória de Deus e da glória dos reis.

Então, pergunto: por que tem sido disseminada a ideia de uma contradição necessária entre ciência e fé cristã? Não há espaço nessa pequena reflexão para apontar com a devida abrangência e profundidade todas essas razões; talvez técnicamente até haja, mas poucos leriam até o final. Mas, poderíamos resumir afirmando que isto é uma questão de princípio (cosmovisão). Embora a ciência moderna, cujos princípios estão, de modo geral, ainda vigentes, tenha nascido em solo cristão, ao longo do tempo ela conversou e tornou-se amiga demais de uma cosmovisão materialista, ou naturalista, cuja premissa básica (de fé, diga-se de passagem) é que o mundo material é tudo o que existe, e que qualquer explicação digna do status de “científica” precisa manter-se nos limites da materialidade. Consequentemente, ela passou a excluir qualquer possibilidade de que seja válida uma explicação que considere um ponto de transcendência, isto é, que explique o mundo material, levando em conta algo ou alguém que esteja fora dele. Assim, nasceu a dissociação entre fé cristã e ciência. E, a partir de então, embasada nesta suposta dissociação, e relegando o conhecimento de Deus ao nível de um conhecimento inferior, esta cosmovisão materialista, tem estendido suas asas sobre o conhecimento científico de modo total e abrangente. Em resumo, a irreconciliável inimizade entre ciência e fé cristã não passa de estratégia de batalha, que afasta o inimigo e facilita o domínio territorial.

Eis, portanto, minha resposta: não existe uma contradição necessária entre a ciência e o conhecimento de Deus – existe uma contradição necessária entre a ciência materialista e tal conhecimento. No entanto, substituídos os fundamentos, haverá uma eterna conversa entre ciência e fé cristã, pois será possível redescobrir a verdade de que a glória de Deus é encobrir as coisas, mas a glória dos reis é esquadrinha-las.



Sobre o autor - Filipe Fontes
O autor é ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil, Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição – validação pela Universidade Presbiteriana Mackenzie; Licenciado em Filosofia pelo Centro Universitário Assunção; Mestre em Teologia Filosófica pelo CPAJ (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper); Mestrando em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

FONTE: http://monergismo.com

23:08
por Solano Portela
O movimento histórico conhecido como a Reforma do Século 16 ocorreu há quase 500 anos, iniciado quando Martinho Lutero, em 31 de outubro de 1517, pregou 95 teses, ou declarações, na porta da catedral de Wittenberg, que pastoreava. Lutero foi um homem que atravessou uma profunda experiência de conversão, pela qual teve os olhos abertos à simplicidade dos ensinamentos contidos na Bíblia. Comparando esses ensinamentos com o que era pregado e praticado na igreja dos seus dias, Lutero encontrou diferenças marcantes. Ele verificou como, ao longo do tempo, distorções haviam sido introduzidas, de tal forma que o povo era conservado em ignorância espiritual, privado das verdades reveladas na Palavra de Deus que podem levar à salvação. Os reformadores (Lutero e os que se seguiram a ele) procuraram resgatar a mensagem que salva e que pode levar os homens de volta ao seu destino original, reconciliando pecadores com o Deus santo que rege os céus e a terra.

Os historiadores têm, normalmente, identificado quatro pilares da Reforma do Século 16. Quatro temas principais que dominaram os escritos e ensinamentos dos reformadores, por serem essenciais à propagação da sã doutrina. Esses “pilares” são normalmente identificados por palavras latinas, não tão difíceis de compreender: Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide e Solus Christus. Vamos identificar esses significados e ver a relação deles, um para com os outros, bem como a razão da Reforma ter se concentrado nesses temas. 

Sola Scriptura, significando que somente as Escrituras providenciam a fonte do nosso conhecimento religioso, das coisas espirituais cujo conhecimento é essencial à compreensão da vida. Essa era uma ênfase necessária, pois a igreja havia incorporado muitas doutrinas que não procediam da Bíblia, mas meramente de tradições humanas. Questões tais como culto às imagens, a existência do purgatório, etc., faziam parte das doutrinas ensinadas ao povo. Os reformadores, investigaram e deram um sonoro “não” a esse ensino e à consideração da “tradição” como fonte de autoridade igual ou superior à Palavra de Deus. Eles consideraram, corretamente, que isso era mortal para a saúde espiritual de qualquer um e da própria igreja. 

Sola Gratia, significando que somente a Graça de Deus é a origem da nossa salvação. Na época da reforma, e mesmo nos nossos dias a tendência humana é a de exaltar a habilidade humana de salvar-se a si mesmo. Os reformadores apontaram que a Bíblia indica sem sombra de dúvidas que somente a graça de Deus, o favor não merecido da parte dele, origina um meio de salvação. Estamos todos mortos em delitos e pecados e, conseqüentemente, nada podemos fazer para nossa própria salvação. A iniciativa, de providenciar um plano de salvação, é de Deus e dele procedem todas as providências, nesse sentido. 

Sola Fide, significando que somente a Fé é o meio pelo qual nos apropriamos da salvação efetivada por Cristo Jesus para o seu povo. Se a iniciativa da salvação é a graça de Deus, a Fé representa a resposta a essa iniciativa. Essa ênfase, extraída da Bíblia, era muito necessária, pois enfatizava-se as ações humanas como forma de se adquirir a salvação. Vendiam-se indulgências – pedaços de papel que, segundo os vendedores, representavam uma espécie de passaporte para o céu. Quanto mais se contribuía, mais certeza se obtinha, diziam eles, do perdão de pecados – do próprio comprador ou de parentes ou amigos que desejava beneficiar. Lutero e os demais reformadores, não encontraram qualquer base para esses ensinamentos nas Escrituras. Eles identificaram a Fé como sendo a resposta humana, provocada pelo toque regenerador do Espírito Santo de Deus, no processo de salvação. 

Solus Christus, significando que somente Cristo é a base da nossa salvação. Somos salvos somente pelos méritos e pelo sacrifício de Cristo e não com base em qualquer outra situação ou ação humana. Cristo é o nosso único intermediário – assim a Bíblia especifica – e isso contrasta com tudo o que se ensinava, e ainda se ensina, relacionado com a intermediação de Maria e de outros “santos”. 

Além dos “quatro pilares”, acima explicados, adiciona-se normalmente mais um: Soli Deo Gloria– Glória a Deus somente, significando o propósito da existência de nossas pessoas e de tudo o que temos ao nosso redor. Essa ênfase, igualmente bíblica, foi surgindo com o trabalho dos reformadores que se seguiram a Lutero, especialmente com o de João Calvino, que ensinou a doutrina da vocação – o chamado de Deus para que nos envolvamos em todos os aspectos da vida, sempre centralizando nossas ações na glória que é devida a Deus. Deus fez todas as coisas para sua própria glória e nos enquadramos em nossa finalidade e encontramos a felicidade quando abraçamos esse ensino em nossas vidas. 

No meio desses pontos cardeais, dessas ênfases centrais nas doutrinas bíblicas, é interessante notarmos que Martinho Lutero considerava a questão da fé: Sola Fide – Somente a Fé, como sendo aquela ênfase crucial, que devia ser propagada e defendida a qualquer custo. Obviamente que, para ele, todas as demais eram importantes, mas com a questão da fé – como único e exclusivo meio pelo qual nos apropriamos da salvação – ele tinha um cuidado todo especial. Possivelmente isso ocorreu porque foi estudando a doutrina da fé que ele foi atingido pela contundência da mensagem divina de salvação. Lutero, atribulado porque estava acostumado a ouvir a pregação das indulgências, ou a validade de relíquias e amuletos, como meios de se tornar agradável a Deus, identificou-se como “um pecador perante Deus com a consciência atribulada”. Ele estudava a carta de Paulo aos Romanos, mais especificamente o capítulo 3, quando se deparou com a declaração: “o justo viverá pela fé”, no verso 28. Lutero escreveu o seguinte: “...então eu compreendi que a justiça de Deus é o fundamento de direito pelo qual, pela graça e pela misericórdia, ele nos justifica através da fé. Imediatamente eu me senti como se tivesse atravessado uma porta aberta e penetrado no paraíso”. 

Assim, a justificação pela fé passou a ser uma das doutrinas centrais dos que abraçaram a fé reformada, que ficaram historicamente conhecidos como “protestantes”. Lutero escreveu, ainda: “esta doutrina é a principal e a angular. Somente ela gera, nutre, constrói, preserva e defende a igreja de Deus; sem ela a igreja de Deus não sobreviverá por uma hora”. O ensinamento bíblico, principalmente contido no terceiro capítulo de Romanos, sobre a justificação pela fé, não significa que nós somos considerados justos com base na fé. A base de nossa justificação é Cristo e o seu sacrifício na cruz, com a subseqüente vitória da morte, obtida em sua ressurreição. Somos salvos, portanto, pela Graça de Deus, por meioda fé, com base no trabalho de Cristo. Explicando o que é justificação, João Calvino nos ensina que ela “consiste no perdão dos pecados e na imputação da justiça de Cristo”. Uma das expressões que ele utiliza, é a de que os cristãos são “inseridos na justiça de Cristo”. Ou seja, não temos justiça própria, mas recebemos a justiça de Cristo sobre nós. 

Na carta de Paulo aos Efésios (capítulo 2, versos 8 a 10), lemos: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”. A fé, aqui mencionada, é essa fé que salva. Aprendemos, nestes versos, que somos salvos somente pela graça proveniente de um Deus soberano. A fé, é o meio – “mediante a fé”. Mas note que não temos qualquer razão ou motivo de nos orgulharmos de termos exercitados fé. Nem temos qualquer prerrogativa ou direitos perante Deus. Somente exercemos a fé, porque ela é dom de Deus. Ele é que nos concede esse meio de resposta ao seu toque salvador. Aprendemos, também, que a salvação não vem das obras – não podemos nos orgulhar, ou nos gloriar, das nossas ações, pois elas não levam à salvação. No entanto, somos instruídos sobre o verdadeiro relacionamento entre graça, fé e obras (ações). Não existe graça verdadeira, sem a respectiva fé que salva. Não existe fé salvadora, sem as evidências dessa salvação, dessa transformação de vida – as obras, as ações de mérito, representadas pelo cumprimento dos mandamentos e das diretrizes divinas contidas nas Escrituras e que existem “para que andemos nelas”. 

Essa é a fé que salva. A fé que não é simplesmente uma manifestação mística em algumas coisas. Muitos têm fé sincera em objetos que não podem salvar – em ídolos, em ritos de umbanda, em espíritos desencarnados. Mesmo em sinceridade, essa fé leva à perdição. Somente a fé em Cristo Jesus é fé salvadora (Atos 4.12: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”). A fé que salva é conseqüência natural da graça. A fé que salva não é incompatível com as obras, mas as obras são uma conseqüência necessária a essa fé. Há quase 500 anos os reformadores entenderam isso e resgataram essa doutrina que não estava sendo ensinada e se encontrava velada debaixo do entulho de tradição humana que a havia soterrado. Você entende que essa fé é o único meio para a sua salvação?

FONTE:
 https://www.facebook.com/notes/augustus-nicodemus-lopes/a-f%C3%A9-que-salva-por-solano-portela/453963167989433

14:14

Os mitos envolvendo Calvino

Por Franklin Ferreira

Grande parte da cristandade celebra os 500 anos do nascimento de João Calvino neste ano. Infelizmente, as imagens populares que se tem do reformador francês são muitas vezes distorcidas, cercadas por mitos que não representam o verdadeiro Calvino e seu decisivo ministério de quase 25 anos na cidade suíça de Genebra. Na tabela abaixo, oferecemos ao leitor um rápido panorama dos principais mitos construídos em torno de Calvino, e o quadro real que emerge do estudo sério de sua vida e influência na igreja e sociedade ocidental.

Mito: Calvino inventou a doutrina da predestinação.

Fato: Entre outros, Agostinho, Anselmo, Aquino, Lutero e Zwinglio ensinaram e escreveram sobre a doutrina da predestinação antes de Calvino, enfatizando a livre graça de Deus triunfando sobre a miséria e escravidão ao pecado.

Mito: A doutrina da predestinação é central na teologia de Calvino.

Fato: Em seus escritos, especialmente nos comentários, Calvino trata do tópico quando o texto bíblico exige. E como alguns eruditos têm sugerido, o tema central de sua teologia parece ser a união mística do fiel com Cristo.

Mito: Calvino não tinha interesse em missões.

Fato: Entre 1555 e 1562 um total de 118 missionários foram enviados de Genebra para o exterior – um número muito superior ao de muitas agências missionárias da atualidade. E os primeiros mártires da fé evangélica nas Américas foram enviados por Calvino ao Brasil para encontrar um lugar de refúgio para os reformados perseguidos na Europa e evangelizar os índios.

Mito: A crença na predestinação desestimula a oração.

Fato: Calvino escreveu mais sobre a oração do que a predestinação nas Institutas, enfatizando a oração como um meio de graça por meio do qual a vontade de Deus é realizada e suas bênçãos são derramadas.

Mito: Calvino é o pai do capitalismo.

Fato: As forças que moldaram o capitalismo moderno já estavam presentes na cultura ocidental cerca de 100 anos antes da reforma. O que Calvino valorizou em seus escritos foi o estudo, o trabalho, a frugalidade, a disciplina e a vocação como meios de superar a pobreza. Ele não condenou a obtenção de lucros advindos do trabalho honesto.

Mito: Calvino foi o ditador de Genebra.

Fato: Ele tinha pouca influência sobre as decisões acerca do ordenamento civil da cidade e não tinha direito de voto em decisões políticas ou eclesiásticas no conselho municipal. Sua influência era persuasiva, por meio de seus sermões e escritos. Em países influenciados pelo pensamento calvinista não surgiram ditadores, nem nas esferas políticas muito menos nas eclesiásticas.

Mito: Calvino mandou matar Miguel Serveto.

Fato: Serveto foi executado por ordem do conselho municipal de Genebra por heresia, especialmente por negar a doutrina da Trindade. Ele havia sido condenado pelas mesmas razões por dois tribunais católicos, só escapando da morte por ter fugido da França. Inexplicavelmente ele foi para Genebra. No fim, todos os reformadores europeus apoiaram unanimemente a decisão do conselho de Genebra.

Mito: Os ensinos de Calvino são social e politicamente alienantes.

Fato: Pode-se ver a influência do pensamento de Calvino na revolução puritana de 1641 e na primeira deposição e execução de um rei tirano em 1649, na Inglaterra; no surgimento do governo republicano (com a divisão e alternância do poder, além de ênfase no pacto social); na revolução americana de 1776; na libertação dos escravos e na defesa da liberdade de imprensa.

Mito: Calvino não tinha interesse em educação.

Fato: Calvino não só inaugurou uma das primeiras escolas primárias da Europa como ajudou a fundar a Universidade de Genebra, em 1559. Algumas das mais importantes universidades do ocidente, como Harvard, Yale e Princeton foram fundadas por influência dos conceitos educacionais do reformador francês. A imagem permanente associada às igrejas reformadas é que estas sempre têm uma escola ao lado.

Mito: Os ensinos de Calvino não são bíblicos.

Fato: Calvino enfatizou fortemente a autoridade e prioridade das Escrituras e praticamente inaugurou o método histórico-gramatical de interpretação bíblica. Escreveu comentários sobre quase todo o Novo Testamento e grande parte do Antigo Testamento, além de milhares de sermões. E sua grande obra foi as Institutas da Religião Cristã, que seria “uma chave abrindo caminho para todos os filhos de Deus num entendimento bom e correto das Escrituras Sagradas”. O reformador francês lutou para que toda a sua cosmovisão estivesse debaixo da autoridade da Bíblia.

Não quero tratar Calvino de forma não-crítica ou iconográfica. Ele era consciente de suas fraquezas e pecados, e suas muitas orações preservadas dão testemunho de sua humildade e dependência da graça abundante de Deus em Jesus Cristo. O que almejo é levar o amado leitor a deixar de lado as caricaturas e ir direto à fonte, estudando e meditando nas obras de Calvino, reconhecendo-o e levando-o a sério como mestre da igreja (praeceptor eccleisiae). Os benefícios de tal estudo serão incalculáveis para sua vida e para aqueles ao seu redor.

Fonte: Voltemos ao Evangelho

23:50
Sermão pregado na manhã de Domingo de 23 de Setembro de 1855
Por Charles Haddon Spurgeon
Na Capela de New Park Street, Soutwhark, Londres.

“E, ouvindo estas coisas, apaziguaram-se, e glorificaram a Deus, dizendo: Na verdade até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida.” Atos 11:18 

Um dos maiores obstáculos que a religião cristã tenha alguma vez tido que suportar, foi o preconceito inveterado que se apoderou das mentes de seus primeiros seguidores. Os crentes judeus, os doze apóstolos e aqueles que Jesus Cristo havia chamado de entre os dispersos de Israel, estavam tão apegados à ideia de que a salvação era dos judeus, e que ninguém a não ser os discípulos de Abraão, ou, pelo menos, os circuncidados, podiam ser salvos, que não podiam aceitar a ideia de que Jesus tivesse vindo para ser o Salvador de todas as nações, e que Nele seriam benditos todos os povos da terra.

Com muita dificuldade podiam aceitar essa suposição; era tão oposta a toda sua educação judia, que os vemos convocando a Pedro para um concílio de cristãos, e perguntaram-lhe: “Por que entraste em casa de homens incircuncisos, e comeu com eles?” E Pedro não pode exonerar-se a si mesmo até não ter se referido plenamente ao assunto, e ter declarado que Deus lhe apareceu em uma visão, dizendo-lhe: “O que Deus purificou, não chame de incomum,” e que o Senhor lhe ordenou pregar o Evangelho a Cornélio e a sua casa, já que eram crentes.

Depois disso o poder da graça foi tão enorme, que esses judeus não puderam resistir-lhe mais; e mesmo que pese toda sua educação prévia, de imediato assumiram o principio compreensivo do cristianismo: “e glorificaram a Deus, dizendo: Na verdade até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida.”

Bendigamos a Deus porque agora estamos livres dos impedimentos do judaísmo, e porque tampouco estamos sob os impedimentos de um gentilismo, que por sua vez, excluiu aos judeus; mas que vivemos muito próximos do bem aventurando tempo que se aproxima, quando judeu e gentio, escravo ou livre, se sentirão um em Jesus Cristo, nossa Cabeça.

Não me proponho abundar sobre esse tópico, mas sim que meu tema no dia de hoje será: “O arrependimento para vida.” Peço graça a Deus para falar-lhes de tal maneira que Sua palavra seja como uma espada cortante “Que penetra até dividir alma e espírito, juntas e medulas”

Por “arrependimento para vida”, creio que devemos entender aquele arrependimento que vai acompanhado de vida espiritual na alma, e que assegura a vida eterna a todo aquele que o possui. “O arrependimento para vida,” afirmo, traz consigo vida espiritual, ou melhor, é a primeira consequência procedente dessa vida.

Existem arrependimentos que não são sinais de vida – exceto de vida natural – porque só são efetuados pelo poder da consciência e a voz da natureza que fala nos homens; porem, o arrependimento de que se fala aqui, é produzido pelo Autor da vida, e quando vem, gera tal vida na alma que aqueles que estavam “mortos em delitos e pecados,” são revividos conjuntamente com Cristo; aqueles que não tinham receptividade espiritual, agora “recebem com mansidão a palavra implantada”; aqueles que “cochilavam no próprio centro da corrupção,” recebem o poder de se converterem em filhos de Deus, e de estar próximos de Seu trono.

Eu creio que esse é o “arrependimento para vida”: aquele arrependimento que dá vida a um espírito morto. Eu também disse que esse arrependimento assegura a vida eterna; pois existem arrependimentos dos quais os homem ouvem falar, que não asseguram a salvação da alma.

Alguns pregadores afirmam que ainda que os homens podem se arrepender e crer, também podem apostatar e perecer. Não pretendemos consumir nosso tempo fazendo uma consideração para expor seu erro agora; frequentemente consideramos isso antes, e temos refutado tudo o que poderiam dizer em defesa de seu dogma. Pensemos em um arrependimento infinitamente melhor.

O arrependimento de nosso texto não é esse arrependimento, mas sim, que é um “arrependimento para vida”; um arrependimento que é um verdadeiro sinal de salvação eterna em Cristo; um arrependimento que nos preserva em Jesus através desse estado temporal, e que quando tenhamos passado à eternidade, nos proporciona uma bem-aventurança que não pode ser destruída.

“Arrependimento para vida” é a salvação real da alma, é o germe que contêm todos os elementos essenciais da salvação, que os guarda para nós, e que nos prepara para eles.

Nesse dia temos de prestar uma atenção, acompanhada de oração, ao “arrependimento” que é “para vida”. Primeiro, irei dedicar alguns minutos na consideração do arrependimento falso; em segundo lugar, irei considerar os sinais que caracterizam o verdadeiro arrependimento, e posteriormente, enaltecerei a caridade divina, do qual está escrito: “De maneira que também aos gentios, Deus deu arrependimento para vida.”

I. Primeiro, então, consideraremos certos FALSOS ARREPENDIMENTOS. Irei começar fazendo essa observação: que espantar-se sob o som do Evangelho não é “arrependimento”. Existem muitas pessoas que quando escutam um fiel sermão evangélico, permanecem agitadas e comovidas. Mediante certo poder que acompanha à Palavra, Deus dá testemunho de que se trata de Sua própria Palavra, e provoca naqueles que a escutam certo tremor involuntário.



Eu já vi algumas pessoas – quando as verdades da Escritura ressoaram desde esse púlpito – cujos joelhos tremeram chocando entre si, cujos olhos derramaram lágrimas como se fossem fontes de água. Fui testemunha da profunda depressão de seu espírito, quando – segundo me disseram alguns deles – foram sacudidos até o ponto de não saber como suportar o som da voz, pois era semelhante à terrível trombeta do Sinai, trovejando unicamente sua destruição.

Queridos leitores, vocês poderiam estar sumamente perturbados sob a pregação do Evangelho, e, no entanto, poderiam não ter esse “arrependimento para vida”. Vocês poderiam saber o que é estar muito seria e profundamente afetados quando vão à casa de Deus e, no entanto, poderiam ser pecadores endurecidos.

Permitam-me confirmar essa observação mediante um exemplo: Paulo compareceu diante de Félix com suas mãos encadeadas, e quando dissertava sobre “a justiça, o domínio próprio e do juízo vindouro”, está escrito que “Felix se atemorizou”, e, no entanto, por buscar retarda a repreensão, Felix se encontra na perdição, em meio do resto de pessoas que disseram: “prossegue seu caminho por essa vez; quando encontre um tempo adequado o buscarei”.

Existem muitas pessoas que não podem assistir à casa de Deus sem se alarmarem; vocês sabem o que é estar espantados diante do pensamento de que Deus os castigará; pode ser que com frequência tenham sido induzidos a uma emoção sincera sob a influência do ministro de Deus; porem, permitam-me dizer-lhes que, apesar de tudo, poderiam ser rejeitados, porque não se arrependeram de seus pecados e não se converteram a Deus.

Pior ainda. É muito possível que não somente se espantem diante a Palavra de Deis, mas sim que poderiam se convertem em Agripas amigáveis, e estar “por poucos persuadidos” a voltarem-se a Jesus Cristo e , no entanto, não ter nenhum “arrependimento”. Poderiam ia mais alem e chegar a desejar o Evangelho, poderiam dizer: “oh, esse Evangelho é algo tão bom, que eu queria recebê-lo. Assegura tanta felicidade aqui e tanto gozo no além mais, que queria poder chamá-lo de meu”. Oh, é bom ouvir essa maneira essa voz de Deus! Porem, poderiam ficar tranquilos e, enquanto algum texto poderoso é pregado adequadamente, poderiam dizer a si mesmos “creio que é verdade”; mas tem que entrar no coração antes de que possam se arrepender. Podem inclusive cair de joelhos em oração e podem pedir com lábios aterrados que isso seja de benção para sua alma; e depois de tudo, poderia ser que não fora um filho de Deus. Poderia dizer como Agripa disse para Paulo: “Por pouco me persuades a ser cristão”; no entanto, igual que Agripa, poderia não passar mais além de “por pouco”. Agripa estava “quase persuadido a ser cristão”, mas não “plenamente convencido”.

Agora, quantos de vocês estiveram “por pouco persuadidos” e, no entanto, não estão realmente no caminho à vida eterna. Que frequente a convicção os conduziu a cair de joelhos e “por pouco” se arrependeram, mas permaneceram ai, sem se arrependerem realmente.

Vocês vêem aquele cadáver? Morreu recentemente. Ainda não assumiu a branquidão mortal, sua cor se assemelha ainda a da vida. Sua mão está mole ainda; poderia pensar que está vivo, e quase parece respirar. Tudo está integro: o verme escassamente o tocou; a decomposição escassamente se apresentou; não há nenhum cheiro fétido. No entanto, a vida se foi; não existe nenhuma vida ali.

O mesmo sucede com vocês: por pouco estão vivos; por pouco possuem cada órgão externo da religião que o cristão possui; mas não possuem vida. Poderiam ter um arrependimento, mas não o arrependimento sincero. Oh hipócrita! Advirto-lhe no dia de hoje, que não somente poderia sentir espanto, mas sim até uma complacência pela Palavra de Deus e, no entanto, depois de tudo, não ter “arrependimento para a vida”. Todavia poderiam se afundar no poço do abismo, e escutar que se diga “Apartai-vos de mim, malditos, ao fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos”.

Porem, ainda, é ainda possível que os homens progridam mais alem disso, e que positivamente se humilhem sob a mão de Deus, mas que sejam completos estranhos ao arrependimento. Sua bondade não é como a nuvem da manhã e o orvalho recente que desvanece, mas que depois que escutam o sermão, regressam para casa e realizam o que eles concebem que é a obra do arrependimento, quer dizer, renunciam a certos vícios e necessidades, se vestem de saco e suas lágrimas se derramam muito abundantes por conta do que fizeram; se lamentam diante de Deus; no entanto, com tudo isso, seu arrependimento não é senão um arrependimento passageiro, e voltam outra vez para seus pecados.

Vocês negam que exista tal penitência?Permitam-me contar-lhes um caso. Certo homem chamado Acabe cobiçava a vinha de seu vizinho Nabote, que se recusava a vendê-la a qualquer preço nem fazer um escambo. Acabe consultou sua esposa Jezabel, que montou o plano de matar a Nabote para que o rei se apropriasse da vinda. Depois que Nabote morreu, e Acabe tomou posse da vinha, o sevo do Senhor se reuniu com Acabe e lhe disse: “Não mataste, e também despojaste? Assim disse Jeová: no mesmo lugar onde os cães lamberam o sangue de Nabote, os cães também lamberão seu sangue, seu próprio sangue; eis aqui que trago mal sobre ti, e varrerei sua posteridade.” Lemos que Acabe se foi e andou humilhado; e o Senhor disse: “Pois, porquanto se humilhou diante de Mim, não trarei o mal em seus dias.”

O Senhor havia concedido uma sorte de misericórdia; porem, lemos em continuação, no seguinte capitulo, que Acabe se rebelou, e em uma batalha em Ramote de Gileade, de conformidade ao servo do Senhor, Acabe foi morto, assim que “os cães lamberam seu sangue” exatamente na vinha de Nabote.

Vocês também, lhes digo, poderiam andar humilhados diante de Deus por um tempo e, no entanto, poderiam seguir sendo os escravos de suas transgressões. Vocês têm medo da condenação, mas não têm medo de pecado; possuem medo do inferno, mas não temem suas iniquidades; têm medo de ser lançados ao poço, mas não temem endurecer seus corações contra Seus mandamentos.

Não é verdade, oh pecador, que tem pavor ao inferno? Não é o estado de sua alma que lhe turba, mas sim o inferno. Se o inferno fosse extinto, seu arrependimento se extinguiria; se os terrores que lhe esperam fossem eliminados, pecaria mais perfidamente do que antes, e sua alma se endureceria e se rebelaria contra seu soberano.

Não se enganem, meus irmãos, nesse ponto; examinem-se para comprovar que andam em fé; se perguntem se possuem o “arrependimento para vida”, pois poderiam andar humilhados por um tempo e, no entanto, não se arrependeram jamais diante de Deus.

Muitos avançam mais que disso e, no entanto, estão destituídos da graça. Poderia ser possível ser confesse seus pecados sem se arrepender deles. Você poderia se aproximar a Deus, e dizer-lhe que é um miserável. Poderia enumerar uma longa lista de suas transgressões e dos pecadores que cometeu, sem nenhum sentido da sua horripilante culpa, sem uma fagulha de ódio real para com suas ações.

Poderia confessar e reconhecer suas transgressões e, no entanto, não sentir um aborrecimento do pecado; e se não resiste ao pecado, na força de Deus, se não o abandona, esse suposto arrependimento não seria nada senão a cor dourada que lustra uma pintura decorativa; não se trata da graça que realmente transforma em ouro que suporta o fogo. Digo que poderiam chegar a confessar suas faltas e, no entanto, não ter arrependimento.

Ademais, e então terei tocado o mais longínquo pensamento que darei sobre esse ponto, poderiam fazer alguma obra digna do arrependimento e, no entanto, ser impenitentes. Deixem-me dar-lhes uma prova disso em um ato autenticado pela inspiração.

Judas traiu seu Senhor, e depois de tê-lo feito, um pesadíssimo sentido do enorme mal que tinha cometido se apoderou dele. Sua culpa enterrou toda esperança de arrependimento, e no abatimento da desesperação, mas não na dor da verdadeira compunção, confessou seu pecado aos sumo sacerdotes, clamando: “pequei entregando sangue inocente.” Eles lhe disseram: “Que nos importa isso? Isso é contigo”. Então, lançou as peças de prata no templo, para mostrar que não podia suportar carregar com o preço da culpa; e as deixou ai. Saiu e, foi salvo? Não, “Saiu e foi, e se enforcou.”

E ainda então a vingança de Deus se seguiu; pois, quando se pendurou, caiu desde a altura onde estava pendurado, e caiu destroçado; se perdeu e sua alma pereceu. Podem ver o que esse homem fez. Ele pecou, confessou seu erro, e devolveu o ouro; no entanto, depois disso, foi um réprobo. Acaso isso não nos coloca a tremer? Podem ver que possível é ser tão aproximadamente ser um remedo de cristão, que a própria sabedoria, se somente fosse mortal, seria enganada.

II. Agora, tendo-lhes advertido assim que existem muitas falsas classes de arrependimento, tenho o propósito de ocupar um curto tempo fazendo algumas observações sobre O VERDADEIRO ARREPENDIMENTO, e os sinais mediante os quais poderemos discernir se contamos com esse “arrependimento” que é “para vida”.

Antes de tudo, me permitam corrigir um ou dois erros que aqueles que estão vindo a Jesus Cristo comentem com frequência. Um é que crêem muitas vezes que deveriam experimentar profundas, horríveis e pavorosas manifestações dos terrores da lei e do inferno antes que se possa dizer que se arrependeram.

Com quantas pessoas conversei que me disseram o que somente posso traduzir em inglês a vocês, nessa manhã, mais ou menos dessa forma: “não me arrependo o suficiente, não me sinto suficientemente pecador. Não fui um transgressor tão indesculpável e perverso como muitos outros; eu quase quisera tê-lo sido; não porque ame ao pecado, mas devido a que então teria convicções mais profundas de minha culpa, e me sentiria mais seguro de ter vindo verdadeiramente a Jesus Cristo.”

Agora, seria um grave erro imaginar que esses pensamentos terríveis e horríveis de um juízo vindouro tenham algo que ver com a validade do “arrependimento”. Com frequência não são o dom de Deus para nada, mas sim as insinuações do diabo; e inclusive ai onde a lei obra e produz esses pensamentos, não deveriam considerá-los como constituintes de uma parte e uma porção do “arrependimento”. Não entram na essência do arrependimento.

O arrependimento é um ódio ao pecado; consiste em apartar-se do pecado e em uma determinação, na força de Deus, de abandoná-lo. É possível que um homem se arrependa sem uma exibição horrível dos terrores da lei; poderia se arrepender sem ter escutado as buzinas da trombeta do Sinai, sem ter escutado algo mais que um distante ressoar de seu trovão.

Um homem pode se arrepender inteiramente por meio da voz da misericórdia. Deus abre alguns corações à fé, como no caso de Lidia. A outros, acomete com o grosso martelo da ira vindoura; a alguns, abre com a picareta da graça, e a outros com a alavanca de ferro da lei.

Pode ser que existam muitas formas de chegar ali, mas a pergunta é, tem chegado ai? Se acha ai? Sucede com frequência que o Senhor não está na tempestade nem no terremoto, mas sim no “sopro aprazível e suave.”

Existe outro erro que muitas pobres pessoas comentem quando estão pensando na salvação, e é: que não podem se arrepender o suficiente: imaginam que se elas se arrependessem até certo grau, seriam salvas. “oh senhor” – dirão alguns de vocês– “não tenho contrição suficiente”.

Amados, permitam-me dizer-lhes que não existe nenhum grau eminente de “arrependimento” que seja necessário para a salvação. Vocês sabem que há graus de fé e, no entanto, a mínima fé salva; também, existem graus de arrependimento, e o mínimo arrependimento, se é sincero, salvará a alma.

A Bíblia diz: “O que crer será salvo”; e quando diz isso, inclui o menor grau de fé. Também, quando diz: “Arrependei-vos e convertei-vos para que vossos pecados sejam apagados,” inclui ao homem que tem o mais baixo grau nível de arrependimento real.

O arrependimento, ademais, jamais é perfeito em nenhum homem nesse estado mortal. Nunca alcançaremos a fé perfeita que esteja inteiramente livre de dúvidas; e nunca alcançaremos o arrependimento que seja livre de alguma dureza de coração. O mais sincero penitente que conheçam se sentirá parcialmente impenitente.

O arrependimento também é um ato continuo durante a vida inteira. Crescerá continuamente. Eu creio que um cristão em seu leito de morte se arrependerá mais amargamente do que jamais fez. Arrepender-se é algo que se fará durante toda a vida. Pecar e arrepender-se, pecar e arrepender-se, resume a vida de um cristão. Arrepender-se e crer em Jesus, arrepender-se e crer em Jesus, conforma a consumação da felicidade.

Não devem esperar ser perfeitos em “arrependimento” antes de serem salvos. Nenhum cristão pode ser perfeito. O arrependimento é uma graça. Algumas pessoas o pregam como uma condição de salvação. Condição de insensatez! Não existem condições para a salvação. Deus mesmo dá a salvação; e unicamente a dá aos que Ele quer. Disse: “Terei misericórdia de quem eu tenha misericórdia.”

Se, então, Deus lhe deu o mínimo arrependimento, e é um arrependimento sincero, louve ao Senhor, e espere que esse arrependimento cresça mais e mais profundamente conforme siga adiante.

Então essa observação deve ser aplicada a todos os cristãos. Homens e mulheres cristãos, vocês sentem que não possuem um arrependimento suficientemente profundo? Sentem que não possuem uma fé suficientemente grande? O que farão? Peçam um aumento de fé, ela e crescerá. O mesmo sucede com o arrependimento. Já tentaram alguma vez alcança um profundo arrependimento? Meus amigos, se vocês fracassaram no intento, confiem em Jesus, e tratem a cada dia de obter um espírito penitencial. Não esperem ter – o repito – um perfeito arrependimento ao princípio; deverão ter contrição sincera, e logo, sob a graça divina, irão de poder em poder, até que ao fim odiarão e aborrecerão o pecado como a uma serpente ou uma víbora, e então estarão próximos, muito próximos, da perfeição do arrependimento.

Dei-lhes essas considerações, então, como início do tema. E agora vocês perguntarão: quais são os sinais do verdadeiro arrependimento aos olhos de Deus?

Primeiro, lhes digo, que existe pena nele. Ninguém se arrepende jamais do pecado sem sentir algum tipo de tristeza por sua vez. Pode ser mais ou menos intensa, de acordo com a maneira em que Deus lhes chama, e a sua prévia maneira de vida; porem deve existir alguma tristeza. Não nos importa quando chega, mas em algum momento ou outro deve chegar, ou não seria o arrependimento de um cristão.

Conheci uma vez um homem que professava que se tinha arrependido, e em verdade seu caráter tinha mudado externamente; mas nunca pude ver que tivera uma dor real pelo pecado; tampouco vi jamais sinais de contrição nele quando professou crer em Jesus. Eu considerei que esse homem se tratava de um salto extático à graça; e encontrei depois que teve também exatamente um salto igualmente extático à culpa outra vez. Ele não era uma ovelha de Deus, pois não tinha sido lavado na contrição: pois todo o povo de Deus há de ser lavado em contrição quando é convertido de seus pecados. Ninguém pode vir a Cristo e conhecer Seu perdão sem sentir que o pecado é uma coisa odiosa, pois levou Cristo à morte. Vocês que possuem seus olhos secos, seus joelhos sem dobrar e seus corações duros, como poderiam pensar que são salvos? O Evangelho promete salvação somente para aqueles que realmente se arrependem.

No entanto, para não ferir nenhum de vocês, e fazer-lhes sentir algo que não é minha intenção fazê-los sentir, permitam-me observar que não quero dizer que devam derramar lágrimas reais. Alguns homens possuem uma constituição tão dura que não poderiam derramar uma só lagrima. Já conheci algumas pessoas que foram capazes de suspirar e de gemer, mas as lágrimas, elas não brotam.

Bem, eu digo que ainda que as lágrimas fornecem muitas vezes evidências de contrição, podem ter “arrependimento para vida” sem elas. O que eu queria que entendessem é que deve existir uma dor real. Se a oração não é vocal, deve ser secreta. Para mostrar o arrependimento, ainda que seja mínimo, deve haver um gemido; ainda que não existam palavras, e deve haver pelo menos um suspiro, ainda que não existam lagrimas.

Nesse arrependimento deve conter, penso, não somente dor, mas deve ter algo prático: deve ser um arrependimento prático –

“Não basta com dizer que o sentimos, e nos arrependemos,

E logo continuar dia a dia como sempre caminhamos.”

Muitas pessoas estão muito entristecidas e muito penitentes por seus pecados passados. Os escutem falar. “oh” – dizem – “lamento profundamente ter sido um beberrão um dia; e sinceramente deploro ter caído nesse pecado; lamento profundamente ter feito isso.” Logo vão direto para casa, e quando chega a uma hora da tarde do domingo seguinte, os encontrarão bebendo outra vez. E, no entanto, essa gente diz que se arrependeu.

Por acaso vocês creriam quando elas dizem que são pecadores, mas que não amam o pecado? Poderia ser que não o amem durante um tempo; mas, poderiam ser sinceras penitentes, e logo ir outra vez transgredir imediatamente, na mesma forma que fizeram antes? Como poderíamos crer-lhes se transgridem uma e outra vez, e não abandonam seu pecado? Conhecemos uma árvore por seus frutos; e vocês que são penitentes produzirão obras de arrependimento.

Muitas vezes considerei como muito bonito exemplo que reflete o poder da contrição uma anedota fornecida por um piedoso ministro. Ele tinha estado pregando sobre o arrependimento, e no curso de seu sermão, falou do pecado do roubo. Quando ia a caminho de sua casa, um trabalhador se aproximou dele, e o ministro observou que essa pessoa tinha algo debaixo de seu uniforme de trabalhador. O ministro lhe disse que essa pessoa não tinha que lhe acompanhar mais longe, mas o homem persistiu. Por fim, lhe disse: “trago uma enxada debaixo do braço, que roubei naquela propriedade; o ouvi pregar sobre o pecado do roubo, e devo ir e colocar essa ferramenta em seu lugar outra vez.” Isso foi um sincero arrependimento, pois o motivou a regressar e devolver o artigo roubado.

Sucedia o mesmo com os habitantes das ilhas dos Mares do Sul, dos quais lemos que roubavam a roupa e os móveis dos missionários, e tudo o que podiam levar de suas casas; mas quando eram convertidos de forma salvadora, levavam tudo de volta aos donos.

Porem, muitos de vocês dizem que se arrependem, no entanto, não produzem fruto; isso não serve de nada. O povo se arrepende sinceramente, dizem, de ter cometido um roubo, ou de ter mantido uma casa de jogatina; mas se cuidam de que todas as ganâncias sejam empregadas no melhor bem estar de seu coração. O verdadeiro “arrependimento” produzirá obras dignas de “arrependimento”; será um arrependimento prático.

Mas vamos mais adiante. Vocês podem saber se seu arrependimento é prático mediante essa prova: Ele tem alguma duração ou não? Muitos de seus arrependimentos se assemelham a vermelhidão da febre na pessoa tuberculosa, que não é nenhum sinal de saúde. Muitas vezes vi a algum jovem em um transe de piedade recém adquirida, mas pouco firme; e ele creu que esteve a ponto de se arrepender de seus pecados. Durante algumas horas, tal pessoa está profundamente contrita diante de Deus, e por semanas renuncia a suas tolices. Frequenta a casa de oração e conversa da maneira de um filho de Deus. Porem, regressa a seus pecados como o cão a seu vômito. O espírito imundo “voltou a sua casa e tomou consigo outros sete espíritos piores do que ele… e o ultimo estado daquele homem vem a ser pior que o primeiro.”

Quanto tempo durou sua contrição? Durou alguns meses, ou lhe sobreveio e se afastou subitamente? Você disse: “me unirei à igreja; farei isso, aquilo e aquilo outro, por amor a Deus”. Suas obras são duradouras? Crê que seu arrependimento dure seis meses? Continuará por um ano? Durará até que você esteja envolto em sua mortalha funerária?

Mas, ademais, devo de lhes fazer mais uma pergunta. Vocês crêem que se arrependeriam de seus pecados se não houvesse um castigo diante de vocês? Ou, se arrependem porque sabem que serão castigados para sempre se permanecerem em seus pecados? Suponham que lhes fosse dito que não existe o inferno afinal; que, se quisessem, poderiam blasfemar; e, se quisessem, poderiam viver sem Deus. Suponha que não houvesse recompensa para virtude, e não houvera castigo para o pecado, qual escolheriam? Poderiam dizer com toda honestidade nessa manhã: “creio que, pela graça de Deus, sei que escolheria a justiça ainda que não houvesse recompensa para ela, ainda que não ganhasse nada por meio da justiça, e não perdesse nada pelo pecado”?

Todo pecador odeia seu pecado quando ele se aproxima da boca do inferno; todo assassino odeia seu crime quando se aproxima da forca; nunca vi que um menino odeie tanto sua falta quando vai ser castigado por ela. Se não tivessem um motivo para temer o abismo, se soubessem que poderiam entregar sua vida ao pecado, e que poderiam fazê-lo com impunidade, ainda assim, sentiriam que odiavam ao pecado, e que não poderiam, e não desejariam, cometer o pecado, exceto por causa da debilidade da carne? Ainda desejariam a santidade? Ainda desejariam viver como Cristo? Se assim fosse – se pudessem dizer isso sinceramente – se dessa maneira se voltassem a Deus e odiassem seu pecado com um ódio eterno, não precisam temer, pois possuem um “arrependimento” que é “para vida.”

III. Agora vem o terceiro cabeçalho e o último, e é A BENDITA BENEFICIÊNCIA DE DEUS em conceder aos homens “arrependimento para vida”. O “arrependimento”, meus queridos amigos, é o dom de Deus. É um desses favores espirituais que asseguram a vida eterna. É uma maravilha da graça divina que não somente providencie o caminho de salvação, que não somente convide aos homens a receberem a graça, mas sim que positivamente faça que os homens estejam dispostos a serem salvos.

Deus castigou Seu Filho Jesus Cristo por nossos pecados e por isso providenciou a salvação para todos Seus filhos perdidos. Ele envia a Seu ministro; o ministro pede aos homens que se arrependam e creiam, e se esforça por levá-los a Deus. Eles não querem escutar o chamado, e desprezam ao ministro. Porem, então, outro mensageiro é enviado, um embaixador celestial que não pode falhar. Ele convoca aos homens a que se arrependam e se voltem a Deus. Seus pensamentos estão um pouco desviados, mas depois que Ele, o Espírito Divino, argumenta com eles, esquecem o tipo de pessoas que eram, e se arrependem, e se convertem.

Agora, o que nós faríamos se tivéssemos sido tratados como Deus foi tratado? Se houvéssemos preparado uma ceia ou uma festa, e enviado mensageiros para convidar os convidados a virem, que faríamos? Vocês acreditam que teríamos o trabalho de ir por todos os lados visitando a todos e de fazer com que viessem? E quando tivessem se sentado e tivessem dito que não poderiam comer, acaso abriríamos nossas bocas? Se ainda declarassem que não podem comer, nós lhes faríamos comer? Ah amados, estou inclinado a pensar que não fariam isso! Se vocês tivessem assinado e enviado os convites e os convidados não viessem a sua festa, não diriam: “não haverá mais festa”?  Mas, o que Deus faz? Ele diz “agora farei uma festa e convidarei ao povo e se não vierem, meus ministros sairão e os chamarão pessoalmente. Direi a meus servos: ‘vão pelos caminhos e pelos valados, e força-os a entrar, para que possam participar da festa que eu preparei’”.

Não é de fato um ato de estupenda misericórdia divina que efetivamente o Senhor lhes faça dispostos? Não faz isso por meio da força, mas sim usa de uma doce persuasão espiritual. Primeiro as pessoas estão muitíssimo reticentes de serem salvos; “mas” – Deus diz – “isso não é nada, Eu tenho o poder de faze que eles se voltem a Mim, e Eu o farei.” O Espírito Santo faz então a Palavra de Deus penetrar nas consciências de Seus filhos de uma maneira tão bendita, que não podem se recusar mais a amar a Jesus.

Peço-lhes que observem que Ele não faz isso por meio de alguma força em contra de sua vontade, mas que sim mediante uma doce influência espiritual que transforma a vontade.

Ele não somente coloca um banquete de coisas boas diante dos homens, mas também os induz a virem e participar delas, e os constrange a continuar festejando enquanto os leva à mansão permanente e eterna. E, aos levá-los acima, fala para cada um: “Porquanto com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí.” (Jeremias 31:3) Agora: “você Me ama”? “Oh Senhor” – clamam – “Tua graça ao nos trazer aqui demonstra que nos ama, pois, nós estávamos reticentes a vir. Tu disse: irão, e nós dissemos que não iríamos, porem, Tu nos fizeste ir. E agora, Senhor, te bendizemos e te amamos por essa força. Foi uma compulsão divina.” Eu era um cativo que lutava, mas fui conduzido a estar disposto –

“Oh graça soberana, submete meu coração!

Quero ser conduzido em triunfo também;

Um cativo disposto para meu Senhor,

Para cantar as honras de Sua Palavra”.

Bem, agora, o que vocês dizem? Alguns dirão “senhor, estive tratando de me arrepender durante longo tempo. Em penas e aflições estive orando e tratando de crer, e fazendo tudo que eu possa.” Direi algo para vocês: tentarão por tempo indefinido antes de serem capazes de fazê-lo. Essa não é a forma de alcançar seu alvo.

Ouça a história de dois cavalheiros que iam de viagem. Um deles disse ao outro: “não sei como você faz, mas dá a impressão que você sempre se lembra da sua esposa e sua família, e tudo o que eles estão fazendo em casa, e dá a impressão que você conecta todas as coisas que lhe rodeia com eles; mas eu trato de recordar minha família constantemente e, no entanto, nunca consigo fazer isso”. “Não” – o outro respondeu – “essa é precisamente a razão pela qual você não pode conseguir êxito: porque você o intenta. Se pudesse conectar eles com cada pequena circunstância que encontramos, facilmente se lembraria deles. Em tal e tal momento pense: agora estão se levantando; e em tal e tal hora: estão em oração; e em tal momento, estão tomando café da manhã. Dessa forma os tenho sempre em minha mente.”

Creio que o mesmo acontece com relação ao “arrependimento”. Se um homem dissera: “quero crer”, e tratasse, mediante algum meio mecânico, de se auto-induzir ao arrependimento, seria um absurdo, e jamais o conseguiria. Mas a maneira na que pode se arrepender é, pela graça de Deus, crendo, crendo e pensando em Jesus. Se visse o lado sangrante, a coroa de espinhos, as lágrimas de angústia; se tivesse uma visão de tudo o que Cristo sofreu, não tenho temor de afirmar que se converteria para Ele em arrependimento.

Apostaria a reputação que eu poderia ter nas coisas espirituais afirmando que um homem não pode, sob a influência do Espírito Santo de Deus, contemplar a cruz de Cristo sem um coração quebrantado. Se não fora assim, meu coração seria diferente do de todos os demais. Não conheci jamais a ninguém que houvesse refletido, e olhado para cruz, que não tivesse descoberto que a cruz gerou “arrependimento” e gerou fé.

Olhamos a Jesus se queremos ser salvos, e logo dizemos: “Sacrifício admirável, que Jesus tenha morrido assim para salvar aos pecadores!” Se você quer a fé, deve se lembrar que Ele a dá: se queres o arrependimento, Ele o dá! Se queres vida eterna, Ele a dá liberalmente. Ele pode forçá-lo a sentir teu grande pecado, e levar-lhe ao arrependimento pelo olhar da cruz do Calvário, e o som do maior e mais profundo clamor de morte “Eloi, Eloi, lama sabactani?”, “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste”? Isso gerará “arrependimento”; isso lhe faria chorar e dizer: “Ai, ai, e meu Salvador e meu Soberano morreu por mim?”. Então, amado amigo, se quiser ter arrependimento, esse é meu melhor conselho para você: olha para Jesus. E que o bendito Doador de todo “arrependimento para salvação” lhe guarde dos falsos arrependimentos que eu descrevi, e lhe dê esse “arrependimento” que existe para vida –

“Arrependa-se! Clama a voz celestial,

E não ouses demorar-te;

O infeliz que desdenha o mandato, morre,

E se enfrenta a um feroz dia.

O olho soberano de Deus, já não

Passa por alto os crimes dos homens;

Seus mensageiros são despachados por todo lugar

Para advertir ao mundo de pecado.

As chamadas abarcam toda a terra;

Que a terra corra e tema;

Escutem, homens de nascimento real

E que seus vassalos ouçam também!

Juntos diante de Sua presença se curvando,

E confessem todas suas culpas;

Abracem ao bendito Salvador agora.

Não minimizem Sua graça

Dobrem-se antes que a terrível trombeta ressoe,

E os chame a Seu tribunal;

Pois a misericórdia conhece o limite estabelecido,

E se converte em vingança ali”



______________

ORE PARA QUE O ESPIRITIO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA EDIFICAÇÃO DE MUITOS E SALVAÇÃO DE PECADORES.





FONTE

Traduzido de http://www.spurgeon.com.mx/sermon44.html

Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público



“REPENTANCE UNTO LIFE”

Sermão nº44—-  do volume 1 do The New Park Street Pulpit,

Tradução e revisão: Armando Marcos Pinto

Capa: Victor Silva

 Projeto Spurgeon – Proclamando a CRISTO crucificado.

www.projetospurgeon.com.br

@ProjetoSpurgeon



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Reforma Radical

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